Uma coisa não tem nada a ver c
Capítulo III – Uma coisa não tem nada a ver com a outra
-Gina, acorde.
Oh meu Deus, o que ele estava fazendo no meu quarto?!
-HARRY! – berrei, puxando as cobertas até o pescoço – O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?!
-Sua mãe pediu pra que eu viesse te acordar. Só porque é sábado, você não pode dormir até vinte pra uma da tarde, Gin. E eu quero te convidar pra jogar quadribol.
Eu arregalei os olhos, perplexa. Mas o relógio pendurado na minha parede não mentia. Se Harry não estivesse sentado sobre a ponta do meu cobertor, tenho certeza de que eu iria berrar que nem uma doida e de um pulo ir direto para o chuveiro. Como ele estava, me contive em apenas berrar.
-Pois saia já do meu quarto! – exclamei, cutucando-o com o pé – Eu não vou sair daqui enquanto você não sair!
-Gina, sou eu – ele revirou os olhos – Eu já te vi vestindo uma calça jeans furada no traseiro e uma camiseta que deixava seus peitos mais pra fora do que pra dentro.
-Cale a boca e suma – sibilei, estreitando os olhos.
-Okay, okay – Harry levantou-se e colocou a mão na fechadura, me encarando (o que me fez perguntar para mim mesma: por que diabos ele me olha daquele jeito em vez de sair logo dali?!).
-Eu apareço daqui a pouco, lá embaixo – fiz sinal com a mão, emburrada.
É claro que eu sabia que ele sabia que eu sabia que eles não iriam esperar por mim. Ele balançou a cabeça e saiu, fechando a porta devagar atrás de si. Revirei os olhos e me levantei, os pés descalços – eu realmente preciso deixar meus chinelos em um lugar onde eu as encontre de manhã – e o cabelo emaranhado que me deixava com vontade de chorar. Sobre o criado-mudo, a caixa de chocolates que recebera de Draco na noite anterior, junto com o vaso onde estavam as flores de Harry, que mamãe deve ter achado que eu gostei e colocado no meu quarto.
Achado que eu gostei?!
Eu amei aquelas flores. Não que eu sempre não ame toda e qualquer coisa que Harry me dê (sem segundos sentidos, por favor), mas aquelas flores... Me acabam com os palpites.
Respirei fundo e fui direto para o chuveiro. Tudo o que eu precisava para clarear as idéias era de um bom banho quentinho... Ou podia simplesmente deixar minha cabeça ainda mais confusa.
Tudo o que acontecera – a briga com Draco, a reconciliação com Draco, os bombons de Draco + os papos de Harry, o boliche com Harry, as flores de Harry – naquelas últimas quarenta e oito horas voltava com força total (eu preciso de uma penseira), me bombardeando.
Juro que quando sai, estava pior do que quando entrei. Tudo porque lembrei (se é que dormindo, eu consegui esquecer) que Harry quase me beijou na noite passada. Certo, foi só um “quase”, mas teria acontecido se mamãe não tivesse sido o “anjo” de sempre e chegado bem na hora – aquilo foi bom ou foi ruim? -, o fato é que eu não tentei impedi-lo de se aproximar.
E o pior: eu nem pensei, sequer por um segundo, em Draco.
Falando nesse sexy loiro, eu havia sonhado com ele. No sonho, Draco se aproximava de mim, me apontava sua varinha e falava: “adeus, Weasley; vou sentir sua falta”. Depois dele murmurava alguma coisa que eu não entendia e o mundo girava pra mim. Foi quando Harry apareceu e me acordou.
Sentei na cama, só de roupão, e fiquei olhando para a janela aberta, que tinha vista para o horizonte. A vista mais linda do mundo, se estivesse amanhecendo – o que eu posso fazer, era mais de uma hora da tarde. Peguei a varinha do criado-mudo e sequei meus cabelos com mágica, antes de me enfiar no primeiro vestido de verão que encontrei disponível e descer.
Nem preciso dizer que meu coração deu um pulo quando vi que Draco me esperava no sofá da sala de estar.
-E aí? – ele ergueu as sobrancelhas pra mim, cruzando os braços.
Oh meu Deus, ele sabia. Ele sabia, ele tinha me enfeitiçado, ou tinha entrado na minha mente, ou me espionara, mas ele sa...
-O que foi? – eu o encarei e, no momento em que o vi franzindo o cenho, percebi que a minha cara deveria estar mais idiota do que o normal.
-Eu estou dormindo, ainda – o riso que eu soltei foi de puro nervosismo.
-Então... – Draco passou a mão por meus ombros e eu me aconcheguei em seu peito – Como vão as coisas com o Cicatriz por aqui?
