Confusão na enfermaria
Capítulo 15 - Confusão na enfermaria
Madame Pomfrey estava realmente tendo um dia cheio. A enfermaria estava cheia de estudantes à beira de um ataque de nervos, sem contar outros estudantes que estavam apenas acompanhando seus amigos ou ávidos para saber o que tinha acontecido em Hogsmeade. Martha e Harry acompanhavam Rony e Hermione. O garoto finalmente tinha acordado, e segundo Madame Pomfrey, deveria ficar assim por um bom tempo.
- Mas eu estou com sono - reclamou o ruivo.
- O senhor sofreu uma concussão cerebral, Sr. Weasley - disse a enfermeira severamente - Dormir pode piorar sua condição.
- E o que eu vou ficar fazendo?
- Adiantar seu dever de casa ajudaria muito - sugeriu Hermione, que também estava confinada à enfermaria - Você está bem atrasado.
Ele fez uma careta.
Martha se ofereceu:
- Eu posso ficar com você, Rony. Podemos jogar alguma coisa. Que tipo de jogo você tem?
Harry disse:
- Rony joga xadrez.
- Eu também sei jogar xadrez - disse Martha - Mas não muito bem, claro.
- Você precisa experimentar xadrez bruxo - disse Harry - As peças se mexem sozinhas!
- É mesmo?
Rony ficou espantado:
- Você nunca jogou xadrez bruxo?
- Não, mas gostaria de aprender. Você me ensina?
- Tá bom. Mas alguém precisa me trazer o tabuleiro.
- Deixa comigo - disse Harry, e correu para fora da enfermaria.
Martha viu que Madame Pomfrey parecia estar lidando bem com a situação, tanto que a aglomeração de estudantes havia diminuído consideravelmente. Mas uma aluna acabara de entrar, um tanto quanto esbaforida, de longos cabelos ruivos e sardas. Martha não teve dificuldade em adivinhar quem ela procurava. Ela olhou para o grupo deles e gritou:
- Rony!
- Oi, Gina - disse ele, parecendo envergonhado - Srta. Martha, essa é minha irmã mais nova, Gina.
A mocinha deu um sorriso para Martha, mas logo se virou para o irmão, irada:
- O que você andou fazendo? Mamãe está vindo para cá e ela está morta de preocupação!
Martha tentou dizer:
- Calma, Gina, não foi culpa dele. Havia Comensais da Morte atrás de nós. Rony, Harry e Hermione salvaram a minha vida.
Ela arregalou os olhos:
- Então o que todos estão dizendo é verdade? Você-Sabe-Quem atacou Hogsmeade?
Hermione confirmou:
- Isso mesmo. Mas ninguém sabe ainda o motivo.
Uma voz masculina desconhecida disse:
- É para isso que estamos aqui.
Todos se viraram para ver três homens altos, em capas escuras e compleição atlética. Deviam ser os aurores dos quais Sev falara. Atrás deles, vinha Madame Pomfrey, e ela parecia muito irritada:
- Poucas perguntas! Essas crianças passaram por uma experiência altamente traumatizante e precisam se recuperar.
O homem deu um sorriso para eles e disse:
- Não se preocupe, senhora. Nós só vamos confirmar algumas informações. Todos vocês estavam lá?
Gina disse:
- Eu não.
- Então, por favor, sente-se ali do outro lado. Os demais, por favor, identifiquem-se.
Eles tiraram blocos e penas automáticas. Era a primeira vez que Martha via bloquinhos de notas suspensos no ar, enchendo-se de escritos graças a penas que escreviam sozinhas.
Os quatro (pois Harry logo voltara com o tabuleiro de xadrez) contaram e recontaram a história dezenas de vezes. Martha recebeu perguntas extras, embora um dos aurores tivesse dito que ouvira a seu respeito por causa do tribunal. Ela tentou acalmar os garotos, especialmente Rony, que ainda estava impressionado por ser interrogado por aurores. Mas ela não achava que a investigação fosse muito adiante. Ainda mais que ela não podia contar toda a verdade - que ela sabia que o ataque tinha sido por causa dela e que Voldemort estava ansioso por colocar suas mãos nela. Isso seria arriscar a posição de Severo.
