Matando a Saudade do Expresso




Depois daquela conversa com Dumbledore nos corredores enquanto voltava da cozinha, Lílian não conseguia evitar um certo desconforto, uma certa pulga na orelha. Tudo bem que, por ela e o marido serem da Ordem da Fênix talvez o Lord das Trevas tivesse um tantinho de antipatia por eles, mas por que rezar para o lord não ter notícias de sua gravidez?


 


No fundo Lily sentia que Dumbledore sabia algo que não quis contar. Ficou inquieta por toda a manhã, seu apetite que estava até um pouco exagerado sumiu e Tiago, notando o comportamento da esposa, se aproximou.


 


_Lily, está tudo bem? Estou sentindo você meio quieta, amuada.


 


_Não, esta tudo bem. É só algo que dumbledore falou hoje agora a pouco.


 


_E o que ele disse?


 


_Nada demais. Apenas que agora era rezar para que você-sabe-quem não descubra da nossa gravidez.


 


_Ah... m-mas é s-só... – Tiago sentiu-se pego de surpresa, desconcertou-se, mas não podia deixar transparecer à esposa, não podia perturbá-la, preocupá-la ainda mais. Não poderia negar a si mesmo que essa afirmaçãoo o chocara também, mas por hora era bem melhor tranqüilizar Lily – é só porque somos dois dos mais ativos membros da Ordem da Fenix. Amor, quantas ações dos comensais nós já neutralizamos? Quantas vezes estivemos diante deles como pedras imensas em seus sapatos? Lógico que se ele souber vai ser um prato cheio para ele nos infernizar. E além do mais, como ele poderia saber? Somente os membros da Ordem da Fenix estiveram aqui ontem quando você anunciou a notícia. E creio que não há nenhum traidor no nosso meio.


 


E diante disso Lily optou por se calar e não deixar  Tiago perceber ainda mais sua preocupação. Não queria que ele soubesse que ela vira Snape na porta do salão na noite anterior. Além do mais, ele estava tão contente com a chegada do bebê Potter, só na noite anterior quando acabara de saber já inventara uns trezentos nomes pro guri, ou guria, como ele fazia questão de frizar. E por isso, Lílian se calou, abriu um sorriso e suprimiu toda a preocupação que estava sentindo.


 


Depois do café da manhã, partiram todos para Hogsmead, onde iam pegar o expresso para voltar para suas casas. Poderiam fazer a viagem aparatando da pequena comunidade bruxa direto para a soleira de suas casas, mas quizeram fazer a viagem de trem, para relembrar os velhos tempos de estudantes.


 


Deixaram o assunto pra lá, ou pelo menos não comentaram mais, com ninguém, nem um com o outro. Agora quanto às cabeças deles dois, era impossível afirmar que não tivessem pensado nisso mais de uma vez, quando ninguém estava olhando.


 


Claro que era impossível passar por Hogsmead e não dar ao menos uma entradinha na 'Dedos de Mel' ou no 'Três Vassouras', ou não comprar um artigo da 'Zonko’s' em tributo aos velhos tempos dos Marotos.


 


Chegaram na estação às pressas porque para variar, atrasaram. Mas trombaram com um  velho conhecido, também correndo, em direção à plataforma de embarque.


 


_Ora, ora, almofadinhas – falou o velho Pontas irônicamente – quem nós encontramos? Não é o nosso velho amigo Ranhoso?


 


_Tiago... Potter... – respondeu pausadamente o homem, com imenso despreso e raiva no olhar gelado.


 


_O que anda fazendo por aqui? Acredita que seu novo mestre vai protegê-lo pra qualquer lado que vá ou esta seguido pelos babacas de tatuagem?


 


_Tiago, vamos embora, por favor – o pavor embotara cada uma das palavras da chorosa Lílian ao proferi-las. Ela estava aterrorizada com a idéia de Snape ficar realmente furioso e resolver se vingar contando a seu mestre sobre o... o que ele descobrira na noite anterior – não faça isso, não faça nada.


 


_Me defendendo novamente, sangue-ruim patética, como se realmente tivesse alguma simpatia por um comensal da morte genuíno como eu?


