Amarras e chamados



Tradutora: Lívia

Co-tradutoras: Cíntia, Marília, Patrícia, Vênus, Isa, MC e Thiago

Spoilers: Livro 1 a 4


Capítulo Dez - Amarras e Chamados

a fronte praecipitium a tergo lupi

- Enervate.

Hermione emergiu da cega escuridão, piscou os olhos, abriu-os e viu mais escuridão. Ela gritou com uma voz abafada e a escuridão desapareceu, substituída por uma pálida luz amarela e um rosto ansioso sobre ela. Era Sirius, segurando uma compressa úmida em uma das mãos.

- Hermione, - ele disse. - Você está bem? Você sabe quem eu sou?

Ela afirmou com a cabeça, sentindo uma dor aguda surgir atrás dos olhos ao fazer o gesto. Lentamente, seus sentidos começaram a registrar seus arredores: ela estava deitada em um sofá na sala de estar dos Weasley e havia um cobertor sobre ela.

- Harry. - ela sussurrou. - Draco? Os outros...?

- Rony e Gina ainda estão inconscientes. - disse Sirius, evitando o olhar dela. - Eles foram atingidos com feitiços Estupefaça assim como você. - ele hesitou. - Nem Draco nem Harry estão aqui. Hermione, o que aconteceu?

Lágrimas surgiram em seus olhos.

- Eles não estão aqui? Onde eles estão?

- Eu não sei.

- Sirius, eles podem estar...

Sirius levantou uma mão.

- Eles não estão mortos. - ele disse. - Pelo menos Harry está bem, e eu não consigo imaginar que quem quer que os tenha levado mataria Draco e deixaria Harry vivo.

- Como você sabe que Harry está bem?

Sirius se inclinou para frente e arregaçou a manga do braço direito. No seu pulso, havia um bracelete achatado que Hermione se lembrava vagamente de ter visto antes. Nele havia uma pedra escura vermelha que refletia da mesma maneira que os olhos do Bichento refletiam quando uma luz batia de um certo ângulo. Chegando mais perto, Hermione pôde ver que esse efeito vinha de um ponto de luz brilhante de dentro da gema.

- Eu encantei esse bracelete há algum tempo usando alguns fios de cabelo que eu tirei do Harry quando ele estava dormindo. É um feitiço Vivicus simples. Enquanto a gema brilhar constantemente, Harry estará vivo e saudável. - Ele sorriu para Hermione; não era um sorriso real, ela sabia, mas ele queria que o sorriso a consolasse, e ela apreciava isso. - Parece que o meu treinamento para Auror não foi completamente desperdiçado.

Hermione fechou os olhos, tentando pensar apesar da dor em sua cabeça, que pulsava constantemente, como que dizendo claramente: Harry-Draco-Harry.

- Onde está Narcisa? - ela sussurrou. - E por que vocês ainda não acordaram Rony e Gina?

- Narcisa aparatou para o Ministério para alertar os Weasleys; eles devem estar chegando a qualquer momento. E eu não acordei Rony e Gina, Hermione, porque... porque Carlinhos está morto.

Isso fez com que Hermione se sentasse, apesar da dor que explodia em sua cabeça.

- Morto? Carlinhos?

Sirius consentiu com a cabeça, seu rosto contraído e sombrio.

- Nós encontramos seu corpo na cozinha. Alguém o atingiu com a Maldição da Morte. - Ele parou por um instante. - Hermione... quem era? O que aconteceu?

Hermione balançou sua cabeça, transtornada. Carlinhos não estava morto, ele não poderia estar morto, isso não fazia o menor sentido; havia algo errado, algo muito, muito errado, um pedaço do quebra-cabeças que não se encaixava... A mão direita de Hermione se levantou automaticamente e se fechou ao redor do Licanto. Imediatamente, ela se sentiu mais calma, mais capaz de respirar normalmente. Ela levantou seus olhos para Sirius, viu o pesar em seu rosto, a terrível preocupação.

- Sirius, - ela disse. - eu vou te contar o que aconteceu.

xxx Quatro horas antes xxx

Olhando em direção a Gina enquanto ela corria da cozinha para buscar Draco, Rony balançou sua cabeça.

- Eu não entendo o que ela vê nele. - ele disse implacavelmente, olhando para seu leite. - Eu simplesmente não entendo.

Hermione parecia prestes a dizer alguma coisa, mas voltou rapidamente para seu livro.

- Rony, você não sabe se tem alguma coisa acontecendo entre eles. Talvez eles sejam só amigos. - disse Harry, tentando ser diplomático.

Rony olhou para Carlinhos, que estava em pé perto do forno.

- O que você acha?

Carlinhos deu de ombros.

- É da conta apenas da Gina, não é?

Rony tamborilava seu dedo impacientemente na mesa.

- Vamos lá, Hermione, vocês duas são garotas. Ela deve ter dito algo pra você sobre o Draco.

Hermione nem tirou os olhos do seu livro.

- Ela disse que ele é um espetáculo debaixo dos lençóis.

Rony engasgou-se no leite.

Hermione levantou seus olhos e sorriu.

- Brincadeirinha. - Ela voltou ao "Vidas dos Fundadores de Hogwarts". - Gina nunca me disse nada sobre Draco. Sim, eu acho que ela gosta dele. Se ele gosta dela também? Eu não sei. Ele tem estado bastante ocupado ultimamente, então eu acho que sua mente está em outras coisas além de garotas. Por outro lado, - ela adicionou, - é do Draco que nós estamos falando, então talvez eu esteja errada.

Os ombros de Harry estavam chacoalhando com gargalhadas silenciosas. Rony, entretanto, estava encarando ela.

- Volte a ler, Hermione. - ele disse bruscamente. - Você não está ajudando em nada.

- Conhecimento é poder, Rony. - ela disse afetadamente. - Além disso, isso aqui é realmente fascinante. - Ela apontou uma página do livro com seu dedo. - Slytherin era chamado Lorde das Cobras, ou por sua habilidade de se transformar em uma serpente ou pelo seu hábito de manter cobras como bichos de estimação, não é claro. Outra escola de pensamento diz que esse título data da época que ele sobreviveu à mordida de uma cobra Diamante Verde venenosa, cujo veneno é conhecido por ser fatal.

- Ainda esperando para ser fascinado. - disse Rony, indo se posicionar atrás da sua cadeira e olhando, sem muito interesse, para o livro dela.

Hermione fez uma careta para ele.

- Slytherin sobreviveu à mordida da cobra - ela disse altivamente. - e isso deixou uma cicatriz no seu braço que, mais tarde, foi a inspiração para a Marca Negra que ele usou para identificar seus seguidores. Ele queimava a marca na pele deles com o feitiço Bruciatura. Você não acha isso interessante?

- Pelo contrário, - sorriu Harry. - eu acho que falo por todos quando eu bocejo e caio no sono.

Rony sorriu.

- Bem, se eles algum dia começarem uma nova aula na escola chamada 'Derrotando o Mal Pelo Excesso de Leitura', Mione, você será a primeira da nossa turma.

- Rony, eu já sou a primeira da nossa turma.

- Eu sabia disso. - disse Rony. - A propósito, quem é o segundo?

Hermione sorriu calmamente para seu livro.

- Draco.

- Malfoy? - ecoou Rony, e até Harry pareceu surpreso.

- Uh-huh - disse Hermione.

Hermione fechou seu livro e sorriu para os garotos.

- Vocês dois - ela disse - estariam bem no topo da nossa turma também se estudassem. E inventar profecias falsas para Adivinhação não conta, como vocês bem sabem.

- Estudar? - ecoou Harry com falso horror. - E tirar toda a graça de ser jovem e estúpido?

Hermione sorriu pra ele.

- Você sabe que não vai ser sempre jovem. - ela disse.

- Não. - concordou Rony. - Mas nós seremos sempre estúpidos. - ele parou por um instante. - Ok, por favor, não se apressem para discordar de mim.

Hermione bocejou.

- Eu já terminei de ler, de qualquer maneira. - Ela empurrou o livro para longe e se apoiou no ombro de Harry. - Na verdade, eu preciso de uma soneca.

- Eu também. - Harry concordou, e beijou a cabeça dela.

- O jantar está pronto. - anunciou Carlinhos, e enquanto ele esticava o braço para destampar a panela, a porta da varanda se abriu e Salazar Slytherin entrou na casa.

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Sirius fitou Hermione incrédulo.

- O quê, desse jeito? Ele apenas entrou?

Hermione concordou com a cabeça estupidamente.

- Sim. Ele apenas entrou.

Sirius franziu a testa.

- Continue.

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A porta bateu ao fechar-se. O som ecoou dentro da cabeça de Hermione, que parecia, no momento, uma caverna vazia e vasta de choque. Era como se uma faca tivesse caído, cortando o material de sua experiência imediata em duas metades perfeitas. Em um momento, ela estava sentada à mesa confortável e velha da cozinha dos Weasleys, sua mão na de Harry, Rony em pé atrás dela. E no momento seguinte, aquele mundo parecia desaparecer completamente e tudo ao redor dela era um vazio negro iluminado por um relâmpago crepitante.

E ali, virado para todos eles, em frente à escuridão, estava Slytherin.

Hermione olhou fixamente, quase inconsciente das reações dos outros no aposento - Carlinhos se afastando do forno, Harry pegando em seu braço, Rony imóvel, rígido de espanto. Ela só viu Slytherin.

Ela mal podia se lembrar dele como ele havia sido antes, era muito difícil juntar os pedaços de medo, nojo e pavor para formar uma memória coerente. Mas ela se lembrava dos seus olhos escuros, tristes e vazios, lembrava de sentir pena misturada com o horror e com o ódio. Ele parecia vazio, uma concha sem nada. Não agora. Agora ele estava vívido, carregado de ameaça e um poder negro, e era completamente possível ver exatamente porque uma comunidade mágica inteira um dia havia sido aterrorizada por ele e temido pronunciar seu nome. Até seu rosto estava diferente; ele parecia exatamente como em seu sonho, cheio de energia negra, olhos brilhando com febre e malícia. Era possível que ele parecesse mais novo? Ele agora, mais claramente, lembrava Draco, nas linhas agudas de seu rosto, nas curvas furiosas de seus traços.

O que aconteceu? Ela pensou em pânico. O que o havia mudado?

Ele estava em vestes pretas bordadas com estrelas e luas e serpentes enroladas, mas suas mãos estavam vazias. Ele não carregava nenhuma varinha. Seus olhos encontraram os dela do outro lado do aposento.

- Rowena. - ele disse.

Harry ficou de pé tão rápido que Hermione mal viu ele se mover; ele a empurrou para trás dele fortemente e as costas dela bateram na parede. Ele agarrou seu braço com uma mão atrás das costas dele, a outra, sua mão direita, estava esticada na sua frente. Hermione pôde ver por cima do ombro dele o relógio dos Weasley na parede, sua superfície embaçada à medida que os ponteiros que indicavam Rony e Gina giraram para indicar "perigo mortal".

Um pavor congelante tomou conta do seu estômago e ela podia sentir seu coração batendo contra suas costelas como um animal preso. Ela levantou sua mão direita e agarrou o Licanto com ela, fechando seus olhos. Eu não vou permitir que Slytherin me leve, ela pensou. Prefiro deixar que ele me mate.

Como se ele tivesse ouvido seus pensamentos, Harry falou.

- Eu não vou permitir que você a leve. - ele disse, sua voz surpreendentemente estável. - Terá que passar por cima de mim.

- E de mim - disse Rony, que estava trás dela.

Carlinhos, em pé perto do forno, estava silencioso. Suas mãos estavam em punhos fechados ao seu lado e seus olhos verdes seguiram o progresso de Slytherin através do aposento com um olhar que Hermione não podia decifrar.

Era como se Rony e Harry nem haviam falado. Slytherin continuou andando em direção a Harry e Hermione. Ele se movia como um Dementador, ela pensou freneticamente. Como uma sombra negra silenciosa. Sua capa era mais do que preta, possuía vários tons mais escuros do que preto. Parecia sugar toda a luz do aposento. Sob ela, sua pele estava branca como um cadáver. Ela sentiu o aperto de Harry em suas mãos aumentar insuportavelmente, e então...

Um grito ecoou no aposento.

A cabeça de Hermione se virou.

Gina estava em pé no último degrau da escada, olhos arregalados, sua mão sobre a boca, olhando fixamente para Slytherin. Havia uma expressão de completo horror em seu rosto.

- Gina... - Rony começou a se mover para frente, mas com um gesto rápido de Carlinhos, congelou no lugar.

Slytherin se virou e começou a andar em direção a Gina.

- Helga, - ele disse, seus olhos tão frios e negros como feridas em seu rosto. - Você era a mais gentil de todos. E mesmo assim, no final, você também me traiu.

Gina esticou o braço e pegou uma cadeira, colocando-a entre ela e o Lorde das Cobras.

- Não se aproxime de mim. - ela disse ferozmente.

- Ou o quê? Você vai me acertar com esse móvel aparentemente barato? Vá em frente. Você não pode me machucar.

O mais silenciosamente possível, Hermione começou a mexer em seus bolsos a procura de sua varinha. Ela não conseguia somente ficar ali e assistir Slytherin avançar em Gina...

- Ela disse pra não se aproximar dela. - veio uma voz calma detrás de Gina. - Mas eu acredito que escutar não é uma dos seus pontos fortes.

Slytherin parou por um momento.

As sombras partiram e Draco deu um passo a frente na escada, movendo-se devagar e deliberadamente. Ele tinha tirado seu pijama, mas seus pés estavam descalços, e em sua mão estava a espada.

Ele ainda está fraco, Hermione pensou. Ele ainda sente dores, e é por isso que ele está se movendo tão devagar, mas ele continuou descendo as escadas como se nada estivesse errado, como se a velocidade dos seus passos fosse nada mais que uma expressão de insolência.

- Quer dizer, é claro que você pode se transformar em uma grande cobra e tal. Mas verdadeiramente escutar, você sabe, isso também é importante. - Ele estava em pé no último degrau da escada agora, ao lado de Gina. Ela ainda estava segurando a cadeira. Draco não olhou para ela, apesar de estar obviamente consciente da sua presença ali. Mas seus olhos estavam fixos em Slytherin. - Você veio aqui atrás de mim. - ele disse em uma voz clara e calma. - Por que você não deixa o resto ir embora?

Slytherin sorriu. Foi muito pior do que Hermione tinha pensado que seria.

- O que lhe faz pensar que eu vim aqui atrás de você?

Draco empalideceu levemente. Seus olhos se viraram quase que imperceptivelmente na direção de Harry e Hermione. E ela quase pulou pra fora do seu corpo de espanto. Ela poderia ter jurado que Draco não tinha movido os lábios, mas ainda assim, ela também poderia de repente ter jurado que ele tinha falado, poderia jurar que ela o ouviu dizer urgentemente para Harry, Tire-a daqui.

E Harry... Harry respondeu.

