Capitulo 02
Capitulo 02
Enfrentando a tentação de observá-lo partir, Gina fixou os olhos no mar.
À primeira vista, poder-se-ia supor que ela possuía sangue espanhol ou italiano correndo nas veias. A pele era sedosa, os cabelos espessos e lustrosos. No entanto, os olhos azuis e o nariz afilado, combinados com seu estilo exuberante, denunciavam sua descendência escocesa proveniente da família do pai.
A brisa brincava com seus cabelos, o frescor causava um leve arrepio em sua pele, mas quando percebeu uma mão masculina repousar em sua nuca, um pequeno calafrio percorreu-lhe toda a coluna.
- Mil dólares, então... e o motivo. - uma voz familiar sussurrou-lhe ao ouvido.
Ele voltara! Gina não sabia o que dizer!
- E nem tente pechinchar! - emendou em seguida com uma voz de seda. - Mil e o motivo, ou sem acordo.
A garganta de Gina secou. Não queria contar a verdade a ele, mas afinal, que opção tinha? E afinal, que mal ele poderia fazer?
- Pois bem.
Por que a voz dela soava tão trêmula? Seria porque ele ainda estava com a mão em sua nuca?
- Você está tremendo. - ele murmurou, como se adivinhasse os pensamentos dela. - Por quê? Você está com medo? Excitada?
Enquanto as palavras lhe escapavam da boca, seus dedos escorregaram devagar pelo pescoço de Gina de modo que pôde sentir os batimentos de seu coração.
Lutando valentemente contra seus desejos, Gina libertou-se de seu toque e disse decidida:
- Não é nada disso! Eu estou com frio.
Ela percebeu uma sutil crueldade no sorriso estampado no rosto dele.
- É claro. - o rapaz concordou. - Mas então, você quer que eu a aborde e depois a seduza, é isso? Por quê? Me conte.
Gina respirou fundo.
- É uma história muito longa. - ela avisou.
- Tenho tempo.
Gina fechou os olhos por um momento, tentando compor seus pensamentos de maneira lógica, abriu-os em seguida e começou a falar:
- Meu pai foi um diplomata americano. Ele conheceu minha mãe aqui em Zuran quando trabalhou aqui. Eles se apaixonaram, mas o pai dela não aprovava esse amor. Ele tinha outros planos para ela, pois acreditava que uma filha tinha o dever de ajudar a fortalecer o império financeiro da família. - À medida que falava, Gina percebia a raiva na voz, por causa da dor profunda que sentia com o que acontecera a sua mãe e se passava com ela naquele momento. - Meu avô renegou minha mãe depois que ela fugiu com o meu pai, e proibiu o resto da família de manter qualquer contato com ela. Mas ela me contou tudo. Como ele foi cruel! Meus pais eram muito felizes, mas morreram em um acidente quando eu tinha dezessete anos. Eu fui viver em Londres com o meu padrinho, que também é diplomata. Tudo ia bem. Terminei a faculdade e depois fui viajar pelo mundo com ele. Arrumei um emprego na minha área e estava me preparando para a minha pós-graduação. Mas então... pouco tempo atrás, meu tio foi até Londres, procurou meu padrinho e disse que meu avô queria me ver. Eu queria distância dele. Minha mãe nunca perdeu a esperança de que eles se reconciliassem um dia. Mas ele nunca respondeu às suas cartas. Ele nem me procurou quando meus pais morreram. Meu avô ignorou sua morte e nenhum dos seus parentes foi ao enterro. Ele não permitiu!
Lágrimas de ódio deslizaram pelo rosto de Gina, que as secou com rancor.
- Meu padrinho implorou para que eu reconsiderasse a situação. Ele me disse que era isso exatamente o que meus pais queriam... ver a família reconciliada. Disse também que meu avô era um dos maiores hoteleiros dessa região e que deveríamos vir até aqui para nos conhecermos. Eu quis recusar, mas... - Ela fez uma pausa e balançou a cabeça. - Achei que deveria fazer isso por minha mãe. Mas se eu soubesse o verdadeiro motivo do convite!