 


_Não fale assim dela – brada Tiago já com varinha em punho, olha ao lado e Lupim, Sirius, Alice e Frank Longbotton também haviam se armado.


 


Snape não demonstra qualquer emoção, muito menos medo, mas ele sim diz.


 


_Não vale a pena, a sangue ruim tem razão, a hora de todos vocês não tardará. Por hora, tenho coisas mais úteis a fazer do que perder tempo com gente tão... insignificante – e virando-se bruscamente, no seu já conhecido efeito morcego negro gigante, dirigiu-se para a porta do comboio parado.Por um segundo parou. Olhou intensamente o grupo reunido ali . Primeiramente Lily pode notar dor em seu olhar, no segundo seguinte remorso, depois ironia e por fim o habitual desprezo. E ele se voltou e continuou seu caminho rumo a um vagão mais dianteiro do comboio.


 


O grupo de amigos se dirigiu a outra porta o mais distante possível no momento.


 


_O que o Ranhoso está fazendo aqui, logo nos arredores de Hogwarts? Ele não tem medo não? Aposto que os outros babacas tatuados não ousariam passear tão perto do inimigo assim. –diz o irônico Pontas.


 


_Dumbledore me contou que ele tem feito visitas contínuas ao castelo. Quer lecionar defesa contra as artes das trevas. Pode? -  disse Frank vermelho de conter sua conhecida e sonora gargalhada – é o cúmulo. Um inveterado adepto das artes das trevas querendo ensinar pirralhinhos a se defender contra elas, ilário.


 


_Ora pessoal, vamos deixar desse assunto, por favor! Me vexa muito. - Implora uma pálida e trêmula Lílian, a cada minuto mais aflita.


 


_Oh! Então o Ranhoso tinha razão – fala com bastante zango na voz, um ciumento marido – minha esposa continua a defender aquele asqueroso...


 


Mas a garota, exasperando-se de vez, interrompe a ceninha que Tiago começava a criar nos corredores do trem.


 


_Claro que não, Potter. Apenas acho que não é uma boa hora para aumentar o ódio de um comensal da morte contra nós. Não seria apropriado eu, com uma barriga enorme, tendo que fugir correndo de um bando de mascarados negros a disparar centenas de flashes verdes contra nós. Tenha paciência!


 


A afirmação sensata da nova mamãe deixou todos um tanto sem graça, e por isso, um incômodo silêncio se instalou até que se sentaram em uma cabine no final do trem, bem longe do antipático colega que, eles viram, se dirigiu para a parte frontal do comboio.


 


Mas apenas alguns minutos foram necessários para que o novo papai bobão estivesse a esfregar a barriga da esposa cheio de mimos e carinhos, e os outros, rindo de se arregalar da cena.


 


_Quem diria... o líder dos marotos vai se tornar o primeiro dos papais da turma heim, nem Alice e Frank ainda arranjaram um bebê, apesar de terem se casado quase seis meses antes de vocês não é mesmo?


 


_Não é bem assim – diz um sorridente Frank. Na verdade...


 


Todos olham com ar de espanto para o outro casal


 


_Íamos contar na festa, descobrimos há uma semana, mas depois da forma como Lily contou a sua novidade, decidimos escolher outra maneira especial para contar.


 


_ Por Merlin, Alice! Nossos filhos terão a mesma idade, e irão juntos para Hogwarts. Exclama Lily.


 


_Os nossos e o novo filho da Molly e do Arthur também, vocês já souberam é claro, já faz alguns meses. Deverá nascer alguns meses antes dos nossos mas terá a mesma idade e irá para Hogwarts na mesma época.


 


_Não, não soubemos, as confusões do casamento, a lua de mel, depois as promoções no emprego, e por falar nisso, por que eles não vieram?


 


_Parece que os gêmeos foram atacados por um enxame de fadas mordentes e precisaram de cuidados em St Mungus, mas já estão em casa tomando poções, que provavelmente nossa Lily aqui ajudou a preparar.


 


_Eu preparo realmente as poções mas raramente tenho notícias sobre em quem elas são administradas, e do meu setor eu raramente tenho notícias de quem entra ou sai do hospital.


