Anúncios e reações
Capítulo 13 - Anúncios e reações
- Bom-dia a todos! - Alvo Dumbledore ergueu os braços, sorrindo - Antes de iniciar o café da manhã, eu gostaria de fazer um anúncio que me deixa especialmente feliz. Gostaria de comunicar que o Prof. Snape e a Srta. Martha Scott decidiram se unir em matrimônio. Os dois se casarão aqui mesmo em Hogwarts. Por favor, queiram todos se erguer e dar uma salva de palmas ao casal e desejar-lhes muitas felicidades.
Não deu para dizer que a casa veio abaixo. A maioria dos alunos ainda estava em estado de choque e aplaudia mecanicamente, mas as reações variavam. A mesa de Sonserina, por exemplo, parecia ter aprendido a lição. Sem sorrisos, sem entusiasmo, todos aplaudiam, até Emília Bulstrode - que ostentava uma expressão digna de quem não comeu e não gostou. Os grifinórios pareciam perplexos; corvinais, intrigados, e algumas meninas lufa-lufas trocavam risinhos e enrubesciam.
Os professores foram cumprimentar os dois, alguns por mera educação e outros com genuína satisfação. Minerva McGonagall ofereceu um raro e aberto sorriso, o Prof. Hagglemore sacudiu entusiasticamente a mão de Severo e Hagrid abraçou Martha tão efusivamente que ela temeu por suas costelas. O Prof. Dumbledore esperou todos se aquietarem e anunciou:
- O casal de noivos receberá cumprimentos antes do almoço, no hall adjacente ao Salão Principal. Em homenagem aos noivos, será servida uma porção extra de bolo de chocolate - O entusiasmo por mais bolo de chocolate foi bem grande, consideravelmente maior do que o anúncio do casamento - Então... bom apetite a todos!
Quando a comida apareceu magicamente nos pratos, o burburinho voltou ao Salão Principal, mas em níveis maiores que o normal. O anúncio de Dumbledore tinha caído como uma bomba na escola. Em todas as mesas, a conversa era a mesma.
- Gente, que loucura! O Snape tá noivo.
- Vejam! Está na seção de Anúncios do Profeta Diário. Diz aqui que a data ainda não foi marcada.
- Quem iria imaginar um troço desse?
- Ela não deve ser boa da cabeça.
- Ou está sob a Maldição Imperius.
- Ela parecia ser gente boa.
- E o que será que os amigos dele vão dizer? Ela é trouxa, não é?
- E desde quando Snape tem algum amigo, aquele morcego velho?
- O que será que ela viu nele?
- Eu estou achando isso super-romântico. Ele bruxo, ela trouxa... Um amor proibido...Ah, eles vão ter que lutar por esse amor!...
- Isso não é lindo?
- Aposto 10 galeões como eles não vão se casar. E se eles conseguirem se casar, não dou nem dois meses antes de se separarem.
- Por quê?
- Ora, tá na cara que isso não vai dar certo. Uma trouxa e um sonserino? Nem daqui a um milhão de anos!
Harry e Hermione se entreolharam, escutando as opiniões dos colegas grifinórios cheios de apreensão. Harry cutucou o amigo:
- Rony, o que você acha?
O ruivo deu de ombros:
- Acho que ela realmente não deve ser boa da cabeça, cara. Casar com o Snape? Pode ter idéia mais nojenta?
Hermione bateu no braço dele, irritada:
- Rony, você é um tapado, sabia? Não viu o jeito como ela falou dele na cabana de Hagrid? Ela gosta dele de verdade.
- E ela fez Sonserina perder muitos pontos - lembrou Harry.
Rony disse:
- Não me importa o que vocês digam. Para mim, o problema começa que ela quer se casar com o Snape. De livre e espontânea vontade. Só alguém fora de si ou muito má iria entrar nessa por querer.
- Não, Rony, bastaria estar apaixonada, e ela disse para gente que gostava dele - disse Hermione - Acho que ela vai fazer muito bem a ele. Não, deixe-me corrigir isso: acho que ela já está fazendo muito bem para ele.
Harry concordou:
- É verdade, Rony, ele não tem tirado pontos nem nada - ele se virou - Neville, como Snape anda te tratando? Melhor ou pior?
- Melhor, eu acho - disse o menino rechonchudo - Mas eu fico muito nervoso perto dele.
- Viu?
