contradições



Capítulo 4 - Contradições


Pouco a pouco o outono chegava. As folhas das árvores começavam a cair e algumas delas já se encontravam quase nuas. O início de uma nova estação
começava, os animais dali já começavam a se preparar para o rigoroso inverno
que viria logo.

Porém, a agitação na escola continuava a mesma. Harry observou pela janela de um lugar no salão comunal da grinfinória. Estivera tanto tempo sentado
perto da janela a observar lá fora, que nem se deu conta do tempo. Tornou a
molhar sua pena no tinteiro, pois a mesma havia se secado devido ao tempo
que ficou ali parado a observar a realeza da natureza. O salão comunal
estava completamente vazio e silencioso, o único barulho era o do crepitar
do fogo, que havia sido acesso a pouco por um elfo doméstico.

Era fim de tarde e os outros alunos estavam se preparando para o jantar.
Mas ele havia preferido ficar ali e colocar suas anotações em dia. Até
aquele momento no entanto não havia conseguido sequer escrever uma única
palavra. Elas simplesmente não vinham, e o seu corpo já protestava pedindo
que saísse dali. Mas ele não correspondia a esses comandos. Ficava ali
minutos e minutos com o olhar petrificado em algum lugar, porem sua visão
ficava completamente desfocada e ele começava a pensar em assuntos que o
estava incomodando há tempos.

Fazia-se quase um mês que eles haviam chegado a Hogwarts e isso era
incrível por que até aquele momento estava tudo tão tranqüilo (chegava às
vezes até incomodar), Voldemort ainda sim atacava, mas o ar que estava
correndo ali em Hogwarts era outro, estava tudo em paz naquele lugar. Como
se estivessem em outro lugar e que a guerra lá fora não existisse. Ainda
sim, se sentia preocupado com ventos corriqueiros que se passava por lá.

Contudo, Morgause era o que mais lhe intrigava. Ela até aquele momento
havia dito ser filha de Sirius, e o seu contato com os outros alunos era
irregular, pois por alguns era rejeitada, por outros uma mera estranha, mas
para pouquíssimos era alguém razoável. E todo aquele tempo ela não havia se
aberto para ninguém.

Aquela altura o sol já se punha, e a escuridão começava a encobrir o céu e as estrelas a coroar os Astros.

Harry se levantou então e começou a arrumar suas coisas, seu corpo já
protestava mesmo, nada se passava em sua mente também. Agora pouco
importava, adiaria suas anotações para outro dia. Sentia seu corpo
preguiçoso, sua vontade era deixar todas as suas coisas ali, mas não podia,
pois era bem capaz de um dos elfos tacá-los na lareira.
“esses elfos são loucos”
Um por um pegou os seus livros

....Livro padrão de feitiços...
....Defesa contra artes das trevas...
....Além do arco e o véu, o mistério por trás deste monumento e outros.

Leu repetidamente o nome daquele livro, mas com certeza não era seu. O livro possuía uma capa dura muito bem trabalhada, suas letras eram douradas
e em estilo gótico, completamente diferente de tudo que havia visto. Passou
os dedos rapidamente nas folhas com intenção de ter uma visão geral de todo
o livro. Achou um marca página nele, bordado a fitas e linhas, excepcional.
Na página em que o marca texto se encontrava, lia-se o título:

Além do arco e véu,
o mistério por trás deste monumento


Por toda página era possível se encontrar várias anotações, de uma única
pessoa. Havia um texto em especial que estava grifado, e na página ao lado
uma figura que muito lhe chamou a atenção. Era uma réplica perfeita do
monumento que havia levado seu padrinho à morte. Isso fez com que o texto
lhe chamasse a atenção:

“ 'O Arco Sagrado’ é um símbolo dos povos nativos, uma forma de visualizar
um conceito bastante complexo que ao mesmo tempo é muito simples. Ele
representa o círculo da vida e todas as suas teias e inter-relações, não tem
começo nem fim, quando você alcança o fim está novamente no começo... Assim
como as quatro estações, que passam da primavera para o verão, para o
outono, terminando no inverno e começando de novo na primavera, nos
envolvendo assim, nessa infindável relação. Desde a concepção, durante a
juventude, a meia idade e a velhice... Nós não sabemos de onde viemos quando
nascemos, nem exatamente para onde vamos depois da morte, mas seria o mesmo
lugar, completando assim um círculo...”.


Harry ficou petrificado com o que leu, era de se admirar, não podiam ser a
mesma coisa, não havia sentido ou relação alguma. Folheou mais algumas
páginas para frente e leu o fim do comentário feito:

“Há algumas lendas entre várias tribos relativas ao 'Arco Sagrado'. A maior
parte delas nos previnem da quebra do "Arco" e as suas terríveis
conseqüências para 'O Povo'. Se não mantivermos o equilíbrio das
inter-relações do "Arco da Vida" ele poderá se quebrar.”

Sentiu seu coração sair pela boca, aquilo não poderia ser o que era...


-Desculpe, deixei por descuido o meu livro ai. - sussurrou uma voz atrás de
si, uma voz da qual ele reconheceu bem e de quem poderia ser. Mas não deixou
de sobressaltar-se, quando a voz de Morgause invadiu o cômodo, pois não
havia percebido a chegada da moça. Ela, no entanto, estava no átrio da
porta, de braços cruzados a observá-lo.

-Desde quando está ai?- Perguntou rudemente. Desde que haviam chegado em
Hogwarts, ele e ela não haviam trocado uma palavra sequer. Só olhares. E não
entendeu por que fez sua voz sair tão amarga daquela forma.

-Entrei agora a pouco e vi você lendo o meu livro- ela pronunciou aquelas
palavras tão simplesmente, que Harry sentiu uma pontada de arrependimento
pela forma como havia dirigido a palavra a ela.- Ele fala sobre o arco e o
véu, esse assunto tornou-se do meu interesse desde que meu pai morreu. É
algo muito curioso, até mesmo da cultura de onde venho, isso é o ponto chave
de muitas coisas, é de admirar que eu nada sabia até hoje sobre isso. “até
mesmo para mim” pensou.

-Hã- Harry fingiu desinteresse, apesar de sentir uma enorme vontade de
perguntar mais sobre o assunto. Porém, achou muito esquisito ouvir tais
palavras da boca dela. Por fim, não resistindo á tentação perguntou: - Você
sabe mais sobre o assunto?

-Sei, é claro que sei. Pois como lhe disse anteriormente, venho pesquisando
bastante sobre o assunto.-Morgause desencostou-se da parede e chegou mais
perto.-Acredito que ele não tenha morrido- aquelas palavras foram tão
sussurradas que Harry teve que fazer um grande esforço para ouvi-la. Sentiu
um nó na garganta ao entender aquelas palavras.

-Lamento, eu não acredito que ele possa estar vivo- respondeu com tristeza,
apesar daquelas palavras, no fundo de seu coração ainda havia uma pequenina
esperança que se recusava a ir embora.
-Tudo que tem uma entrada, tem uma saída- começou ela , se deslocando de
onde estava e começando a andar ao redor dele, criando assim, um ar mítico
ao lugar.- o arco e o véu também têm que ter, se não houver, Sirius terá que
sair do mesmo lugar por onde entrou. Não estou correta? Todo começo tem que
ter um fim, mesmo que o fim seja um novo começo...- as palavras morreram em
sua garganta. Harry engoliu em seco.
-O que você sabe sobre o arco e o véu?

- Muito pouco, talvez não mais do que você- a aquela altura Morgause não
estava andando ao seu redor, mas estava de frente para ele, perto, muito
perto.
-De onde você veio? O quer?- as perguntas que estavam em sua cabeça
começaram a sair.

-Vim de Avalon, sou filha de Sirius Black, e vim por que Dumbledore pediu.

“mentira”. Harry sentiu-se espantado e não se proibiu de perguntar:

-E onde fica Avalon?

-É quase impossível dizer-lhe isto. Talvez neste mundo ou fora dele, talvez
entre o país das fadas e Inis Witrin. É complicado, até mesmo para mim, que
sou de lá. Pertenço a uma civilização muito antiga e é muito complicado de
se explicar, mas posso fazer um brevíssimo resumo. Pode ser?

-Pode.

“Éramos uma civilização perfeita” - dizia ela, e seus olhos brilhavam com
tamanha excitação, que parecia que ela própria houvesse vivido cada
pedacinho daquela historia. E havia!

“Onde nossos conhecimentos eram os mais avançados...”.

