Feliz Natal, Lily
O outono dera lugar ao inverno e pouco a pouco as folhas caídas foram substituídas pela neve fofa. Em alguns dias seria Natal e por todo lado via-se pessoas alegres e sorridentes tomadas pela atmosfera calorosa do feriado. Banquetes planejados, presentes comprados e árvores de Natal montadas, estava tudo pronto para a festa mais aguardada do ano. A ansiedade era tamanha que quase dava para sentir no ar. Menos na Mansão Evans.
Oh, mas que surpresa!
Como todo Natal, Lily estava se sentindo deprimida; era a época em que a saudade da mãe apertava e doía de forma latente. Lily gostava do Natal, mas nem se lembrava de como comemorar depois de tanto tempo enferrujada.
Ela continuou a ver James, seu agora namorado, Sirius e Marlene cada vez mais freqüentemente e com a constante ajuda da Sra. Phillip. Para sua grande sorte, seu pai ainda não tinha desconfiado de coisa alguma: suas roupas novas estavam muito bem escondidas no fundo de seu armário e seu corte de cabelo não fora remotamente reparado por ele. Seu pai não havia sequer reparado que estava mais risonha.
Que grande enjoado é esse cara!
E agora era Natal e Lily se viu obrigada a ouvir as conversas animadas entre os amigos sobre as festas de fim de ano: o que comprar, o que comer, onde passar, com quem passar... argh, Lily já estava se sentindo excluída. Ela já se sentia cansada de tanta falação e tanto entusiasmo e pela primeira vez estava irritada e evitando os amigos. E ela bem que tentava se repreender, mas não tinha muito sucesso.
Mas o que ela queria? Que o mundo inteiro parasse de falar sobre o Natal porque ela não tinha Natal? E seus amigos não eram adivinhos e não podiam saber a origem daquela cara de paisagem gelada que Lily sempre fazia quando falavam das festas de fim de ano. James e Marlene se mantinham calados em relação a isso, mas Sirius vez ou outra jogava uma indireta. Foi depois de uma das brincadeiras do moreno que Lily sentiu a raiva borbulhar dentro de si e explodir pela primeira vez.
- Gente, precisamos ver como vamos à Festa Pré-Reveillon esse ano. Com que roupa e etc... – falou Marlene, fechando o zíper do casaco pesado que usava. Os quatro estavam na hípica observando o irmão de James, Liam, cavalgar graciosamente. A Festa Pré-Reveillon era uma festa realizada no penúltimo dia do ano para os jovens de Londres. A boate Gêneses, no centro da cidade, era a locação da festa e sua badalação era extrema. Marlene, Sirius e James eram presenças constantes e mal podiam esperar para levar Lily à maior festa do ano. Mas o que fazer se Lily armava a tromba à menor menção do Natal ou Ano Novo?
- Então nós vamos à Pré-Reveillon? – perguntou Sirius, olhando para Lily por baixo dos óculos escuros. Marlene assentiu. – Bom saber. Pensei que ficaríamos trancados em casa em homenagem à Princesa do Gelo.
- Sirius... – alertou James, mas o amigo ignorou e continuou a mirar Lily de forma marota.
- O que? É verdade! A nossa Rapunzel virou uma Princesinha Gelada desde que nós a tiramos da torre e o inverno chegou. Mas eu não reclamo, prefiro você assim, querida, do que...
- Chega, Sirius! – gritou Lily, atraindo os olhares das pessoas. Sirius tinha um sorrisinho sacana no rosto, que só irritou Lily ainda mais. Ela baixou a voz e continuou – Chega! Qual é o seu problema? Por que você vive me azucrinando? Lançando indiretas o tempo todo!
- Eu não tenho problema nenhum, minha cara. A pergunta foi feita para a pessoa errada. Qual é o seu problema?
- O meu problema?! Vocês são meu problema! – Lily tentou puxar as palavras de volta para a boca, mas elas já tinham escapado. O arrependimento se abateu sobre ela na mesma hora.
- O que, Lily? – perguntou James, parecendo magoado. Marlene olhava para ela com os orbes azuis arregalados e Sirius continuava a sorrir indiferente.