Distraia-o.

Hermione sentiu a mão de Harry deslizar ao encontro da dela - a que não estava segurando o Licanto - seus dedos apertando os dela, apesar de ele não ter olhado para ela.

Os pálidos olhos de Draco se arregalaram, e logo de estreitaram. Ele olhou para Slytherin.

- Eu devo considerar, então, - ele perguntou calmamente - que a oferta feita por Rabicho ainda está de pé?

Com isso, Slytherin pareceu ficar tenso. Hermione não podia evitar olhar para as mãos dele. Elas eram tão longas e pálidas e magras que elas pareciam-se com pernas de tarântulas brancas.

- Você não gosta que lhe digam o que fazer. - disse o Lorde das Cobras suavemente. - Mas pense nisso. Junte-se a mim e ninguém nunca mais será capaz de lhe dizer o que fazer novamente. Nem o seu pai. Nem ninguém.

- Meu pai está morto. - disse Draco categoricamente. Ele levantou sua espada como uma barreira entre ele e o Lorde das Cobras. - Como você bem sabe.

- Honre a memória do seu pai, então, e junte-se a mim. É o que ele queria para você. É a razão para a qual você nasceu. Ou você não tem lealdade ao seu sangue?

Draco ficou em silêncio. Ele havia ficado bastante branco e, por um momento, Hermione pensou que, de fato, ele parecia muito com Lúcio, e ainda mais com o homem no sonho dela, que tinha suado e gritado com a dor do veneno em suas veias. Mas quando ele falou, sua voz estava controlada e cuidadosa.

- Eu não tenho lealdade a uma linhagem que é fraca e corrupta ao mesmo tempo. - ele disse. - Eu quero mais do que isso. Você pode me oferecer mais do que isso?

As sobrancelhas de Slytherin se encontraram. Diferente de Draco, ele não parecia controlado, apenas imparcial. Mas toda a sua atenção estava focada em Draco, isso era evidente. A mão de Harry apertou-se na de Hermione, e ela sentiu ele começar a levá-la em direção à porta. Eles se moviam o mais silenciosamente possível, não olhando um ao outro, apenas indo vagarosamente em direção à porta que dava no jardim.

- Talvez você não entenda o que os seus sonhos estão lhe dizendo, - disse Slytherin para Draco. - talvez eu precise lhe contar uma história.

- Ooh, eu gosto de histórias. - disse Draco. - Especialmente se for uma daquelas histórias sobre um internato só de garotas e que envolva caramelo e uma briga de travesseiros.

Dessa vez Slytherin meramente pareceu não entender. Seus dedos longos que pareciam uma aranha cerravam-se e esticavam-se ao seu lado. Hermione queria gritar com Draco por provocá-lo, mesmo sabendo que ele estava fazendo isso de propósito. Ele havia dito para Harry tirá-la dali, Harry e Hermione estavam quase na porta agora. Draco não parecia estar olhando para nenhum deles, mas mais uma vez ela ouviu sua voz, como ela havia ouvido antes, falar com Harry. Apressem-se e saiam daqui.

É o que eu estou tentando fazer!

Draco voltou sua atenção de volta a Slytherin.

- Você sabe, nós temos sido anfitriões terrivelmente rudes. - ele disse. - Nós podemos te oferecer alguma coisa para beber? Café? Chá? Ácido hidroclorídrico?

- Você não conseguiria me matar - disse Slytherin.

- Há muitas coisas que eu não consigo fazer. - disse Draco em um tom estável. - Eu não consigo fazer passos de dança de salão. Eu não consigo ver o motivo para a existência de calças pregadas. Eu não consigo entender porque pessoas possuem chinchilas. Eu não consigo fazer um suflê de chocolate que não murche. Eu não consigo--

- Suas tentativas de ser engraçado são meramente irritantes. - disse Slytherin friamente. - Mas suas tentativas de me distrair são, na verdade, muito perigosas. Não pra mim... para você.

Ele levantou sua mão.

E diversas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Draco se afastou rapidamente, empurrando Gina para trás dele. Harry e Hermione alcançaram a porta e Harry esticou sua mão para pegar a maçaneta. E Carlinhos fez um movimento brusco - por causa do susto, talvez, Hermione não tinha certeza - e derrubou a panela do forno no chão com um barulho ressoante.

Slytherin virou-se e viu Harry e Hermione à porta. Sua mão fez um gesto para frente e um jato de luz negra saiu dela. Foi como dar de cara com uma onda quebrando, derrubando os dois fortemente contra a parede. Hermione ouviu mais do que sentiu o barulho de sua cabeça contra ela e se curvou, agarrando sua cabeça em seus braços, cegada pela dor. Finalmente, sua visão se clareou e ela piscou os olhos afastando as lágrimas, e olhou para cima...

Para ver Slytherin em pé junto a ela. Ele estava olhando para ela e para Harry ao lado dela e havia uma expressão bastante estranha no seu rosto. Não era exatamente satisfação, nem exatamente ódio, nem outra coisa.

- Levante-se. - ele disse.

Ambos Harry e Hermione levantaram-se. Hermione viu Draco e Gina em pé imóveis na escada, assistindo. Draco tinha sua mão no braço de Gina. E Carlinhos tinha cruzado o aposento para ficar junto a Rony. Ele segurava o braço de Rony firmemente e parecia estar impedindo ele de se mover.

Slytherin deu um passo, não em direção a Hermione, mas em direção a Harry, que estava em pé totalmente imóvel, respirando ofegante, como se tivesse estado correndo. Slytherin esticou uma de suas mãos brancas e, para o espanto de Hermione, deslizou a ponta de um dedo pelo lado da bochecha de Harry.

- Eu matei você. - disse o Lorde Serpente suavemente. - Eu assisti ao seu sangue se esvaindo do seu corpo e por sobre as minhas mãos. E ele queimava. Meu primo. - Ele deu mais um passo em direção a Harry, que parecia muito chocado para conseguir se mover. - E, com os seus pensamentos ao morrer, você me amaldiçoou. Você bem sabia do poder de uma maldição ao morrer dos pertencentes à nossa linhagem. E eu sempre tinha pensado que você era estúpido.

Harry estremeceu e se afastou do toque de Slytherin, seus olhos tornando-se escuros, quase negros.

- Eu não sou Godric.

Slytherin respirou fundo sonoramente e deixou cair sua mão.

- Eu sei quem você é. - ele disse. - Harry Potter. Você matou o meu basilisco, a primeira das minhas crias, minha criação. Se você acha que o meu ódio por você é menor que o meu ódio por seu ancestral, você está muito enganado. Você vai morrer como ele morreu e irá para o Inferno engolindo maldições.

Harry levantou seu queixo. E então ele falou, mas Hermione não pôde entender o que ele disse - sua voz saiu como um sibilo que soava exatamente como mil serpentes rastejantes. Ele estava falando na Língua das Cobras.

O que quer que tenha dito, ele conseguiu mexer com Slytherin. Seus olhos se estreitaram, e por um momento, ele não se mexeu. Então, ele levantou sua mão e deu um tapa no rosto de Harry.

O som foi como o de uma vara se quebrando no quase silencioso aposento. Isso estimulou Hermione; ela deu um passo a frente empurrando Harry para o lado, o Licanto em sua mão, lançando-se à frente de Slytherin - que sorriu para ela, e levantou sua mão novamente. Um flash de luz azul saiu de seus dedos, atingindo-a no peito e empurrando suas costas contra a parede. Ela ouviu Harry chamá-la e soube, sem saber como ela sabia, que ele estava conversando com Draco como ele havia feito antes - silenciosamente.

Me dê a espada! Harry chamou.

E a voz de Draco. Pegue.

Um flash de verde e prata. Harry levantou sua mão e de repente ele estava segurando a espada, de um jeito meio estranho, mas firmemente, em sua mão direita. Ela viu Slytherin, seu rosto se fechando, viu Harry levantar a mão com a espada... e parar.

Porque Carlinhos Weasley estava repentinamente em pé no meio do aposento, diretamente entre Slytherin e Harry. Seus braços estavam cruzados; ele estava de frente para Harry, quase como se... como se... como se estivesse bloqueando o Lorde das Cobras.

- Abaixe a espada, Harry. - ele disse.

Harry parecia atônito.

- Mas... Carlinhos...

Carlinhos estava pálido como um defunto, seus olhos obscuros brilhando.

- Harry, - ele disse nervoso. - Você não sabe o que está fazendo. - Ele olhou por cima de seu ombro para Slytherin, que estava imóvel, seus olhos repletos de sombras que se moviam. - Abaixe a espada.

Harry hesitou. Ele direcionou os olhos para o lado, sua mão largando da espada. E mais uma vez, Hermione pôde jurar que Draco o chamou do outro lado do aposento, apesar de sua boca não se mover e ninguém parecer ter ouvido. Não faça isso.

E Harry respondeu. Mas é o Carlinhos...

Você não pode confiar nele.

Claro que posso.

A cabeça de Hermione repentinamente se levantou e ela olhou fixamente para o relógio na parede. Haviam nove ponteiros que correspondiam a cada membro da família Weasley - o ponteiro de Percy estava em "trabalho", o de Gui dizia "viagem" e o de Rony e Gina estavam amontoados juntos em "perigo mortal". Mas o de Carlinhos...

O ponteiro de Carlinhos apenas dizia "em casa".

- Largue a espada antes que você provoque a morte de todos nós. - repetiu Carlinhos, sem tirar os olhos do rosto de Harry. - Não banque o herói, Harry... você acha que vale a vida do Rony, da Hermione e da Gina?

Harry empalideceu.

- Não! - gritou Hermione, levantando-se e ficando de joelhos. - Não dê ouvidos a ele, Harry!

Harry estava ofegante, como se estivesse estado correndo. Suas mãos estavam atentas no cabo da espada.

- Carlinhos... Eu não posso...

E Carlinhos avançou nele, empurrando Harry contra a parede, sua mão esticada para pegar a espada. Harry, parecendo completamente surpreso, virou-se de lado...

E Carlinhos pulou para trás, segurando a espada em sua mão direita. Hermione ouviu Rony gritar "Carlinhos! Não! Não toque nela!" enquanto se lançava em direção ao irmão, derrubando-o no chão, a espada escapando das mãos de Carlinhos e deslizando pelo chão da cozinha. Carlinhos se apoiou em suas mãos, empurrou Rony de cima dele e pôs-se de joelhos, esticando a mão para pegar a espada. Houve um movimento rápido e, de repente, Draco estava ali, apanhando a espada. Mas Carlinhos, parecendo apavorado, apanhou-a primeiro; ele a levantou em sua mão, virou-a em direção a Slytherin, dizendo "Mestre! Aqui está!" - e então houve um flash de luz verde mais brilhante que qualquer luz que Hermione já tinha visto, ela ouviu Gina gritar, e então só havia silêncio.

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Hermione cobriu seu rosto com suas mãos.

- Isso é tudo que eu me lembro.

Sirius estava em pé, seu rosto vulnerável.

- Meu Deus. - ele disse. - Carlinhos? Carlinhos Weasley? Eu não acredito. - Ele olhou em direção à cozinha, e ela podia ver pela porta aberta a figura coberta com um cobertor que havia de ser o corpo de Carlinhos. - Deve ter sido a Maldição Império.

Hermione hesitou.

- Eu não sei.

As mãos de Sirius estavam tremendo. Ele olhou para Carlinhos, e de volta para Hermione.

- Ele ofereceu a espada para Slytherin? Ele o chamou de "Mestre"?

Hermione assentiu com a cabeça.

- Eu mesma ouvi. Nós todos ouvimos. E Sirius... mais cedo, quando Carlinhos tomou o Licanto de mim, ele colocou um feitiço sobre ele que soava bastante estranho.

- Você se lembra qual?

Hermione concordou com a cabeça.

- Monitum ex quod audiri nequit.

Sirius colocou a cabeça em suas mãos. Quando olhou para cima, seus olhos escuros estavam vazios.

- Esse é um feitiço de Escuta. - ele disse. - Ele abre um canal de comunicação entre quem o proclama e alguém que esteja longe.

Hermione concordou.

- Eu acho que ele estava comunicando algo a Slytherin. - ela disse.

Ele estremeceu.

- Eu não consigo nem pensar em acordá-los. - e ela sabia que ele se referia a Rony e Gina. - Eu espero, pelo bem de Molly e Artur, que tenha sido a Maldição Império.

Hermione sentou-se lentamente, sentindo sua cabeça girar.

- Eu não acho que era - ela se ouviu dizer.

Sirius olhou para ela.

- Você não está pensando que Carlinhos...

- Não - interrompeu Hermione. Ela se pôs de pé, recusando a oferta de ajuda de Sirius, cruzou a sala e foi até a cozinha, passando pela porta aberta. Ela ouviu Sirius se levantar e segui-la, parando na porta para assistir enquanto ela levantava a cabeça e olhava para o relógio na parede.

Os ponteiros de Rony e Gina haviam retornado para a posição "em casa". O de Percy dizia "trabalho", o de Fred e Jorge dizia "viagem" e o de Gui... o de Gui dizia "em casa". E próximo ao dele estava o de Carlinhos, também "em casa".

Ela mordeu o lábio e virou-se lentamente para a figura coberta com o cobertor no chão. Então ela se ajoelhou ao lado dela e, com um gesto rápido e decidido, arrancou o cobertor.

Sirius pulou surpreso.

- Hermione! O que você está fazendo?

Mas ela estava examinando o corpo de Carlinhos. Estava imóvel, já frio, seu rosto relaxado como se estivesse dormindo. Segurando-se para não estremecer, ela esticou a mão, pegou a mão direita imóvel dele e virou-a, com a palma para cima.

Não havia nenhuma marca.

Sirius estava olhando para ela.

- Que diabos…?

Ela soltou a mão e pôs-se de pé.

- Carlinhos tocou a espada. - ela disse. - Ele não é um Magid. Deveria tê-lo queimado.

Sirius balançou a cabeça.

- Hermione, eu não...

Ela sabia o que fazer agora. Ela correu para o outro lado do aposento até a lareira. Enfileirados em cima da lareira estavam sete jarros idênticos, cada um etiquetado com o nome de um dos filhos Weasley: começando com Gui à esquerda e terminando com Gina à direita. Hermione pegou um dos potes prateados, abriu com o polegar, despejou um pouco de pó em sua mão e jogou-o no fogo mágico que sempre queimava na lareira dos Weasley.

As chamas se tornaram laranjas, estão azuis, e uma única nota musical aguda ressoou pelo aposento. Hermione esperou, segurando a respiração - as chamas escureceram repentinamente e solidificaram, e então uma cabeça e um par de ombros emergiram do fogo, um rosto familiar voltou-se para ela, piscando e parecendo espantado, empurrando o escuro cabelo vermelho dos olhos enquanto olhava para ela surpreso.

- Hermione, - ele disse. - o que está acontecendo? Normalmente, só a minha mãe usa esse modo de me contatar. Há algo errado?

