Ataque sonserino




Capítulo 10 - Ataque sonserino



Martha mal podia conter seu entusiasmo. O Prof. Hagglemore a abordara depois do café da manhã, perguntando se ela gostaria de participar de uma pequena sessão de perguntas e respostas na sua aula de Estudos Trouxas para o sétimo ano. Ela logo concordara e dissera que iria preparar algumas notas e tópicos específicos sobre meios de transporte não-mágicos. Portanto, ela ia rumo à biblioteca quando teve seu caminho barrado por três alunos, dois rapazes corpulentos e uma moça de cabelos pretos e cara quadrada. Foi a aluna quem se aproximou dela, com um sorriso feio e maligno:



- Então, você é a trouxa do Snape?



Martha sentiu uma onda de raiva percorreu seu corpo:



- Do que você me chamou, menina?



- Trouxa do Snape. Mas eu ainda acho que tudo é um truque. Snape não iria chegar perto de sua laia nem com uma varinha envenenada. Para mim, você deve ser uma bruxa que lançou o Feitiço Confundus nele.



- Isso é muito mal-educado - disse Martha, tentando manter o controle - Seus pais não lhe deram educação?



- Meus pais são sangue do mais puro e não quero que você abra sua boca trouxa mais uma vez para falar deles! Tome isso por sua insolência!



A menina puxou sua varinha e disse algo em latim. Martha sentiu seus lábios se colando e tentou gritar, mas só o que conseguiu foram gemidos abafados.



Os dois rapazes arregalaram os olhos:



- Emília, o que está fazendo?



- Botando essa trouxa no lugar dela! - respondeu ela, ainda brandindo a varinha, com um enorme sorriso nos lábios - Que tal se você ouvisse melhor quando eu falo com você, hein, trouxa?



Martha sentiu suas orelhas se alongando e tentou cobri-las com as mãos, mas elas cresciam rapidamente. A menina, Emília, parecia estar se divertindo:



- Você não gostaria de se esconder de vergonha? Ora, use seus próprios cabelos! Alongate!



Agora eram os cabelos de Martha que cresciam a uma velocidade incrível. Os dois rapazes disseram:



- Mili, você vai ficar em encrenca!



- E nós também! Pare com isso!



Mas Emília parecia estar realmente adorando tudo aquilo e deu de ombros:



- Encrenca? Que idéia! Ela é só uma trouxa, gente! Por que eu estaria encrencada por causa dela?



O peso das orelhas de Martha a fez se curvar no chão, ajoelhada, mas ela conseguiu erguer a cabeça tempo suficiente para ver que outros alunos estavam chegando:



- O que está acontecendo? Crabbe, Goyle, o que estão fazendo com Bulstrode?



Martha reconheceu a voz, mesmo que não tivesse visto seu rosto. Era Draco Malfoy. Ela queria que o chão se abrisse naquele minuto, porque o garoto certamente teria sua desforra pelo que tinha acontecido no Salão Comunal de Sonserina.



- Ah, Draco, acho que você vai gostar disso - disse a moça de cara quadrada - Essa trouxa não está muito melhor agora?



Ao contrário do que ela esperava, o garoto louro franziu o cenho, irritado:



- Bulstrode, sua idiota! - ele puxou a varinha e apontou para Martha - Finite incantatem!



As orelhas de Martha pararam de crescer, o que era bom, porque já estavam abaixo do ombro. O cabelo dela parecia uma longa cauda castanha bem clara, com mais de três metros. Os lábios continuavam colados. Ela sentiu alguém pegando seu braço:



- Pode se levantar, Srta. Scott?



Era Draco, e ela arregalou os olhos, surpresa com a atitude dele. Mas uma voz diferente a fez virar a cabeça:



- Fique longe dela, Malfoy!



Quem chegara ao corredor naquele instante tinham sido Harry Potter e seus amigos Hermione Granger e Rony Weasley. Harry tinha a varinha apontada para Draco. Outros estudantes também estavam chegando, atraídos pela confusão.



- Não precisa ter um chilique, Potter - disse Draco, ajudando Martha a ficar de pé - Eu estou ajudando a Srta. Scott.



Harry indagou a Martha:



- Isso é verdade, Srta. Scott?