Quando as autoridades finalmente terminaram com suas perguntas, Madame Pomfrey já estava expulsando os três e a enfermaria estava vazia. Depois que os aurores foram devidamente enxotados para fora da enfermaria, a enfermeira se virou e disse:
- Agora todos vocês vão descansar, menos o Sr. Weasley - ela olhou para Martha - E quantos chocolates a senhorita comeu, Srta. Scott?
- Nenhum - disse Martha - Eu não estou com fome.
A enfermeira teve uma reação bem extrema:
- Pois não se trata de alimento, e sim de remédio! Por causa disso, vou ter que deixá-la esta noite na enfermaria.
- Mas eu estou bem!
- Não está, não. A senhorita está em choque, e o Sr. Potter também. Os dois vão passar a noite aqui, tomando poções revigorantes. Estive revendo meus livros de fisiologia trouxa. Sua constituição é mais frágil até do que de um bruxo abortado, e a senhorita poderia ter se machucado seriamente hoje. É meu dever cuidar disso.
- Eu agradeço, Madame Pomfrey, mas realmente isso não é necessário -
Foi interrompida quando uma grande quantidade de chocolate veio parar no seu colo:
- Não adianta discutir. Pode ir se divertindo com esse chocolate enquanto eu pego as poções!
E virou-se, indo embora resmungando. Martha olhou para os três:
- Eu não fazia idéia de que ela podia ser tão... voluntariosa.
Hermione disse sabiamente:
- Ninguém, em seu juízo perfeito, discute com Madame Pomfrey ou Madame Pince.
- Obrigada pelo aviso, Hermione - disse Martha - Acho melhor eu começar a comer esse chocolate para ela não ficar ainda mais irritada.
Harry olhou para fora:
- Daqui a pouco vai anoitecer.
- Mas já? O dia passou e eu não vi.
Uma voz atrás deles disse solenemente:
- Foi um dia movimentado para todos.
A voz fez Martha e os meninos estremecerem - por motivos diferentes. Ela se virou para ver um rosto que inundou seu coração de alegria, os alunos reagindo de outra maneira. Severo Snape estava acompanhado do Prof. Dumbledore, Madame Pomfrey e uma mulher gordinha e baixinha de cabelos louros avermelhados.
- Ronald Weasley! - disse a mulher, enfurecida - O que você estava pensando, enfrentando Comensais da Morte?
Rony ficou da cor de uma beterraba:
- Mãe!...
Martha se levantou:
- Essa é sua mãe, Rony? - ela estendeu a mão - Muito prazer, Sra. Weasley. Eu sou Martha Scott, e seu filho salvou a minha vida, com Harry e Hermione. Ele foi ferido, Hermione também, e Harry me protegeu! Deve estar muito orgulhosa dele.
Aquilo foi o suficiente para desmontar a Sra. Weasley, que se sentou na cama do filho e pôs-se a verificá-lo, como se quisesse se assegurar que não havia nenhuma parte dele faltando:
- Isso é verdade? Rony, meu querido, você está bem? Parece que está tudo no lugar, mas a gente nunca sabe!
Ele ficou ainda mais vermelho:
- Mãe, eu tô legal!
- Seu pai teve que ficar no Ministério, mas ele vai ficar orgulhoso de você!
- Mã-ãe!
Discretamente, Severo pegou o braço de Martha e pediu:
- Se nos derem licença um instante...
Ele a puxou pela mão para longe dos outros, deixando a Sra. Weasley embaraçar mais ainda o filho e disse para Martha:
- Você está bem? Madame Pomfrey disse que você vai passar a noite aqui, por quê?
- Ela acha mais seguro, mas eu estou bem. Não se preocupe comigo.
