O Beco Diagonal
Capítulo 11 - O Beco Diagonal
- Então? Pronta?
Martha respirou fundo, tentando se acalmar. Severo já tinha explicado a ela como funcionava, mas ela estava tremendo da cabeça aos pés. Agora, lá estava ela, na sala do diretor, diante da lareira - que era o seu meio de transporte até a parte mágica de Londres!
Dumbledore reiterou:
- É perfeitamente seguro, até para trouxas. Basta pronunciar claramente o seu destino, jogar o pó de flu e pronto!
Severo disse:
- Você prefere que eu vá na frente?
- Não - ela respirou fundo mais uma vez e esticou a mão para pegar um punhado de pó - Eu posso fazer isso.
- Assim que chegar, lembre-se de sair logo da lareira para Severo poder chegar em segurança.
Martha assentiu e entrou na lareira. Dumbledore sorriu:
- Tenham um bom dia, crianças.
A moça clareou a garganta e disse, alto:
- Beco Diagonal!
Depois ela foi envolvida por imensas chamas verdes e trancou o grito na garganta quando sentiu uma força inacreditável, talvez um vento, impulsionar todo o seu corpo até que ela sentiu o mundo se formar de novo à sua volta. Na sua frente, um bruxo de óculos de aro de metal a encarava com um sorriso:
- Bem-vinda a Floreios e Borrões! Deixe-me ajudá-la a sair daí.
Ainda bem que aquele bruxo estava ali, pois as pernas de Martha tremiam tanto que ela mal estava se agüentando em pé. O bruxo indagou:
- A senhora está bem?
- Só estou um pouco nervosa... Foi minha primeira viagem com pó de flu.
- Oh, minha nossa. Deve ter sido bom emocionante.
A lareira atrás dela criou vida e de lá saiu Severo. Ele imediatamente foi até Martha:
- Tudo bem?
- Sim - e era verdade. As pernas dela pareciam finalmente ser capazes de sustentá-la - Este homem simpático me ajudou.
O homem arregalou os olhos:
- Prof. Snape! Desculpe, professor, eu não sabia que a moça era sua... acompanhante.
- Sem problemas, Boswell - Ele passou o braço em volta da cintura de Martha - Querida, o Sr. Boswell é o gerente da livraria Floreios e Borrões. Minha noiva, Martha Scott.
- Prazer - apertaram-se as mãos - Professor, posso interessá-lo no último volume de Poderosas Poções Poeirentas?
- Com certeza, mas deixe-me primeiro levar a Srta. Scott a um outro compromisso.
- Claro, claro, professor. Estou à disposição. Prazer, senhorita. E parabéns aos dois pelo casamento vindouro.
Os dois deixaram a livraria e Martha mais uma vez se viu em meio ao burburinho do Beco Diagonal. Ela já conhecia o lugar, pois antes de ir a Hogwarts, Severo a introduzira ao mundo bruxo exatamente ali.
- Temos muito o que fazer - disse Severo - Acho que se nos separarmos, assim aproveitaremos melhor o tempo.
- Claro. Mas eu não tenho muito que fazer.
Severo deu um risinho:
- Isso é o que você pensa. Primeira parada: Madame Malkin.
A própria Madame Malkin em pessoa veio atendê-los. Com seu sorriso característico, ela saudou os dois com entusiasmo:
- Professor Snape! Srta. Scott! Que prazer em tê-los aqui de novo!
- Igualmente, Madame.
- As roupas serviram bem? Ficaram satisfeitos?
- Certamente - disse Severo - Voltamos porque precisamos de novos trajes para uma ocasião especial: nosso casamento. E algumas outras ocasiões também.
A bruxa pequenina e rechonchuda bateu palmas, maravilhada:
- Mas que boa notícia! Parabéns aos dois e desejo toda a felicidade do mundo! Faço questão de tratar pessoalmente dos trajes de vocês dois.