-Bem, eu acho – murmurei, dando um leve sorriso para mim mesma.
-Do mesmo jeito ou perdeu a mania de herói? – perguntou, um sorriso torto brotando em seus lábios.
-Do mesmo jeito – se ele soubesse ler nas entrelinhas, eu estava ferrada.
-Panaca – assoviou, a mão fria encontrando a minha quente.
Mas não pude deixar de olhar pela janela, buscando pela vassoura de Harry. Balancei a cabeça – aquilo estava começando a ficar irritante – e me soltei para encará-lo. Sem perder tempo, ele se inclinou sobre mim e me beijou, fazendo com que minhas costas encostassem no sofá e o seu peito sarado encostasse nas minhas menininhas. Okay, eu sei que pareço uma boba com sérios problemas mentais – entenda-se por “filha-da-puta-retardada” – por estar falando isso, mas... Eu juro, eu não queria...
Eu comparei aquele toque gelado com o quente de Harry.
Falando em Harry, quem se importava que eu quase o tivesse beijado na noite anterior? Ou que eu estivesse pensando nos beijos que trocávamos na torre de Astronomia, em Hogwarts? Ou que simplesmente não conseguisse imaginar o motivo por não ter ido com os garotos jogar quadribol?
Não acontecera nada demais.
É, os beijos de Draco tinham esse efeito de epifânia em mim.
Me arrepiei com seu toque gélido na minha cintura – detalhe: subindo o meu vestido. Ele riu, a boca colada na minha. Oh, Merlim, será que ele me odeia tanto assim a ponto de querer me matar?! Porque eu falo sério quando digo que se ele continuar com aquilo, eu vou morrer (PS: de prazer). Fiquei quase louca quando senti aquela mão descendo, descendo, descendo, até que...
Até que eu tenho que dizer que odeio aquele par de ruivos dos diabos.
-Mantenho meus reflexos – sibilou Draco, levantando-se do chão.
O que aconteceu? Fred ou Jorge (eu nunca sei quem é quem) rebateu um balaço diretamente para o vidro da janela, estilhaçando-o e quase acertando a cabeça do MEU loiro. Por sorte, ele viu e se jogou no chão – o que não evitou que o balaço fizesse vento perto do meu rosto.
Fiquei de joelhos no sofá e olhei através da janela. Fred e Jorge, lado a lado, acenaram para mim, rindo. Espremi os olhos, bufando e me virando para Draco.
-Eu já disse que eles são uns...
-Draco! – adverti.
-Doces – todo mundo que visse sua cara diria que ele fora irônico.
Por quê? Bem, talvez porque ele foi, de fato, irônico.
-Você sabe como eles são – dei de ombros – Com o Harry por aqui, parece que os instintos selvagens de Fred e Jorge se multiplicam.
-É claro que eu sei que o Potter deixa todo mundo com os hormônios à flor da pele – resmungou, sentando-se no sofá de novo e cruzando os braços.
Tentei não ficar vermelha, mas sabe como é, o reflexo do cabelo realmente não me ajuda em nada.
-Então, como está sua mãe? – indaguei, para disfarçar.
Draco arqueou as sobrancelhas, crispando os lábios e me fazendo perceber que eu havia piorado a situação. Onde é que já se viu, Gina querida, você perguntar da Narcisa Malfoy pro Draco, ali, naquela hora, naquele momento?! Não tinha nada melhor na cabeça, filha?!
-Minha mãe está bem. Meu pai está na cadeia. Não tenho sete irmãos. O que mais quer saber sobre a minha família? – retrucou, fazendo bico como se dissesse “qual é, quer mesmo falar da minha mãe enquanto podíamos fazer uma coisa muito melhor?”.
-Okay, não precisa ser grosso – resmunguei com o bico maior que o ego de Draco. E isso é extremamente significativo.
-Que seja – e, no momento, seguinte, ele estava sobre mim, me prensando contra o sofá duro e me beijando ardentemente.
-Draco – balbuciei, entre seus lábios – Draco, nossa relação se resume a isso?
-O que mais quer fazer? – perguntou, sem parar de me beijar.
-Conversar – empurrei-o, arfante – Nós nunca conversamos.
-Acabamos de conversar! – exclamou, os cabelos despenteados.
-Foi o começo de uma conversa. Nunca conversou com ninguém antes? – eu revirei os olhos, ajeitando a blusa.
-Claro que já – por que aquilo não soou convincente pra mim?! – Gina, paixão, pare de criancice, okay? O que aconteceu com você?
Por onde eu posso começar?