- És bem vindo para partilhar os conhecimentos que tenho - disse Rajasta com
uma cortesia formal - e és muito bem vindo... - Hesitou e depois disse, num
impulso súbito - Filho do Sol
Com as mãos fez um certo Sinal.
- Adotado, apenas, receio bem - disse Micon com um pequeno sorriso irônico -
e muitíssimo orgulhoso de o ser. -- No entanto, em resposta à frase ritual
de identificação, ergueu a mão e retribuiu o gesto arcaico.
Rajasta avançou para beijar o seu convidado. Estavam ligados, não apenas
pelos laços da sabedoria partilhada e da investigação, mas também pelo poder
por detrás da magia mais profunda do Sacerdócio da Luz: tal como Rajasta,
Micon era um Iniciado de grau elevado. Rajasta refletiu sobre esse fato.
Domaris virou-se para o desconhecido, num gesto de simples cortesia e foi
então que os seus olhos se abriram e uma expressão de espanto desceu sobre o
seu rosto e, com um gesto que parecia forçado, como se ela o fizesse contra
a sua vontade, pousou a mão direita sobre o peito e ergueu-a lentamente ao
nível da testa, numa saudação usada apenas para com os mais altos Iniciados
do Sacerdócio da Luz. Rajasta sorriu. Ela agira correta e instintivamente e
ele ficou satisfeito. Mas permitiu que a sua voz quebrasse o encanto, pois
Micon ficara muito pálido.
- Micon é meu convidado, Domaris, e ficará instalado em minha casa... Se
estiveres de acordo, meu irmão? - Perante o pressentimento de Micon,
continuou. - Vai agora, minha filha, vai ter com a Mãe Escriba e pede-lhe
que tenha um escriba sempre pronto para o meu irmão.
Ela sobressaltou-se e estremeceu ligeiramente. Lançou um olhar de admiração
a Micon, inclinou a cabeça em sinal de respeito pelo mestre e foi tratar da
tarefa que este lhe confiara.
- Micon! - Rajasta falou brusca e abertamente. - Chegaste aqui vindo do
Santuário Negro!
Micon assentiu.
- Das suas catacumbas - explicou imediatamente.
- Eu... receei que...
- Não sou nenhum apóstata - assegurou-lhe Micon com firmeza. - Não servi
naquele santuário. O meu serviço não está sujeito à coação!
- Coação?
Micon não se mexeu, mas a forma como ergueu as sobrancelhas e o trejeito dos
seus lábios produziram o mesmo efeito que um encolher de ombros.
- Eles tentaram coagir-me. - Ergueu as mãos mutiladas. - Podes ver como
foram... Eloqüentes na sua persuasão.
Perante o horror de Rajasta, Micon recolheu as mãos e escondeu-as nas mangas
da túnca.
- Mas a minha tarefa está incompleta. E até que a complete, é com estas mãos
que mantenho a morte afastada de mim... Embora ela me acompanhe de muito
perto.
Micon poderia estar a referir-se à chuva que caíra na noite anterior e
Rajasta curvou a cabeça perante o seu rosto impassível.
- Existem aqueles a que chamamos Hábitos Negros - disse com amargura. -
Escondem-se entre os membros da Seita dos Magos, que é quem guarda o
santuário do Deus Não Revelado e a quem chamamos Hábitos Cinzentos. Já ouvi
dizer que esses... Hábitos Negros torturam! Mas eles mantêm as suas ações em
segredo. E que o façam! Que sejam amaldiçoados!
Micon estremeceu.

“Mas tínhamos que mudar, tudo era mutável. Porem não havíamos nos dado conta
disso, e drásticas coisas aconteceram...”