Hermione soltou o ar que estava segurando.

- Olá, Carlinhos - ela disse.

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Uma luz veio primeiro, queimando o interior de suas pálpebras, e então a dor - uma dor terrível nos seus ombros, costas e pernas, como se ele tivesse sido jogado contra uma parede. Talvez ele tivesse. Harry abriu seus olhos lentamente e o mundo dançou ao seu redor em um redemoinho de cores - primeiro azul, com cada vez menos manchas de verde, preto e vermelho.

Ele se colocou sobre os cotovelos e olhou ao seu redor. Ele estava em uma sala, uma bem grande, cujas paredes e o chão pareciam ser de um mármore azul polido. Tapeçarias de veludo preto pendiam nas paredes, com detalhes em desenhos prateados. Havia uma quantidade desnecessária de móveis pesados de uma madeira escura espalhados ao redor do aposento - cadeiras, mesas, longos bancos e um guarda-roupas de mogno grande e aparentemente pesado, com duas portas enormes, que estava encostado contra a parede oposta. O teto era tão alto que desaparecia em um cavernoso e escuro vazio.

Não havia portas que ele pudesse ver, nem janelas.

- Bom dia - disse uma voz familiar em seu ouvido. - Ou talvez tarde, ou talvez noite, é completamente impossível dizer ao certo nessa merda de lugar. Como está a sua cabeça?

Harry olhou em volta. Isso também doía. Draco estava sentado perto dele, encostando as costas contra uma das paredes de mármore azul. Ele não parecia ferido. Ele ainda estava descalço e Harry viu que havia sangue na sua camisa, assim como grandes manchas pretas, como se ele tivesse sido arrastado através de cinzas. Harry perguntou-se novamente o que havia acontecido depois que eles haviam apagado. A última coisa que ele se lembrava era uma luz verde brilhante...

Ele estremeceu.

- Minha cabeça? Péssima. Onde estamos?

- Não tenho certeza.

- Como nós chegamos aqui?

Draco, em resposta, deu de ombros.

Harry se levantou até sentar e sentiu algo grudento no seu peito. Ele olhou para baixo e viu que a manga da sua camisa branca estava coberta de sangue - em sua maioria, sangue seco e coagulado, mas um pouco era novo. Ou nós não estamos aqui por muito tempo, ele calculou, ou eu ainda estou sangrando. Ele arregaçou a manga, viu o corte comprido ao longo do seu braço, vertendo sangue escuro e estremeceu.

Como se impulsionado pela visão de seu próprio sangue, a memória começou a voltar para ele, e, com ela, o medo. Ele levantou os olhos para Draco.

- Hermione, - ele disse. - Rony... e Gina. Eles estão...

Draco desviou o olhar.

- Eu não sei.

Evitando o olhar de Harry, ele se levantou. Seus pés descalços não fizeram barulho algum no chão de pedra azul enquanto ele atravessava o aposento, passando a mão pela parede - procurando por frestas ou rachaduras, Harry imaginou. Ele lembrava um gato, curiosamente rondando as fronteiras de um novo território.

Talvez você não saiba, Harry pensou em direção a ele. Mas o que você acha?

Draco não se virou, mas continuou movendo-se em direção ao lado oposto do aposento. Hermione está bem, ele disse. Eu sinto isso. Eu acho que Rony e Gina também estão bem. Draco virou-se, olhou para ele. Mas eu não posso te prometer nada.

Eu sei. Harry não poderia ter dito o porquê, mas ele sentia que Draco estava certo. Hermione estava bem. Talvez sua mente só estava lhe dizendo aquilo porque, caso contrário, talvez ela não funcionasse, mas ele não achava que era o caso. Malfoy... e quanto ao Carlinhos?

Draco parou em frente ao guarda-roupa, seus ombros se contraindo. Estremecendo levemente por causa da dor nas costas, Harry caminhou até estar ao lado dele.

- Foi a minha imaginação, - ele disse para o lado de trás da cabeça de Draco - ou Carlinhos e Slytherin estavam trabalhando juntos? Como uma equipe?

Draco virou-se e olhou para ele.

- Sim, - ele concordou. Havia um ar de finalidade em seus calmos olhos cinzas. - Eu praticamente esperava que eles se agrupassem em uma rodinha para planejar uma estratégia.

- Mas isso simplesmente não é possível. - Harry argumentou. - Carlinhos não faria isso.

- Eu concordo. - Draco virou-se para o guarda-roupa, abriu as portas e olhou dentro. Parecia haver pilhas de tecido escuro lá dentro, assim como alguns objetos brilhantes que poderiam ser jóias; Draco começou a cutucá-los com um dedo experimentalmente. - Eu não acho que aquele era o Carlinhos. - Sua voz, um pouco abafada, chegou aos ouvidos de Harry claramente.

Harry piscou os olhos, confuso.

- Não era o Carlinhos?

- Não era o Carlinhos. - disse Draco firmemente, e então ele deu um pequeno grito de surpresa ou espanto, e exclamou. - Potter. Você tem que ver isso. - Ele retirou sua cabeça do guarda-roupa, sorrindo com um divertimento malicioso. - Olhe pra isso. Alguém deixou um presente pra você. - ele disse, e estendeu algo que brilhava vermelho e prata na luz azulada aposento.

Harry olhou fixamente espantado. Era uma espada - a espada de Godric Gryffindor, para ser preciso, parecendo exatamente como ele se lembrava dela - talvez um pouco menor, mas isso era porque ele havia crescido. Ele esticou a mão e a pegou das mãos de Draco, passando seus próprios dedos sobre a suave lâmina, sobre os rubis no cabo que formavam o contorno de um leão agachado.

- Por que ele me deixaria isso? - ele se perguntou em voz alta.

- Não faço a mínima idéia. Mas eu vou te dizer uma coisa, esse lugar é bem mais agradável do que eu esperava. Normalmente, a masmorra padrão é bem desagradável. Lama, minhocas, os gritos e uivos de um pobre bastardo sendo torturado na cela ao lado da sua... - Draco deu de ombros. - A pior coisa com a qual nós aparentemente teremos que conviver é o esquema monocromático de cores. Isso, e a ausência de comida.

Harry, que havia estado cada vez mais consciente do barulho do seu estômago, estava chocado.

- Não tem comida?

Draco balançou sua cabeça.

- Não que eu tenha visto. E eu já olhei por todos os cantos desse quarto, várias vezes.

Harry suspirou.

- Eu acho que eu não teria confiado em nenhum alimento que ele tivesse nos dado, de qualquer maneira.

Segurando a espada cuidadosamente, ele caminhou para o lado do aposento e deixou-se cair em um banco ali para estudá-la. Um momento depois, Draco juntou-se a ele, carregando sua própria espada.

- Ei, Potter. Eu encontrei uma Barra de Chocolate Crocanteliciosa no meu bolso. Você quer metade?

- Claro. - disse Harry, rabugento. - Por que não. - Ele pegou metade e fitou Draco de soslaio, que estava ocupado comendo a sua parte do doce. - Eu achava que sua mentezinha ocupada estaria bolando planos de fuga possíveis a essa altura do campeonato.

Draco engoliu e fez uma careta.

- Urgh. Ouça Potter, não há uma saída desse quarto.

- Como você pode ter tanta certeza?

- Bem, não há portas nem janelas, nenhuma passagem secreta, nenhuma emenda na pedra em nenhum lugar e pra completar...

- Eu achei que você fosse o Garoto do Plano Engenhoso! O que aconteceu com o Garoto do Plano Engenhoso?

- Eu não disse que não tinha traçado um plano. Eu bolei um plano. Eu só não acho que você vá gostar dele.

- Eu posso gostar. - disse Harry, através da sua boca cheia de chocolate.

- Não, - disse Draco - você realmente não vai gostar dele.

- Só porque eu sou um Grifinório! - Harry disse com um tom ressentido. - Não é como se eu não conseguisse apreciar planos engenhosos, Malfoy. Eu já não concordei com pelo menos uns seis dos seus esquemas de pouco cérebro? Eu já não estive lá quando você precisou, fiquei do seu lado...

Draco deu um grande sorriso.

- Isso está se tornando quase uma ode ao nosso relacionamento, Potter. - ele disse. - Continue. Eu estou formigando de emoção.

Harry ficou amuado.

- Isso provavelmente é só assadura por causa da calça de couro.

- Aquela merda de calça... - disse Draco irritado. - Eu tenho a sensação de que ninguém vai me deixar mais esquecer dela, mesmo que eu só as tenha usado uma vez, mesmo que tenha sido contra a minha vontade...

Harry bufou.

- Agora eu estou imaginando o Carlinhos te segurando e forçando a calça de couro em você.

- Ei, essa é a sua fantasia pervertida, Potter, não minha.

Harry lançou-lhe um olhar fulminante.

- Você vai me contar a porcaria do seu plano ou não?

- Tudo bem, - disse Draco. - Meu plano era esse. Nós esperamos até que Slytherin venha e nos mate, e quando ele vier, nós morremos de uma forma horrível e barulhenta. Eu também estava planejando em esguichar sangue e talvez babar um pouco enquanto eu morro. O que você acha?

Harry estava furioso.

- Essa é a sua idéia de um bom plano?

- Eu achei que fosse a opção mais provável.

- Eu não acredito que você já está desistindo.

- Eu não estou desistindo, estou sendo realista.

- Você está desistindo.

- Não estou.

- Está sim.

- Essa discussão não vai a lugar nenhum.

- Mas serve pra passar o tempo.

- Eu consigo pensar em jeitos melhores pra passar o tempo.

- Eu não sabia que você jogava pra esse time, Malfoy.

- O quê? Oh. Ugh, não foi isso que eu quis dizer. E mesmo que eu jogasse pra esse time, você seria o último da minha lista, você é muito baixo e magricela.

- Eu tenho a mesma altura que você. Eu não sei... alguém que se veste da maneira que você se veste... todo aquela atenção que você dá ao seu cabelo...

- Dar atenção ao meu cabelo não me faz gay. Dar atenção ao seu cabelo, isso diria que eu sou gay.

- Aposto como você presta atenção, sim, ao meu cabelo. - disse Harry serenamente.

- Não presto não. Eu nem saberia dizer que cor ele é.
Harry guardou o resto da barra de chocolate que ele havia estado roendo e colocou suas mãos sobre os olhos de Draco. Draco pulou surpreso e Harry sentiu os cílios do garoto deslizarem contra as palmas das suas mãos.

- O que você está fazendo, Potter?

- Me diga que cor é o meu cabelo, - Harry disse.

- Eu não faço idéia. - disse Draco, piscando furiosamente.

- Me diga e eu te dou o resto da minha metade da barra de chocolate. Você está com fome, eu sei que está.

- Potter! - disse Draco. - Você é sádico.

- Hmm. - disse Harry. - Chocolate. Vamos lá, Malfoy. Pense nisso como um exercício de percepção e memória.

- Uh, tá bom. - disse Draco irritado. - Seu cabelo é preto e está implorando pra ser cortado.

- Está? - perguntou Harry curiosamente.

- Claro que está! - o tom da voz de Draco estava animado. - Eu nem sei como você consegue suportar andar por aí com o seu cabelo parecendo que você foi arrastado nove vezes por um Arbusto de Espinhos Emaranhados. E o seu cabelo não é nem realmente liso, meio indeciso, você sabia, ou pelo menos não seria se você o cortasse; ele é muito longo e é todo esse peso que o mantém pra baixo. Se você cortasse, ele até que ficaria legal e provavelmente enrolaria um pouquinho e você sabe, eu posso sentir você me encarando, Potter. Pare com isso.

- Eu não estou encarando. Eu só estou pensando que talvez o meu cabelo não é o único por aqui que é indeciso.

- Bah! - Draco empurrou as mãos de Harry pra longe com um grunhido irritado. - Você é um leigo. Você não sabe de nada.

- Pelo menos eu não estou em negação. - disse Harry e entregou a Draco o último pedaço de chocolate.

Draco aceitou com um olhar de desdém.

- Eu, gay? Draco Malfoy? Loucamente amado por todas as mulheres com idade acima de doze anos? Já seis vezes na lista dos 'Mais Qualificados' da revista Feitiço? Autor da autobiografia sucesso de vendas 'Por Que Eu Gosto De Fazer Aquilo Com Garotas'? Eu acho que não.

- Pare. Você está me fazendo rir. E isso faz o meu estômago doer. Meu corpo todo está doendo.

- E deveria. - disse Draco, acabando com o chocolate com um ar arrependido. - Slytherin te jogou na parede. E você tem um olho roxo se formando aí. Bem elegante.

- Bem, você me parece não ter nenhum ferimento. - disse Harry ressentido.

Em resposta, Draco esticou seu braço direito e levantou a manga. Seu pulso direito estava inchado e se tornando preto e azulado.

- Torção. - ele disse categoricamente.

Harry assobiou.

- Isso parece doer.

- Não, está ótimo.

- Cala a boca, Malfoy. Você quer que eu conserte?

Harry poderia jurar que Draco hesitou momentariamente. Então ele suspirou.

- Claro. Vá em frente e tente.

Harry esticou a mão e colocou sua a palma da sua mão contra o pulso de Draco.

- Asclepio, - ele disse.

Nada aconteceu.

Harry tentou novamente.

- Asclepio. - Nada continuou acontecendo. Harry fechou seus olhos e colocou toda grama de energia e força que ele tinha para se concentrar em pensamentos de magia, magia e cura, concentrando-se na forma da magia, como ele sentia a magia, moldando-a e dobrando-a de acordo com sua vontade. - Asclépio - ele falou e abriu seus olhos para ver uma expressão de espanto no rosto de Draco. Ele olhou para o pulso de Draco e viu que a coloração preto-azulada havia esclarecido levemente, o inchaço diminuído, mas o pulso ainda estava longe de parecer normal.

Draco puxou sua mão de volta e olhou curiosamente para seu pulso.

- Quase funcionou. - ele disse, soando surpreso.

- Me deixe tentar novamente. - disse Harry.

Draco balançou a cabeça, olhos divertidos.

- Eu não tenho certeza se é uma boa idéia.

Harry abriu sua a boca pra protestar... e parou. Ele podia sentir seu coração batendo violentamente em seu peito como se ele tivesse acabado de correr uma milha e ele se sentia repentinamente trêmulo e exausto.

- Algo muito estranho está acontecendo aqui. - ele observou e olhou para Draco, que o estava assistindo com um olhar de simpatia, mas sem surpresa em seus olhos cinzas. - O que você sabe, Malfoy? Por que aquilo foi tão difícil? - Ansiedade fez com que sua voz ficasse ríspida. - Há algo de errado comigo? Se há, me diga. Eu prefiro saber.

- Se há algo de errado com você, então há algo de errado comigo também. Eu tentei uns sessenta feitiços antes de você acordar. Nada aconteceu. Só me deixou cansado. Foi como tentar andar através de uma parede de concreto. - Ele olhou de lado para Harry, a luz do aposento fazia com que seus olhos parecessem azuis e estranhamente lembrava Harry de Rony. - Não somos nós, é o quarto.