- É tarde demais para isso. O Lorde das Trevas obviamente não quer esperar que eu leve você até ele. Ele quer ver você o quanto antes. Ele nem se incomodou em arriscar um ataque a Hogsmeade em plena luz do dia.
- Nossa, Severo. O que vamos fazer?
- Você estará segura em Hogwarts. Mas você não deve sair daqui por nenhum motivo. O diretor concorda comigo. Lamento por futuras provas em suas roupas, mas eu tenho impressão de que foi assim que ele soube que você estaria fora de Hogwarts. E atacou na primeira chance que teve, por isso não podemos nos arriscar de novo.
- Severo, não se preocupe quanto a isso. Você sabe que eu estou aqui para apoiá-lo em qualquer decisão que você tome. Eu fico preocupada com você se opondo abertamente a Voldemort.
Severo fechou a cara e disse:
- Eu preciso ir agora. Madame Pomfrey já está me olhando torto, e eu prometi ficar apenas uns breves instantes. Prometa-me seguir todas as instruções dela e cuidar-se muito bem.
Foi essa frase, mais do que qualquer outra coisa que Severo tenha dito que deu a Martha a certeza de que ele estava muito preocupado. Ela pegou uma mão de Severo e acariciou-a discretamente, dizendo:
- Eu estou bem, e tudo ficará ótimo, Severo. Amanhã mesmo eu já vou para casa.
- Ótimo. Não deixe que os pestinhas lhe irritem.
- Severo, essas crianças salvaram a minha vida, e correram um grande risco para fazer isso. Eu sou muito grata a todos os três. Gostaria que não fosse tão duro com eles.
Relutantemente, ele assentiu:
- Já que você me pede... - ele pegou a mão dela - Venha comigo.
Os dois se dirigiram até onde o grupo estava e Severo dirigiu-se aos três adolescentes:
- Pelo que eu entendi, vocês três se arriscaram muito para proteger a Srta. Scott. O esforço, é claro, vai lhes garantir pontos para Grifinória. Mas além disso, eu gostaria que soubessem que eu sou pessoalmente grato aos três. Tenho uma dívida de gratidão para vocês.
Fez-se silêncio ensurdecedor na enfermaria. Enquanto o Prof. Dumbledore sorria e fazia seus olhos azuis tremeluzirem como estrelas, a Sra. Weasley parecia reluzir de tanto orgulho. Já os jovens reagiram de maneiras diferentes. Rony deixou o queixo cair, surpreso; Hermione ficou vermelha e sorriu, orgulhosa de si mesma, e Harry arregalou tanto os olhos que eles pareciam duas bolas de gude verdes por trás dos óculos. Snape estava elogiando os três!... E na frente de testemunhas!
O momento - que parecia ter ficado suspenso no tempo, como se alguém o tivesse parado - dispersou-se e Snape virou-se dramaticamente, deixando a enfermaria no rastro de suas capas esvoaçantes. Madame Pomfrey aproveitou a estupefação e disse:
- Muito bem então, Srta. Scott, eu já arrumei essa cama para a senhorita.
Todos pareceram se recuperar do choque quando Martha perguntou:
- Será que eu tenho tempo para jogar uma partida de xadrez? Rony ia me ensinar.
- Está bem. Mas nada de se demorar! E o horário de visitas acabou!
Com isso, todos foram expulsos da enfermaria, e os pacientes puderam desfrutar de um tempo livre. Martha aproveitou para conhecer melhor os meninos e o xadrez bruxo. As peças ficaram muito desconfiadas de uma nova jogadora, e insistiam em dar dicas para ela jogar melhor. Mais do que o xadrez, a interação com as peças divertiu Martha imensamente. Ela quase se esqueceu das provações que tinha passado durante o dia.
Talvez tenha sido um barulho suave que a acordou, mas Martha esqueceu isso quando ela abriu os olhos e viu uma criatura horrível a encarar. O rosto em si estava escondido por um capuz negro e as longas mãos esqueléticas, com garras negras e ameaçadoras, avançavam para ela. Martha engoliu um grito na garganta e sentiu que não podia se mexer, deitada na enfermaria.
