Capítulo 1 - Afiado

Capítulo 1 - Afiado



Eu não sei como eu vou terminar tudo isso. Hermione xingou a si mesma, puxando a mochila um pouco mais para cima em seu ombro. Não consigo acreditar em todo o trabalho que o Snape nos passou - é absolutamente impossível. Porcaria, isso é o que é.


Hermione arrastou-se pelo corredor até o Hall de Entrada. Não só terminara o trabalho de Poções quase uma da manhã, como Bichento decidira a acordar três horas depois; sono, pelo o que parecia, era puramente inalcançável.


Era uma daquelas horas que suas pálpebras ficavam muito pesadas. Hermione apoiou-se contra a parede e deixou a cabeça cair.


- Talvez se eu ficar aqui - ela murmurou para ninguém em particular - Eu não precisarei ir para a aula.


Fazendo uma careta, Hermione escaldou a si mesma por aquilo. Não ir para a aula? Com um pequeno sorriso e um suspiro, balançou a cabeça. Eu realmente preciso dormir.


Olhar em volta para as paredes altas cheias de vidraças não melhorava o ânimo preguiçoso de Hermione. Era um daqueles dias que, com suas cores cinzentas, parecia ter parado às sete da manhã, mesmo que já fosse o começo da tarde.


Hermione foi instantaneamente distraída de seus devaneios por um fraco som emanado de uma das salas vazias do corredor. Dando alguns passos para frente, notou que uma das portas estava um pouco aberta, só uma frestinha.


Idiotas do primeiro ano. Hermione pensou aborrecida. Eles não sabem que não podem ficar nas salas vazias? Provavelmente é um casal.


Balançando a cabeça, Hermione fechou os olhos e abriu a porta da sala de aula, fechando-a gentilmente enquanto falava:


- Se qualquer professor encontrá-los aqui, sozinhos, sem um responsável, vocês irão pegar uma detenção. Como Monitora... - ela vagarosamente perdeu a fala quando olhou para a sala.


- O que uma sangue-ruim suja estaria pensando para me xingar?


Draco Malfoy estava sentado casualmente numa mesa vaga, as pernas esticadas para um lado, apoiado nos cotovelos, olhando para a porta. Sua mochila estava no chão no meio da sala de aula, cercada de mais mesas vazias. Com um movimento quase frouxo, ele voltou a varinha para ela e sorriu afetado.


Ah, não. Hermione começou a virar-se para a porta.


- Eu poderia facilmente te enfetiçar, sabia, sangue-ruim? Eles não iriam nem ao menos escutar você gritar.


Malfoy inclinou seu queixo um pouco para cima, os olhos pálidos brilhando de malícia. Hermione parou e voltou-se para ele novamente, o rosto lívido.


- Eu iria torturá-la até a loucura, Granger - ele continuou - Porém, eu acho muito inquietante gastar meus ótimos talentos em tipos como o seu.


Com isso, Malfoy abaixou a varinha e voltou para o que estava fazendo antes de ser rudemente interrompido. Apontando a varinha para uma mesa a algumas fileiras de distância, fez um pequeno punhal dançar e girar na superfície da madeira. O som do verniz sendo arrancado da mesa fez Malfoy dar um sorriso doentio.


Então era isso. Hermione observou-o enquanto ele parecia ignorá-la. Ele estava invadindo salas de aulas para - o que - ser destrutivo? Um vândalo? Idiota.


Hermione enfiou os livros na já lotada mochila e caminhou até onde a faca destruía uma propriedade da escola. Ela rondou a mesa, lançando um olhar para Malfoy, que apenas a observava.


Estava gravando o símbolo da Sonserina. Que original, Hermione pensou sarcástica. Enquanto ela observava, o punhal rodopiou com um pulo, terminou o desenho e começou algo novo, diferente.


A lâmina, pura prata com um cabo de esmeraldas verdes, afundou na mesa, fazendo rabiscos tornarem-se elegantes letras.


M-O-R-R-A. O jeito que com que o cabo iluminava-se deixou Hermione enjoada. S-A-N-G-U-E-R-U-


Sem pensar duas vezes, Hermione, perto de explodir, esticou a mão para arrancar a lâmina da mesa. Agarrou o cabo verde gelado e puxou. O punhal encantado tremeu frenéticamente em sua mão, cortando uma longa linha através de seu dedo antes que Hermione largasse-a com um grito abafado.


- Sangue-ruim idiota! - Draco xingou-a quando levantou da mesa, deu alguns passos e inclinou-se para pegar a lâmina. Hermione apertou a mão cortada com força - Eu apreciaria se você não espalhasse seus germes de sangue-ruim por toda a minha-...


Malfoy não desencantara a faca ainda e, como ele abaixara-se para pegar, a lâmina prateada dançou na carne de sua palma, ainda tentando escrever as últimas letras de 'ruim'. Ele sibilou de nojo e de dor. Hermione balançou a própria varinha e a lâmina congelou-se na palma esguia dele.


- Viu o tipo de bagunça que você sempre faz, Granger?


Hermione mordeu o lábio. Certamente ele estava furioso com ela agora. Por que ela teve que pegar a faca? Observou Malfoy enquanto ele vagarosamente levantava-se de sua posição anterior, quase ficando muito mais alto que ela, os cabelos loiros brilhavam na luz de velas, os olhos frios como pedra.


- Suja, nojenta, desastrada, intrometida sang-...


Malfoy parou, olhando para sua mão. A lâmina, brilhando, pervertida, ria deles. Ambos os sangue de Hermione e Malfoy estavam espalhados no lado afiado do punhal, duas distintas manchas misturadas. O sangue misturado parecia infurecer Hermione mas, quando ela olhou para Malfoy, a raiva inexplicável lentamente morreu.


Ele estava estudando as manchas, a mistura dos sangues com toda a atenção. Hermione o observou, intensamente, sem querer dizer nada que o distraísse de seu transe e ele continuasse a desmoralizá-la.


Sem uma palavra, Malfoy levantou sua mão não machucada e passou um dedo por cima da lâmina, o sangue misturado manchando sua pele. Silenciosamente, ele levou o dedo à boca e deixou o sangue tocar os lábios.


Hermione deixou um barulho baixo escapar, algo entre nojo e confusão. Instantaneamente Malfoy voltou-se para ela, ambas as mãos caíram e ele apenas olhou-a emudecido, sem expressão alguma, os olhos arregalados, como se não conseguisse acreditar no que acabara de fazer. Como se não conseguisse acreditar que fizera aquilo na frente dela, na frente de Granger.


Apesar do olhar apático dele, Hermione não conseguiu controlar-se.


- O que, Malfoy? Surpreso que meu sangue não tem gosto de sujeira? De lama? Surpreso que eles tem o mesmo gosto, o seu e o meu? - a chama de ressentimento amargo de Hermione contra Malfoy teve pouco tempo de vida.


Com um olhar de profundo ódio e raiva, Malfoy levantou o braço para ela, aquele segurando a faca. Com um grito surpreso, Hermione desviou, mas a lâmina voou na direção oposta, batendo contra a parede de pedra e ricocheteando para acabar caindo no meio das mesas vazias.


Com os olhos arregalados de choque e medo, Hermione agarrou sua mochila e correu para porta da sala. Enquanto a abria, olhou para trás. Malfoy estava escorado de um jeito estranho contra uma das mesas, o rosto nas mãos e uma parte de seus cabelos manchado de vermelho.


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