Martha esclareceu:
- Na verdade, será uma cerimônia simples, apenas para amigos.
- Entendo. Algo discreto e elegante. Que bom que eu já tenho as medidas de vocês. Ah, mas dá azar um ver a roupa do outro antes do casamento. Já sei! - ela pegou uma pilha de revistas - Martha, querida, poderia olhar esses modelos e ver o que lhe agrada? Vou cuidar de seu noivo e já volto. Professor, acho que eu tenho exatamente o que precisa.
Assim que Severo escolheu seu traje, uma capa verde-escura de veludo com detalhes em cetim prateado, foi dispensado para que sua noiva recebesse um tratamento de rainha. Na verdade, ele tinha muito a fazer, e não perdeu tempo. Primeiro, ele foi ao banco, depois ao lugar mais importante do dia, em seguida ao escritório do Ministério da Magia, a Floreios e Borrões, ao Profeta Diário, e voltou o mais rápido possível para a loja de Madame Malkin, onde Martha o esperava.
- Desculpe a demora. Está esperando há muito tempo?
- Não, terminamos ainda há pouco. Você chegou na hora exata.
Madame Malkin disse:
- Acredito que ficarão satisfeitos com suas roupas. Mas será necessário fazer novas provas. Deixem-me fazer o seguinte: como os dois moram em Hogwarts, vou deixar os modelos na Gladrags de Hogsmeade, a loja de roupas local. Desse modo, não terão que viajar até aqui para a prova. Que tal?
Os dois se entreolharam, e Martha ficou animada com a perspectiva de evitar a viagem com pó de flu. Severo disse:
- Parece uma solução perfeita.
- Excelente! - ela passou um punhado de sacolas a Martha - Eis aqui os outros pedidos para as outras ocasiões. E se vocês precisarem de mais alguma coisa, por favor, não hesitem em enviar uma coruja.
- Obrigada pela ajuda, Madame Malkin - disse Martha, sinceramente - Ainda estou surpresa em saber que branco não é roupa de casamento bruxo.
- Estou à disposição, querida. Vamos trabalhar duro para fazer dos dois um casal inesquecível no dia de seu casamento.
Martha sorriu timidamente, enrubescendo levemente e desviou os olhos de Severo. Ele achou aquilo adorável. Os dois agradeceram à Madame Malkin e deixaram a loja.
- Você se incomoda se passarmos no boticário? Há alguns ingredientes que preciso repor no meu estoque particular.
- Claro que não - ela sorriu e Severo se perguntou se era impressão dele ou Martha estava reluzindo de verdade - Ah, isso traz de volta lembranças, não é mesmo?.
- Lembranças? - Severo disse, tentando permanecer sério - Não sei do que está falando. Você esteve nessa loja sem mim?
Martha ficou indignada:
- Severo! Está querendo me dizer que um boticário não te faz ter lembranças sobre - então ela percebeu o cantinho da boca dele tremendo no esforço de ficar sério e um brilho divertido nos olhos negros que a encaravam - Ora, seu! - e deu-lhe uma bolsada no braço usando uma sacola da loja de Madame Malkin - Está rindo de mim, é?
Ele deu um meio sorriso:
- Eu não sabia que você ficava tão adorável quando está irritada.
Martha terminou rindo:
- E eu caí feito uma boba.
Chegando a boca perto do ouvido dela, ele sussurrou:
- Adorável e sexy. Na verdade, deliciosa...
Ela enrubesceu, escandalizada:
- Severo, estamos no meio da rua...!
- Que inconveniente... - ele continuou a sussurrar, a voz ainda mais aveludada - Seria perfeito se pudéssemos... você sabe... agora mesmo.
Martha sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo e por um instante esqueceu que estava numa rua lotada de bruxos, olhando para os olhos faiscantes de Severo, sabendo que ele a desejava. Ela cochichou:
- Isso não é justo... Fazer isso comigo quando eu não posso fazer nada... você vai ver só quando chegarmos a Hogwarts...