Com alívio, ela avistou a entrada do Templo. Só naquele instante Tiriki se permitiu olhar para a montanha adiante. A pirâmide em seu cume e o sacerdote que dela cuidava há muito tempo tinham sido tragados. A fumaça que subia em rolos de seu cume agora rodopiava numa nuvem disforme, mas a face lateral da montanha havia se fendido e as lavas estavam inscrevendo sua própria mensagem mortífera em letras de fogo enquanto desciam pela encosta.
Por um instante ela se permitiu a esperança de que o derrame de lava do interior da montanha, como o lancetar de um furúnculo, aliviaria a pressão interior. Mas a vibração sob seus pés falava de tensões subterrâneas não resolvidas que eram ainda maiores.
- Depressa! - Chedan gesticulou em direção ao pórtico. Sua estrutura ainda parecia sólida, embora partes das pedras de mármore do revestimento se amontoassem espalhadas na estrada.
No interior as coisas estavam menos tranqüilizadoras, mas não havia tempo para ficar pensando na profundidade que as fendas nas paredes poderiam ter. O armário portátil construído para transportar a Omphalos estava esperando na alcova, e a lamparina ainda balançava em suas correntes. Assim que acabaram de acender os archotes, levantaram a caixa pelos longos punhos que compunham sua base na frente e atrás, e impuseram um andar rápido aos acólitos, passando pela parede rachada da entrada em direção à galeria.
Descer por aquele corredor em procissão formal, com os sacerdotes e sacerdotisas de Ahtarrath, havia sido uma experiência de provação para a alma. Seguir apressadamente em direção àquelas profundezas em companhia de um punhado de acólitos semi-histéricos era quase mais do que Tiriki podia suportar. Eles temiam o desconhecido, mas era a lembrança do que havia acontecido ali, apenas alguns dias antes, que fazia com que ela sentisse medo. Vendo-a vacilar, Chedan segurou-lhe o braço e, agradecida, Tiriki valeu-se de sua força e firmeza.
- Aquilo é lava? - a voz de Elis soou num sussurro assustado quando eles contornaram a última curva.
- Não. A Pedra está incandescente - respondeu Damisa, mas sua voz estava trêmula. Tanto quanto seria de esperar que estivesse, pensou Tiriki, seguindo-a para o interior da câmara. Raios e clarões de luz vívidos como os que o ritual havia despertado na Omphalos já pulsavam nas profundezas da Pedra. Luzes e sombras misteriosas corriam umas atrás das outras ao redor da câmara e, cada vez que a terra se movia, clarões saltavam de parede em parede.
- Como podemos tocar nela sem sermos destruídos? - sussurrou Kalaran.
- É para isso que temos estes envoltórios - respondeu Chedan, retirando uma verdadeira massa de tecidos de dentro do armário e deixando-os cair no chão. - Isto é seda e vai isolar as energias da Pedra.
Espero que sim, acrescentou Tiriki silenciosamente. Mas a Omphalos havia sido trazida em segurança da Terra Antiga, de modo que transportá-la tinha de ser possível.
Ambos de coração disparado, ela e Chedan seguraram os envoltórios de seda e os carregaram em direção à Pedra. Mais de perto, sua força se irradiava como o fogo de uma fogueira, embora ela não a sentisse nem como calor nem como qualquer outra sensação que pudesse denominar. Então a seda a cobriu, suavizando a pressão, e Tiriki deixou escapar um suspiro que não sabia que estivera contendo. Eles a velaram uma segunda vez e Tiriki sentiu seu medo se abrandar.
- Tragam o armário - ordenou Chedan roucamente. De rostos pálidos, Kalaran e Aldel arrastaram a caixa até estar quase tocando na Pedra e levantaram o painel na face lateral. Respirando fundo, o sacerdote pôs as mãos ao redor da Pedra e a empurrou para dentro.
A luz explodiu ao redor deles com uma força que derrubou Tiriki deixando-a estendida no chão. Damisa agarrou mais envoltórios de seda e os enfiou na caixa ao redor da Pedra.
- Cubra-a... cubra-a completamente! - Tiriki se esforçou para se pôr de pé novamente. Chedan passou o resto dos panos de seda para Damisa, que os enrolou para empurrá-los para dentro dos cantos até a incandescência pulsante da Omphalos não poder mais ser vista.
Ela ainda podia ser sentida, mas agora era uma agonia suportável. Infelizmente, sem a distração da Pedra, não havia coisa alguma para protegê-los do gemer da rocha ao redor deles.
- Levantem-na! Aldel e Kalaran, vocês são os mais fortes, peguem os punhos da frente. Damisa e eu pegaremos os de trás. O resto de vocês pode tratar de manter o caminho livre e carregar os archotes. Quando sairmos daqui, podem se revezar nos punhos, mas temos de ir já, agora!
No mesmo instante em que Chedan falou, o solo da câmara tremeu assustadoramente. Tiriki apanhou seu archote e correu atrás deles, se dando conta de que só a presença da Omphalos mantivera o solo estável por tanto tempo!
Os carregadores cambalearam e gemeram como se seu fardo fosse não só imensamente pesado, mas instável. Vendo a dificuldade deles, Elis e Selast puseram as mãos debaixo da parte do meio do armário e os ajudaram a erguê-lo. Mas à medida que se foram afastando da câmara, o peso pareceu tornar-se menor, e ainda bem que foi assim, porque a cada passo os pontos de apoio para seus pés foram se tornando mais traiçoeiros.
O último abalo deslocou o piso na galeria em vários lugares. Enormes rachaduras apareceram nas paredes e, em certos lugares, o teto estava começando a ceder. Enquanto lutavam para subir à superfície ouviram o estrondo de rochas caindo um pouco mais atrás, num lamento alto, agudo e dissonante que parecia vir de toda parte ao redor.
- Meu espírito é o espírito da Vida; ele não pode ser destruído... - entoou Tiriki, tentando fazer com que aquela percepção consciente substituísse o medonho cantar das pedras. - Sou a filha da Luz, que transcende a Escuridão... - Os outros se uniram a ela no cântico, mas suas palavras pareciam fracas e destituídas de sentido naquele vórtice de energias primordiais.
- Depressa! - a voz de Damisa parecia vir de muito longe. - Posso sentir mais um tremor se aproximando! - Eles já podiam ver a luz pálida da entrada pouco mais adiante.
A terra sacudiu-se com um solavanco abaixo deles. Com um estrondo que superou todas as medidas de som anteriores, a parede da esquerda ruiu.
Então os sons de desabamentos de rochas e os gritos que se seguiram se calaram gradualmente, à medida que a poeira subiu em rolos espessos para fora. O archote de Tiriki havia se apagado. Ela tossiu, protegendo os olhos. Quando conseguiu ver novamente, a luz fraca que vinha do exterior mostrou-lhe a caixa tombada de lado e os acólitos pondo-se de pé ao seu redor.
- Estão todos bem?
Uma a uma, vozes responderam. O último a responder foi Kalaran.
- Estou um pouco arranhado, mas inteiro. Eu estava do outro lado da caixa e sua massa me protegeu. Aldel...
Houve um silêncio assustado, e uma das garotas começou a soluçar.
- Ajudem-me a tirar os escombros de cima dele - Chedan se ajoelhou, freneticamente afastando pedaços de pedra e de argamassa.
- Damisa, Selast, Elis! Vamos pôr o armário na vertical e tirá-lo do caminho - Tiriki segurou um dos punhos e fez força. Sentiu os outros levantarem o resto do peso e começar a avançar.
- Mas Aldel... - sussurrou Elis.
- Os outros o trarão - disse Tiriki com firmeza. - Vamos levar o armário para fora. - A rocha gemeu e um pouco mais de poeira fina caiu enquanto eles arrastavam a Omphalos para fora através do pórtico. Tiriki olhou para trás apreensivamente, mas um momento depois viu Chedan e Kalaran emergindo da escuridão com o corpo de Aldel nos braços.
- Ele está desacordado, não é? - gaguejou Elis, olhando de um para o outro, esperançosa,
- Não, Elis, nós o perdemos - respondeu Chedan desolado, enquanto eles deitavam o corpo no chão. Em meio à poeira, todos puderam ver a forma distorcida do crânio do rapaz onde a rocha o esmagara. - Acabou num instante, sem dor.
Elis sacudiu a cabeça, sem compreender, então se ajoelhou, limpando a poeira da testa do noivo e contemplando seus olhos vazios.
- Aldel... volte, meu amado. Nós vamos escapar daqui juntos... sempre ficaremos juntos. Você me prometeu.
- Ele se foi antes de nós, Elis - disse Damisa com uma compaixão que surpreendeu Tiriki. - Agora vamos. Venha comigo. - Ela passou o braço ao redor da outra moça e a afastou.
Chedan se inclinou sobre o vulto inerte, fechou os olhos de Aldel, e traçou o sinete do desatamento em sua testa.
- Vá em paz, meu filho - murmurou. - E que numa outra vida esse sacrifício possa ser recompensado. - Ele se levantou e tomou Elis pelo braço.
- Mas não podemos simplesmente deixá-lo aí - disse Selast em tom hesitante.
- Não temos escolha - respondeu Tiriki. - Mas o santuário será um nobre túmulo.
Ela ainda estava falando quando a terra ondulou novamente e os propeliu para fora através do pórtico. Enquanto caíam estendidos na estrada, um pilar de fogo explodiu, elevando-se em direção ao céu acima da montanha e o Santuário da Omphalos ruiu com um rugido dilacerante.
Os músculos e o equilíbrio diziam a Tiriki que eles estavam descendo a ladeira enquanto lutavam para prosseguir. Mas aquilo era a única coisa que ela sabia com certeza. Saltou e quase deixou cair o punho do armário que continha a Omphalos quando a parede da frente de uma casa tombou com violência sobre a rua. Um pouco além dela um segundo prédio estava desmoronando com suave determinação, como se estivesse caindo no sono. Um vulto escuro emergiu de uma das casas, hesitou e gritou ao correr de volta para dentro do prédio que caía.
- Estou sentindo o cheiro do porto - arquejou Damisa. - Estamos quase chegando!
Um sopro de ar úmido abençoou as faces e a testa de Tiriki. Mais alto que o crepitar das chamas e os gemidos de prédios moribundos ela conseguia ouvir o som quase tranqüilizador de gritos e gemidos humanos. Havia começado a temer que fossem os únicos sobreviventes que restassem na ilha.
E agora, todos podiam ver a água e os mastros que balançavam no porto. As embarcações partiam cruzando as águas escuras, rumando para alto-mar. Dois veleiros “asas-de-pássaro” haviam colidido e estavam afundando
“Então só depois do desastre é que nos damos conta de que devíamos mudar...”
Uma parte dos ancestrais de Avalon”
“Pilares foram construídos na nova Terra”
Parte da construção da casa das moça na casa da Floresta
“E nossas sacerdotisas foram violadas com a chegada dos romanos.”
Um vento frio açoitava as chamas dos archotes, transformando-as em
chamejantes caudas de cometas. Uma luz ameaçadora brilhava nas escuras águas
do estreito e nos escudos dos legionários que aguardavam na outra margem. A
sacerdotisa tossiu com o cheiro desagradável de fumo e nevoeiro maríimo e
escutou o clangor de latim militar que ecoava através das águas enquanto o
comandante romano arengava aos seus homens. Os druidas cantaram em resposta,
invocando a fúria dos céus e o barulho fez estremecer o ar.

Vozes de mulheres levantaram-se em guinchos de lamentação que a arrepiaram,
ou talvez fosse do medo. Ela ondulou com as outras sacerdotisas, os braços
levantados numa maldição; as suas roupas escuras abriam-se, esvoaçando como
as asas de um corvo.
Mas os romanos também gritavam e a primeira fileira estava agora a lançar-se
para a água. A harpa de guerra do druida vibrou com uma música terrível e a
sua garganta ficou em carne viva com os gritos, mas, mesmo assim, o inimigo
continuou a avançar.
O primeiro soldado de capote vermelho pisou na praia da Ilha Sagrada e os
Deuses não o fulminaram. Nesse instante, o canto vacilou. Um sacerdote puxou
a sacerdotisa para trás de si quando o aço romano brilhou à luz do archote;
a espada caiu e sangue borrifou o seu manto escuro.
O ritmo do canto tinha-se perdido. Nesta altura apenas se ouviam gritos, e
ela fugiu para as árvores. Atrás dela, os romanos ceifavam os druidas como
tordos. Acabaram, rápido demais, e a maré vermelha invadiu a ilha.
A sacerdotisa cambaleou pelo meio das árvores, à procura dos círculos
sagrados. Um brilho alaranjado enchia o céu por cima da Casa das Mulheres.
As pedras assomavam à sua frente, mas atrás dela ouviam-se gritos. Vendo-se
sem possibilidade de escapar, abraçou-se à pedra central do altar. Agora,
era certo que a matariam... Evocou a Deusa, e endireitou-se, à espera do
golpe.
Mas não eram armas de aço que eles faziam tenção de usar contra ela. Lutou
quando rudes mãos lhe agarraram o corpo, rasgando as suas roupas.
Forçaram-na a deitar-se na pedra e o primeiro homem abateu-se sobre ela. Não
havia fuga possível; apenas podia usar as disciplinas sagradas para fazer
com que a sua mente se retirasse deste corpo até que tivessem acabado. Mas,
enquanto a sua consciência se evolava, gritou: «Senhora dos Ravens,
vingai-me! Vingança!»

- Vingança... - O meu próprio grito acordou-me e sentei-me...

“E para nos proteger, envolvemos nossa ilha por um espesso véu...”