-Nós nunca conversamos realmente sobre o assunto Pansy Parkinson – ele estreitou os olhos, num olhar que eu traduziria como “quer MESMO falar sobre isso?” – Sabe, o que ela está fazendo de volta e tudo mais.
-E por que diabos eu deveria saber disso, hein? – cruzou os braços.
O que me mostrava que teríamos uma longa, longa discussão pela frente...
-Me diz você – fiz o mesmo.
-Eu já disse um milhão de vezes que eu não tive mais contato com ela.
-E eu também não tive mais contato com Harry.
Okay, eu não deveria ter dito aquilo.
Os lábios de Draco entreabriram-se e fecharam-se, os olhos semi-cerrados formando apenas uma pequena fenda cinzenta. Oh Merlim, me diga, por favor, me diga, como eu posso ser tão idiota?!
-Que seja – eu ODEIO quando ele fala isso – Faremos um acordo então. Já que você tem tanto ciúmes da Pansy...
-Não é ciúme! – exclamei, indignada.
Quem disse que eu tinha ciúmes dele?! Aquilo não era ciúmes, era só... Ah, sabe, aquele bicho dos olhos verdes que me tira o sono... E não, eu não estou falando de Harry.
-E já que você não confia em mim...
-Eu confio! Mas é que... – por que mentir? Eu não confiava mesmo.
-Fazemos um acordo, Weasley – quando ele me chama pelo sobrenome, é porque o bicho vai pegar – Eu nunca mais vejo a Pansy, se...
-Eu não quero ouvir – como uma criança idiota (sim, eu sou uma criança idiota), tapei os ouvidos com as mãos – EU NÃO QUERO OUVIR!
-Me ouça – delicadamente, mas firmemente, ele puxou-me pelos pulsos – Se você não ver mais, nunca mais, digo, o Potter.
Eu sabia que aquilo viria, eu sabia, eu sabia, eu sabia! Meu lábio inferior tremeu e eu senti vontade de chorar. De raiva, não se engane.
-Uma coisa não tem nada a ver com a outra! – eu bati várias vezes em seu peito forte, até minhas mãos doerem (se eu tinha consciência que não fazia nem cócegas? Sim, eu tinha) – Harry não é Pansy Parkinson!
-Vocês têm uma história, assim como eu tenho com a Pansy! – retrucou, uma pequena linha de irritação ultrapassando seus limites calmos.
-Não compare a minha história com Harry do que a sua vida sexual com a Parkinson! – eu apontei meu dedo para seu nariz, o rosto vermelho.
-Se vocês não tinham vida sexual, não tenho culpa – sibilou, por entre os dentes cerrados – Mas ele é passado, assim como a Pansy.
Então eu comecei a chorar.
Por quê? Ah, sim...
Porque eu sabia que Harry não era inteiramente passado.
-Gina? – Draco me puxou para perto, abraçando-me – Gina, não chore.
-Eu não tenho culpa – balbuciei, debulhada em lágrimas.
-Eu odeio mulher que chora – ouvi-o dizendo para si mesmo, enquanto afagava meus cabelos – Você quer que eu peça desculpas? Eu peço, okay?
Aí eu chorei mais, porque lembrei que a culpa era inteiramente minha.
-Por Merlim! – exclamou – Pode, por favor, parar de chorar?
-Eu sou uma péssima namorada! – falei, soluçando – Eu sou um monstro!
-É claro que você não é um monstro! – negou, batendo nas minhas costas – O que é isso, Gina? TGN?
-É TPM – respondi, sorrindo levemente com sua burrice.
-Que seja. Está de TPM? Quer que eu vá até a loja comprar absor-alguma coisa? – perguntou, tirando o cabelo do meu rosto úmido.
-Absorventes. E aonde quer ir comprar absorventes, numa loja de tecidos? – enxuguei as lágrimas com as costas da mão.
-É de algodão por dentro, não é? Eu andei abrindo um para saber do que era feito – ele deu de ombros, me fazendo rir.
-Não se compra numa loja de tecidos, Draco. Se compra na farmácia ou no mercado – corrigi-o, fungando.
-Eu posso ir até lá. Eu gosto de ser um bom namorado, às vezes.
Com essas palavras, eu apenas chorei mais. Porque ele era um bom namorado que queria comprar absorventes na loja de tecidos e eu estava pensando, o tempo todo, se Harry já tinha capturado o pomo!
-Eu não sei mais o que eu faço pra te deixar feliz – resmungou – Se eu sou um imbecil, você grita comigo. Se eu sou grosso, você briga. E se eu sou prestativo, você chora. O que você quer da vida, Gina?