- Não! Pessoal, James, não foi... não foi isso que eu quis dizer! Por favor, acreditem, vocês não são meu problema. Sinto muito, sinto muito mesmo! – as palavras saiam em alta velocidade e Lily ia tropeçando nelas. Parou para respirar e baixou os olhos para o chão, sentindo-se mais envergonhada do que nunca. – Desculpem-me, por favor. Não foi isso que eu quis dizer, juro. Vocês nunca serão um problema, na verdade, vocês são a solução de todos os meus problemas. É só que...
- É só que...? – incentivou Sirius, assumindo uma postura séria dessa vez.
- Eu me senti mal ouvindo vocês falarem do Natal, pronto! – agora a vergonha era maior do que qualquer coisa. Ela se sentia tão boba e mesquinha.
- Por quê, Lily? – perguntou Marlene, parecendo menos magoada. De repente, arregalou mais os olhos e continuou como uma metralhadora – Você não gosta do Natal? Como você pode não gostar do Natal? O Natal é a época mais linda do ano e a mais esperada! Ah, como eu amo o Natal! Por que você não ama o Natal, Lily?
Lily levantou os olhos e fez sinais desesperados para que Marlene parasse de falar.
- Não, Lene. Não é isso. Eu adoro o Natal, como todas as outras pessoas, mas eu não... eu não tenho Natal.
- O que? Como assim, Lily? – James perguntou. Já não parecia mais magoado, agora só parecia curioso. Marlene agora a olhava com certa pena e Sirius parecia se sentir culpado.
- Desde a morte da minha mãe que o Natal foi abolido da minha casa. Nunca mais montamos a árvore, fizemos banquetes ou ganhamos presentes. Nós nem ao menos nos abraçamos. O Natal é como qualquer outra noite lá em casa. Por isso eu me sentia tão mal quando ouvia vocês, eu tinha inveja dessa alegria e desse entusiasmo. Todo mundo tão feliz fazendo planos para a data e eu sem poder participar.
- Oh, querida! – murmurou Lene, abraçando-a com força. – Sinto tanto. Presentes são tão bons de ganhar! – Lily riu contra o ombro da amiga, achando graça do sentimento de pena que Marlene tinha. – Já sei! Quer passar o Natal lá em casa? É uma data muito bonita e você deve estar com as pessoas que gosta!
- Era eu quem devia fazer essa pergunta, Lene! – disse James, empurrando a morena para o lado e dando as mãos à Lily. – O que acha? Quer passar o Natal comigo e minha família?
- Ei, Jay! Eu perguntei antes e acho que ela devia escolher!
- Lene, querida. James é o namorado dela, então nada mais justo que ela ir para a casa dele. – disse Sirius, tentando amenizar a situação. Marlene deu de ombros e ficou emburrada, assoprando uma mechinha de cabelo que caía sobre os olhos.
- Então, Lily? – insistiu James, apertando as mãos dela. Lily sorriu encabulada, mas fez que não. – Não? Por quê? A Marlene está certa, você deve ficar com pessoas que gostam de você de verdade. Eu gosto muito de você, sabe? – o último trecho ele falou mais baixo, sorrindo sedutoramente para ela. Ela riu e deu um beijo nele.
- Agradeço aos dois pelo convite. E a Lene está certa, eu devo ficar com as pessoas que eu amo e que me amam. Apesar de tudo, ele é meu pai e eu já sei o que fazer.
- O que vai fazer? – perguntou Sirius, sorrindo para ela pela primeira vez desde a provocação.
- Eu vou ressuscitar o Natal na Mansão Evans. – disse ela, com um sorriso sapeca no rosto.
- Vai precisar de ajuda? – perguntou Lene, piscando para Lily.
- Não, já tenho tudo orquestrado.
E ela já tinha mesmo. Algum plano diabólico estava sendo preparado por baixo daqueles fios vermelhos. Um plano terrível, capaz de mudar tudo e...
Ok, não era tão diabólico assim.
Quando a aula de Liam acabou, James se despediu dos amigos e da namorada e saiu com o irmão para a cafeteria. Marlene disse que estava com fome e seguiu os dois. Só sobraram Sirius e Lily do lado de fora da hípica. Ele olhava para ela parecendo envergonhado.