- O verdadeiro motivo? - Havia uma rispidez em sua voz máscula que a abalou.
- Sim, o verdadeiro motivo. - ela reiterou com amargura. - No dia em que cheguei, meu tio veio me visitar com a esposa e o filho, meu primo Saud. Ele só tem quinze anos, e... eles disseram que meu avô não estava bem para me visitar, que tinha sérios problemas no coração e que o médico lhe recomendara repouso. Eu acreditei. Mas quando ficamos a sós, Saud, acidentalmente, deixou escapar a verdadeira razão. Ele não tinha a menor idéia de que eu não sabia de nada!
Gina balançava a cabeça negativamente e sua voz estremecia.
- Meu avô não queria apenas me ver, ele queria me casar com um de seus parceiros comerciais para reparar o erro que cometera com meus pais! E, acredite se quiser, meu padrinho concorda com a idéia. Mesmo que no começo ele tenha tentado me dizer que interpretei mal o que Saud disse, meu padrinho acha que a idéia não é de todo má. Ele viajou para o exterior numa missão diplomática, está incomunicável e além do mais levou meu passaporte com ele! Apenas conheça-o, Gina. - ela imitou a voz do padrinho. - Não há nenhum problema em fazer isso, não é mesmo? Quem sabe? Você pode descobrir até que gosta dele. Veja o exemplo da nobreza inglesa, toda composta de casamentos arranjados e com resultados muito bons. Essa história de amor é besteira. Nem sempre dá certo, sabia?
- Seu avô quer que você case com um parceiro comercial para que se estabeleça uma nova relação diplomática e então se criem novos negócios? É isso que você está me dizendo? - o professor interrompeu abruptamente o discurso inflamado de Gina.
Ela percebeu uma cínica incredulidade em sua voz, mas não conseguiu culpá-lo por seu sarcasmo.
- Bem, meu padrinho quer que eu acredite que essa é a única intenção de meu avô, mas é claro que ele não é tão altruísta assim. - concluiu em tom severo. - Pelo que pude descobrir com Saud, meu avô quer me casar com esse homem não só porque ele é seu sócio neste complexo hoteleiro, mas também porque ele faz parte da família real de Zuran. Antes de fugir com meu pai, a mão de minha mãe estava prometida para um parente deste homem com quem devo me casar. Meu avô sempre achou que isso lhe traria muitos benefícios. Eu até imagino o que se passa pela cabeça dele. Já que não conseguiu casar minha mãe para atingir seus objetivos, agora sou eu que devo cumprir esse papel de vítima!
- Essa herança cultural muito diferente incomoda você? - A pergunta inesperada abalou Gina.
- Se isso me incomoda? - ela retrucou cheia de orgulho. - Não! Por que deveria? - desafiou. - Sou feliz por ser fruto do amor de meus pais.
- Você não entendeu. Eu me referi à extrema diferença causada pela combinação de sangue anglo-saxão com sangue beduíno, a tradição guerreira somada à compulsão dos nômades em desbravar o mundo. Você não se sente dividida por possuir um pouco de cada lado ao mesmo tempo que é alheia a esse mundo?
Aquelas palavras resumiam tão bem os sentimentos que atormentavam Gina desde que os descobrira dentro de si que a fizeram calar-se. Como ele sabia que ela se sentia assim? Sentiu-se estremecer, como se estivesse diante de uma força incompreensível... um poder e uma intuição tão mais desenvolvidos que os seus que a encheram de admiração.
- Eu sou o que eu sou. - afirmou com convicção, lutando para ignorar as emoções que ele despertava nela.
- E o que é você?
- Sou uma mulher independente, moderna e não vou me sujeitar às vontades egoístas de um velho. - tornou Gina com raiva.
- Se você não quer se casar com esse homem, porque simplesmente não diz isso ao seu padrinho?