- Hum... mal posso esperar...
Foi com sorrisos bem marotos que os dois entraram na botica do Beco Diagonal. Para Martha, a experiência foi bastante emocional. Pela primeira vez, ela teve oportunidade de ver Severo em seu verdadeiro elemento - e de conhecer o elemento de Severo. Ela viu o boticário receber Severo respeitosamente, e foi apresentada a ele. Dava para ver que eles se conheciam há tempos.
Mas o que realmente deixou Martha boquiaberta foi a loja em si. Ela achava que seria semelhante à lojinha do Sr. Winthrop. Mas tudo era muito diferente. Para começo de conversa, tinha tanta coisa lá dentro que era óbvio o uso de mágica para caber tudo. Não menos importante, a maioria dos ingredientes jamais seria encontrada na lojinha "Na Medida Certa". Na verdade, muitos pareciam ter saído de livros infantis: espinhos de porco-espinho, fígado de dragão, olhos de salamandra, asas de morcego... Um aviso grande dizia "A venda de sangue de unicórnio é proibida - Favor não insistir." Os cheiros variavam do intoxicante ao nauseabundo, passando por alguns inebriantes e outros deliciosos, mas eram todos juntos, deixando-a levemente tonta.
Depois de receber mais cumprimentos pelo casamento, e esperar Severo finalizar a encomenda a ser entregue em Hogwarts, Martha mais uma vez se viu diante de uma lareira, com um punhado de pó de flu na mão e um grande tremor nas pernas. Mas dessa vez ela estava disposta a não dar vexame. Queria provar a Severo que podia fazer isso.
Martha respirou fundo, pronunciou seu destino bem claramente e jogou o pó. Desta vez ela fechou os olhos para não ver as chamas verdes, e talvez tenha sido por isso que se sentiu tonta e rodando, e então de repente sentiu uma pressão nas mãos e joelhos. A voz espantada de Minerva McGonagall a devolveu à realidade:
- Pela espada de Godrico, Martha! Você está bem?
Só então Martha se deu conta de que o mundo tinha parado de rodar e que estava na posição mais embaraçosa de sua vida: ela tinha caído de quatro em frente à lareira do Prof. Dumbledore, que aparentemente estava em reunião com sua vice-diretora. Coberta de fuligem, Martha ergueu a cabeça, morta de vergonha.
- Olá...
A Profª McGonagall entrou em ação, correndo até ela com passinhos miúdos:
- Oh, minha nossa! Deixe-me ajudá-la, pobrezinha!
Ela começou a se erguer:
- Eu estou bem... Obrigada, Minerva.
Severo saiu da lareira e imediatamente correu para as duas mulheres:
- Martha, tudo bem?
- Sim, Severo. Eu só... aterrissei de mau jeito.
- Aterrissou? - ele ficou intrigando - Não sabia que trouxas podiam voar.
Ela sorriu ao perceber que ele falava sério:
- É só uma maneira de falar. Oh, droga, agora preciso de outro banho!
Severo, que estava com as sacolas na mão, aproveitou e disse:
- Então vamos logo para a masmorra... Diretor, mais uma vez eu agradeço o uso de sua lareira.
- Não por isso, Severo - ele sorriu - Até mais, crianças.
Enquanto andavam até a masmorra, Martha disse:
- O Prof. Dumbledore foi mesmo gentil em nos emprestar a lareira. Mas me explique uma coisa, Severo: seus aposentos têm duas lareiras. Por que não usamos aquelas lareiras para ir até o Beco Diagonal?
- Por uma pletora de motivos que não convém mencionar nesse momento, Hogwarts tem diversos dispositivos de segurança. Um deles é garantir que apenas a sala do Diretor tenha ligação com a rede de flu. Se não bastassem os motivos de segurança, há também os alunos. Os pestinhas voariam para fora das lareiras de tal maneira que jamais daríamos conta de tê-los nas salas aula. Humpf!