- Lily, olhe...
- Não precisa se desculpar, Sirius.
- Ah, mas eu não ia. – falou ele inocentemente. – Mas se você faz tanta questão...
- Sirius!
- Ok! Peço desculpas, senhorita Lily, pelo meu comportamento mais cedo. – dizendo isso, ele puxou a mão dela e depositou um pequeno beijo no dorso. Lily riu e puxou sua mão.
- Certo, desculpas aceitas. – ele parou de sorrir e baixou os olhos para o chão. Parecia mesmo envergonhado. Lily jamais pensou que presenciaria esse fato. Ela o olhou e levantou o rosto dele. – Sirius? O que há?
- Vou falar de uma vez e não quero nenhum comentário.
- Tudo bem.
- Eu preciso da sua ajuda!
Lily colocou uma sobrancelha no alto e sorriu sacana. Então Sirius Black, O Grande estava pedindo ajuda a ela?
- Sou toda ouvidos.
- Muito bem, dia 24 de dezembro eu e Marlene completaremos um ano de namoro. Preciso da sua ajuda para achar o presente ideal para ela. – Lily esperava tudo menos isso. – Preciso de algo que esteja à altura dela.
- Eu vou ajudá-lo, Sirius. Já que a véspera de Natal é em três dias, podemos sair amanhã para procurar o presente dela.
- Ótimo! Obrigado, donzela Lily.
- Disponha, amável cavalheiro. – eles riram um para o outro, cúmplices. Lily se sentia feliz em ajudar, ainda mais quando se tratava de agradar Marlene. Ela amava sua amiga e achava justo ajudar Sirius em sua empreitada. Aproveitaria e compraria presentes para cada um dos amigos. – Ah, droga! Estou atrasada, Jane disse que me queria em casa às cinco.
- Quer uma carona?
- Ah, seria de grande ajuda. Obrigada, Sirius. – os dois caminharam sem pressa para o carro e de lá seguiram para a mansão.
- Tem certeza que não precisa de ajuda com seus planos? – perguntou ele enquanto estacionava. Lily desceu do carro e o olhou pela janela aberta.
- Pode deixar, querido. Vejo você amanhã cedo, então?
- Sim, querida. – ele respondeu e ela lhe deu adeus. Acenando, ele arrancou com o carro. Ela esperou que ele virasse à esquina e então atravessou o jardim coberto de neve.
Ela tinha um plano a bolar e um Natal a recriar.
- Jane! – chamou assim que entrou em casa e viu a Sra. Phillip sair da cozinha. – Preciso da sua ajuda.
- Para quê?
- Natal!
- O quê?
- Eu acho que está na hora de termos um Natal nesta casa. – a Sra. Phillip continuava a olhá-la sem entender. – Jane, faz treze anos que mamãe morreu. Treze anos que não temos Natal! Nossa árvore deve ter mofado ou sei lá!
- Espera, você quer que nós façamos uma festa de Natal? – Lily assentiu. – Sem seu pai saber?
- Sim, vai ser uma surpresa. Podemos preparar um jantar delicioso, enfeitar a árvore e comprar alguns presentes, o que acha?
- Acho que você perdeu a cabeça. Isso foi idéia de algum dos seus amigos? – perguntou a governanta estreitando os olhos.
- Não, a idéia foi minha. Então...?
- Continuo achando loucura. – suplicante, era como Lily a encarava. A Sra. Phillip suspirou e deu de ombros, vencida. – Tudo bem! Mas, eu só vou cuidar do jantar, porque você não sabe cozinhar. Do resto, senhorita, cuide você.
- Oba! – Lily correu para a Sra. Phillip e lhe deu um abraço. – Onde está a nossa árvore?
- No sótão.
- Ok. Os enfeites estão lá também... podemos ter peru para o jantar? – Lily ia falando sozinha, mas o último trecho ela disse para a empregada. A Sra. Phillip assentiu. – Bom! Oh, Jane, eu preciso de dinheiro? Como eu faço para acessar meu cartão de crédito?