- Não é tão fácil assim. - Gina admitiu a contragosto - É claro que eu disse a ele que não há a menor possibilidade de eu conhecer este homem, muito menos me casar com ele. Foi então que ele viajou para a China e levou meu passaporte com ele. Assim, eu teria tempo para conhecer meu avô e redescobrir o meu passado, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mas eu sei o que ele pretende. Ele acredita que me prendendo aqui, fazendo com que eu dependa de meu avô, eu me sentirei pressionada a fazer o que ele quer. Meu padrinho se aposenta no ano que vem e espera ver seu trabalho, inclusive o de arranjar este casamento de alta classe com o sheik Potter, recompensado com um título de nobreza que será anunciado no final do ano. E o pior de tudo, segundo o que o Saud contou, é que toda a minha família pensa que eu deveria estar cheia de orgulho porque este... este homem está se preparando para se casar comigo. - Gina concluiu amargamente.
- Como na maioria dos casamentos deste tipo. - ele retrucou, quase entediado. - Eu entendo as ambições de seu avô, mas e esse seu possível marido? Por que esse...
- Sheik Potter. - completou amarga. - O mesmo sheik Potter que não aprova como você... se comporta com as hóspedes.
O olhar severo dele fez com que Gina rapidamente completasse:
- Eu escutei duas moças comentando hoje de manhã. - Ela parou. - E, quanto aos motivos dele para querer se casar comigo... - Gina suspirou profundamente. - Ambos temos heranças culturais diferentes, a mãe dele é estrangeira. Mas o mais importante é que a família real de Zuran acha o casamento uma boa idéia. Meu padrinho disse que se ele recusar ofenderia a corte e a mim. No entanto, pelo pouco que conheço da cultura local, sei que uma recusa da parte de qualquer um de nós representaria uma ofensa imperdoável, mas também sei que se ele tiver algum motivo para acreditar que não sou uma pessoa respeitável ele pode cancelar o casamento com o aval da família real.
- Você está se prendendo a um monte de conjecturas. - ele comentou secamente.
- Está querendo me dizer que tudo isso é fruto da minha imaginação? Então não há mais motivo para nós perdermos nosso tempo um com o outro! - Gina explodiu, com raiva.
- Pois bem! Eu entendo seus motivos, mas por que você escolheu a mim? - Ele tentou acalmá-la.
- Como eu disse, escutei duas mulheres falando sobre você, e pelo que disseram é óbvio que... - Gina replicou cínica.
- O quê? - ele desafiou quando ela fez uma pausa.
- Que você tem fama de se envolver com as hóspedes. E que, além disso - ela emendou, fingindo indiferença - você já foi repreendido pelo... pelo sheik Potter, e corre o risco de perder seu emprego!
- Eu entendo... O que você quer então?
- Eu não quero nada! - Gina percebeu a expressão de deboche no rosto dele e defendeu-se: - Eu não quero nada com um homem até quando...
- Encontrar alguém que atenda as suas altas expectativas? - ele completou com desdém.
Gina balançou a cabeça, irritada.
- Não ponha palavras na minha boca. O que eu ia dizer é que eu quero encontrar um homem a quem eu ame e respeite... alguém com quem possa me envolver de verdade, em todos os sentidos. Foi assim com meus pais. - disse apaixonadamente. - E é esse tipo de relacionamento que quero para mim, e quem sabe, para meus filhos.
- Um tanto incomum hoje em dia. - ele respondeu com sarcasmo.
- Pode ser, mas acho que vale a pena tentar. - Gina afirmou com convicção.
- Você não tem medo que esse homem possa ficar desapontado com sua reputação?
- Não. Porque se ele me amar irá aceitar e entender meus valores. E, além disso... - Fez uma pausa quando percebeu que estava perto de contar a ele que ainda não conhecera esse homem e que ainda era virgem. - Por que você está me fazendo todas essas perguntas? - ela questionou-o com rispidez.
- Por nada. - ele respondeu evasivo.
Na penumbra, Gina pressentiu que ele a analisava.
- Então - ele disse afinal - você quer me pagar mil dólares para eu abordá-la e seduzi-la publicamente, e assim arruinar sua reputação.