Caillean pensou como era estranho que o seu cansaço tivesse subitamente
passado para um plano mais secundário. Foi a primeira a chegar junto a
Gawen, ajoelhou-se a seu lado e deslocou as mãos por cima do corpo dele para
sentir a força de vida que havia aí. Era mais estável do que pensara e
recordou-se de que ele estava no auge da juventude e também da sua plena
forma física. Aquele corpo não abandonaria facilmente o espírito que tinha
dentro de si.
- Disse-lhe o que aconteceu depois de ele perder a consciência - disse
Sianna suavemente, à medida que os outros se lhes iam Juntando. - Mas que
haveis decidido fazer?
- Não existe refúgio para a ordem - disse Ambios.
O rapaz olhou para o rosto pálido de Gawen, desviou rapidamente o olhar e
prosseguiu:
- Temos de nos dispersar e esperar que os Romanos achem que não valemos o
esforço de nos perseguirem.
- Gawen não pode ser removido e eu não vou abandoná-lo! Exclamou Sianna.
Caillean reparou no movimento convulsivo de Gawen e colocou a sua mão sobre
a dele.
- Fica quieto! Tens de poupar as forças!
- Para quê?
Gawen deu ênfase às palavras. Para grande surpresa, havia uma centelha de
humor nos seus olhos. Depois, desviou o olhar na direção de Sianna.
- Ela não deve correr riscos... por minha causa...
- Não abandonaste as pedras sagradas - disse Caillean. Gawen tentou respirar
fundo e estremeceu.
- Então, sempre havia algo... para defender. Agora estou... a morrer.
- E o que há neste mundo para mim se tu não fizeres parte dele? - Gritou
Sianna, curvando-se sobre ele.
O seu cabelo claro encobriu o corpo ferido de Gawen e os ombros de Sianna
agitaram-se com a força das suas lágrimas. O rosto de Gawen contorceu-se
quando percebeu que nem sequer tinha forças para erguer o seu braço são e
confortá-la.
Caillean, com os olhos doridos das lágrimas, levantou a mão e colocou-a
sobre o ombro de Sianna. Subitamente, sentiu picadas na sua carne. Ergueu os
olhos e vislumbrou um redemoinho de ar e dentro dele estava o vulto esbelto
da Rainha das Fadas.
- Se a sacerdotisa não pode proteger-te, minha filha, então deves regressar
ao Reino das Fadas e o rapaz também. Ele não morrerá se estiver sob os meus
cuidados no Outro Mundo.
Sianna sentou-se e nos seus olhos havia um misto de esperança e de
desespero.
- E ele vai ficar curado?
Os olhos escuros da fada voltaram-se para Gawen com uma infinita compaixão e
tristeza.
- Não sei. Talvez com o tempo.. muito tempo, se seguirmos as contas dos
humanos.
Ah, Senhora - murmurou Gawen -, tendes sido boa para mim, mas não
compreendeis o que me pedis. Ofereceis-me a imortalidade dos Antepassados,
mas que ganharia eu com isso? Um sofrimento interminável para o meu corpo
dilacerado e sofrimento para o meu espirito quando pensasse no povo de
Avalon e nas pedras profanadas. Sianna, minha querida, o nosso amor é
imenso, mas não sobreviveria a isso. Serias capaz de pedir-me isso?
Gawen tossiu e a mancha vermelha da ligadura que lhe envolvia o peito
aprofundou-se.
Soluçando, Sianna abanou a cabeça.
- Poderia retirar-te até essas recordações - disse-lhe então a Mãe. Gawen
estendeu o braço, onde o dragão real se enrolava, e as suas linhas sinuosas
escuras faziam um contraste chocante com a sua pele exangue. - Também podeis
retirar isto? - perguntou. - Então, eu morreria, porque esse já não seria
eu. Não aceito nenhuma salvação que não inclua os druidas e as pedras
sagradas.
"Será que o seu pai teve a sua sabedoria no final?", interrogou-se Caillean.
"Se assim foi, então Eilan viu mais claramente do que eu e julguei-a
erradamente durante todos estes anos." Era irônico que só agora chegasse a
esta conclusão.
A Rainha examinou-os com uma tristeza sentida.
Muito antes de o povo alto ter chegado aqui vindo do mar que eu observo e
estudo os homens. No entanto, ainda não os entendo. Enviei a minha filha
para aprender a vossa sabedoria e com ela Sianna assumiu também as vossas
fragilidades. Mas vejo que estais determinado, por isso vou revelar-vos uma
maneira pela qual as sacerdotisas e os druidas de Avalon podem ser salvos.
Vai ser difícil, até mesmo perigoso e não posso garantir o que vai
acontecer,
porque só tenho conhecimento de uma ou duas tentativas nesse sentido em
toda a minha existência e nem sempre elas foram bem sucedidas.
- Uma outra maneira para fazer o quê? Mãe, que quereis dizer?- Caillean
sentou-se nos calcanhares, semi-cerrou os olhos, porque lhe pareceu que
também ela já tinha ouvido estas histórias uma vez.
- Uma outra maneira de separar esta Avalon em que vós habitais
do resto do mundo humano. Os Romanos apenas verão a ilha de Inis Witrin,
onde os nazarenos têm a sua igreja. Mas para vós haverá uma segunda
Avalon, deslocada apenas o suficiente para que o seu tempo corra um trilho
diferente, nem completamente irreal, nem do mundo humano. Aos olhos dos
mortais, uma bruma de poder vai envolvê-la e só poderá ser atravessada por
aqueles que foram treinados para moldar o poder. - O seu olhar ensombrado
foi pousar em Caillean. - Compreendes, Senhora de Avalon? Estás disposta a
aventurar-te nesse trabalho pelo bem de todos os que amas?
- Estou - respondeu Caillean. com voz rouca -, mesmo que isso me
consuma. Seria capaz de me aventurar em muito mais do que isso em nome
da fé a que estou ligada.
-Isto só pode ser feito quando as marés do poder formarem cristas. Se
esperares até ao solstício do Verão, os teus inimigos podem avançar sobre ti
e não me parece que Gawen possa viver tanto tempo.

“E depois disso, depois de anos voltei a esta terra...”