Sem poder falar, Martha apenas assentiu, apoiando-se em Draco. Ela estava tão surpresa quanto os grifinórios.



- Mas então - quis saber Rony -, quem fez isso?



- Essa resposta eu também quero.



A voz portentosa fez os alunos se virarem, alguns assustados, Martha sentindo-se aliviada. O Prof. Snape tinha chegado tão de mansinho que ninguém percebeu. Ele deslizou suavemente entre os sonserinos e grifinórios, repetindo:



- Então? Quem fez isso?



A menina sonserina, Emília Bulstrode, adiantou-se, com um ar jocoso e desafiador:



- Fui eu. Por quê? Vai me tirar pontos?



Snape voltou-se para ela e o ar em volta pareceu estalar de tanta tensão. Em voz baixa e gélida, ele respondeu:



- Infelizmente, isso ultrapassa a minha autoridade. Contudo, posso decretar que Sonserina está com o mínimo de 300 pontos a menos, Srta. Bulstrode. Seu ato foi de tamanha gravidade que infringiu diretamente a Lei de Proteção a Trouxas, e isso constitui crime previsto por nossas leis. Vou pessoalmente escrever a seus pais e comunicá-los que a senhorita pode enfrentar uma temporada em Azkaban pelo que fez.



Houve exclamações abafadas por parte dos estudantes, que começaram a murmurar entre si. Harry arregalou os olhos, Hermione Granger tapou sua boca com a mão, assustada, e Rony Weasley estava de queixo caído. A cara quadrada a abrutalhada de Emília Bulstrode perdeu toda a cor:



- Não pode fazer isso!... Az-Azkaban? Não pode me mandar para lá!... Foi apenas uma brincadeira! O que são umas azarações inocentes?



A voz de Severo só crescia em ameaça e os olhos dele estavam duros e cruéis como Martha jamais vira - ele estava possesso de ódio e parecia francamente perigoso:



- A senhorita bem sabe que a Srta. Scott não pode se proteger. O que fez dificilmente pode ser classificado de brincadeira ou inocente.



Ela quase o interrompeu:



- Olhe: eu vou retirar tudo! Eu reti -


Ela tentou agitar a varinha na direção de Martha mais uma vez, mas num reflexo Severo tirou a sua própria do bolso e enunciou:



- Expelliarmus!



A moça foi jogada longe, a varinha voando de sua mão. Severo recolheu a varinha do chão e disse:



- Você não chegará perto da Srta. Scott novamente, Srta. Bulstrode. Espero ter sido bem claro quanto a isso. Agora apresente-se imediatamente ao diretor. Ele deverá decidir sobre sua expulsão.



Em choque, a garota se ergueu e disse, em lágrimas:



- Isso não vai ficar assim! Isso não vai ficar assim!



Ela correu para as escadas, e Severo aproximou-se de Draco Malfoy:



- É verdade que você a deteve?



Ele disse, ainda segurando Martha:



- Cheguei tarde demais, professor.



Severo guardou a varinha de Emília Bulstrode no bolso e agitou a sua própria em volta do rosto de Martha. Deu parcialmente certo: os lábios se descolaram e as orelhas voltaram ao normal, mas os cabelos continuaram compridos. Ele indagou à sua amada:



- Você está bem?



- Sim, obrigada.



- Melhor passar na ala hospitalar.



- Não é necessário, eu estou ótima, Prof. Snape. Mas gostaria de ajuda para dar um jeito no cabelo. Posso pegar emprestada a Srta. Granger?

Severo olhou o trio grifinório desconfiado. Mas sabia que pelo menos aqueles três jamais ameaçariam Martha por ela ser trouxa. Então assentiu:



- É claro. Mas a Srta. Granger deve voltar em seguida para as suas aulas - ele olhou em volta - Todos! Para suas salas de aula! Menos o senhor, Sr. Malfoy.



Todos foram se dispersando relutantemente; Martha e Hermione para um lado, Harry e Rony para outro, os demais em locais variados. Snape esperou até ficar sozinho com Draco para perguntar, secamente:



- Por quê?



O rapaz deu de ombros:



- Apenas para evitar que o que aconteceu com Bulstrode aconteça comigo. Não quero me juntar ao meu pai em Azkaban. Mamãe teria um troço, e ela já está suficientemente zangada comigo pelo que aconteceu... antes.