- Para fingir que isso acontece. - Gina corrigiu-o imediatamente.
- O que há de errado? - perguntou em tom de escárnio. - Você está indecisa?
- É claro que não! - Gina indignou-se, e logo em seguida ficou sem fôlego quando ele se aproximou e tomou-a nos braços.
- O que você está fazendo? - balbuciou trêmula.
Ele exalava um odor másculo da pele e o corpo de Gina cedeu àquela masculinidade. A cabeça dele se aproximava lentamente de seu rosto, encobrindo a luz, e o brilho daqueles olhos a hipnotizaram, deixando-a imóvel.
- Nós fizemos um pacto! - ele murmurou de encontro aos seus lábios. - E agora nós devemos selá-lo. Muito tempo atrás, aqui no deserto, os pactos eram selados com sangue. Quer que eu perfure sua pele e recolha seu sangue para misturá-lo com o meu, ou isso aqui vai bastar?
Antes que pudesse protestar, a boca sensual estava colada a sua e roubava o ar de seus pulmões.
Um breve gemido subiu-lhe pela garganta quando seu corpo vencido respondeu àquele beijo maravilhoso. Ela estava certa em temer aqueles lábios carnudos. Havia uma aspereza suave naquele rosto que roçava no seu de um jeito instigante, e lutou contra o instinto de acariciar aquela face masculina. Quando ele afastou seus lábios, sentiu uma vontade inexplicável de grudar-se a eles. Antes que pudesse evitar, seu instinto fez com que ela avançasse e mordesse fortemente o lábio inferior dele.
O gosto chocante de sangue em sua boca paralisou-a.
Sentiu o corpo enrijecer quando ele desvencilhou os lábios e envolveu seu pescoço esguio com as mãos.
- Então... você prefere selar nosso pacto com sangue. Há mais coisas do deserto em você do que eu imaginava.
Antes que pudesse se mover, os lábios dele colaram-se aos dela novamente num beijo como nunca havia experimentado. Sentia o gosto de sangue, a língua áspera junto a sua e o toque em sua garganta, quente como o sol do deserto escaldante.
Abruptamente ele se afastou dela, ergueu a cabeça e por um instante, iluminado pela luz, Gina pôde ver, pela primeira vez, o rosto inteiro daquele homem.
Ele mantinha os olhos bem abertos, e ela descobriu que não eram, como imaginara, castanho-escuros, mas sim, de um puro e suave tom prateado.
- Nós temos a manhã inteira a sua disposição, Gina. Talvez você queira fazer umas compras. Há um shopping excelente aqui perto, com inúmeras lojas estonteantes, e...
Foi com tremendo esforço que Gina conseguiu se concentrar no que a tia lhe dizia.
Ela telefonara na noite anterior a fim de combinar um passeio pela cidade e suas lojas. Apesar de ciente das intenções do avô, gostava de sua tia, mesmo ela tendo procurado Gina justamente no dia em que seu padrinho viajara.
- Seu avô sabe o quanto você deve estar desapontada por não poder recebê-la ainda, Gina, e, assim, providenciou um... amigo da família que... que terá o maior interesse em guiá-la pelo hotel e mostrar as belezas da cidade. Você irá adorar Potter. Ele é muito charmoso e um homem muito educado.
Gina mordeu a língua de raiva quando descobriu exatamente quem era esse tal Potter, graças às revelações inocentes de Saud!
Ela permanecera acordada praticamente a noite inteira, revendo mentalmente os acontecimentos da praia, perguntando-se como pudera ser tão estúpida em permitir que eles ocorressem, e seus olhos fecharam-se com pensamentos irrequietos.
A combinação desses acontecimentos e a ansiedade que a invadia a deixaram exausta. Não estava com nenhuma disposição para fazer compras. Além disso, e se ele tentasse entrar em contato com ela? Será que faria isso, ou esperaria que ela o procurasse na praia e flertasse vergonhosamente com ele, como no comentário daquelas hóspedes? Esses pensamentos lhe embrulhavam o estômago. Não, o acordo era que ele deveria tomar a iniciativa. Abordá-la e seduzi-la, uma voz dizia perigosamente em seu ouvido...