- O quê? Como você sabe?

Draco suspirou.

- Porque eu sei onde nós estamos. Oh, não no sentido de ter a menor idéia, geograficamente, onde nós estamos, mas eu posso te dizer uma coisa - esse quarto é uma prisão. Uma prisão construída para aprisionar Magids. - Ele olhou para Harry, que ainda parecia transtornado. - São as paredes. - ele disse. - Olhe para as paredes.

Harry esticou o braço e colocou a mão contra uma parede, que era fria e lisa e tinha uma textura nada parecida com mármore, ao contrário do que ele havia imaginado. Porque, é claro, não era de mármore. Ele olhou de volta para Draco, percepção tomando conta lentamente da sua mente.

Draco sorriu, sem nenhuma alegria.

- Eu sabia que você iria chegar lá, um dia. - ele disse. - O que Lupin nos disse: a substância com maior dureza no mundo, repele mágica, não pode ser despedaçada ou quebrada...

Harry fechou seus olhos.

- Adamantina. - ele disse. - Nós estamos em uma cela de adamantina.

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Gina nunca havia visto a Toca tão cheia de tensão. O Sr. e a Sra. Weasley tinham voltado pra casa, é claro; na cozinha um pálido Sr. Weasley estava em uma intensa discussão aos sussurros com um grande grupo de Aurores. A Sra. Weasley, tendo chorosamente abraçado Rony e Gina depois de acordados, assim como Hermione, havia se retirado para seu quarto para se deitar. Narcisa havia retornado à Mansão e Sirius havia ido ao Ministério para ajudar a descobrir a identidade do falso Carlinhos Weasley.

- Eu não acredito que aquele não era realmente o Carlinhos. - disse Rony, ainda parecendo entorpecido com o choque. Ele estava sentado no sofá da sala de estar ao lado de Hermione, que, pálida porém composta, traía sua tensão apenas no forte aperto que ela mantinha no pulso dele. Gina estava sentada ao lado deles. - Eu não acredito que nós não percebemos que não era realmente o Carlinhos.

- Ele fez o jantar. - disse Gina, enjoada. - E nós quase comemos. E ele poderia ter sido qualquer um. Um Comensal da Morte. Rabicho. Qualquer um. - Ela cerrou o punho. - Eu me sinto tão estúpida.

- Quando você olha para uma pessoa, você simplesmente supõe que ela seja quem ela parece ser. - disse Hermione em uma vozinha fraca. - Quer dizer, eu achei que o Harry fosse a pessoa que eu conhecesse melhor no mundo e me levou dois dias pra perceber, quando Draco estava fingindo ser ele.

Rony parecia prestes a dizer algo a respeito quando a porta abriu e Carlinhos entrou. Ele parecia cansado: havia olheiras debaixo dos seus olhos verdes normalmente alegres, e seu cabelo vermelho estava completamente desarrumado.

- Oi, todo mundo. - ele disse experimentalmente.

Ninguém se moveu.

- Olha, dessa vez sou eu de verdade. - ele disse, soando levemente aborrecido.

Todos olharam fixamente para ele. Rony franziu as sobrancelhas. Ninguém falou nada.

Carlinhos soltou um som exasperado.

- Tudo bem, então, me perguntem qualquer coisa, - ele disse. - Me perguntem qual é a cor preferida da mamãe, ou qual o doce preferido do Percy, ou...

- Qual o meu nome? - Rony interrompeu, com os olhos esbugalhados. - Em que ano nós estamos.

Carlinhos revirou os olhos.

- Olhem, nós estamos checando o Carlinhos aqui, não traumatismos cranianos extensos.

- Qual o meu nome do meio?

- Aurelius. - disse Carlinhos prontamente.

Isso conseguiu uma reação até mesmo de Hermione.

- Aurelius? - ela exigiu, encarando Rony.

Rony parecia defensivo.

- O que há de errado com Aurelius?

- Bem, pra começar, isso significa que suas iniciais soletram "RAW". (A palavra 'raw' significa 'cru' em inglês.)

Rony fez uma cara de quem nunca havia pensado nisso antes.

- Acredito que isso seja verdade.

Carlinhos estava sorrindo agora um tipo de sorriso cansado.

- O seu nome do meio é 'Aurelius'. - ele disse para Rony. - Sua cor favorita é vermelho, mas você odeia a cor vinho; quando você tinha dez anos, você chorou porque a mamãe não deixou você se juntar à uma gangue de motociclistas e mudar o seu nome para 'Matador Louco' e no ano passado você me disse que você achava que a garota mais bonita da escola era--

- Tudo bem. - interrompeu Rony, com as orelhas de um rosa vivo. - Você é o Carlinhos. Agora, se acomode.

Carlinhos se jogou na poltrona oposta a Gina e esticou suas pernas.

- Você tem certeza que não quer que eu continue? - ele sorriu, mas sua expressão ficou séria assim que o Sr. Weasley entrou na sala, parecendo séria.

- Eu estou indo ao Ministério. - ele disse a Carlinhos. - Há vinte Aurores ao redor da casa e o CA está enviando mais vinte. Mas eu quero que vocês fiquem aqui. - Seu olhar passou por Rony, Hermione e Gina e o que estava subentendido era claro: Fique aqui e fique de olho nas crianças. - Vocês. - ele disse para os três adolescentes no sofá, tentando manter sua voz o mais leve possível. - Com quarenta Aurores lá fora, essa deve ser a casa de bruxos mais segura da Grã-Bretanha. Mas eu quero que vocês fiquem aqui dentro. Vocês não devem sair por nenhuma razão, nem para o jardim. Não até que eu volte pra casa e permita. Entendido?

Rony olhou para ele e falou por todos eles:

- Entendido.

O Sr. Weasley parecia ter engolido algo que estava entalado na garganta e afirmou com a cabeça vividamente.

- Tudo bem, então. - ele disse e desaparatou.

Hermione levantou-se.

- Eu estou cansada. - ela disse. - Eu acho que vou pra cama, ler um pouco. - ela olhou para Rony. - Posso pegar emprestada uma camiseta ou algo pra vestir?

Rony levantou-se logo depois dela.

- Eu vou te arranjar um pijama lá em cima.

Gina assistiu seu irmão e Hermione subirem as escadas e sentiu uma pontada de inveja repentina da qual ela quase havia esquecido. Rony, Harry, e Hermione sempre tinham formado um círculo tão perfeito; ninguém jamais havia conseguido entrar. E então Draco apareceu e parecia ter conseguido entrar no círculo sem nenhum esforço, e se ele não era sempre bem vindo, certamente não havia dúvidas de que ele seria em breve. E mais do que qualquer coisa, a determinação de Hermione o manteria como parte do grupo, e Rony e Harry sempre iriam, no final das contas, fazer o que ela quisesse. Mas ela, Gina, freqüentemente ainda sentia que não fazia parte, como se ela fosse uma intrusa que tinha aparecido em uma festa sem ser convidada.

- Gina. - Era Carlinhos falando, olhando para ela com olhos inquisitivos. - Você realmente achou que aquela pessoa era eu? Que eu faria algo do tipo?

Gina mordeu o lábio, tentando concentrar seus pensamentos.

- Bem, a princípio você... ele... parecia perfeitamente normal, e depois, no final tudo aconteceu tão rápido que nós não tivemos a chance de pensar em nada. E então, nós estávamos inconscientes. - Ela levantou o olhar para o do seu irmão, viu a preocupação na sua expressão, as sombras em seus olhos. - Eu sinto muito, Carlinhos. - ela disse, sua voz se quebrando. - Não era justo pensar aquilo nem por um momento.

Mas Carlinhos, estudando suas mãos, levou um momento para responder.

- É difícil dizer - ele disse finalmente - exatamente do que as pessoas são realmente capazes. Você nunca sabe, as pessoas às vezes acham que estão fazendo a coisa certa, e então isso acaba sendo um erro, mas é muito tarde para mudar as coisas.

Gina estava confusa.

- Do que você está falando?

Carlinhos sorriu levemente.

- São só divagações sem sentido. Me ignore. Vamos lá, vamos pra cozinha, eu vou preparar um pouco de chá pra você.

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- De acordo com a Licença de Aparatação dele, seu nome é Alexander Taylor - disse Olho-Tonto para Sirius, que estava em pé ao lado do corpo na maca, com as mãos nos bolsos e uma expressão decidida no rosto. A luz da lua fluía pela pequena janela trancada ao alto, fazendo as bordas do cabelo de Sirius ficarem vermelhas. - E de acordo com seu Registro do Ministério, ele é um lobisomem.

- Um lobisomem? - Sirius olhou para o corpo do homem que havia se disfarçado de Carlinhos Weasley. O encantamento sob o qual ele estava aos poucos ia desaparecendo com sua morte; os cabelos vermelhos ficando pretos, as sardas que eram a marca registrada dos Weasley iam desaparecendo. - Na verdade, isso faz sentido.

- Faz? - disse Olho-Tonto, em um tom neutro.

Sirius concordou com a cabeça sem responder. Olho-Tonto sabia sobre Lupin - quase todos no mundo mágico sabiam - mas Olho-Tonto também conhecia Lupin. Ele havia sido um dos instrutores de Sirius durante seus dias de trenamento para Auror, e havia se encontrado com ele diversas vezes. Ele sabia da amizade deles.

- O que eu não compreendo - acrescentou o velho Auror coberto de cicatrizes, ruminando, coçando a cabeça - é como o atacante - (até agora, ninguém havia mencionado Slytherin pelo nome, somente referindo-se a ele como 'o atacante' - tentando não soar tão maluco, Sirius suspeitava) - conseguiu entrar na casa. Artur Weasley não é tolo; ele tem feitiços de segurança para proteger bem a casa.

Sirius deu de ombros.

- As proteções mágicas são configuradas para reconhecer membros da família pela aparência, então não é um grande mistério como o Carlinhos falso entrou. Quanto ao resto, Hermione Granger me disse que o 'Carlinhos' passou a tarde 'mexendo no jardim'. Eu desconfio que o que ele realmente fazia era desarmar as proteções. Não seria muito difícil de fazer isso de dentro da propriedade. E então, quando ele acabou, ele convocou seu Mestre. - Sirius suspirou, sentindo-se cansado. Ele levantou seus olhos e olhou ao redor; ele e Olho-Tonto estavam sozinhos no corredor escuro. - Ele tem alguma família?

- Quem? O lobisomem?

Sirius afirmou com a cabeça.

- Nenhuma sobre a qual nós pudéssemos achar algum registro. Provavelmente é melhor também, considerando...

- Considerando o quê? - perguntou Sirius rispidamente.

Olho-Tonto não estava olhando para ele, mas sim para o corpo do homem na maca.

- Ele tem ferimentos - ele disse. - Nas mãos. Não ferimentos de defesa. Como se ele tivesse escalado pra fora de algo. Uma jaula, algum tipo de cercado. O encantamento escondeu os ferimentos. Eu desconfio que ele estava sendo Chamado. Eu desconfio que todos os lobisomens na Grã-Bretanha estão sendo Chamados e é esse o motivo por trás dessa porção de pessoas avistando lobisomens que tem estado nos noticiários.

Sirius ficou tenso repentinamente.

- Essa é uma teoria interessante. - Ele, até agora, não havia contado a ninguém sobre Lupin ter sido Chamado, e não queria mencionar agora que ele podia adquirir algum conhecimento especial sobre o Chamado, lobisomens, Slytherin, ou qualquer outra coisa. Ele sabia que isso não fazia nenhum sentido logicamente, talvez também eticamente, mas ele não se importava. Ele não estava preparado para responder perguntas a respeito de Lupin e ponto final.

- Ser Chamado não é um processo agradável. - disse Olho-Tonto, evitando os olhos de Sirius. - É agonizante e persiste até que o ser sendo Chamado responda à convocação, ou morra.

Sirius olhou para baixo, suas mãos apertando as bordas de metal da maca. A gema vermelha no seu bracelete brilhou à medida que virava seu pulso.

- Há algo que possa ser feito para isso?

- Havia uma conversa sobre criar uma poção para curá-lo, na época que o Lorde das Trevas estava no poder, mas eu não sei se algo saiu disso tudo. - Olho-Tonto ainda se recusava a olhar para Sirius, que estava agradecido. Olho-Tonto pigarreou. - E os Weasley? Como eles estão levando isso?

- Eles estão bem. Eles estavam frenéticos de início, provavelmente ainda estão, mas a Toca está nadando em Aurores no momento. Eles terão uma guarda constante vinte e quatro horas de quarenta Aurores no mínimo, circulando a casa e a propriedade. Não haverá uma só casa de bruxos mais segura na Grã-Bretanha.

- E você será um desses Aurores? - Olho-Tonto perguntou. Sirius suspeitava que Olho-Tonto gostaria de ser um deles, mas em consideração a sua idade (103, pelo que se diz por aí), Olho-Tonto ultimamente tem sido restrito a missões inativas.

Sirius balançou a cabeça e olhou novamente para o corpo do homem na maca. De perto, era fácil ver os sinais que o denunciavam e que o marcavam como um lobisomem: as unhas cristalinas, os indicadores levemente alongados. Alexander Taylor não era o primeiro lobisomem morto que Sirius tinha visto; nem, a essa altura do campeonato, achava que seria o último.

- Não. - disse Sirius. - Eu estou indo pra casa. Tem algo que eu preciso fazer.

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Horas se passaram. O quarto de adamantina estava silencioso. Harry estava dormindo em um banco de madeira comprido, seu braço sobre os olhos. Draco estava em pé ao lado do guarda-roupa, olhando para si mesmo no espelho que havia na parte de dentro da porta.

Normalmente, olhar em espelhos era uma das atividades favoritas de Draco, mas no momento ele se encontrava vagamente perturbado pela imagem refletida que encontrou seu olhar. Ele havia tirado algumas das roupas do guarda-roupa e vestido, feliz em se livrar de sua camisa suja de sangue. Agora ele vestia uma camisa de um material preto, duro e não-familiar, botas pretas (um tamanho maior que o seu, seus pés deslizavam dentro delas), e por cima de tudo, uma longa capa preta que abotoava no peito com uma corrente prateada, cujos elos eram minúsculas serpentes entrelaçadas. Um cordão verde-escuro segurava a barra da capa. Não que ele não ficasse bem nessas roupas (claro que ele ficava bem nelas! - vistoso e misterioso). É que essas eram as roupas que ele pegou instintivamente ao abrir o guarda-roupa; a capa era a mesma que seu eu no sonho havia usado, em pé no centro do círculo de demônios, barganhando sua alma. Ele ouviu as vozes dos demônios novamente na sua cabeça: Há um equilíbrio natural para todas as coisas. Para cada lucro em uma coisa, um pagamento em outra. Ele levantou sua cabeça, viu sua imagem refletida levantar sua cabeça em resposta, a luz azul no aposento dando à sua pele acinzentada e ao seu cabelo prateado um brilho escuro e metálico. Quando eu terei que pagar? Ou talvez eu deveria perguntar: O que eu terei que pagar?