Severo ergueu uma sobrancelha:



- Até que ponto está disposto a se livrar de Azkaban?



Draco deu um meio sorriso:



- Não se preocupe, professor. Não deixarei que nada aconteça à sua amiguinha.



Severo aproximou-se dele e abaixou a voz:



- Eu estarei de olho em você. Não se engane quanto a isso. Agora volte para suas aulas.



Com uma expressão sombria no rosto, o herdeiro Malfoy deu uma meia volta e andou em direção das escadas. Severo permaneceu olhando para ele enquanto se afastava, imaginando, com outra expressão sombria, o que significavam esses novos desdobramentos.





- ... e embora não seja efetivamente um meio de transporte, a Internet também é capaz de "carregar" dados, fotos, vídeos e outras informações. É um valioso meio de comunicação, e é bastante recente.



Os alunos estavam fascinados, absortos na narrativa de Martha. Embora ela não fosse a oradora mais brilhante que Hogwarts já vira, muitos dos estudantes jamais tinham ouvido falar dos meios de transporte que os trouxas utilizavam. A turma era composta de lufa-lufas do sétimo ano, e havia alguns de famílias trouxas que contribuíram com a aula falando de suas próprias experiências. Uma menina de cabelos alourados e olhos castanhos ergueu a mão para perguntar:



- Mas tem uma coisa que eu não entendo: se os trouxas não podem voar de vassoura, como eles atravessam grandes distâncias? Só de carros e trens?



Uma outra estudante cochichou:



- Bea, eles têm naves espaciais! Já conseguiram ir até a Lua!



- Na verdade - disse Martha -, não precisam disso tudo. Um simples avião basta. Esses aviões voam grandes distâncias, carregando muita gente de aeroporto em aeroporto. Naves espaciais são para sair do planeta Terra. O próximo passo é ir até Marte.



O sino tocou exatamente nesse minuto e alguns alunos ainda deram "ahs" de decepção. O Prof. Hagglemore ergueu a voz, enquanto todos pegavam suas coisas:



- Quero uma composição de 3 metros sobre os tópicos abordados pela Srta. Scott para a próxima aula. Também é de bom tom agradecermos à nossa convidada pelas interessantes informações que ela nos proporcionou.


Um coro improvisado, desafinado e variado de "Obrigado, Srta. Scott" provocou o sorriso de Martha, que observou a saída dos alunos, alguns acenando para ela. Jeremias Lawson, um rapaz bem alto e magro, de orelhas bem grandes, chegou até ela e disse:



- Será que depois a senhorita poderia me explicar um pouco mais sobre essa coisa... como chama - ah, combustível? Eu não entendi direito essa parte.



- Claro que sim. Quando você quiser.


- Obrigado - o rapaz sorriu e saiu.



O Prof. Hagglemore também sorriu para ela:



- Não sei como agradecer. Foi um sucesso extraordinário! Tenho certeza de que eles apreciaram muito!



- Fiquei feliz em poder ajudar, professor.



- Gostaria de repetir a experiência com as demais turmas de sétimo ano? Assim eu poderia incluir parte dessa matéria nos N.I.E.Ms. Seria uma mudança inédita.



Martha sorriu:



- Sem problemas. Só me avise quando serão as aulas e eu vou procurar me preparar um pouco mais.



- Não é necessário, a senhorita esteve ótima! Grifinórios e corvinais na segunda-feira e Sonserina na terça - ele pegou um pedaço de pergaminho - Eis os horários.



- Obrigado, professor.


- Até lá, então. Bom fim de semana!



Martha deixou a sala de aula sentindo-se muito feliz. A aula tinha corrido muito melhor do que ela esperava, especialmente depois do horrível incidente daquela manhã. Ela tinha feito questão de não mostrar o quanto ela tinha ficado realmente abalada, especialmente para Severo. Era importante para ele que Martha mantivesse a postura e a dignidade diante daquela situação delicada.



Quando Severo entrou nos seus aposentos, depois da última aula, encontrou Martha pronta para entrar no banho. Ela correu até ele e beijou-o:



- Oi, querido!


- Como foi sua palestra?



- Acho que foi boa. Os alunos pareceram interessados, e o prof. Hagglemore me convidou para dar a mesma palestra para outras turmas.