Draco, querido, quer mesmo uma resposta?!
~ • ~
Naquela noite...
-E então? Jogando quadribol até agora? – perguntou papai, quando viu os garotos entrarem pela cozinha limpa...
-O QUE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO AQUI DENTRO?! -... sujos de barro até os cabelos.
-É melhor vocês irem lá pra fora – avisei – Ela não está com o humor nas alturas hoje.
-Harry, querido – eu odeio quando mamãe é seletiva – Você pode tomar banho no banheiro aqui de dentro.
-O quê? – exclamou Jorge, indignado.
-Por que sempre nos trata como se não fossemos seus filhos? – perguntou Fred, fingindo-se de ofendidos.
-Porque vocês não são mais meus irmãos – respondi, séria – Mamãe, eles quebraram a janela da sala!
-Mas nós restauramos! – Jorge sorriu, cínico.
-Mas quebraram! – eu coloquei as mãos na cintura, irritada.
-Mamãe, ela estava dando uns amassos com o Malfoy no sofá! – disse Fred, com um ar vitorioso, me fazendo ficar da cor dos meus cabelos.
Papai engasgou com a saliva e tossiu sem parar, ficando quase roxo. Rony estreitava os olhos pra mim, bufando. Harry ergueu as sobrancelhas, me encarando com um sorriso torto. Fred e Jorge sorriam, esperando o veredicto de mamãe – que, provavelmente, não seria nada bom.
-Se vocês nunca tiveram namoradas, é isso o que os namorados fazem – sibilei, querendo mais que tudo poder trucidá-los.
-Mas mamãe...
-Vocês quebraram a minha janela e encheram o tapete de vidro! – ela ficou mais vermelha do que todos nós.
Eu amo mamãe. Ela não ouve nada do que falam sobre mim.
-Mamãe, se fosse o Harry, nós até entenderíamos, mas...
-Ah, calem a boca – resmunguei, subindo correndo as escadas.
Eu estava quase na porta do meu quarto quando senti um par de mãos firmes segurar-me pelos braços, virando-me e me fazendo perder o equilíbrio. Por sorte, os reflexos de Harry são ótimos e ele me segurou antes que eu caísse e rolasse da escada. O que, naquela situação familiar em que estávamos, não seria uma idéia tão má.
-Eles são uns idiotas – disse Harry, logo que me ajudou a recompor-me.
-Todos eles são – murmurei, fazendo um bico ofendido.
-Não se preocupe com isso, okay? – ele sorriu, brincando com o meu cabelo, ainda todo cheio de lama.
-Eu não me preocupo – quem se importa se ele está sujo?! Aquela lama toda o deixava mais sexy – Eu me irrito.
-Sabe como são seus irmãos – eu respirei fundo.
-Quando éramos nós dois, eles não eram tão imbecis – disse para mim mesma.
-Ele é o Malfoy – deu de ombros – Não me importaria de eles sabotassem... HEI!
-Fique quieto, sim? Ele é meu namorado – empurrei-o para longe de mim.
-Gina, eu posso te perguntar uma coisa? – okay, o que diabos sairia daquela boquinha linda? E por que eu sentia que não podia ser nada bom?
-Diga – cruzei os braços, bicuda.
-Se, numa realidade utópica, você tivesse que escolher...
-Ah não! Faça-me o favor, Harry, uma coisa não tem nada a ver com a outra! – eu quase berrei, sentindo que a vontade de chorar estava voltando.
-Me ouça – pediu, se aproximando de mim e me segurando pelos ombros – Se você pudesse escolher entre ficar com o Malfoy e ficar comigo, quem você escolheria?
-O QUÊ?! – O QUÊ?!
-Você voltaria comigo, se não estivesse com o Malfoy?
Okay, aquilo não podia ser bom.
-Eu... Harry, não seja um idiota – falei, atropelando as palavras.
-Ele beija melhor que eu? – indagou, acariciando minha bochecha com o polegar – Te pega melhor? Você gosta mais dele?
-Eu... – eu não sabia o que dizer ou fazer.
Podia sentir sua mão envolvendo minha cintura, seu peito se aproximando, seus lábios emanando aquele sabor que eu tanto gostava. Eu queria beijá-lo, é claro que eu queria. Mas eu realmente não queria.
Entendeu? É, nem eu.
-Uma coisa não tem nada a ver com a outra – sussurrei, recuando e adentrando meu quarto, batendo a porta atrás de mim.
Harry, Harry, Harry... Por que você tinha que voltar, logo agora?!
Ah, é claro. Como eu pude esquecer que fui eu quem o chamei de volta pra minha vida?!
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