Ele se virou de costas para o espelho e atravessou o aposento para olhar as tapeçarias na parede. Elas eram muito bonitas de um modo estranho e único - a maior delas era tecida com linhas prateadas e douradas contra um veludo preto ao fundo; mostrava estrelas e luas e constelações e galáxias e universos, rodopiando e brilhando e capturando o seu olhar até que você esquecesse o que você estava olhando e vagasse pelos espaços entre as estrelas. A Mansão Malfoy sempre havia sido repleta de coisas que eram grandiosas, mas não muitas que fossem bonitas; e Draco descobriu que olhar para a tapeçaria o tocava estranhamente. Ele colocou sua mão nela e sentiu o material, que estava empoeirado e áspero e não tão agradável ao toque quanto era aos olhos.

As outras tapeçarias mostravam cenas da vida, de batalhas e de caçadas da corte mágica. Haviam várias feras mágicas decapitadas - dragões e basiliscos, hipogrifos e lobisomens, grupos de veelas montados em grandes feras com corpos de leão, cabeças de homens e rabos de escorpiões. Draco não sabia o que estas eram, mas não gostaria de encontrar uma delas em um beco escuro. A última tapeçaria mostrava um brasão: um dragão prateado, desenfreado, de frente para o sinistro. A bandeira bordada ao seus pés carregava um mote em latim: IN HOC SIGNO VINCES. Draco cutucou-a com seu dedo, e descobriu que a tapeçaria era fria como gelo ao toque.

Ele se afastou, olhando para Harry, que ainda estava em um sono pesado e uma vaga sensação de inquietação passou por ele. Ele suspeitava que Harry tinha uma leve concussão - depois de Slytherin ter lançado um feitiço Estupefaça em Hermione, Harry havia se lançado no bruxo das trevas. Slytherin levantou-o prontamente como se ele não pesasse mais que um filhote de gato e jogou-o de cabeça contra a parede oposta. A partir daí, Draco não conseguia se lembrar o que havia acontecido. Ele achava que ele e Rony haviam atacado Slytherin simultaneamente, mas sua memória de curto prazo parecia estar falhando e ele não tinha certeza.

Ele também não tinha certeza de quais eram os sintomas de uma concussão, exatamente. Harry certamente parecia bastante lúcido antes e agora ele estava dormindo profundamente, seu peito subindo e descendo com respirações calmas e curtas. É claro, talvez o sono profundo fosse um sinal de concussão. Repentinamente inquieto, Draco levantou-se, foi até Harry e cutucou-o bem no meio do peito.

- Ai! - Harry acordou com um grito indignado e remexeu, procurando por seus óculos. - Malfoy, seu doido. Por que você fez isso? - Ele sentou-se, parecendo ferido e passou a mão pelo seu abdômen.

- Nada. Volte a dormir, Potter.

- Não posso. - disse Harry irritado. - Eu estou sem sono agora. - Ele colocou seus óculos e olhou para Draco. - Que raios é isso que você está vestindo?

Draco deu de ombros.

- Essas roupas são daquele guarda-roupa ali.

- Você está deixando Salazar Slytherin escolher roupas pra você agora?

- Diga o que quiser sobre o homem. Ele pode ser um zumbi morto-vivo, horripilante e sem-alma, com um fetiche por cobras, mas ele tem um gosto impecável para roupas.

Qualquer resposta que Harry pudesse ter dado foi movida para segundo plano por um barulho rangente vindo da direção da parede oposta. Ambos viraram-se para ver uma abertura escura aparecer na parede e uma mão esticar-se por ela, segurando algo redondo e plano. Ouviu-se um 'clang' quando a mão deixou caiu o que estava segurando e, antes que os garotos tivessem tempo para fazer nada mais que olharem surpresos, a mão saiu e a abertura escura desapareceu, tão rapidamente quanto havia aparecido.

Draco correu até lá e ajoelhou-se ao lado do objeto derrubado, Harry seguindo-o de perto e parecendo curioso.

- O que é isso? Uma bomba?

Draco balançou a cabeça.

- O jantar. - Ele olhou para o que era uma bandeja bastante comum, onde estavam alguns sanduíches e uma garrafa de água. - Sanduíches de queijo, para ser mais exato.

Harry olhou desconfiado para a comida.

- Malfoy, eu não acho que você deveria...

- Ah, cala a boca. Se ele nos quisesse mortos, ele poderia ter nos matado enquanto nós estávamos inconscientes. Você tem trinta segundos, depois eu vou comer a sua metade dos sanduíches.

Resmungando, Harry deixou-se cair no chão ao lado de Draco. Pelos próximos minutos, eles comeram em um silêncio semi-amigável. Uma pequena briga surgiu a respeito de quem comeria o último sanduíche, resolvida eventualmente por um cabo-de-guerra furioso e silencioso, que resultou nas duas partes tendo mais queijo em suas vestes que em suas bocas. Draco estava ocupado tentando fazer com que sua última metade de sanduíche durasse, quando Harry, de repente, fitou-o com os olhos arregalados.

- Malfoy, eu acabei de ter uma idéia.

- E doeu? - perguntou Draco em um tom neutro.

Harry pôs-se de joelhos, limpando pedaços de sanduíche de queijo da camisa.

- Me deixe nervoso. - ele disse.

Draco engasgou com o sanduíche.

- Perdão?

- Você me ouviu. Como da última vez, com a caixa no escritório do Lupin. Me deixe nervoso, talvez nós possamos quebrar as paredes. Eu aposto como você tem alguma carta debaixo da manga que poderia me aborrecer de verdade, como você sempre faz.

Draco balançou a cabeça negativamente.

- Não funcionaria. Você já está preparado agora. Se eu te dissesse algo, você ia achar que eu estou mentindo.

Não se você me dissesse dessa maneira. Você não pode mentir telepaticamente. Harry estava sorrindo agora, seu cabelo bagunçado de modo selvagem. Ele lembrava Draco de um coelhinho feliz e algum outro animalzinho peludo que não sabia exatamente o quão vulnerável era. Vamos lá, é uma idéia brilhante.

- Não, - Draco se ouviu dizer.

Não seja estúpido, Malfoy.

Draco balançou a cabeça.

- Eu não vou fazer isso.

- Vamos lá. - insistiu Harry, puxando a manga de Draco. - Eu tenho certeza que até vai ser divertido pra você. Você adora me aborrecer.

- Potter, essas paredes podem ter uns três metros de espessura, pelo que nós sabemos. Você sabe o quão furioso você teria que ficar?

- Bem, ninguém me irrita tanto quanto você. - observou Harry, apenas parcialmente brincando.

Draco puxou seu braço das mãos de Harry e virou-se para fitá-lo furiosamente, sua voz saindo em um tom bravo.

- Você não sabe o que está pedindo.

A ferocidade no tom de Draco fez com que Harry recuasse. Um olhar ferido passou por seu rosto antes que ele levantasse seu queixo de um modo teimoso.

- Tudo bem. Olhe, eu só estava brincando. Não precisa ficar irritado.

Harry sentou-se contra a parede ao lado de Draco, que agora estava olhando furiosamente para a metade do sanduíche que estava no seu colo. Depois de um momento de silêncio, ele pegou o sanduíche e, em um surto de irritação infantil, jogou-o em Harry.

Harry olhou para baixo surpreso, enquanto o sanduíche batia em seu braço e caía no chão.

- Isso foi bem maduro, Malfoy.
- E daí? - Draco tinha seus braços cruzados no peito e estava encarando a parede oposta. Ele sabia que estava sendo infantil, mas não era capaz de fazer nada para evitar.

- Eu tive uma outra idéia.

- Eu também, e é a de que você deveria ir embora.

Harry ignorou isso.

- Você não quer ouvir a minha idéia?

- Essa é tão boa quanto a última?

- Eu quero que você me ensine como usar a espada.

Agora Draco virou-se e olhou para ele.

- Como?

Harry gesticulou em direção à espada de Godric Griffindor, que estava apoiada contra uma mesa baixa de madeira escura.

- Nós temos duas espadas e mais nada pra fazer. Eu posso muito bem aprender.

Draco mordeu o lábio.

- As espadas não estão protegidas...

- Protegidas?

- Elas deviam ter contas nas pontas... para impedir que elas cortem. Se você for aprender com elas.

- Você aprendeu com espadas protegidas?

- Não. - Draco admitiu.

- Tudo bem, então. - Harry andou até a mesa, pegou a espada de Godric e virou-se para Draco. Ele parecia uma figura estranha em seus jeans, camisa manchada de sangue e tênis velho, com a espada cravada de jóias brilhantes segura em sua mão direita.

Draco suspirou.

- Tudo bem, mas nós vamos levar isso devagar. Hermione não vai me agradecer se eu arruinar a sua aparência ao fatiar o seu nariz.

- Hermione me amaria mesmo que eu não tivesse um nariz. - disse Harry, com uma convicção invejável.

- E como será engraçado - disse Draco, levantando-se e pegando sua própria espada - descobrir se isso é ou não verdade. Podemos?

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Gina levantou o olhar quando Rony entrou na cozinha, carregando um livro azul encadernado em suas mãos.

- Como está Hermione? - ela perguntou.

- Ela deve estar bem. Ela me deu lição de casa. - Ele acenou com o livro em sua mão para eles (Dicionário de Referências Mágicas Tandy, Vol. S). - Eu deveria estar procurando feitiços relacionados ao sono. E a sonhos.

- Algo até agora? - perguntou Carlinhos, oferecendo um prato de biscoitos.

Rony sentou-se em uma cadeira.

- Nada sobre feitiços de sono, nem de sonhos. Apesar de que, se você quiser fazer salgadinhos ficarem invisíveis ou Convocar uma tropa de dançarinos de cancã com roupas extravagantes e luminosas, eu sou a pessoa certa pra te dizer como.

- Carlinhos? - Era a Sra. Weasley que estava na porta, vestindo uma das suas velhas vestes mais remendadas e parecendo cansada. Ela sorriu quando Gina olhou para ela.

- Oi mãe. - disse Carlinhos. - Chá?

- Não. Eu só queria lhe mostrar algo. Eu estava limpando o quarto do Percy, sabe, para ocupar a minha cabeça, e eu encontrei isso no bolso de um dos pijamas dele. - Ela mostrou um pedaço de papel branco dobrado. - Está endereçado a Draco Malfoy.

Olhos arregalados, Carlinhos pegou o papel.

- Obrigado, mãe.

A Sra. Weasley sorriu e saiu. Carlinhos começou a desdobrar o papel. Rony esticou o pescoço para perto para ter uma visão melhor.

- O que diz aí?

- Cai fora, Rony. - disse Carlinhos, não rudemente e passou os olhos pela carta. Enquanto lia, seu rosto mudou para uma expressão estranha.

- Vamos lá. - encorajou Rony. - O que é que o Snape diz? Ele morreu? Algo do tipo?

Gina bufou.

- É Rony, porque se Snape tivesse morrido, ele faria questão de escrever para o Draco e contar a ele todos os detalhes.

- Não seja ridícula. - Carlinhos disse e sorriu. - Ele estaria muito ocupado com o funeral para escrever.

- Carlinhos... - gemeu Rony, mas Carlinhos, ignorando-o, levantou-se, foi até a lareira e se ajoelhou em frente às chamas.

- Mansão Malfoy Auditori - ele disse e, depois de alguns momentos, a cabeça de Narcisa e seus ombros apareceram entre as chamas.

- Sim? - ela disse. Ela parecia exausta, seus olhos cercados de olheiras escuras. Quando ela reconheceu Carlinhos, seus olhos se arregalaram. - Alguma...

- Notícia? Não. - disse Carlinhos, gentilmente mas firme. - Sinto muito.

Ela mordeu o lábio.

- Está tudo bem, então?

- Tudo bem, na medida do possível. Eu tenho algo aqui que achei que pudesse interessar você ou Sirius. Ele está por aí?

- Ele veio pra casa, mas foi diretamente para as masmorras. Eu acho que ele está checando a... bem, a situação.

- Ah. - disse Carlinhos diplomaticamente e esticou a mão com o pedaço de papel branco dobrado. Narcisa esticou uma mão elegante e pálida para fora do fogo e pegou-o das mãos dele. - Está endereçado a Draco. - disse Carlinhos. - De Snape.

Os olhos de Narcisa levantaram-se para os de Carlinhos e de volta à carta.

- Aparentemente Snape preparou um tipo de Poção de Força de Vontade para Draco. - disse Carlinhos. - Para ajudá-lo a resistir ao magnetismo de Slytherin. Achei que Sirius estaria interessado...

Mas Narcisa, agarrada ao papel, já tinha desaparecido.

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Ela sonhou que estava em pé em uma clareira no coração da floresta, e no centro da clareira havia uma árvore. Era a maior árvore que ela jamais poderia ter imaginado e um pouco mais. As raízes gigantes elevavam-se acima de sua cabeça como vigas de um salão monstruoso. Mais além, ela podia ver o enorme tronco retorcido da árvore subindo e subindo, e um pouco mais além disso, tão alto que nuvens a deriva e a distância tornavam difícil de enxergar, ela mal podia ver a escura e vasta expansão sombreada de folhas e galhos. Uma partícula preta minúscula flutuava entre eles. À medida que se aproximava, ela viu que era algo voador e brilhante - não um pássaro, mas uma pequena serpente alada com jóias no lugar das escamas.

Ela pousou na terra a alguns metros dela, retorcida, rasgada e se transformou em um homem em pé. Ela não ficou surpresa; já sabia que era ele. Ele era pálido, muito pálido, e trajava vestes verde-escuras. Algo estava preso a sua cintura - uma espada, ela viu. Ele parecia, ao mesmo tempo, contido e terrivelmente tenso, a pele do seu rosto esticada contra os ossos, seus olhos, uma vez prateados, agora pretos, fixos nos dela.

- Você me chamou aqui.- ele disse e sua voz era inflexível. - O que você quer?

- Eu queria lhe dar isso. - ela disse e estendeu-lhe em sua mão algo que brilhava como uma pedra lapidada.

Ele não fez nenhum movimento para pegá-la.

- Então, é sua decisão final?

Ela consentiu.

- Sim, já decidi. Eu não serei mais a sua Fonte.

- Isso é por causa de Godric. - ele disse furiosamente.

- Godric não tem nada a ver com isso.

- Eu poderia forçá-la... - ele disse, ruminado. - Há sempre outros meios.

- Uma Fonte involuntária é inútil. - ela disse. - Você sabe disso.

- E não faz a mínima diferença para você que eu lhe amo?

Ela levantou seu queixo. Encarou-o.

- Você não me ama.