- Parabéns - o rosto dele não parecia muito convencido.



Ela ficou preocupada:



- Severo, aconteceu alguma coisa? Eu estava indo tomar um banho antes do jantar, mas se você quiser conversar, eu...



- Não, não aconteceu nada. Mas eu participei de uma reunião para tratar daquele incidente desta manhã com... os alunos do sexto ano.



Martha sentiu uma cortina de tristeza cobri-la. Tentando manter o controle, ela perguntou, simplesmente:



- E chegaram a alguma decisão?



Severo gentilmente colocou a mão no braço dela:



- O imbecil do Fudge também esteve aqui - Martha arregalou os olhos - Tenha calma. Obviamente, ele não perdeu a oportunidade de dizer que isso jamais teria acontecido se você tivesse sido mandada de volta. Ele jamais soube o quão próximo esteve de levar uma maldição naquela cara asquerosa.



Martha sorriu e aninhou-se nos braços de seu amado, que continuou:



- De qualquer modo, o assunto parece estar bem encaminhado. Os pais dela foram chamados à escola e ela estará servindo detenção durante dois meses com Hagrid - ele não pôde evitar um sorrisinho malévolo - Foi bem feito; ela odeia Hagrid.



- Severo, que crueldade!



- Mas não fui eu quem aplicou a punição. Preferi deixar nas mãos de Dumbledore, e ele pediu a assistência de McGonagall, que é vice-diretora. Eu sei que normalmente as sanções disciplinares cabem ao chefe da casa, mas neste caso particular eu não me senti isento o suficiente para tal decisão.



- Muito ético de sua parte - disse Martha, impressionada.



Severo ergueu uma sobrancelha:



- Serve bem a quem vive espalhando por aí que eu beneficio os alunos de minha casa. E ela deve se dar por muito satisfeita de não ter sido expulsa de Hogwarts. Era o que eu gostaria de fazer - ele se virou para ela - Você está bem? Eu ficaria bem mais tranqüilo se você tivesse ter ido ver Madame Pomfrey.



- Eu estou ótima. E tive uma excelente idéia para o que fazer com o cabelo extra.


- Cabelo extra?



- Sim, eu guardei o cabelo que cresceu até o chão. Vou fazer almofadas com ele. O que acha?



Severo disse:



- Acho que serão almofadas macias. Quantas pretende fazer?



- Oh, apenas duas, pequenas. Para colocar na cama.



- Isso mesmo, bem longe de abelhudos e curiosos. Não quero mais ninguém mexendo no seu cabelo.



Martha quis saber:



- Querido, e quanto ao futuro da moça? Ela não vai para a cadeia, vai?



- Isso cabe o ministério decidir. Nem Fudge pôde negar que ela violou a lei, e agora o caso vai para o mesmo departamento que tentou julgar você há poucos dias. Eles é que vão decidir o destino da Srta. Bulstrode. Está fora de nossas mãos.



A moça estava penalizada:



- Oh, Severo. Ela é só uma criança.



Severo ficou surpreso:



- Pensei que quisesse vê-la punida, Martha. Afinal, ela agrediu você sem a mínima consideração e tratou você como um ser inferior. Como pode querer defendê-la?



- Não estou defendendo, estou só dizendo que ela nada mais é do que uma criança cruel. Mas ela não é uma criminosa. Será que por ser cruel e estúpida ela merece ir para cadeia?



- Não, ela merece apenas pagar pelo que fez. Só que o que ela fez foi muito grave, então a punição deve ser de acordo. E ela é uma criminosa, sim. Ela infringiu a lei que protege gente não-mágica exatamente contra esse tipo de ataque. Mais do que isso: essa pequena delinqüente complicou meus planos com o Lorde das Trevas.



Martha ficou tão apreensiva que se coração se apertou:



- Oh, Severo... Eu fico preocupada.



Ele beijou-lhe a testa e sorriu, percorrendo as mãos pelo corpo de Martha:



- Pois deixe essas preocupações de lado e vamos nos preparar para o jantar. O que você acha de ter companhia para o banho?



Ela sorriu, maliciosa:



- Só para o banho?



O brilho nos olhos negros de Severo aumentou:



- Hum, podemos pensar em algo mais, se você insiste...



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