- É, mas só o que eu sei é que ele já trabalhou para Você-Sabe-Quem e eu ainda não vi uma prova convincente de que ele esteja do nosso lado agora.
Hermione se irritou:
- Já discutimos isso antes! Dumbledore confia nele. Se não confiarmos em Dumbledore, em quem podemos confiar? De qualquer forma, eu pretendo ir cumprimentá-los antes do almoço. Acho que os dois vão enfrentar muita oposição a esse casamento, e vão precisar de todo o apoio que pudermos dar.
De todas as coisas sábias que Hermione já tinha dito em sua vida, aquelas palavras foram quase proféticas.
Dessa vez era uma turma bem maior. Martha olhou para a classe dupla formada por corvinais e grifinórios do sétimo ano, e sorriu, sentindo todos os olhares para ela. O Prof. Hagglemore lançou-lhe um olhar encorajador e ela respirou fundo, antes de dizer:
- Bom-dia a todos. Acho que todos já sabem quem eu sou, mas no caso de terem se esquecido, meu nome é Martha Scott e fui convidada pelo Prof. Hagglemore para essa conversa a respeito de meios de transporte trouxas. Se alguém não estiver ouvindo, por favor, me dê um grito, e se vocês tiverem qualquer dúvida, sintam-se à vontade para me interromper.
Ela se dirigiu ao quadro-negro e houve um burburinho entre as meninas. Sem saber o motivo, Martha resolveu continuar, escrevendo no quadro:
- Um meio de transporte trouxa bastante popular é chamado carro ou automóvel. Ouvi falar de um incidente aqui mesmo em Hogwarts há alguns anos envolvendo um modelo bastante popular, o Ford Anglia. Então acho que a maioria deve ter uma idéia do - uma aluna grifinória ergueu o braço de maneira impetuosa - Sim?
A moça enrubesceu ligeiramente, mas formulou sua pergunta em alto e bom som:
- Srta. Scott, a senhorita pretende ter filhos assim que se casar com o Prof. Snape?
Houve um silêncio ensurdecedor na classe. Martha foi rápida em não deixar seu rosto transparecer o choque diante da pergunta, mas encarou a mocinha cuidadosamente para ver que ela não tinha a malevolência do olhar sonserino. Era o mero caso de uma adolescente desafiando uma figura de autoridade.
E disso Martha entendia. Lidar com crianças, mágicas ou não, era algo que ela estava começando a aprender.
O Prof. Hagglemore pareceu finalmente se recuperar:
- Srta. Sherman!... Cinco pontos a menos para Grifinória por sua impertinência!
- Calma, professor - disse Martha, de maneira pausada - A Srta. Sherman fez uma pergunta que, garanto, está na mente de muitos alunos. Parece justo que eu tente respondê-la da maneira mais honesta e sincera possível.
Houve burburinho na sala. Martha aproximou-se da moça e disse:
- Mas terá que me dar uma boa razão para eu fazer isso, Srta. Sherman.
- Como é que é?
A voz de Martha estava muito menos doce e bem mais ferina ao dizer:
- A senhorita me ouviu, mas eu repito. Dê-me uma boa razão para eu colocá-la a par sobre meus planos em dar um herdeiro à família Snape.
Dava para ver que a última coisa que a garota esperava era aquilo. De olhos arregalados, a menina Sherman arriscou, trêmula:
- Uma boa razão... Eu estou curiosa, ora.
- Essa é sua razão?
- É. Muita gente também está curiosa.
- Resposta errada - Martha disse - Até a senhorita conseguir produzir uma razão relevante para que eu responda sua pergunta, ficará sem resposta. Se a senhorita ou qualquer outro de seus colegas quiser falar sobre meu casamento, eu posso até mostrar minha aliança e trocar impressões sobre os preparativos, desde que seja fora da sala de aula, preferencialmente no horário marcado pelo Prof. Dumbledore para os cumprimentos aos noivos - ela deixou as palavras ecoarem um pouco, pois a turma estava em silêncio total, absolutamente chocada. E Martha deu o golpe de misericórdia - Mas tenho certeza de que o Prof. Snape terá prazer em responder pessoalmente sua pergunta, Srta. Sherman. Posso transmiti-la a ele na primeira oportunidade, gostaria disso?
A ameaça velada teve o efeito esperado. A perspectiva de confrontar Snape deixou vários alunos pálidos. Completamente sem cor nas faces, a garota Sherman se adiantou em dizer:
- Não precisa perguntar nada para ele, obrigada. Não será necessário. Por favor, não conte a ele.