Ele cruzou a clareira, agarrou-a pelos pulsos, olhou fixamente para ela. Ela olhou para ele, para seu rosto, tão mudado agora. Ela havia achado que ele era gentil, em algum ponto, uma pessoa sensitiva, sensível até. E havia sensibilidade em seus olhos, mas só do tipo mais restrito - sensibilidade que só sentia sua própria dor, compreendia somente suas próprias necessidades, sofria somente quando seus próprios desejos não eram realizados.

- Como você pode dizer isso para mim? - ele sibilou

- Porque é verdade. Você não me ama. Você simplesmente me quer como você quer mais poder, mais sabedoria, mais criaturas monstruosas para fazer sua vontade. E porque eu amo Godric, isso só o faz me querer mais. Isso não é amor, e sim avareza--

Ele a pegou pelos cabelos e a puxou rapidamente para si. Ela tentou se livrar, empurrando suas mãos enquanto ele sorria para ela.

- Revide, por que não. - ele sibilou - Morda-me, arranhe-me. Mas não, você não consegue me machucar. Nem mesmo aqui.

- Eu posso machucar você. - ela sibilou de volta - E irei.

Essa foi a coisa errada a dizer. Os olhos dele se estreitaram.

- Sim, você está planejando algo, não está? Você e os outros. Godric e Helga. Eu sei. Eu ouço coisas.

- Nós só estamos nos protegendo.

- Então porque estão fazendo Chaves como uma arma?

O coração dela pareceu congelar dentro de seu peito. Ela o encarou, seu sangue batendo no ritmo das palavras: Como ele sabe? Como ele sabe?

O sorriso dele cresceu.

- Eu tenho informantes. - ele disse - Não pense que você pode fazer qualquer coisa sem eu saber. E não pense que, só porque a perdi como minha Fonte, eu estou fraco. - ele sorriu como uma caveira. - Eu tenho outra Fonte de poder agora.

- Salazar, o que--

Suas palavras foram cortadas quando a boca dele encontrou a sua. Primeiramente ela cerrou os dentes, como se para afastá-lo, mas ele também havia cortado sua respiração, e eventualmente seus lábios se abriram para obter ar. Ele tinha sabor de metal gelado. Terror tomou conta dela, mas mesmo assim seu sangue latejava em seus ouvidos e ela se perguntou, desesperada, como a pessoa que ela mais amava no mundo poderia de alguma forma se tornar a pessoa que ela mais odiava.

Ela virou seu rosto.

- Solte-me--

Mas ele já havia empurrado-a, soltando-a, rindo quando ela começara a correr, e sua risada foi a última coisa que ela ouviu enquanto ela--

O sonho mudou.

Ela estava sentada, dentro de um aposento em que reconhecia: o Salão Principal de Hogwarts. Olhando-a através da mesa estava um homem que ela nunca havia visto em seus sonhos antes, mas reconheceu imediatamente: cabelo escuro, alto, sobrancelhas escuras juntas em uma careta. Um rosto honesto e preocupado. Olhos verde escuro. Um número de objetos estava espalhado pela mesa: livros, pergaminhos, penas, um pistão, a bainha de uma espada, o Licanto, um objeto que parecia com uma ampulheta ou um sinal de infinito.

- Nós teremos que matá-lo, você percebe. - ele disse

Ela balançou a cabeça veementemente.

- Não. Eu não quero fazer isso.

- Não há outra maneira, Rowena.

- Há outra maneira. Helga e eu estivemos trabalhando em adições à maldição. Mesmo que ele desperte dele, para tirar o feitiço, ele não poderá sair da área em que o confinamos. Nós iremos colocar seus próprios monstros contra ele e torná-los seus guardiões--

- Tudo isso... - disse Godric - Tudo isso só para mantê-lo vivo?

- Eu não posso matá-lo, Godric. Não consigo. Ainda há um pouco de bom nele, algo que pode ser redimido, e enquanto ele estiver preso eu descobrirei como isso pode ser feito-

- Tanto esforço desperdiçado para preservar uma vida que vale tão pouco - disse Godric em um tom azedo. - A Maldição Dormiens não irá segurá-lo. Ela aprisiona a alma de um homem. E eu não tenho certeza que ele tenha alguma alma para nós aprisionarmos.

- Há mais uma coisa - ela ouviu sua própria voz dizer, pausadamente.

Godric olhou para cima.

- O quê?

Ela encontrou seus olhos constritamente.

- Você já ouviu falar do Feitiço Essencial?

Hermione sentiu o seu corpo adormecido pular em choque e, como se fosse um resultado daquele choque, o rosto de Godric oscilou e desapareceu. Ela tentou segurar-se nos pedaços do sonho, mas ouviu somente vozes ecoando em sua mente, meio abafadas, como vozes escutadas em outro aposento; a de Helga, a dela própria: "Nós teremos que preparar mais rápido, só isso. O Licanto está pronto, o Vira-Tempo também, agora nós só precisamos da Chave de Godric." As vozes aumentaram em um grito confuso. "Que Fonte ele usa, senão eu? Onde ele acharia outro Magid que queira ser sua Fonte?" "Talvez não seja um Magid. Poder Demoníaco. Ele poderia ter Chamado alguma coisa..." "Nós teremos que esconder as Chaves." "Helga pode escondê-las. Ela sabe como conjurar proteções." "Temos tão pouco tempo--"

- Hermione.

Alguém a segurava pelo pulso, e estava dizendo um nome, mas não era o nome dela, ou era? Ela piscou, abrindo os olhos, e viu uma massa de sombras escuras sem forma, que se transformou lentamente em um Rony em preto-e-branco, sentado na borda de sua cama e olhando-a ansiosamente.

- Hermione.

Atordoada, ela esticou a mão livre e o pegou, puxando-o em sua direção com tanta força que ele quase se desequilibrou.

- Como-- - ela falou em um ofego rouco, e fechou os olhos, seu coração martelando. - Eu estava sonhando. - ela disse, meio para ele, meio para si.

Rony afastou-se um pouco, sentando-se mais ereto, mas sem tirar a mão do pulso dela.

- Imaginei. Você tava gritando... na verdade, você estava gritando por, hum, Godric. Seria ele Godric Gryffindor, e tem alguma coisa que eu devia contar ao Harry, porque eu realmente não acho--

Hermione bateu sua cabeça gentilmente no ombro dele.

- Calado. - Rony suspirou, mas não se moveu. Ela podia ouvir o suave tum-tum do coração dele, firme como um pêndulo, tão confiável quanto o próprio Rony. - Eu ouvi todas essas vozes - ela sussurrou, olhando para ele. - Rowena e Godric... eles estavam falando sobre as Chaves e onde elas estavam escondidas. Eu acho que Gina está certa, acho que tem alguma coisa no subterrâneo aqui, talvez na adega--

- Hermione - interrompeu Rony - São só sonhos.

- Não. - Hermione disse firmemente - Eles não são só sonhos. - ela estendeu a mão, pegou o Licanto e o mostrou a Rony. - Isso me conecta a eles. Ao Harry e especialmente ao Draco. Eu pude sonhar o que ele estava sonhando, talvez eu possa ver o que ele está vendo. De qualquer jeito, eu estou aprendendo com ele. Estou começando a entender como tudo está interligado - como o que aconteceu no passado está afetando o que está acontecendo agora.

Ela parou. Rony estava olhando firmemente para ela, e ela achou que podia ver a preocupação em seus límpidos olhos azuis.

- Hermione, - ele disse, devagar - Não leve isso pro lado pessoal, mas.. você parece um pouco... decidida demais sobre isso. Eu não sei o que isso é, - ele apontou com o queixo para o Licanto - mas você está olhando para ele da mesma maneira que o Draco olhava praquela espada dele. Eu não gosto disso.

- Nem todo poder é ruim, Rony.

- Talvez não - ele disse, soltando-a e se levantando. - Mas como você pode dizer a diferença?

Ela estremeceu um pouco, apesar de não estar frio no quarto, e mexeu na manga dela. Rony havia dado a ela uns pijamas velhos de Fred, e por cima disto ela vestia o suéter que a Sra. Weasley havia tricotado para Harry em seu quarto ano. Era verde-esmeralda com um dragão desenhado na frente. Harry havia vestido-o uma vez no verão anterior na Toca e todos haviam rido de sua cara; ele havia crescido tanto que as mangas do suéter iam até antes de seus pulsos e um espaço de cinco centímetros mostrava a pele entre barra e o cós dos seus jeans. Rindo, Harry havia jogado o suéter no fundo do armário de Rony, onde havia ficado até aquela noite.

Ela gosta de usá-lo - era quente, era familiar, e cheirava como Harry. Ela sempre pensara que as pessoas tinham o cheiro de seus sabonetes, mas percebeu que isso não é verdade... Rony sempre teve cheiro de uma combinação de grama cortada e torrada amanteigada, Draco, de luvas e pimenta e essência de limão, e Harry tinha cheiro de sabonete e chocolate e outro cheiro que pertencia somente a ele e que, de alguma forma, aliviava a sensação nauseante que sua ausência produzia. Não inteiramente, é claro. Mas um pouquinho.

- Eu não sei. - ela disse, finalmente. - Eu não sei se posso. - ela levantou sua cabeça e olhou para Rony, que estava em pé à janela agora, olhando para o jardim. - E eu tenho medo.

Rony olhou para ela. A luz pálida da lua traçava as sombras sob seus olhos, traçava seus cílios com prata, tornava seu cabelo preto.

- Vem aqui. - ele disse.

Hermione se levantou e se juntou a ele, na janela.

- Olhe lá fora. - ele disse.

Ela seguiu seu olhar. Lá fora a luz da lua era tão penetrantemente branca que o jardim quase parecia coberto de neve. As árvores estavam contornadas de prata, a luz da lua tão brilhante que tirava de foco as estrelas. Mas não era para aquilo que Rony apontava; ele estava indicando a linha sólida de figuras com capas pretas que formava um círculo ao redor do jardim, suas costas para a casa. Aurores. Eles estavam tão parados que lembravam grandes pedras.

- Isso não diminui o seu medo nem um pouquinho? - perguntou Rony, e Hermione o fitou, achando que ele ainda não tinha entendido que ela não estava com tanto medo do que estava lá fora, mas do que estava dentro... dentro dela, dentro de Draco, dentro de Harry e Gina, que padrões de história, genética e destino eles carregavam dentro de si, inevitável, repetindo-se infinitamente. Ela olhou mais adiante, para a paisagem, em direção ao jardim onde o luar fazia a água da pedreira brilhar à distância.

De repente, ela se virou e olhou desesperadamente para Rony. Ela percebeu que estava segurando o Licanto em sua mão direita, tão forte que ela podia sentir suas pontas entrando em sua palma.

- Rony. A pedreira.

- Que é que tem ela?

- As proteções.

- Que é que tem as proteções? - perguntou Rony, soando vagamente exasperado. - Ou esse é o jogo que você fala uma palavra e eu tenho que dizer a primeira coisa que vem à minha cabeça?

- Não, não é um jogo. Rony, você disse que toda vez que seus pais tentavam esvaziá-la, ela se enchia de novo, certo? Ela tem algum tipo de proteção mágica, muito poderosa, aliás, se os seus pais não conseguiram quebrá-la. E se essas proteções foram postas lá para proteger algo que está debaixo da pedreira? Algo que foi posto lá... mil anos atrás?

Rony a encarou por um momento. Então um sorriso apareceu em seu rosto, iluminando seus olhos.

- E todo esse tempo eu achei que você só fingia ser inteligente.

Hermione sorriu de volta.

- Você tem uma pá?

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Sirius encontrava-se nas masmorras, o demônio atrás dele; através das barras da cela, ele observava o lobo que havia sido Lupin. Ele havia parado de se jogar contra as barras há algum tempo e agora estava encolhido, com os olhos semi-cerrados e choramingando em intervalos, no lado mais distante da cela.

Sirius se levantou, um objeto em cada mão, e olhou para o lobo, e ouviu a voz de Olho-Tonto em sua cabeça. Ser Chamado não é um processo agradável. É agonizante e persiste até que o ser sendo Chamado responda à convocação, ou morra.

Vagarosamente, ele levantou sua mão esquerda, onde algo brilhou e cintilou através da luz suja e fraca das masmorras.

- Eu achei isso no meu cofre em Grigotes - ele disse suavemente, não olhando para o lobo, mas para o que ele segurava em sua mão. Era uma chave, feita de latão, com a cabeça feita de osso na qual haviam sido postas algumas pedras escuras e brilhantes. - Tiago me deu para que eu desse ao Harry. O problema é que, é claro, Harry não está aqui para que eu possa a dar e o Tiago não está aqui para me dizer o que isso faz. E eu não sei o que fazer com essa maldita coisa. É obviamente mágica, mas uma chave, até uma chave mágica, não presta sem a droga de um cadeado, presta? Agora, eu sei o que você diria, Aluado. "Sirius, você está sendo óbvio." "Às vezes uma chave não é só uma chave." E às vezes um garoto não é um garoto, às vezes ele é um lobo também. Isso é algo que aprendi de você. Eu sempre disse que não era importante. Mas talvez eu estivesse errado. - Sirius parou, ciente de que estava divagando, e encostou a cabeça nas barras frias da cela. - Ah, pra quê isso? Você não entende nada do que eu estou dizendo.

Quando Sirius inclinou-se para frente, o lobo gemeu e recuou mais.

- Ele o teme. - disse o demônio atrás de Sirius. - Ele sabe porque você veio.

- E como você sabe? - rosnou Sirius, não se virando.

- Eu vejo o que você segura em sua mão direita. Você acha que pode matar um lobo com tal lâmina? Não é prata.

Sirius virou-se, devagar, e olhou para o demônio com olhos pretos e secos.

- Você se surpreenderia com quantas coisas uma faca no coração pode matar.

- A Maldição da Morte é mais limpa. - observou o demônio.

- Ele merece mais do que isso. - disse Sirius. Ele ainda estava olhando para a faca, a qual ele havia tirado da sala de armas de Lúcio porque era a melhor arma que ele pôde achar, e porque as opalas no punho o lembravam de luas, e parecia apropriado. No fundo de sua mente surgiu algo que Lupin havia dito uma vez, olhando para a meia-lua enquanto o fazia, Nós achamos que inventamos símbolos, mas na verdade eles nos inventam. Nós somos criaturas, formadas por seus contornos duros e definitivos.

Na verdade, não importava que tipo de arma ele usaria para matar seu amigo. Ele ainda estaria morto.

Ele faria isso por mim, Sirius pensou. Mas o pensamento não possuía a ressonância que tinha antes.

O demônio riu.

- Você não consegue fazê-lo.

Sirius o ignorou.

- Talvez - disse o demônio - haja outra maneira?

O demônio deu de ombro.

- Muito bem, eu não vim aqui para negociar.

- Por que você veio aqui? - rosnou Sirius - Você disse que não veio para matar o Harry, mas você tentou --

- Eu não estava tentando matá-lo! Estava tentando avisá-lo!