Seduzi-la. Um tremor percorreu-lhe o corpo a ponto de a tia perguntar-lhe se estava com frio. .
- Frio? Com quase trinta graus? - Gina riu.
- Seu avô espera melhorar muito em breve para poder vê-la. - a tia continuou. - Ele espera ansiosamente por isso, Gina. Ele não pára de perguntar se você se parece com sua mãe...
Gina procurava manter-se indiferente às palavras gentis da tia.
- Se ele realmente quisesse me conhecer o teria feito há muito tempo, quando minha mãe ainda estava viva. - Gina disse, contendo sua mágoa.
Era muito tentador contar à tia que sabia o verdadeiro motivo de sua vinda para Zuran, mas não quis criar problemas para o primo.
- O que você acha do complexo? - a tia perguntou, mudando imediatamente de assunto.
Gina divertiu-se com a idéia de ser completamente irônica, mas sua consciência a impediu de agir assim.
- É... É fantástico. - admitiu. - Ainda não conheço tudo, é claro. Isso é como uma pequena cidade. Mas pelo que eu já vi...
Particularmente, gostava muito do design tradicional do hotel e seus anexos, todos com seus jardins privativos repletos de plantas e frutas, o som musical das fontes que a faziam lembrar da arquitetura moura no, sul da Espanha, e de imagens que sua mãe mostrara de palácios árabes.
- Quando Potter lhe mostrar todo o hotel você deve dizer isso a ele. No entanto, infelizmente, ele só o poderá fazer daqui a uns dias. Ele avisou seu avô que estará em viagem de negócios a pedido da família real... Em um outro projeto que ele está construindo no deserto.
- Ele trabalha? - Gina sequer se esforçou para conter sua surpresa. Pelo que Saud lhe contara, seu prometido era muito rico e bem relacionado para fazer algo tão mundano.
- Ah, claro quem sim. - a tia assegurou. - Ele não só investiu nesse complexo como também o projetou. Ele é um arquiteto muito qualificado e com ampla clientela. Ele estudou em Londres.
Um arquiteto! Gina franziu a testa, mas não tinha a menor intenção de demonstrar interesse por um homem a quem ela decidira detestar.
- Parece que ele é um homem muito ocupado. - disse à tia. - Ele não precisa perder tempo para me mostrar o hotel. Sou perfeitamente capaz de fazer isso sozinha.
- Não. Você não deve fazer isso. - a tia protestou.
- Não? Então talvez Saud possa me acompanhar. - Gina não pôde deixar de provocá-la.
- Não! Não... É melhor que Potter acompanhe. Afinal, ele desenhou tudo o que existe aqui. Ninguém melhor que ele para lhe mostrar tudo.
- E a esposa dele? - Gina perguntou inocente. - Ela não vai se importar se ele perder seu tempo precioso comigo?
- Oh, não, ele não é casado. - a tia garantiu logo em seguida. - Você vai gostar dele, Gina. - ela continuou entusiasmada. - Vocês dois têm muito em comum e... - ela foi interrompida pelo toque de seu celular.
A tia procurou o telefone na bolsa e Gina percebeu-lhe a ansiedade no rosto quando a escutou falando rapidamente em árabe.
- O que foi? - indagou logo que a ligação terminou. - É o meu avô? Ele...
Furiosa com sua preocupação inesperada, Gina parou de falar e mordeu o lábio.
- Era seu tio. - a tia informou. - Seu avô sofreu uma recaída. Ele sabe que deve descansar, mas se recusa! Eu preciso ir embora, Gina. Desculpe-me.