Desde o meio da manhã que estava a chover; uma chuva miudinha e
incomodativa que oprimia os viajantes e arrastava finos véus de nevoeiro ao
longo das colinas. Os quatro homens livres que haviam sido contratados
para escoltar a Senhora de Avalon até Durnovaria cavalgavam encolhidos
nas selas e a água escorria dos sólidos cacetes de carvalho que traziam nos
flancos. Até mesmo a jovem sacerdotisa e os dois druidas que a
acompanhavam haviam puxado os capuzes dos seus mantos de lã hirsuta até
aos olhos.
Dierna suspirou, desejando poder fazer o mesmo, mas a sua avó dissera-lhe
muitas vezes que a grã-sacerdotisa de Avalon tem de dar o exemplo e
deixar-se conduzir de costas direitas até ao dia da sua morte. Mesmo que o
desejasse, Dierna não podia ignorar essa disciplina. No entanto, pensava que
havia alturas em que dispensava essa honra, quando conseguia localizar a
sua linhagem oriunda da Senhora Sianna, através de sete gerações de
sacerdotisas, na sua maioria. Contudo, não tinha de suportar aquela chuva
por muito mais tempo. O solo já começava a elevar-se e havia mais tráfego
na estrada. Chegariam a Durnovaria antes do anoitecer. Esperou que a
donzela que tinham ido buscar valesse o sacrifício da viagem.
Conec, o druida mais jovem, apontou e ela viu a curva graciosa do aqueduto
recortada por entre as árvores.
- É, na verdade, uma maravilha - anuiu -, principalmente quando não há razão
para que o povo de Durnovaria não possa ir buscar água aos poços da
cidade. Os magnatas romanos ganham fama ao construir estruturas
grandiosas para as suas cidades. Suponho que os príncipes de Durotrige
queiram imitá-los.
A medida que se aproximavam da subida, Dierna pôde ver a cidade
instalada num promontório branco por cima do rio. O fosso e a fortificação
eram tal como ela se lembrava, mas agora estavam parcialmente tapados
com uma nova muralha de alvenaria. O rio corria, castanho e silencioso, por
debaixo da encosta íngreme, orlado de lama negra. Dierna pensou que a
maré devia estar baixa ao espreitar através da chuva na direcção daquela
massa cinzenta mais profunda, onde o céu se fundia com o mar. As gaivotas
gritaram uma saudação, voando sobre as suas cabeças e afastando-se depois.
Os druidas endireitaram-se e até mesmo os cavalos, pressentindo o final da
viagem começaram a trotar com maior vivacidade.
Dierna deixou o fôlego sair num suspiro, admitindo apenas então a sua
própria ansiedade. Pelo menos, essa noite estariam quentes e em segurança
no interior das novas muralhas de Eiddin Mynoc. Agora poderia permitir-se
pensar na rapariga que era a razão desta viagem através da chuva.
- Teleri, estás a ouvir? A grã-sacerdotisa vem jantar connosco esta noite.
A voz de Eiddin Mynoc ribombou como um trovão distante. Teleri
pestanejou, afastando a custo o pensamento daquele futuro que se
aproximava tão rapidamente, em que as sacerdotisas já estavam a levá-la
com elas para Avalon. O momento presente era o gabinete do seu pai em
Durnovaria, onde ela estava a torcer o vestido entre os dedos,
comportando-se
como uma criança nervosa.
-Sim, meu pai - respondeu no latim refinado que o príncipe exigira que todos
os seus filhos aprendessem.
- A Senhora Dierna veio de tão longe para te ver, filha. Ainda
estás decidida em partir com ela? Não vou pressionar-te a tomar esta
decisão, mas depois de resolveres não podes voltar atrás.
- Sim, meu pai - disse Teleri novamente.
Mas depois, vendo que ele estava à espera de um discurso mais elaborado,
acrescentou:
- Sim, eu quero ir.
Não admira que Eiddin achasse que ela tinha medo, ao vê-la diante de si
sem fala, como uma escrava de cozinha. O príncipe era um pai indulgente: a
maioria das raparigas da sua idade já tinha casado com alguém, sem sequer
terem sido levados em linha de conta os seus desejos. Mas as sacerdotisas
não se casavam. Se o desejassem arranjavam os seus amantes nos rituais
sagrados e geravam crianças, mas não tinham de obedecer a nenhum
homem. As sacerdotisas de Avalon possuíam uma magia poderosa. Não era
o medo que mantinha Teleri em silêncio, mas a força frenética da alegria
que a invadia ao pensar na colina sagrada.
Teleri desejava isso ardentemente: seria capaz de cantar, gritar e rodopiar
à volta do gabinete do pai como uma louca, se começasse a contar-lhe como
realmente se sentia nesse dia. E assim baixou os
olhos como competia a uma donzela modesta e murmurou respostas
monossilábicas as perguntas exasperantes do pai.
"Eles vão estar aqui esta noite!", pensou, quando o príncipe
finalmente a mandou sair e se encontrou livre para regressar aos seus
aposentos. A casa, de construção romana, dava para o interior de um átrio, e
as suas flores envasadas brilhavam com a chuva que caía. Ao
encostar-se a um dos pilares da colunata, pensou como toda a sua vida tinha
sido assim protegida e educada, mas virada para dentro.
O coração de Dierna pulou como o da pobre Vitruvia; pestanejou, vendo por
instantes uma rapariga frágil com fino cabelo claro e vestes de sacerdotisa
e depois novamente uma rapariga baixa, com realces avermelhados nos
caracóis escuros e pulseiras douradas enrolando-se nos seus braços como
serpentes.
"Quem é ela?", perguntou para si mesma e depois: "Ou quem foi ela e quem
fui eu, para que eu saúde o seu regresso com uma tal alegria angustiada?"
Então, e apenas por alguns instantes, escutou um nome...
- Adsartha...

“Agora venho como protetora do graal e prevemos a vinda do Grande rei...”

Há uma coisa que podes fazer, só porque és uma donzela - disse Taliesin ,
algo de que precisamos muito. Os Quatro Tesouros encontram-se à guarda
dos druidas. A Espada e a Lança podem ser manuseadas pelos nossos
sacerdotes e a Pedra por uma mulher, mas o Cálice deve ser guardado por
uma donzela. Aceitarias essa incumbência?
- E a minha mãe permitirá?
Taliesin viu a angústia do rosto dela transformar-se em pavor.
- Acho que é a vontade da Deusa que sejas tu a fazê-lo, Viviane, e isso é
uma coisa a que nem mesmo a Senhora de Avalon pode opor-se.
Estudara as tradições dos Quatro Tesouros com as outras noviças, mas agora
estava a aprender que isso era apenas o princípio, muito
embora fosse muito mais do que a maioria das pessoas chegava a aprender.
Do que Viviane precisava agora não era de mais conhecimentos: manusear
os objectos sagrados requeria não a sabedoria da mente, mas a do coração.
Para se tornar a Guardiã do Graal, ela própria teria de transformar-se.
De certa maneira, era um treino enérgico no seu noviciado, mas bastante
mais concentrado.
À medida que o treino de Viviane avançava, ela compreendeu porque era
um problema tão grande encontrar uma donzela para executar essa tarefa.
Uma rapariga não teria a força da mente ou do corpo.
Na véspera do equinócio do Outono, quando o ano oscila no limiar entre o
sol e a sombra, os druidas foram buscar Viviane. Vestiram-na com uma
túnica cujo branco era ainda mais imaculado do que o deles, e ela foi
conduzida, em cortejo silencioso, até uma câmara subterrânea. Aí estava
colocada uma espada sobre um altar de pedra e a sua bainha estava
rebentada e esfiapada pelo tempo. Havia uma lança encostada a uma parede.
A seu lado, escavados na parede, havia dois nichos. No mais baixo, uma
pedra larga repousava sobre um pano branco. No de cima... A respiração de
Viviane parou quando pousou os olhos pela primeira vez no Graal.
Viviane não sabia dizer como teria aparecido aos olhos de uma iniciada:
talvez uma tijela de barro, ou um cálice de prata, ou uma taça de vidro
cintilando com um mosaico de flores de âmbar. O que Viviane viu foi um
recipiente tão transparente que não parecia ser feito de cristal, mas sim da
própria água que, por sua vontade, assumiu a forma de uma taça. Viviane
pensou que certamente os seus dedos mortais seriam capazes de atravessá-lo.
No entanto, disseram-lhe que deveria erguê-lo, por isso ela avançou.
Mais perto, pôde sentir, primeiro, a pressão e, depois, uma corrente contra
a qual se empurrou, como se estivesse a caminhar através de uma corrente de
água. Ou talvez, pensou sombriamente, fosse uma vibração, porque agora,
se não fossem os seus ouvidos a zumbirem, seria capaz de ouvir um
murmúrio entoado docemente. Parecia suave, mas depressa se sobrepôs a
todos os outros sons. Ainda mais perto, Viviane perguntou a si própria se
ele não lhe desfaria os ossos.
Ao pensar nisso, Viviane sentiu um tremor de medo. Olhou para trás; os
druidas estavam a olhar para ela com expectativa, desejosos de que ela
continuasse. Viviane disse para si mesma que os terrores que subitamente a
atacaram eram irracionais, mas eles continuaram a ensombrá-la.
E se aquilo fosse uma conspiração entre Taliesin e a sua mãe para se
livrarem dela? Verdade ou fantasia, ela sabia muito bem que seria a morte
tocar no Graal enquanto estivesse com medo. Disse para si mesma que não
precisava de fazer isto. Podia voltar costas e ir-se embora e viver com a
vergonha. Mas se a morte fosse preferível a viver a vida como até agora,
então não teria nada a perder se pegasse nele.
Viviane olhou mais uma vez para o Graal e, desta vez, viu um caldeirão que
continha o mar do espaço, prenhe de estrelas. Uma voz surgiu dessa
escuridão, tão suave que mal conseguia ouvi-la e, contudo, sentiu-a nos
ossos.
Eu sou a dissolução de tudo o que passou; de Mim brota tudo o que está por
vir. Abraça-Me e as Minhas águas escuras vão arrastar-te, porque eu sou o
Caldeirão do Sacrifício. Mas também sou o recipiente do Nascimento e das
minhas entranhas poderás renascer. Filha, virás até Mim e levarás o Meu
poder ao mundo?
Viviane sentiu as lágrimas rolarem-lhe pelas faces, porque naquela voz ela
não ouviu Ana, mas a verdadeira Mãe por quem ela sempre tinha ansiado.
Encaminhou-se para o ponto de equilíbrio que se situa entre as Trevas e a
Luz e pegou no Graal.
Para Viviane, a cerimónia do Graal deixou para trás uma grande paz.

“Após anos e anos de sofrimento e lutas e lutas, a nossa queda ainda foi
inevitável...”