- Você o atacou!

- Eu tentei fazê-lo ouvir. Eu tentei dizê-lo que sua vida corria perigo por causa do Lorde das Cobras. Mas ele e o outro, o sétimo filho, eles não quiseram me ouvir.

Sirius estava parado, seu coração batendo forte. Certamente a criatura estava mentindo... por outro lado...

- Por quê? - ele exigiu - Por que lhe importa o que acontece com o Harry?

O demônio deu de ombros.

- Nós não nos importamos. Você está perguntando as coisas erradas.

Sirius deu um passo à frente, seus olhos fixados nos olhos vermelhos do demônio.

- Quem são 'nós'? Qual o seu nome, à propósito? Você tem um nome?

O demônio parecia desconfortável.

- Muito bem. Como sinal da minha boa vontade eu lhe direi meu nome. É Strygalldwir. Deboche dele e eu comerei seu coração e seu fígado.

Sirius duvidava que ele debocharia de um nome que nem conseguia pronunciar.

- Então, o que Slytherin quer com Harry? - exigiu Sirius, e por reflexo olhou para a jóia vermelha em seu bracelete, que pulsava com um brilho ritmado. - E qual o interesse do Inferno nesses assuntos?

- Nos é devida uma vida. - disse o demônio - O contrato feito com o Lorde das Cobras foi o mais sujeitante dos contratos: o dom do poder demoníaco em troca de--

- A vida dele. - disse Sirius. - Depois de alguns anos. Entendo.

O demônio deu risadinhas.

- Não a vida dele. - ele riu com escárnio - Quem faria um acordo como esse?

- Então...?

- A vida de seu herdeiro. Especificamente um Magid descendente de seu próprio sangue. Esse foi o acordo. Foi por isso que Slytherin, quando vivo, estava desesperado para produzir um herdeiro. Uma vez que ele dá a vida de seu descendente para nós, nós não temos outra opção senão considerar o débito cancelado.

- Draco - sussurrou Sirius, e então, depois de um momento, percebendo, levantou sua cabeça e encarou. - Harry?

- Por que não? - Strygalldwir estava sorrindo, mostrando mais de uma fileira de dentes. Não era um sorriso agradável. - Os dois são Magids e descendentes do sangue de Slytherin. Mas o jovem Potter também possui o sangue de Gryffindor em si. O Lorde Serpente precisa manter um garoto vivo e ao seu lado, mas outro será um sacrifício. O ódio de Slytherin por seu primo não conhecia barreiras. Ele consideraria uma boa ironia usar o descendente de Godric para tal propósito. Seria como se o próprio Godric o houvesse libertado.

- O que lhe importa se ele usar Harry para pagar o contrato? - Sirius rosnou - Que diferença faz para você?

- Porque - disse o demônio, seus olhos vermelhos girando - esse contrato foi feito mil anos atrás, quando nós éramos ricos em termos de Verdadeira Magia e pobres em Magids. A arte de forjar Lâminas Viventes foi perdida há muito tempo. Aquela espada é uma das duas ainda existentes no mundo, e é muito mais valiosa que a vida de uma criança Magid. Há muitos - adicionou Strygalldwir - Magids por aí hoje em dia. Mas não podemos recuperar a espada a não ser que Slytherin cumpra sua parte do acordo. E isso não irá acontecer até--

Sirius interrompeu, balançando a cabeça.

- Eu outras palavras, você simplesmente quer ter a espada em vez do Harry. Muito bem.

- Eu sou um demônio. Não estamos interessados em 'bem'. De qualquer forma, é tarde demais para o herdeiro de Godric. O Lorde das Cobras o tem agora.

A mente de Sirius estava divagando. Por que Slytherin precisa de um garoto vivo e ao seu lado? Ele pensou, e então lembrou a voz de Remo, dizendo as palavras da profecia: Quando a espada é mais uma vez usada em batalha por um descendente de Slytherin, o próprio Slytherin irá retornar, e ele e seu descendente irão se juntar para causar caos e terror no mundo mágico.

Remo. Ele se voltou para a outra cela, onde o lobisomem estava. Ele mostrou os dentes para Sirius enquanto este se aproximava, seus olhos escuros arregalados com ferocidade ou dor ou uma combinação dos dois.

- Você finalmente vai matá-lo? - falou arrastado o demônio atrás de Sirius.

- Não - respondeu Sirius, enfiando a faca que estivera segurando na bainha do cinto. - Eu vou soltar ele. Se ele correr para Slytherin, que assim seja.

- Ele vai rasgá-lo todo - disse o demônio, soando impressionado; se era pela coragem ou estupidez de Sirius, Sirius não tinha certeza.

- Talvez sim - disse Sirius - Talvez não.

Ele esticou a mão para a porta de cela--

- Sirius!

Era Narcisa. Ela se encontrava na entrada das masmorras; muito pálida em suas vestes brancas.

- Sirius, - ela disse novamente, ofegando por ar, e ele percebeu que ela havia corrido - Eu acho que você devia ler isso. - ela estendeu um pedaço de papel dobrado.

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- Rony, faz silêncio, você vai acordar todo mundo! Pára de bater o pé.

- Eu não estou batendo. Estou só andando.

- Bem, então ande mais silenciosamente.

Rony revirou seus olhos. Hermione, é claro, não podia ver isso, já que a cozinha estava extremamente escura.

- Qual é, Hermione, tá todo mundo dormindo.

- Exceto a gente, é claro - disse uma voz, da escuridão.

Ambos Rony e Hermione pularam, e encararam. De repente, a cozinha estava clara com luz, revelando Carlinhos e Gina sentados juntos na mesa da cozinha, fitando-os com muita interrogação. Carlinhos estava segurando sua varinha em sua mão, de onde emanava uma centelha brilhante.

- O que vocês dois estão fazendo aqui com as luzes apagadas? - perguntou Rony, indignado.

- Nós ouvimos vocês dois sussurrando enquanto desciam as escadas - disse Gina, parecendo superior. - Pensamos em dar um pequeno susto em vocês. Rony, por que você está carregando uma pá?

A sobrancelha levantada de Carlinhos tornou-se um sorriso meio convencido.

- O que você dois estão fazendo? Vindo para cá de fininho para uns amassos da meia-noite?

Rony engasgou, e ficou vermelho como um tijolo. Hermione parecia simplesmente irritada.

- É claro que estamos. - ela respondeu ríspida e sarcasticamente. - Por isso nós trouxemos a pá. Elas são tão úteis durante uma seção de amassos.

Gina sorriu.

- O que vocês planejavam fazer com essa pá?

- Eu ia enfiar a ponta dela no chão - disse Rony, demonstrando. - e aí eu ia começar a cavar. Eu lhe diria mais, mas a partir daqui isso fica um pouco mais técnico.

- Certo. - disse Carlinhos, levantando-se. - Vocês têm cinco minutos para me explicar o que vocês estavam planejando ao sair de fininho no meio da madrugada com uma pá. Começando agora.

Rony e Hermione trocaram olhares. Rony deu de ombros. Hermione suspirou, virou-se para Carlinhos e Gina, e explicou.

Quando ela havia terminado, Carlinhos coçou a cabeça, parecendo, de alguma forma, aflito.

- Vocês notaram que não podem entrar na pedreira? Os Aurores estão sob instruções estritas de manter-nos aqui dentro.

Houve um silêncio lúgubre, que foi quebrado por Gina.

- Tem outra maneira. - ela disse, devagar.

Rony aguçou suas orelhas.

- O que você quer dizer?

- Quando eu estava lá na adega ontem, notei que quanto mais eu andava por um corredor, mais e mais úmido o teto ficava, e depois de um tempo começou a pingar água em mim. Acho que estava andando debaixo da pedreira.

Hermione bateu palmas.

- Gin, você é brilhante. Vamos lá.

Rony parecia verde.

- Lá na adega? - ele ecoou fracamente

- Qual o problema da adega? - Hermione quis saber.

Ele fez um gesto vago.

- Aranhas...

- Eu o protegerei, Rony. - disse Carlinhos, heroicamente. - Além do mais, - ele adicionou, baixando a voz - estou doido para ver se as revistas de Fred e Jorge ainda estão lá.

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No final das contas, Draco não era um professor ruim. Harry estava surpreso. Ele havia pensado que Draco seria, bem, como Snape, rabugento e impaciente e exigente. Ele era impaciente, mas também era meticuloso e cuidadoso e havia insistido que Harry começasse bem do começo, aprendendo a postura, como saudar, como segurar sua espada. Ele havia insistido que Harry tirasse os sapatos para que ele pudesse mostrar-lhe como se movimentar, e havia tirado os próprios sapatos para que assim eles ficassem na mesma altura, quando lutassem.

Ele também, Harry suspeitou, estava trapaceando. Não em uma maneira que ele pudesse apontar, mas parecia a Harry que quando ele mesmo usava a espada, movimentos que ele nunca havia aprendido apareciam no fundo de sua mente; não exatamente os nomes dos movimentos, mas uma série de impulsos elétricos que seu cérebro queria seguir, e um segundo depois ele descobria que seu braço havia movimentado-se para frente quase no ritmo certo.

Ele supôs que era possível ser simplesmente um aprendiz incrivelmente rápido com uma sabedoria inata de técnicas de esgrima, mas ele suspeitava que esse não era o caso. Toda vez que acontecia, porém, ele olhava para cima e via Draco fitando-o, sem expressão e com expectativa como se disse "Sim? Que foi? Por que você está olhando pra mim, Potter?"

Eventualmente, ele decidiu não se preocupar com isso. Se Draco queria ensiná-lo esgrima por telepatia, melhor para Harry. Não que isso tornasse tudo mais fácil. Ainda era trabalho duro. A espada de Godric era pesada, muito pesada, e aprender a se mover nessa nova maneira estava dando câimbras nos seus músculos. Ele estava molhado em suor - mas Draco também estava - e a camisa estava grudando nele.

- Certo. - anunciou Draco, de repente, ofegando e recuando alguns passos. - Mais uma vez. Tente passar por mim.

Harry suspirou, virou-se e ficou de frente para Draco, que o saudou. Sentindo-se bobo, Harry copiou o gesto, quase igualmente.

No momento que Draco se moveu, Harry moveu-se também. Ele tinha um pressentimento que Draco o estava ajudando novamente, embora não pudesse ver nada na expressão de Draco que apoiasse a teoria. Draco parecia calmo, concentrado, um pouco entediado, apesar de o que quer que Harry estava fazendo com a própria arma o estivesse fazendo recuar. Harry o seguia, ouvindo o barulho de metal contra metal com um certo prazer. Draco levantou sua espada - Harry a empurrou para o lado com a sua, andou para frente, percebeu que seus pés estavam posicionados errados, e moveu-os para corrigi-los. Antes que ele tivesse acabado, a parte plana da espada de Draco bateu em seu ombro. E doeu.

- Ai. - disse Harry, rabugento, recuando um pouco.

Draco tirou uma mecha de cabelos louro-brancos de seus olhos e franziu a testa.

- Vamos, Potter, um hamster razoavelmente treinado saberia completar aquele passo. E deixei uma abertura maior que Millicent Bulstrode...

- Meus pés estavam errados. - respondeu Harry, ainda mais rabugento.

Um sorriso apareceu no canto da boca de Draco.

- É, eu percebi isso. Bem, a pessoa realmente tem que ter uma certa quantidade de elegância para aprender esgrima.

- Eu tenho elegância. - disse Harry, magoado.

- Lembre-se Potter, eu o vi dançar. A escola toda o viu dançar no quarto ano. Elegante não é o seu nome do meio.

Indignado, Harry abriu sua boca para responder - mas foi interrompido por um alto rangido de um canto do aposento. Ambos os garotos viraram-se, segurando suas espadas. Dessa vez, o espaço escuro ficou maior que antes, grande o suficiente para uma pessoa passar. Harry e Draco congelaram, olhando um para o outro.

Draco falou primeiro.

O que a gente faz?

Nos protegemos. Ficamos de costas um pro outro.

Draco colocou as mãos na cintura.

E do que isso iria adiantar, exatamente?

Harry deu de ombros.

Sei lá. É o que fazem nos filmes.

Houve um movimento no espaço escuro, e de repente uma figura entrou no aposento. Harry e Draco não se moveram. Eles só encararam. A figura usava vestes azul-escuro, sobre o qual vestia uma capa preta com capuz que escondia o rosto do recém-chegado. Era possível ver que o intruso era pequeno, mas esbelto demais para ser Rabicho, e as mãos que saíam das mangas das vestes escuras eram ambas humanas.

Harry ouviu a voz de Draco em sua cabeça.

Isso não pode ser bom.

Ele estava tendendo a concordar. De repente, o espaço escuro desapareceu, e a parede voltou, e o intruso virou-se para fitar os dois garotos; colocando suas duas mãos pálidas nos lados do capuz, o intruso removeu o capuz do rosto.

Cabelos como uma nuvem de fios prateados espalhou-se, emoldurando um rosto de porcelana familiar. Olhos azul-escuros levantaram-se altivos, cílios pretos curvando-se para baixo.

- Eu pensarria - e a voz fraca era gélida - que vocês dois estarriam arrquitetando um plano bem esperrto à essa alturra, já que os dois são Magids, e, esperrra-se, esperrtos. Mas não, aqui vocês estão, lutando um com outrro e essas espadas grandes e ridículas. - A boca vermelha torceu-se em desgosto. - Garrotos.

Houve um barulho. Draco havia derrubado a espada em assombro.

- Fleur? - ele perguntou, o choque tirando o arrastar de sua voz. - O que você está fazendo aqui?

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Eles já estavam na adega por quase trinta minutos quando alcançaram a porta. Gina indicando o caminho, sua varinha brilhando, Carlinhos atrás dela. Então vinha Hermione, que havia descoberto que ela podia usar o Licanto mais ou menos como uma tocha - o objeto brilhava quando ela o levantava. Depois dela vinha Rony, murmurando baixinho, mas olhando para baixo com grande interesse. Não era tanto uma adega, mas sim um emaranhado de túneis e passagens. Era uma coisa boa, pensou Hermione, que Gina sabia para onde estava indo, ou eles estariam perdidos.

Hermione também notou que o chão parecia se inclinar para baixo com o passar do tempo, e que, como Gina havia dito, as paredes estavam ficando mais úmidas e mais cobertas em lodo, o ar, mais frio e cheio de uma neblina branca e úmida.

Rony de repente soltou um grito assustado, e Hermione girou em seus calcanhares.

- Rony! Você está bem?

Rony, parecendo verde sob a luz do Licanto, estava encarando seu pé com uma expressão de horror.

- Aranha. - ele disse, numa voz estrangulada. - Subiu na minha perna.

Hermione rolou os olhos.

