Os Wilde de Camden Town



Não era só o número anormal de corujas que se acumulava no peitoril das janelas do flat dos Wilde que intrigava os vizinhos, moradores de Camden Town, região do norte de Londres. Ninguém sabia o que aquele casal simpático fazia o dia inteiro na rua, mas eles nunca eram vistos entre as seis da manhã e as oito da noite. Suas profissões eram um mistério que mesmo as vizinhas mais fofoqueiras haviam desistido de tentar arrancar de um dos dois. E, acima de tudo, todos se perguntavam quem cuidava dos trigêmeos Wilde, Ernest, Basil e Alexia, que não eram vistos com frequencia.

Sabia-se que Ernest era o mais alto, de cabelos loiros. Ele e o irmão, Basil, eram muito parecidos, apesar de os cabelos do segundo serem de um castanho muito escuro, beirando o preto. A irmã, Alexia, era pálida, tinha cabelos tão escuros quando os de Basil e olhos azuis como os do pai.

Aparentemente, os trigêmeos não frequentavam escola nenhuma; era certo que passavam o dia em casa, pois quem morava no andar de baixo ouvia as gargalhadas das crianças Wilde, altas e frequentes, rasgando o silêncio daquele prédio onde, à exceção dos Wilde, só moravam velhos.

Quando recebiam visitas, eram grupos barulhentos de gente com roupas estranhas que portavam sempre expressões de confusão e pareciam particularmente interessados pelas lâmpadas e interruptores. Além disso, não era incomum ouvir pequenas explosões vindas do apartamento, ou mesmo baforadas de fumaça colorida saindo pelas janelas e a viúva Gray, do prédio da frente, podia jurar que tinha visto a Sra. Wilde sair voando pela janela no que parecia ser uma vassoura, na calada da noite.  

De qualquer forma, o tempo passou. Os trigêmeos estavam quase deixando a infância e os vizinhos já haviam há muito se acostumado com a excentricidade daquela família, até porque tentar descobrir qualquer coisa sobre eles era inútil. Ninguém mais fazia muito caso quando uma coruja entrava sem hesitação pela janela aberta ou quando um dos trigêmeos saía para comprar alguma coisa comendo doces estranhos que não estavam à venda em nenhum lugar conhecido ou com as mãos sujas de coisas suspeitas.

No entanto, o bairro todo achou estranho, mesmo para o padrão dos Wilde, quando, numa manhã de setembro, todos os cinco entraram num táxi carregando três malas enormes, uma coruja parda engaiolada e, segundo a viúva Grey, um sapo escondido no bolso do casaco de Ernest. Horas depois, o Sr. e a Sra. voltaram sozinhos para casa.

Ninguém se deu ao trabalho de perguntar aos pais, pois a resposta que dariam seria certamente tão vaga quanto qualquer outra vinda do casal Wilde. Mas, no dia seguinte, já se comentava por toda Camden Town o fato de os trigêmeos terem partido.  

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