Martha sorriu:
- Você também fica muito sexy assim todo sarcástico - ela se virou para chegar junto dele, mas ele mexeu nas sacolas, evitando o contato.
- Gentileza sua - ele disse, frio - Ah, importa-se de ir na frente? Eu preciso passar na cozinha agora mesmo.
Martha sentiu um balde de gelo no seu entusiasmo.
- Eu posso ir com você.
- Não será necessário, eu garanto - ele lhe passou as sacolas - Assim você não perde tempo e toma seu banho antes do almoço.
- Está bem, querido. Até mais.
Ela resolveu apertar o passo antes que começasse a chorar ali mesmo, deixando-o para trás rapidamente. Nunca Severo tinha sido tão frio com ela, e isso que eles estavam fazendo compras de casamento! O que estaria acontecendo?
Dúvidas começaram a mastigar o coração de Martha. Será que ele estava começando a se desinteressar por ela? Mas ele tinha sido tão sugestivo no Beco Diagonal, ousado e sexy. Será que esse era o problema? Ele só estaria interessado nela por causa do sexo, sem gostar dela de verdade?
Martha deixou as sacolas na saleta de estar e correu para o banheiro. Trancou a porta pela primeira vez, entrou no chuveiro e sentiu as lágrimas se misturarem à água aquecida por salamandras. Silenciosamente, deixou água e lágrimas se misturarem, lavando-a por fora e por dentro. Droga, ela tinha acabado de escolher seu vestido de casamento! Será que tudo o que ela tinha lutado, as humilhações que tinha passado - tudo tinha sido em vão? Teria sido por um homem que não a amava de verdade e estaria só brincando com seus sentimentos?
Não, ela não podia acreditar nisso. Severo não teria passado a manhã com ela se não quisesse se casar. Ela estava sendo uma boba, completamente irracional. E daí que ele tinha sido um pouco ríspido com ela? Ele tratava as pessoas assim, era conhecido por isso. Esse era o jeito dele. Verdade que ele nunca tinha usado esse tom com Martha antes, mas isso não era garantia de que ele não pudesse mudar de atitude.
Naquele momento, mais do que qualquer outro, ela sentiu a intensidade do amor que a prendia a Severo. Ele podia ser ríspido com ela, mas ela o amava. E talvez ela estivesse exagerando: ele podia muito bem estar só cansado das compras. Martha se lembrava de ter levado Severo para fazer compras antes, em Londres, e ele se revelara ser um tanto impaciente. Ela sorriu diante da lembrança - naquela ocasião ela não sabia que ele era um feiticeiro.
O coração de Martha se aqueceu ao se lembrar de como Severo era desajeitado e deslocado em Londres. Talvez fosse isso que o fizesse ser tão encantador. Ele também a salvara de uma relação abusiva, e isso a tinha feito admirá-lo imensamente, e sentir-se segura e protegida perto dele.
Quando ela saiu do banheiro, Severo estava no quarto. Ele comentou asperamente:
- Você demorou.
- Desculpe. Fuligem não é fácil de sair.
- A porta estava trancada.
- Desculpe, você queria usar o banheiro? Era só bater.
- Não, eu queria falar com você. Achei que gostaria de fazer um piquenique ao invés de almoçar no Salão Principal. Sair um pouco da rotina.
- Foi isso que você foi fazer na cozinha?
- Sim. Já trouxe a cesta que os elfos domésticos prepararam. Fiz mal?
- Oh, claro que não. Um piquenique seria adorável - ela deu um sorriso aberto, mas ele não retribuiu - Você pretende trocar de roupa? Será que o que estou usando é apropriado?
- Estou pronto, e você está ótima. Podemos ir agora mesmo, se estiver com fome.
- Faminta.
- Mas recomendo que você leve um agasalho. Essa época do ano costuma ser pródiga em repentinas mudanças de temperatura.
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