 


_Mudando de assunto... E Moody, onde anda o nosso amigo Olho Tonto?


 


_Aí já existe realmente um mistério. Ninguém sabe por onde ele anda, nem no ministério, nem na ordem, muitos expeculam que somente Dumbledore sabe. Mas também quem somos nós para questionarmos as decisões do Velho Biruta não é?


 


E assim foi a viagem. A conversa trivial fluindo na cabine que balouçava gentilmente, dando aquela sensação agradávl, que os lembrava de tantas outras viagens na infância.


 


Logo depois do almoço, em que comeram fartamente as bobagens mágicas que compraram na mão da velhinha do carrinho de guloseimas, os rapazes caíram no sono, principalmente devido a umas canecas a mais de cerveja amanteigada que beberam no três vassouras, enquanto riam das coisas que compraram na Zonko’s. Só Alice, Lílian e Hestia Jones ficaram conversando, falando sobre bebês, enxovais e outras coisas relacionadas bem baixinho para não incomodar os rapazes.


 


Enquanto isso na parte frontal do trem dois homens conversavam energicamente, quase aos berros, protegidos por um abaffiato lançado nas duas portinholas do vagão: a que ligava este ao vagão anterior e a que o ligava ao posterior.


 


_Você tem que contar ao Lord o que viu e ouviu. Ontem no salão do castelo e uma semana atrás daquela adivinha maluca no 'Cabeça de Javali'.


 


_Não. E não se meta onde não é chamado, o Lord ainda não confia em você, e sinceramente, muito menos eu confio.


 


_Se eu pudesse eu mesmo já teria contado.


 


_Mas não pode, não é um de nós, e por mim, nunca será.


 


_Eu sou leal a ele. Não o procurei a toa.


 


_É evidente que não. Devem estar precisando muito de um espião, mas escolherem logo você!


 


_Não é verdade, não tenho a mínima intenção de espionar para eles, é o contrário que me interessa, estar no meio deles para espionar para o Lord, seria tão grande ajuda para o Lord, quanto seria para eles.


 


_Por isso eu preciso conseguir a vaga de professor. Não entende?


 


_Mas ainda não conseguiu, será que o Lord já sabe da sua mais recente tentativa frustrada?


 


_Ele a previra, mesmo assim quis que eu tentasse novamente. Por hora, até esse ano letivo terminar, ele me quer posicionado em outro lugar. Conseguiu um emprego pra mim na Borgin & Burkes. Lá será mais fácil recrutar mais bruxos simpatizantes da arte das trevas bem mais competentes e melhores do que você, para se tornarem comensais da morte. E ele agora quer recrutar somente bruxos muito capacitados, especialistas na arte das trevas. E você não é nem sombra de um desses bruxos.


 


_Snape, use o bom senso, se eu não fosse leal ao Lord, não estaria insistindo para você contar ao lor...


 


_Saia da minha cabine. Não quero mais falar com você. Você é patético.


 


_Snape me escuta...


 


_Saia, ou vai experimentar a mais forte azaração que já sentiu na vida.


 


_Você não faria...


 


_Avis Caterva – disse de uma vez o sombrio homem apontando rígido a varinha contra a cabeça do outro, fazendo surgir um bando de corvos negros a atacar-lhe a fronte. Se o outro não tivesse tapado os olhos com as mãos teria sido cegado em menos de três minutos. Mas ainda com os olhos protegidos com uma mão e com a outra apalpando os bolsos internos da capa, achou a varinha e a balançando pra todos os lados enquanto desesperado saiu correndo da cabina gritando “caterva evanesca... caterva evanesca...”.


 


Duas cabinas a frente, Rabicho conseguira finalmente se livrar de todos os corvos de Snape e, mais calmo, conseguiu elaborar a desculpa que daria quando aparecesse com a face machucada diante dos amigos ue estava traindo descaradamente. Molhara-se ao lavar as mãos no sanitário e na tentativa de fazer um feitiço para se secar, acabou conjurando os passaros que atacaram a ele mesmo.


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