- Não mesmo? Como queira. Agora, se todos concordarem, podemos concentrar nossas atenções nos meios de transportes trouxas? O que acha, Prof. Hagglemore?
O titular da cadeira estava meio boquiaberto, e demorou a se recompor:
- Hã? Oh, sim, eu quero dizer, claro! Claro, Srta. Scott, falemos de transportes trouxas.
Mais aliviada, Martha abriu um sorriso e continuou:
- E falávamos de carros, professor. Esses meios de locomoção são tão importantes para os trouxas que se tornaram símbolos de status, posição social e até de potência sexual. Todos requerem combustível para rodar, embora...
Ainda sob o impacto do ocorrido, os alunos passaram a se dedicar a meios de transporte trouxas, e se mostraram quase tão interessados no assunto quanto no casamento dela. Martha ficou particularmente aliviada em ter conseguido contornar uma situação potencialmente explosiva e prosseguir a aula sem novos incidentes. Corvinais e grifinórios eram bastante bons de se lidar, ela concluiu, torcendo para que Severo aprovasse sua abordagem da situação.
- Você fez o quê?!
Severo parecia pasmo, e Martha quase se sentiu como um de seus alunos, prestes a ter pontos retirados e receber detenção. Mas ela sabia que na tinha feito nada errado, então simplesmente repetiu:
- Eu pedi que ela me desse uma boa razão para eu responder, depois sugeri que ela fizesse essa pergunta a você em pessoa.
O mestre de Poções de Hogwarts jogou a cabeça para trás e deu a maior gargalhada que Martha já vira. Martha viu que ele até segurava a barriga de tanto rir, e mal conseguia respirar.
- Eu precisava ter visto isso. Aposto como a pestinha desistiu na hora.
- Claro.
- Típica ousadia grifinória irresponsável - ele sorriu e passou a mão na cintura dela - E você cuidou dela como uma verdadeira sonserina. Estou orgulhoso de você.
Martha enrubesceu, enroscando-se nele:
- Bem, eu tenho que mostrar que posso destilar algum tipo de veneno, senão os alunos perdem o respeito.
Severo estreitou os olhos:
- Hum... perigosa e sexy... Eu tenho que me cuidar...
Ela sorriu e deu-lhe um selinho demorado, antes de dizer:
- É melhor subirmos. Os cumprimentos estão para começar.
- Isso deve ser quase tão interessante quanto sua aula.
A princípio, parecia que apenas professores e funcionários iriam à sala perto do Salão Principal. Martha agüentou estoicamente a Profª Trelawney fazer mais previsões sobre as dificuldades que eles iriam enfrentar até o casamento e o tom monocórdico do Prof. Binns. Eles também receberam cumprimentos do Barão Sangrento, que se disse bastante satisfeito, mesmo que não fosse um casamento entre sangue-puros. O Sr. Filch cumprimentou Martha com entusiasmo ("Um grande partido a senhora pegou, moça! O melhor professor de Hogwarts!") e Madame Pomfrey parecia tocada. Severo e Dumbledore discutiam detalhes sobre a cerimônia e Martha aproveitou a oportunidade para discretamente puxar a Profª McGonagall de lado:
- Minerva, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta, mas... nem sei direito como começar...
- O que foi, Martha? Algum problema?
- É o que eu estou querendo evitar. Você deve saber melhor do que eu que esse casamento vai atrair muitas atenções.
A velha professora assentiu:
- Certamente, minha cara.
- Por isso ele tem que sair perfeito. Para isso acontecer, eu vou precisar de ajuda. Não conheço seus costumes, posso dar alguma gafe, e isso poderia prejudicar Severo. Acho que estou tentando lhe pedir que seja minha madrinha.
McGonagall não escondeu que aquela era a última coisa que ela esperava ouvir:
- M-madrinha? Eu?! Nossa, eu jamais imaginei... Eu nunca fui madrinha antes.
- Mas você conhece um casamento bruxo. Pretendemos fazer uma cerimônia simples e discreta, mas eu temo ferir alguma tradição, já que eu sou trouxa. Poderia me ajudar nisso?
- É claro - disse Minerva - Posso passar antes do jantar em seus aposentos?
- Eu adoraria! Muito obrigada, Minerva.
- Fico feliz em poder ajudar - ela olhou adiante e seu sorriso caiu - Acho melhor você receber seus convidados recém-chegados.