Por um instante Gina sentiu-se tentada a pedir para acompanhá-la, que lhe permitissem ver o avô, a pessoa de seu sangue mais próxima que ele tinha, mas rapidamente abafou os sentimentos fracos e indesejados. Seu avô não significava nada para ela. Como poderia, se obviamente ela não significava nada para ele? Não deveria esquecer o passado e os planos que ele tinha para ela. Não, ela certamente não seria a pessoa que imploraria para vê-lo. Sua mãe já havia implorado e sofrido o desgosto de ser ignorada e rejeitada. De maneira alguma permitiria que o avô fizesse o mesmo com ela!
Gina dirigiu-se para o lobby depois que o táxi a deixou na frente do hotel. Com o resto do dia livre, havia várias coisas que poderia fazer. O complexo possuía seu próprio shopping, cheio de artesãos confeccionando e vendendo todo o tipo de objetos regionais. Ela também poderia deixar o hotel e dar um passeio de gôndola pelos canais do complexo, ou andar tranqüilamente pelos jardins. Sem falar, é claro, que poderia simplesmente relaxar em alguma nas maravilhosas piscinas ou em alguma das praias particulares.
As piscinas e praias podiam ser acessadas por um pequeno túnel que saía do lobby.
Chegando lá, como Gina descobrira, um prestativo funcionário lhe daria uma toalha e a instalaria no lugar que ela escolhesse, arrumaria uma cadeira e um guarda-sol e chamaria um garçom que lhe serviria uma bebida caso sentisse vontade.
O complexo e seus funcionários estavam preparados para atender todos os desejos dos hóspedes, quaisquer que fossem.
Gina já havia viajado pelo mundo todo com os pais, com o padrinho e até mesmo sozinha, e em nenhum outro lugar havia encontrado um estabelecimento onde seus empreendedores e funcionários fossem tão atenciosos e prestativos como ali.
Mas não se encontrava ali de férias, apesar de suas amigas terem-na arrastado para um dia de compras antes da viagem a fim de equipá-la com um elegante guarda-roupa.
Tendo em vista sua modéstia inerente, e a razão por que iria viajar, Gina recusou toda e qualquer sugestão de suas amigas entusiasmadas para que levasse algo extravagante.
Em vez disso, optou por uma linha discreta de maiôs, além de alguns trajes para a noite, incluindo um irresistível terninho de cetim cor creme, que a vendedora e suas amigas insistiram que ela deveria usar apenas com o blazer de um botão.
- Veja só como ficou bom. - a vendedora exclamou e as amigas prontamente concordaram. Gina não se convenceu, e acrescentou um colete de seda com motivos dourados às suas compras.
Um sorriso de arrependimento brotou em seu rosto quando lembrou a tentativa de sua amiga mais espevitada em fazê-la comprar um top tomara-que-caia rendado que fazia conjunto com uma calça de seda, cujo corte revelava seu umbigo, um pequeno detalhe que cairia perfeitamente bem na terra da dança do ventre.
O sorriso de Gina se intensificou quando tocou instintivamente a barriga lisa com a ponta dos dedos. Escondido atrás de sua roupa, preso ao umbigo, estava um pequeno piercing com um diamante na ponta, colocado recentemente.
Ninguém, nem mesmo suas amigas, souberam de sua atitude negligentemente desafiadora de colocar um piercing em seu umbigo no mesmo dia em que seu padrinho a convencera a vir até Zuran.
Secretamente, Gina sabia que a maneira como o diamante refletia os raios de luz trazia em si um significado perigosamente libertino, no entanto ninguém iria vê-lo.
Pensou no avô. Seu problema no coração seria muito grave?
A maneira calma e quase indiferente com que o tio se referiu ao assunto não dava margens a maiores preocupações. Estaria ele tão doente como a tia parecia acreditar? Ou era tudo simplesmente uma farsa cujo único objetivo era manipulá-la?
Gina estava decidida a não ceder um milímetro em seus sentimentos a respeito daquele homem, um déspota que causara tanto mal a sua mãe e que fazia um jogo de gato e rato, usando uma suposta doença para fazê-la cair em sua rede. Esse comportamento a obrigava a ficar em um estado permanente de alerta. E se, porém, ela estivesse enganada? E se seu avô estivesse realmente muito doente?