Morgana olhou a imagem de Brígida e sentiu o poder que emana em grandes
ondas, permeando a cabeça. Inclinou a cabeça. Mas Brígida não é uma santa
cristã, pensou, ainda que Patrício pense assim. Essa é a Deusa como é
adorada
na Irlanda. E sei disso e mesmo que eles pensem de outra forma, essas
mulheres conhecem o poder do imortal. Exila-a, como pode acontecer, não a
impedirá de fazer o que tiver que ser feito. A Deusa jamais se retirará do
meio da humanidade. E Morgana inclinou a cabeça e sussurrou a primeira prece
sincera que jamais dissera em uma igreja cristã.
-Ora veja- mostrou a noviça, quando foram para fora, para a luz do dia-
Temos uma sarça sagrada aqui também, não aquela que plantou no túmulo de sua
parenta.
E pensei que podia intrometer-me nisso, pensou Morgana. Certamente, a sarça
sagrada viera, por si só, de Avalon, movendo-se, como as coisas sagradas que
haviam sido retiradas de Avalon para o mundo dos homens onde eram mais
necessárias. Permanecia oculta em Avalon mas seria mostrada no mundo
também.-Sim, se você tem a sarça sagrada e nos dias que estão por vir, tanto
tempo quanto dura essa terra, No natal toda rainha receberá a sarça sagrada
como símbolo Dela, que é rainha tanto no céu como em Avalon.
-Muito bem, quando estiver pronta, venha para a casa dos hóspedes -ela
apontou e entrou para o interior da capela, inclinou a cabeça e
entregando-se
afinal, afundou-se sobre os joelhos.
-Mãe- murmurou - perdoa-me. Pensei que tinha de fazer o que, agora vejo,
pode fazer por si mesma. A Deusa está dentro de nós, sim mas agora sei que
está no mundo também, agora e sempre, tanto que está em Avalon e no coração
dos homens e das mulheres. Fique comigo também, guia-me, diga-me o momento
em que deverei deixar-me levar pela sua vontade...
Olhou para o alto, e como tal vira no altar da antiga irmandade em Avalon,
como vira quando carregara no salão de Arthur, viu uma luz no altar e nas
mãos da senhora, a sombra, apenas a sombra de um cálice...
Está em Avalon, mas está aqui. Está em toda parte. E aqueles que precisam de
um sinal neste mundo sempre verão.
Havia um doce perfume que não vinha das flores e por um instante pareceu a
Morgana que era a voz de Igraine que murmurava, mas ela não podia ouvir as
palavras e as mão de Igrane lhe tocava a cabeça. Quando se levantou, cega
pelas lágrimas, algo caiu sobre ela, de repente, como uma grande luz.
Não, não falhamos. O que disse para confortar Arthur na hora de sua morte,
era verdade. Cumpri a tarefa da Mãe em Avalon até que o último daqueles que
vieram depois de nós pôde trazê-la para o mundo. Não falhei. Fiz o que foi
me dado fazer. Não era ela mas eu, com meu orgulho, quem pensava que devia
ter feito mais.
Fora da capela, o sol pulsava sobre a terra e havia um cheiro fresco de
primavera no ar. Onde as macieiras se moviam com a brisa da manhã ela podia
ver os botões que trariam os frutos na estação devida.
Morgana sorriu gentilmente. Não, ela estava cheia de ternura por elas, como
as macieiras em flor mas aquele tempo passara. Virou as costas para o
convento e desceu para o lago, ao longo do caminho. Aquele era o lugar onde
o véu entre os mundos era tênue. Não precisava chamar a barca- só precisava
caminhar entre as brumas e chegar em Avalon.
Sua tarefa estava cumprida!



Quando a moça terminou seu breve relato, nem ele nem ela ousaram falar uma
palavra sequer, talvez para não quebrar o encanto. E após um breve
silêncio, este foi cortado pelo barulho dos alunos que estavam chegando do
salão principal.
- Que estória é essa?- perguntou então, com uma voz rouca que não reconheceu
ser sua.
- Esta, - responde - é a historia de Avalon, onde como disse, é o lugar de
onde
eu vim. Lá é um lugar lindo, sabe - falou sonhadoramente - Ele não pertence
a
este mundo, definitivamente...
A moça deu uma volta ao redor dele e de repente, como por encanto, tomou a
aparência de uma fada. Harry não pôde se conter e disse:
- É por isso que Mione diz que você é uma fada- ficou fascinado com o
encanto.
Morgause ficou intrigada diante a afirmação do rapaz e não conteve a sua
necessidade de soltar uma risada.
-hahahhah... Eu, uma fada? Você enlouqueceu? - dizendo isto, a moça virou-se
e deu um passo em falso, e após isto todo o encantamento foi-se embora.- E
agora, me pareço uma fada?
-N-não- gaguejou um pouco e sentiu uma secura inexplicável em sua garganta.
Ela então explicou-lhe:
-Isso não passa de um mero encantamento que as sacerdotisas da ilha usam
para impor respeito . Para serem grandes, belas, majestosas...Bem,- disse
repentinamente- As sacerdotisas de Avalon são muito belas ao meu ver, mas
sempre usamos este recurso. Como disse, para impor respeito. E não, Avalon
era uma ilha da qual abrigou padres cristãos, devido a isso fomos deslocados
a ficar entre Inis Vitri ou ilha de vidro e o país das fadas. Nós apenas nos
deslocamos desse mundo para não corrermos o perigo de sermos atacados como
ocorreu várias outras vezes.
-Como você sabia que eu iria lhe perguntar sobre a ilha que eu julgava ter
fadas como você?- Harry perguntou abobado.
A moça soltou novas risadas e disse:
-Simples. Fui treinada para isto.Sabe, é uma espécie de legilimância, às
vezes quando os pensamentos da outra pessoa são tão fortes, que posso
ouvi-los antes que comecem a dizê-los... posso ouvir como se tivessem sido
pronunciadas.
O rapaz não pôde deixar de sentir um calafrio, esse tipo de magia que ela
usava era muito superior a que Dumbledore e Snape estavam acostumados. Mas
mediante a isto, passou-lhe uma pergunta pela cabeça:
-Você sabe oclumência?
-Sei sim. Na realidade "HP" eu sei fazer um bocado de coisas das quais você
nem tem idéia, mais isso são mistérios...
Quanto mais Morgause falava, menos Harry entendia:
-Mistérios?
-É. Nossos conhecimentos ocultos que não podem ser ditos nem explicados para
pessoas não iniciadas como você.
-Como eu?- aquela conversa estava começando a dar-lhe interesse, apesar de
algumas coisas não estarem tão claras como gostaria.
Através da janela, os dois podiam observar que a noite já havia caído. Mas
pouco deram importância àquele pequeno detalhe. Dali de longe, Mione e
Rony observavam atentamente os dois, apesar de não ouvirem nada , pois
estes estavam a uma grande distancia dali.. Era uma espécie de cômodo mais
reservado ali no salão comunal. Era bem simples , mas o suficiente para
alguns poucos alunos estudarem ali. Era de um tamanho médio, de acordo com
as proporções dos outros cômodos da torre. Tinha apenas uma
estante comum de tabaco com muitos livros, algumas simples escrivaninhas e
alguns pufs. O barulho até ali, era quase inacessível, e era por este motivo
que ninguém podia ouvir o que os dois jovens bruxos estavam conversando. Na
realidade, era um cantinho próprio para estudo, sem amolação nenhuma. Rony
até sugeriu orelhas extensivas para ouvir a conversa, mas Mione se recusou,
alegando que se Harry achasse sensato contá-los o que ocorreu lá dentro,
contaria.
-Por que pessoas como você não se iniciaram nos mistérios, e nem
fez os votos exigidos.- Morgause explicou a ele.
-E se eu quisesse iniciar-me e não fazer os votos.
-Você poderia, só que haveria restrição nas coisas em que você viria
de aprender. Aprenderia artes da magia e não mistérios.
-Hum... mas não precisaria aprender os mistérios para aprender a fazer as
artes?
-Não necessariamente, as artes que necessitasse de algum mistério não seria
aprendido por você. Mas é engraçado, nosso assunto mudou completamente de
rumo - Morgause disse isto e abriu um sorriso radiante, logo em seguida
colocou-se a sentar-se na beirada de uma das mesas e novamente abriu um novo
sorriso para ele.
-É realmente engraçado- ele falou, e também sentou-se na beirada de uma
outra mesa, em frente a ela. Aquilo fez com que o rumo da conversa se
torna-se mais séria, pois Morgause tomou uma postura
diferente. Harry perguntou:-Você acredita que Sirius esteja vivo?
-Sinceramente? Tenho minhas dúvidas, sabe, não sei explicar direito. Foi
esquisito para min. No dia em que ele morreu, eu ainda me lembro bem. Já
havíamos jantado, estávamos ao redor da fogueira e sempre tem um druida
cantando e contando historias. Esse dia foi diferente. Nos estávamos ao
redor da fogueira e ele contava uma história...