- Sua trouxa - a voz parecia vir diretamente dos infernos - Pensou que ia escapar de mim? Escondendo-se atrás de um bando de crianças?
Martha não saberia dizer de onde tirara voz para perguntar:
- Q-quem... é você?
- Como se você não soubesse, sua trouxa - o capuz caiu para trás, revelando a terrível ameaça - Eis Lorde Voldemort.
Ao ver o rosto cadavérico, com olhos vazios e negros a encará-la, o sorriso macabro de uma caveira carcomida pelo tempo, Martha soltou o grito do fundo da garganta, e então sentiu uma mão agarrando seu braço...
... e ela estava na enfermaria, deitada em sua cama, ofegando, o corpo banhado de suor, as luzes todas apagadas, e os grandes olhos verdes de Harry Potter a encarando com curiosidade:
- Srta. Scott? Tudo bem?
Ela olhou em volta: sem Voldemort, sem ameaças. Rony e Hermione dormiam profundamente, e parecia ser bem tarde. Ela respirou fundo e disse baixinho para não acordar os outros dois:
- Eu... tive um pesadelo. Desculpe se o acordei, Harry.
- Tudo bem - ele deu de ombros - Eu também tive um. Com Voldemort. Ele está atrás de você, não está?
- Como... como sabe disso?
- Às vezes eu posso sentir quando ele está muito alegre ou muito raivoso. Pela minha cicatriz, sabe? E eu vi que ele está furioso porque você escapou, e descontou isso num de seus Comensais.
- É - disse Martha, tentando não demonstrar o quanto estava nervosa - Bom, pelo menos ele não está mais atrás de você, Harry.
- Eu sinto muito que esteja tendo pesadelos.
- Não é culpa sua.
- Eu sempre tive pesadelos, toda a minha vida. Eu sei como eles são ruins.
- Mas eles não duram para sempre. Um dia, Harry, eles vão acabar. E Voldemort vai sumir. Você vai ver só.
- É até estranho ouvir alguém falar o nome de Voldemort com tanta facilidade. Uma vez alguém me disse que isso é prova de coragem ou de estupidez.
Martha se riu:
- Talvez eu seja mesmo uma tola, porque eu não tenho medo de Voldemort, em si.
- Não?
- Bom, um pouco. Voldemort não me assusta tanto pelo que ele pode fazer comigo, mas sim pelo que ele pode fazer às pessoas que eu amo.
- O Prof. Snape, por exemplo?
- Sim. E também a vocês ou a outras pessoas inocentes.
- Foi por isso que você pensou em se entregar, lá na loja?
- Sim. Eu estava com medo pelo casal de donos.
- Isso foi muito corajoso.
- Ou muito tolo - ela sorriu - Que tal a gente tentar dormir um pouco?
- Está bem. Boa noite, Srta. Scott.
- Durma bem, Harry.
Quando Martha chegou de volta à masmorra, domingo, viu que Severo ainda estava na cama. Ela achou ótimo que ele estivesse descansando, e resolveu não incomodar, indo sorrateiramente ao banheiro para tomar um bom banho de banheira. Ao sair do banho, Martha viu que Severo continuava na cama, e já passava do meio-dia. Ela tentou não se preocupar, mas viu que ela já estava inquieta.
Ela se deitou na cama ao lado dele e ao ver que ele estava vestido com as mesmas roupas do dia anterior, uma trágica certeza transpassou-lhe o coração. Severo tinha ido ver Voldemort e sofrido as terríveis conseqüências do fracasso do ataque. Olhando em volta, ela viu alguns frascos de poções vazios, e a terrível certeza só se confirmou - Voldemort parecia ter sido particularmente nefasto ao lidar com Severo.
Martha fez a única coisa que podia: ficou ao lado de Severo, dando-lhe apoio e conforto enquanto ele precisasse. No fundo, ela sabia que todas essas provações eram apenas testes para o que eles iriam enfrentar adiante. Só lhes restava se preparar e aguardar o grande teste.
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