Martha se virou e sentiu seus músculos se enrijecerem. Tão tensos quanto ela, os alunos da Sonserina começaram a chegar em peso à sessão de cumprimentos. Martha achou melhor posicionar-se ao lado de Severo, que estava tão tenso que parecia estar em posição de sentido. E a melhor analogia realmente era a militar. Os alunos entraram marchando, em fila indiana, liderados por ninguém menos do que Draco Malfoy. Martha notou que Draco trazia um distintivo brilhante no peito, com os dizeres: "MONITOR". As outras pessoas que estavam na sala afastaram-se para observar a cena.
Sem perder o passo, Draco Malfoy deteve-se diante de Snape e, com um ar altivo que lhe era característico, disse solenemente:
- Prof. Snape, nós, os alunos de Sonserina, viemos apresentar nossos cumprimentos pelo seu casamento e desejar muitas felicidades. Aproveitando a ocasião, gostaria de publicamente me redimir da descortesia que cometi contra sua futura esposa - Snape ergueu uma sobrancelha e Martha sentiu seu coração acelerar. O rapaz estendeu a mão e dirigiu-se diretamente a ela - Srta. Scott, por favor, eu lhe peço que aceite minhas desculpas e meus profundos votos de felicidades.
Agindo mais por instinto, ela também ofereceu sua mão a Draco, dizendo:
- Desculpas aceitas, Sr. Malfoy.
Com uma expressão indecifrável, o herdeiro do clã Malfoy inclinou-se e, como um perfeito cavalheiro, beijou a mão de Martha. Em seguida, apertou a mão de Severo e abriu espaço para o aluno seguinte apertar a mão de Martha e Severo, e então o próximo, e mais um, e a fila começou a andar, um por um. Parecia que as tropas estavam passando em revista aos dois.
Dumbledore assistia a tudo de maneira divertida, mas Martha notou a argúcia brilhando nos seus olhinhos azuis por trás dos pequenos óculos de meia-lua. Ela também viu que o gesto incentivara outros alunos a comparecerem à sessão de cumprimentos, e ela se sentiu gratificada ao ver Harry, Hermione e Rony entrando na sala. De algum modo, aquilo aqueceu o coração de Martha. Ela sentia que os votos de felicidade daqueles três eram sinceros e genuínos. Cautelosamente, ela observou Harry Potter estender a mão para Severo. O noivo de Martha parecia ainda mais tenso ao apertar a mão de Harry do que a de Draco. Ela tomou a decisão naquele instante de falar com Severo a respeito daquele assunto.
O resto do dia pareceu arrastar-se. Martha não entendia como se sentia tão cansada.
- Não é difícil de entender - ofereceu Severo, diante de uma pilha de cadernos para corrigir - O dia foi tenso e movimentado.
Ela disse, animada:
- Mas foi bastante produtivo, não acha?
- Sim, fizemos muitas conquistas hoje. Ainda estou surpreso com algumas delas.
- Você tem razão. Foi mesmo uma surpresa ver toda a sua casa comparecer em peso à nossa sessão de cumprimentos.
- Não, aquilo não me surpreendeu. Foi a oportunidade perfeita para que eles demonstrassem aliança com o chefe da casa e para que se retratassem de pecados do passado.
- Acha que agora eles vão me aceitar?
- Isso não vai ser possível saber com certeza. Mas agora eles pelo menos saberão agir com mais astúcia.
- Então acha que não foram sinceros?
Severo deu um risinho:
- Não se trata de uma questão de sinceridade. Mas agora eles aprenderam a tratar esse assunto de uma maneira sonserina. Vão saber calcular melhor, analisar, explorar vulnerabilidades. Esse é um jogo que eu conheço bem. E você parece estar começando a aprender, Martha.
- Eu? Desde quando, Severo?
- Desde que você virou o jogo com a garota grifinória. Perspicácia e raciocínio rápido são características sonserinas, e você as usou de maneira brilhante. Isso pode ter sido decisivo para convencer meus sonserinos a nos darem votos de felicidades.
Martha abraçou-o por trás, dizendo:
- Você é um amor. Amanhã conversaremos melhor. Eu estou indo dormir.
- Está bem. Eu devo demorar.
- Procure não se cansar, querido - ela beijou-o - Boa noite.
Mal sabia ela que aquela noite seria longa, e que ela teria tudo, menos descanso.
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