Fhashback

- Morg, você esta esquisita hoje. O que foi?- perguntou Gwyneth. Uma moça
loura de longos cabelos e olhos cinzentos.
-Não foi nada - foi a resposta da outra. Na verdade Morgause se encontrava
muito estranha naquele dia. Durante a manhã, quando estavam estudando a
professora lhe havia chamado a atenção, por sua falta de interesse e
Morgause que não é de se zangar quando a professora lhe faz uma
advertência, ficou visivelmente estressada. Na biblioteca, quando liam uma
coisa ou outra, se mostrou bastante desatenta. Na verdade, estava assim o
dia inteiro. Nos últimos dias, pouco a pouco, Morgause começou a se
distanciar das outras noviças. Naquele ultimo dia então, estava inteiramente
isolada.
Morgause e Gwyneth, eram amigas desde pequenas. Haviam sido criadas juntas,
e com o tempo a amizade cresceu, entraram no noviciado juntas, aprenderam a
ler e escrever latim, inglês, runas e francês juntas. Eram quase que
inseparáveis, é verdade que houve um afastamento das duas logo quando
Morgaine nasceu, mas isso foi breve, pois como Gwyneth sabia, havia uma
sentelha de ciúme da parte da amiga. Logo então ficaram unidas novamente.
Morgause era uma pessoa bastante oculta, não era á toa que sempre diziam que
ela era a face obscura da Deusa, da qual ninguém conhece. Talvez Gwyneth
fosse uma das pouquíssimas pessoas em que ela confiasse os seus poucos
segredos.

Estavam sentadas numa das várias mesas de mogno que havia ali. Era o salão,
onde se faziam todas as refeições. Dizia-se que ele fora construído quando
os atlantes ali chegaram. Era um salão retangular, com portas dispostas ao
longo das paredes em intervalos regulares, que podiam ser abertas quando o
tempo permitia, e sempre após o jantar se reuniam ao redor da longa lareira
central cuja fumaça subia em espirais pelo colmo do teto pontiagudo.
Numa extremidade ficava a pequena estatua de caratra, a nutridora, sobre o
plinto feito com uma robusta tora de madeira. Na verdade, pouco sobrou do
que os
atlante haviam construído quando chegaram ali, o que podiam ver era o pouco
daquela herança. Pois aquele salão foram reformado e ampliado várias vezes.
Todas as noites eram assim, depois da refeição noturna, eles sempre se
reuniam ao redor da lareira central e um Druida com sua harpa, cantava e
contava histórias. Aquela noite, no entanto, fora diferente. Haviam
resolvido que iam fazer diferente: todos iriam se reunir no alto do Thor ,
dentro do círculo de pedras. E assim foi feito!
Subiram o caminho processional.
Enquanto subia, Morgause sentiu uma vertigem crescente dentro de si, talvez
fosse a comida que não lhe havia caido bem.
-Morgause, você esta se sentindo bem?- Gwyneth colocou a mão no ombro da
moça ao seu lado. Conhecia muito bem a outra ao seu lado, porém ela só anuiu
o rosto. Ficaram em silêncio, até que repentinamente Morgause virou-se para
ela e disse:
-Por que sinto algo parecido com a morte me cercando?- um calafrio percorreu
por todo o seu corpo. Foi a única coisa que falou, enquanto subiam para o
topo do Thor.
O druida começou a cantar e a entoar a história, por hora uma, por hora
outra. Sempre intercalando. Tudo aquilo, fez com que o ar, adquirisse uma
surrealidade quase de outro mundo:

-“O mundo Emerge em dois lados
Tão amplo e vasto como um coração
A escuridão equilibra a luz
Do mesmo modo como o mal equilibra o bem


Um caçador, belo e solitário vagava por florestas e florestas em busca de
aventuras. E aventuras foi o que não lhe faltaram, era orgulhoso e
destemido, porém de bom coração. Em sua vida, o que mais amava além da caça
eram os poucos, mas nobres amigos. Entre as mulheres, fazia grande sucesso,
mas nenhuma tocou o seu coração como a bela ninfa havia tocado. Mas como
esse amor era impossível, apenas o deixou de lado e foi em busca de mais
aventuras...

Pesar e alegria, são dois amigos inseparáveis
Incapazes de manter uma separação longínqua
É o equilibrio da vida, o início e o fim


O caçador, naquelas terras era quem mantinha o equilíbrio, o bem estar e a
estrutura da floresta, tudo o que planta e se colhia era mantido sobre o seu
conhecimento. Era ele quem punia, era ele quem mandava naquelas terras. Era
ele quem não deixava o ferro do machado tocar as árvores.

O equilíbrio deve ser mantido, a roca roda
E não pode parar de rodar, ou então
Lentamente tudo desabara, sobre a alma
Plana do mundo...
Houve então um dia em que o ferro do machado tocou a madeira da árvore
sagrada. Foi como a morte para o pobre homem...”


Um grito cortou o silêncio, que só era tocado pela voz do Druida. Já havia
se sentido o profundo transe em que começara a entrar quando havia iniciado a
subida a colina...As imagens agora ficavam claras em sua mente...

Um velho homem de barbas grisalhas, que ela reconheceu como sendo Dumbledore
desceu as escadas rapidamente, passando por dois garotos sendo o primeiro
roliço e pouco rosado e o segundo sendo magricela e moreno com uma estranha
marca na testa.

Conseguiu ouvir a voz de um velho druida a chamá-la, a multidão começar a se
amontoar, mas desligou-se vagamente dessas vozes e barulhos e se concentrou
nas imagens que via em sua mente. Sentiu que seu espírito ficava entre uma
realidade
e outra, quase viu seu corpo inerte no chão...

Quando certos homens encapuzados que usavam máscaras viram que Dumbledore se
fazia presente, trataram de evacuar o lugar. Um deles, até tentou fugir
escalando os degraus de pedra, mas Dumbledore mais esperto, rapidamente o
enfeitiçou com um movimentar de sua varinha. O feitiço, o jogou para trás, e
uma corda fina e invisível o prendeu.
Não havia muitas pessoas lutando, só uma dupla, que se mantinham alheios a
qualquer coisa que não fossem o seu duelo. Não se dando conta então da
chegada do velho barbudo.

Por um breve momento voltou para Avalon, o velho druida não tentava mais
acordá-la, pois como os dois bem sabiam era perigoso, se sua alma estivesse
fora do corpo e fosse acorda a morte seria certa. Então a forma de
capturá-la da mesma forma. Mas apesar dos esforços dele, ela se mantinha
resistente e ver tudo o que tinha que ver. Ouviu baixinho ele resmungar em
seu ouvido, não abra a mente para as coisas que lhe façam sofrer. Apesar de
seu coração estar dilacerado, e seu corpo cansado insistiu-se em terminar
com sua visão.
Então viu, o que realmente deveria ver.
Sirius desviou-se de um jato de luz vermelha, que havia sido mandado por uma
mulher de cabelos castanhos. Viu ele rindo dela. Apesar de nunca ter visto
seu pai, sabia que era ele, sua alma reconhecia a dele, e repentinamente
teve mais lembranças de uma vida anterior. Não disse, apenas ecoou em sua
mente: "Uma vez me fizestes triste, agora tornas a fazê-lo, só que terá que
pagá-lo”
A voz dele ecoou:
- Vamos lá! Você pode fazer melhor que isso!
Um segundo jato de luz o acertou diretamente no peito. O riso não saiu
completamente de seu rosto mas seus olhos se arregalaram em choque.
Nesse momento sentiu seu corpo e alma gritar juntos:
-NÃÃÃÃOOOO
A dor foi profunda. Ergueu seu corpo rapidamente, mas ainda se mantinha
sentada. E sua voz soou rouca e espectral, como se uma entidade falasse
através dela:
-Ele está morto - e com um tom mais solene e desesperador continuou - e o
caçador morreu dando sua vida pela floresta. O véu foi rompido. O equilíbrio
violado...
Ainda conseguiu ver em sua mente, mas não da mesma forma como outrora, não
saiu do corpo apenas viu o moreno soltando o garoto roliço e rosado, que era
incapaz de fazer algo. O moreno começou a sair disparado em direção ao arco
e o véu, pulando de dois em dois lances de escada. Dumbledore também se
colocava na mesma direção do balcão.

O corpo de Sirius girou graciosamente e logo após afundou no véu sujo e
encardido, suspenso apenas por um arco. No olhar do homem, surgiu medo,
surpresa enquanto caia no abismo atrás do véu, que se agitava através de uma
brisa que vinha de dentro do lugar. E de lá, bem no fundo, era possível
ouvir vozes melancólicas gritando...