- Honestamente, Rony! - ela falou rispidamente e ajoelhou-se. Ela subiu as pernas das calças de Rony e removeu o aracnídeo ofensivo de seu tornozelo. Era uma aranha pequenininha, de um cinza pálido e até que fofa. - Olhe, - ela disse, balançando-a na frente de Rony, que pulou para trás. - é só uma aranhazinha! Estava provavelmente procurando por algum lugar quente.

Rony a fuzilou com os olhos.

- Você não entende. Você nunca teve que ir à Floresta Proibida e quase ser comido por uma aranha do tamanho de um carro, só porque Harry é um idiota.

Hermione se levantou e fez uma careta.

- Harry não é um idiota.

Rony continuou a encará-la.

Ela suspirou.

- Ah, está bem, ele é. Mas não todo o tempo.

- Ei! - veio a voz de Carlinhos do mais adiante no corredor. - Venham aqui e olhem isso.

- O que é? - perguntou Hermione, chegando perto de Gina, e imediatamente viu o problema: a passagem terminava em uma porta de pedra enorme. Bem, não uma porta útil, já que não tinha maçaneta ou qualquer outra maneira de abri-la, mas ainda sim, continuava sendo, evidentemente, uma porta. Por toda a frente estavam marcadas com cortes e arranhões, formando um desenho que hipnotizava.

- Sem saída. - disse Rony atrás dela, parecendo melancólico.

- Não necessariamente. - disse Hermione - Eu não acho que seja um corredor sem saída. Acho que só um obstáculo.

- E a diferença seria?

- Que há um jeito de ultrapassá-lo.

- Isso parece com escrita. - interrompeu Gina, inclinando-se para mais perto, segurando sua varinha. Hermione agachou-se, traçando os marcos na pedra com o dedo, e colocou a luz perto do pé da parede. Havia um desenho ali, gravado no canto da pedra: parecia como uma pequena doninha ou um texugo, usando uma coroa na sua cabecinha. Hufflepuff, ela pensou, dando um passo para trás e levantando o Licanto em sua mão. Luz dourada saiu dele, iluminando o desenho no pequeno animal, e ao seu lado, vários garranchos em uma língua que ela não conhecia.

Hermione abaixou o Licanto, mordendo o lábio.

Gina olhou para cima irritada.

- Por que você fez isso? Eu estava lendo.

- Mas Gina, isso não faz o menor sentido! São só linhas e garranchos.

Gina olhou para ela, chocada.

- Faz perfeito sentido. É algum tipo de poema, ou um enigma. Traz a luz aqui para baixo.

Surpresa, Hermione ajoelhou-se ao lado de Gina, e Carlinhos se agachou perto delas.

- Parece baboseira pra mim. - disse Rony, duvidoso, e Carlinhos concordou.

Gina balançou sua cabeça, seu cabelo vermelho iluminando-se com a luz ondulante da varinha como pontinhos vermelhos de fogo.

- Não. É um poema. Aqui- -E ela o leu em voz alta:

Quando há fogo em mim, então frio ainda estou.

Quando possuo o rosto de seu verdadeiro amor, então você não me verá.

Para todas as coisas eu não dou mais do que recebo.

Em tempo eu talvez tenha tudo, e ainda não mantenho nada.

Houve um longo silêncio. Hermione soltou sua respiração, maravilhada.

- É um enigma. - ela disse.

- Que tipo de enigma é esse? - Gina exigiu, sentando sobre seus calcanhares. - Não é nem uma pergunta.

- A pergunta está implícita. - interveio Carlinhos - está descrevendo alguma coisa, ou uma pessoa que temos que identificar.

Rony sorriu.

- E não podia ter só pergunta "o que é vermelho e verde que vive girando"?

Hermione apertou seu braço, impaciente.

- Shh. Vamos pensar. Para todas as coisas eu não dou mais do que recebo. Em tempo eu talvez tenha tudo, e ainda não mantenho nada... então não é uma pessoa, e...

Rony a fitou, preocupado.

- Mione, se a sua resposta for errada, você não sabe o que pode acontecer. Pode ser perigoso.

- O Rony 'tá certo. - concordou Carlinhos, olhando nervosamente para cima e para os lados, mirando as paredes frias e úmidas, as sombras, baixas.

Hermione ignorou ambos. Quando tem fogo em mim, então frio ainda estou. Quando possuo o rosto de seu verdadeiro amor então você não me verá... Quando leu as palavras "verdadeiro amor" ela havia, é claro, pensado em Harry, e ainda estava pensando nele, lembrando-se de olhar no Espelho de Ojesed e vendo Harry lá, seus braços em volta da imagem refletida dela, olhando-a, ambos rostos viraram para ela...

- Hermione. - disse Rony - Você está me ouvindo?

Hermione levantou sua cabeça.

- Um espelho. - ela disse.

Por um momento, nada aconteceu. Então, com um rangido, a porta se abriu por completo, revelando um longo e estreito corredor curvando-se na escuridão.

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O que ela está fazendo? Harry exigiu, seus olhos como pratos.

Draco ainda estava olhando para Fleur. Ela parecia a mesma desde a última vez que ele a havia visto; se mais, ela parecia mais bonita agora, e certamente ela parecia mais irritada.

Sei lá, ele pensou de volta. Ela é uma veela, não é? Vai ver ela foi Chamada. Ou isso, ou ela está aqui porque está apaixonada por mim.

Apaixonada por você?

"Obcecada" por mim pode ser um termo mais preciso. Ela não consegue ficar cinco minutos sem colocar a mão no meu- -

Entendo. Harry interrompeu rapidamente. Não precisa detalhar. Não pode pensar realmente que ela viria até aqui só pra botar as mãos no seu corpo magrelo?

Draco parecia insultado. Isso é tão difícil de acreditar?

- Ah! - Com um gemido que parecia ser de indignação, Fleur correu através do quarto e, com um poderoso crack!', deu um tapa no rosto de Draco. Tão forte, aliás, que ele deu alguns passos para trás e quase perdeu o equilíbrio.

Ambos Draco e Harry a encararam em assombro, Draco com sua mão cobrindo sua bochecha, na qual a marca do golpe de Fleur ainda se distinguia pela marca vermelha da mão.

- Pra que isso? - ele gritou, indignado.

Fleur estava com suas mãos nos quadris, seu tórax subindo e descendo violentamente (o que, na opinião de Draco, não era de todo tão ruim.), seus olhos brilhando com fúria.

- Você! - ela acusou, fixando em Draco um olhar mortal - Em primeiro lugar, eu posso ouvir tudo o que vocês dois estão falando! Eu sou uma Magid, se lembram?

- Oh… - disse Draco, trocando olhares surpresos com Harry - Nós não sabíamos-

- Slytherin não pôde nos ouvir, - disse Harry, alarmado - Pôde?

Fleur ignorou isso. Ela havia acumulado um bom bocado de raiva e ainda encarava Draco, seus olhos soltando faíscas azul-ágata.

- E mais uma coisa, não é legal dar para alguém um presente que simplesmente desaparece!

Os olhos de Draco brilharam.

- Não era um presente. Você a extorquiu de mim.

- Você me devia! E agora ainda me deve!

- Eu não suponho que alguém queira me explicar o assunto disso tudo - murmurou Harry, mas Draco e Fleur estavam ocupados demais encarando um ao outro para dar-lhe alguma atenção.

- Eu lhe dei o que você pediu!

De repente, Fleur sorriu.

- Não exatamente o que eu haffia pedido.

- Está bem. A segunda coisa que você me pediu. Eu lhe dei a espada. Não é culpa minha que ela voltou para mim.

- Você sabia que irria.

- Fleur. Você está melhor sem ela.

- Não seja condescendente comigo, Draco Malfoy, sua pessoa horrrível! Eu sabia, assim que eu vi aquela espada, o quão poderrrosa ela era. Mas você não me avisou que errra ligado a ela. Tudo que ela querria fazer desde que você foi embora foi voltar parra você. Eu tive que dorrmir com ela amarrada ao meu brraço! E ainda sim ela não me deixou dorrmir. Eu tive que deixá-la voltar parra você. Mas não antes que eu tirrei isso - e ela mostrou algo que brilhava mais verde do que os olhos de Harry. Draco sabia o que era imediatamente: a esmeralda que faltava no punho da espada. - Foi assim que eu o achei. - adicionou Fleur, soando convencida, e abriu sua mão. A esmeralda voou dela, e com um suave barulho de encaixe, juntou-se ao punho da espada. Em um momento, ela parecia que nunca havia sido tirada do lugar.

- Isso ainda pede pela pergunta de como você conseguiu entrar aqui dentro. - adicionou Harry, olhando para Fleur com suspeita.

- Não foi difícil. Eu sou uma veela. O Lorde das Cobras apenas supôs que eu fui Chamada para cá. Ele não sabe que sou uma Magid e que, por isso, não posso ser Chamada. Existem centenas, talvez milharres, de criaturras das trrevas aqui. Eu passei despercebida. Quando vocês chegarrram esta manhã, a esmerralda os procurou. Eu seduzi o guarda em frrente à sua porrta, e aqui estou. Eu vim - ela anunciou - parra resgatar vocês.

Ela sorriu orgulhosamente. Ambos Draco e Harry a olharam em admiração.

- Fleur, - disse Draco finalmente - eu não sei se te beijo ou se fujo de você em terror.

- Você teve sua chance com o beijo. - ela disse serenamente - Perdeu. Você ainda me deve, Draco. - e a sua voz era feita de aço - Eu não vou deixar você morrrer antes que me pague.

- É tudo terrivelmente interessante - disse Harry - Mas como você planeja nos tirar desse quarto?

Fleur assentiu.

- Em cinco minutos, o guarda vai abrir a porta para mim. Nós passamos por ela, e então eu os levarei para fora daqui. O Lorde das Cobras, ele não vai vir vê-los até a meia-noite. Nós temos algum tempo.

Harry estava fitando-a com seus olhos verdes comprimidos.

- Slytherin viria aqui?

Fleur assentiu.

Harry virou para Draco.

- Talvez devêssemos ficar.

Draco o encarou.

- Ficar aqui?

Harry assentiu.

- Ele nos deteve antes porque não estávamos preparados. Agora nós estamos preparados e armados. Eu acho melhor a gente ficar aqui e, quando ele chegar, atacá-lo. Ele também não pode usar mágica aqui. Nós estaríamos no mesmo nível, e há mais de nós. É a última coisa que ele vai esperar.

- Não, - Draco exclamou bruscamente - a última coisa que ele vai esperar é que nós consigamos chapéus de pele e saímos cantando músicas natalinas pelos corredores de sua fortaleza, para espalhar o espírito de Festas. E o seu plano faz quase o mesmo sentido. Mas obrigado por compartilhar.

- Harrry - disse Fleur gentilmente - Não faz sentido. Ele tem milharres de capangas aqui. Mesmo se você pudesse derrrotá-lo, você terria que lidar com o resto deles. A melhor coisa que podemos fazer agorra é fugir.

Harry olhou para Draco, e Draco podia ver pela expressão em seu rosto que Harry queria dizer-lhe alguma coisa, mas não podia porque qualquer coisa que dissesse, não importa como, seria ouvida por Fleur.

- Potter… - Draco começou.

O rangido o interrompeu. Atrás de Fleur, um espaço grande e escuro estava aparecendo na parede. Ela jogou seu cabelo prateado para trás e estendeu uma mão para eles, parecendo impaciente.

- Vamos - ela insistiu, andando para a "porta". - Nós temos que ir.

Com um ultimo olhar para Harry, Draco foi atrás dela. E, depois de um momento, Harry o seguiu.

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- Reparo.

Snape observava os pedacinhos do seu disco quebrado enquanto eles se juntavam. Dentro de segundos, ele parecia exatamente como era antes de Draco Malfoy quebrá-lo.

Snape estava sentado na mesa em sua sala de estar empoeirada. As janelas estava firmemente fechadas contra o ar escuro da noite lá fora, e o aposento estava cheio de um luz fraca. Ele não havia estado lá há dias. Não desde quando havia achado ele havia achado seu aluno preferido sentado no chão, olhos como espelhos vazios, tocando as Variações Goldberg de Bach ao girar o disco sobre sua mão.

Ele se perguntava se deveria se arrepender de ter dito ao garoto, tão duramente, que seu pai estava morto. Mas não, ele tinha que ter feito alguma coisa para acordar Draco para a vida. Ele havia parecido como se estivesse se afastando, cada vez mais distante. Snape havia visto aquele olhar nos olhos dos serventes de Voldemort. Às vezes, alguém podia sair desse torpor. Às vezes, não. Draco havia voltado, mas por quanto tempo?

Ele sabia que o garoto havia recebido o pacote que ele havia mandado com a nova Poção da Força de Vontade que ele havia criado, e o bilhete explicando o que ela fazia - que durava mais e era mais forte - porque sua coruja havia retornado. Mas não havia trazido nenhum bilhete de volta. Ele percebeu, com um estranho tipo de pancada no coração, que estava preocupado com o rapaz. Fazia tempo que ele não se preocupava com alguém.

Bang. Bang.

Só depois de alguns segundos que ele percebeu que o insistente barulho estava vindo da porta e não de sua cabeça. Lentamente, ele se levantou, ajeitando suas vestes para mais perto do corpo. Fazia frio em sua casa. Ele gostava assim.

Ele andou rapidamente pelo corredor até a porta da frente, onde a batida estava ficando mais alta e insistente a cada instante. Ele estendeu a mão para a maçaneta-

E parou.

Ele nunca tinha amado tanto uma pessoa que ele podia simplesmente sentir sua presença, ou reconhecê-la imediatamente em uma multidão, não importa o quão mudada ela estivesse, apesar de ter ouvido falar desse tipo de coisa. Mas ódio ele conhecia intimamente, e por isso ele sabia quem estava ali na sua varanda enquanto ele esticava a mão para a maçaneta e abria a porta rapidamente, sabia pela mudança de ares ao seu redor, sabia até pelo som da batida do visitante.

O homem parado na varanda parecia exausto. Mais que exausto. Seus olhos escuros possuíam sombras escuras, seu cabelo estava assanhado e sua boca tensa em uma fina linha. E ainda assim, isso não o fez parecer mais velho, mas mais novo do que ele realmente era, lembrando Snape do garoto que havia conhecido na escola. Então você quer realmente saber aonde Tiago, Remo, Pedro e eu vamos quando nós saímos dos arredores de Hogwarts? Bem, venha, Severo, eu vou lhe mostrar.

Sirius Black levantou sua cabeça, e pela primeira vez em vinte anos, olhou Snape diretamente nos olhos, e Snape viu que em sua mão Sirius segurava um pedaço de papel branco amassado, escrito com a letra de Snape.

- Eu preciso da sua ajuda. - ele disse.


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Comentem, ok?

Quer mais detalhes? Leia o comentário no final do capítulo 9. E para quem quiser saber, nós também estamos postando no fanfiction.net. Bjus. Amanhã postarei o capítulo 11 e esta semana ainda (acho que até quarta...) vem o esperado capítulo 12.

Grupo Heren Istarion

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