Apesar de ser impossível não ficar tocada emocionalmente pela calorosa receptividade de seus tios, e da preocupação deles com uma possível decepção de Gina com a impossibilidade de conhecê-lo, a antipatia de Gina por seu avô fora intensificada pela manipulação emocional que ele promovia e que só fazia aumentar seu desgosto.
Ela tinha todo o direito de desconfiar e de não gostar dele, dizia para si. Então por que se sentia abandonada e rejeitada, excluída do círculo familiar que o rodeava, protegendo-o? Por que sentia tamanha ansiedade em se inteirar dos fatos? Por que aquela sensação de medo e perda?
Gina sabia que os tios lhe telefonariam se fosse necessário, mas nada se comparava à presença única, participar dos acontecimentos, à aceitação total.
Uma família passou por ela no saguão do hotel em direção à sala de música, três gerações unidas e felizes. Gina se viu invadida por uma angústia intensa, e tentou ocultar seus sentimentos com um débil sorriso. Sempre fora extremamente vulnerável a tais sensações. Sua herança celta era culpada por isso! Contra sua vontade, percebeu que lembrava como se sentia quando criança, sabendo que era diferente, sentindo a dor da mãe sem nada poder fazer para aliviá-la, invejando as outras crianças que sempre falavam de seus adoráveis avós.
Estava deixando os sentimentos minar seu bom senso, disse a si mesma. Seu avô a trouxera para aquele lugar por um único motivo, e não era por gostar dela! Para ele, Gina era apenas uma peça valiosa no complexo jogo com que manipulava a vida das pessoas, usando-as para seu próprio e exclusivo bem.
Mas se ele estivesse doente... seriamente doente... Se algo acontecesse antes que ela tivesse a possibilidade de conhecê-lo...
Gina caminhou até o elevador sentindo a garganta seca.
Subiria até o quarto e pensaria no que fazer durante o resto do dia.
A suíte que a família reservara para ela, enorme e luxuosa, comportaria toda uma família. Não só possuía um banheiro imenso, com um chuveiro e uma banheira como nunca havia visto igual, mas também um quarto de vestir e um dormitório com uma cama de dimensões gigantescas e um amplo terraço com vista para o complexo do hotel.
Ao entrar na suíte, Gina caminhou até a cômoda e lá pousou sua bolsa. Neste instante, deu uma rápida olhada no espelho e congelou quando viu nele o reflexo da cama, ou melhor, do homem que estava deitado nela, seu sedutor e cúmplice! Ele mantinha as mãos entrelaçadas na nuca enquanto a observava, o corpo coberto com nada mais que uma toalha envolta nos quadris.
Minúsculas gotas em seu corpo revelavam que ele acabara de sair do chuveiro... o seu chuveiro, Gina disse para si, incapaz de conter o choque de vê-lo ali.
Sua suíte, como todas as demais do mesmo andar e as maiores situadas nos últimos andares, só podia ser alcançada por um elevador privativo cujo uso dependia de um cartão de segurança!
Mas para um homem como aquele tudo era possível, Gina suspeitava.
Como que em transe, Gina observou-o girar o corpo e pôr-se de pé.
E se aquela toalha presa tão precariamente à cintura caísse...
Nervosa, molhou o lábio superior com a língua. Repentinamente, deu-se conta de que agora sua boca possuía uma pequena e sensual cicatriz.
Hipnotizada, ela tentava olhar para outro lugar...
Teria alguém desligado o ar-condicionado? Perguntou-se atordoada. De repente, o quarto parecia tão quente...
Ele vinha em sua direção, em poucos segundos ele... Automaticamente ela recuou.
Agradecimento especial:
Nanny Black: o cara é sim o Harry, mas o melhor vai ser a cara da Gina quando ela descobrir. Delicia realmente vai fazer algumas pessoas babarem literalmente, pelo menos eu adorei. Beijos.
Thamis No mundo .........: é bom saber que posso contar com você nas HG, que é meu shipper favorito também. Beijos.
Luca Lovegood: capitulo postado. Beijos.
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