A mulher de cachos, urrou triunfante, porém o moreno não entendeu o que
aquilo
significava. E ele gritou:
- SIRIUS!

Morgause voltou-se novamente onde estava, levantou-se dos braços do Druida e
saiu
correndo para se esconder...

Fim do Fhashback

A voz de Morgause soou rouca novamente, e uma dor incontrolável a invadiu
novamente. Mas dessa vez não iria chorar e nem correr, pelo menos não
naquele momento.
-Eu vi Harry, mas não vi o duplo da morte...- sua voz vacilou, Harry teve
pena dela - Eu vi, e as imagens estão tão vivas como nunca. Compartilho da
sua dor, mesmo nunca tendo vivido ou conhecido dele, compartilho da tua dor.
-É tarde- disse por fim.
-Nunca é tarde... Ele não está morto, não e eu vou até no inferno se for
preciso para encontrá-lo. Eu tenho que me ir- disse repentinamente, e ele se
assustou. Iria ela embora também, para sempre? Ela entendeu sua dúvida e
respondeu - Irei dormir, recordar-me disso deixou-me muito cansada. Para ser
honesta - soltou uma risada - Não imagino onde encontrei forças para sair
correndo e me esconder dos Druidas...
-Eu lamento por você não tê-lo conhecido- Harry disse. Sim, eles
compartilhavam a
mesma dor. Estavam unidos, não por laços sanguíneos ou qualquer outra coisa,
mas estavam unidos pelos laços da dor.
-Terei a oportunidade de conhecê-lo - ele duvidou disso. -não duvide.
Dizendo isso, saiu e deixou-o ali sozinho.


* * *


-Então o que ela queria?- Perguntou Mione, que havia observado tudo dali.
Sentia que aquelas últimas palavras eram somente suas e dela. Harry não
havia
notado, mas Gina havia se juntado ao grupo e os observava a muito tempo
juntamente com Rony e Hermine, a sua conversa com Morgause.
-Bem, Morgause me contou um pouco da sua história. Muito pouco, mas me
contou - acrescentou sob o olhar incisivo da amiga.
-Eu acredito nela - falou Rony, que até aquele momento não havia dito nada-
Sei lá, acho que ela me passa confiança
Apesar da sua dureza e seu olhar gélido, Mione, fingindo que não havia
escutado Rony, prosseguiu. E de esguelha, Harry viu Gina revirando os olhos
e abrindo um leve sorriso para ele, que em troca retribui-o de bom grado.
-E de onde ela vem Harry? Como os pais delas se conheceram?- não havia
pensado naquilo. Talvez tivesse ficado alienado em demasia no que ela falou
e não se deu conta de outros detalhes. Porém dando pouca importância para
isso, respondeu a amiga:
-Ela disse vir de Avalon... -Mione deu um pulo da poltrona, e em resposta a
atitude dela, disse - O que foi?
-O foi?- repetiu as palavras como se fossem as mais idiotas ditas por ele,
em toda sua vida- Você tem noção do que esta falando Harry?- Pensou e não
imaginou nada, Mione o percebeu rápido. Rony continuou calado na sua,
analisando
os fatos de forma muda. Gina, essa bem, só assistia cética a tudo que
acontecia.-Avalon, é a mítica ilha mágica, "povoada por seres elementais"
onde se acredita ou acreditava-se que o Rei Arthur havia sido enterrado!
Ninguém tem como provar se a ilha de fato existiu ou deixou de existir.
Realmente havia achado aquele nome muito familiar. Sim ele era familiar,
como não pudera perceber antes? Não era possível que não houvesse uma
centelha de verdade nisso tudo! A forma como ela havia descrito a forma como
Sirius havia morrido, a dor com que ela relatou os sucessivos acontecimentos
em Avalon
parecia tão real. Sem querer imergiu em seus pensamentos.
-Harry, está me ouvindo?- gritou Mione. Harry balançou sua cabeça levemente
para afastar aqueles pensamentos de sua mente. Observou que Rony também
se mantinha imerso em seus pensamentos, mas Mione não se ressentiu com este.
-O que foi?- foi a única coisa que conseguiu responder.
-Ora, eu gostaria de saber o que há com vocês dois!-exclamou, e seu tom era
levemente irritado. Se jogou na poltrona novamente e esperou a resposta do
amigo
-Fiquei preso aos meus pensamentos, só isso. E quanto a
Morgause- acrescentou-o que ela me disse foi bastante convincente!
A amiga bufou.
-Não me olhe com essa cara, e não eu não sei como ela veio a ser filha do
Sirius- respondeu à pergunta muda dela.
-Eu não disse nada.-protestou.
-Olha Harry - Gina pronunciou-se por fim - eu não acredito que Mione esteja
errada, quanto ao que pensa sobre o que Morgause disse.
-Eu tenho minhas dúvidas, Gina - sentou-se em uma poltrona qualquer e
continuou - ela contou tudo com um pesar...
-Talvez ela seja só uma artista!- retrucou
-Não acredito que seja, mesmo porque...
-se Avalon tiver mesmo existido- Rony cortou o que Harry ia dizer, e seu
olhar era distante- de acordo com a lenda, ninguém sabe o que aconteceu com
a ilha e nem com os destroços do corpo do próprio Rei Arthur. Então seria
uma grande hipótese dizer que ela não foi destruída...
-É, mas e se ela tiver afundado, o que eu duvido muito, por que eu mesma
acredito que ela nem tenha chegado a existir- Rony e Gina torceram o nariz,
mas Mione prosseguiu com seu monólogo- Ninguém nunca conseguiu provar
que existisse de fato. Vocês não acreditam que já não teriam descoberto? Os
livros diriam isto.
-Não é bem assim não, Mione- revidou Rony- tem muitas coisas que aconteceram
e que foram descobertas pelos bruxos e que não foram relatadas em livros.
Nem
todos os conhecimentos podem ser colocados em livros.
Mione torceu o nariz novamente e disse:- O que te faz pensar isso?
-Rony tem razão Mione...-Com um gesto com a mão Mione fez com que Gina se
calasse. Foi o fim da Picada! Tanto pata ela, quanto para Rony.
-Então você acha que sabe muito mais do que eu?- perguntou Hermione para
Rony, o ruivo ficou todo desajeitado - Então por que você não se mostra
melhor
do que isso?
-Mione!- a voz de Gina saiu por um fiasco.
-Eu sei me defender Gi!- respondeu o ruivo - Eu não me julgo melhor
do que você, agora só por que tenho uma opinião contraria a sua, você fica
assim.
-Assim como?- perguntou Mione. E se levantou da poltrona e colocou os punhos
contra a cintura- Oh, sim! Você tem prazer de ficar contra mim não é mesmo,
Rony?
-Não eu não tenho Mione, mas você está sendo ignorante...
-Vocês dois poderiam parar de brigar?- interveio por fim Harry
-Não se mete Harry- responderam os dois em uníssono.
Harry apenas se afastou um pouco mais e ficou observando.


~*~*~*~*~*~*~*~
Nota da autora: Bom capitulo mais longo até o momento! Bom como acredito que quem não conhece a historia de Avalon vai ficar perdido, farei um rápido relato:
“ Dois mil anos antes de Cristo, uma civilização é ameaçada a cair, sendo engolfada pelo mar, a única salvação é Tiriki e Micail, primos e filhos das duas irmãs e altas sacerdotisas da Terra Antiga. Os dois vão desembarcar nas ilhas britânicas e aqui semeiam sua religião. Devido ao voto solene feitos pelas suas mães quando pequenos são obrigados a encarnar vida após vida, até que o circulo carmico possam ser destruído. Então eles voltam a essa terra, como Siana e Gawen. Muito mais tarde eles retornam e vivem uma linda historia de amor, sendo eles Helena e Constantius, e suas mães reencarnam Dierna e Teleri. E calmaria volta para a Bretanha. Quando alguns séculos mais tarde os saxões voltam a invadir as praias da pequena ilha denominada Bretanha. A terra clama por um salvador, e é previsto o salvador! Viviane, é filha de Ana a senhora de Avalon. Assim Viviane, traça o caminho do grande rei e não polpa esforços para fazer com que seus designos se tornem realidade, entre reviravoltas aqui e ali tramando para sua querida Morgana um Terrível fim...”

Bem, esse é um resumo bem resumido sobre a historia de Avalon, quem quiser detalhes de tudo e talz, cenas cortadas(sim, cortei muitas coisa), podem ir no blog da fic e conferir todo um material por lá.
Bjos espero que tenham gostado, comentem please...

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