- Deixe essa parte comigo, eu inventarei uma desculpa para seu pai. Agora, suba! Você deve fazer seu exercício de música para a aula amanhã. Você terá suas últimas aulas de música e artes amanhã antes do recesso. Depois, serão duas semanas livres.
- Graças a Deus! – dizendo isso, Lily subiu as escadas e se trancou no quarto. Depois das aulas do dia seguinte, ela sairia com Sirius para comprar os presentes e no domingo começaria os preparativos para sua noite de Natal.
Lily estava no meio de um Chopin quando ouviu o som da campainha. A Sra. Harper fez sinal para que ela não parasse de tocar e a menina obedeceu. Quando a campainha tocou de novo finalmente a Sra. Phillip fora ver quem era.
Sirius estava parado no batente da porta, sorrindo sedutoramente para a governanta.
- Bom dia, cara senhora. Como vai? – ele puxou a mão da Sra. Phillip e lhe beijou o dorso, no seu gesto típico. Ela sorriu encabulada e puxou a mão de volta. – Eu sou Sirius Black e estou aqui para ver a senhorita Evans. – ao som da voz rouca e bonita de Sirius, a professora de música fez gestos frenéticos para que Lily interrompesse o exercício. Ela ficava olhando abobada para o menino, quase arrancando risadas histéricas de Lily. Sirius viu e piscou para a amiga.
Sirius sentou-se no sofá que ficava próximo ao piano. Tanto a Sra. Phillip quanto a Sra. Harper olhavam meio hipnotizadas para ele.
O que fazer se ele era um tremendo partidão? Nada, eu lhes digo.
Lily pigarreou chamando atenção da professora, que sorriu sem graça e fez um sinal para ela continuasse a tocar. Antes, porém, Lily se virou para Sirius e disse em tom de desculpas:
- Sirius, você se importa em esperar? Faltam alguns minutos para o fim dessa aula e mais uma hora de aula de artes.
- Sem problema, senhorita. Esperarei o tempo que for necessário. – ele falava de forma tão galante que acabou por distrair a professora de novo.
Meu Deus, que mulher papa-anjo!
Quando finalmente conseguiram voltar à aula, todos se aquietaram. Sirius achou que Lily era muito talentosa ao piano e permaneceu realmente entretido nos exercícios da amiga. Ao fim da aula, ele aplaudiu o desempenho e Lily riu sem graça, mas agradeceu com uma reverência.
Foram no carro de Sirius para a aula de artes; a Sra. Phillip ia junto no banco traseiro e depois ela ligaria para Henry buscá-la no estúdio de arte, pois Sirius e Lily iriam para o centro da cidade direto. Uma hora e relativo progresso num desenho depois, os dois estavam no carro novamente, dirigindo e conversando animadamente. Decidiram deixar o carro num estacionamento e passear pelas ruas. Aquela seria uma tarde de grandes amigos.
Os pés deles afundavam na neve da calçada e Sirius vez ou outra ameaçava jogar uma bola de neve em Lily e os dois quase começaram uma guerra ali mesmo no meio da rua. Estavam se divertindo de verdade.
- Bom, por onde começamos? – perguntou Sirius, passando a mão nos cabelos molhados.
- Eu conheço a Marlene há menos tempo que você, Sirius. Não estou tão familiarizada com ela quanto você. Por isso, eu sugiro tomarmos um café enquanto você me conta sua linda história de amor. – Sirius fez uma careta, mas concordou. Eles caminharam até uma lanchonete.
- Muito bem, querido. Conte-me sua história. – disse Lily enquanto o garçom colocava o café na frente deles. Sirius pigarreou encabulado.
- James e Marlene são melhores amigos desde crianças, eles cresceram juntos. Eu só fui fazer parte dessa amizade há uns três anos, quando começamos o segundo grau.
“Eu não sou londrino; na verdade, eu sou de Liverpool. Eu não era o que se podia chamar de ‘boa pessoa’, sabe? Quando tinha catorze anos, fui expulso da escola que freqüentava por posse de drogas e agressão. Tudo bem, Lily, pode arregalar os olhos. Você é a terceira pessoa que sabe disso, as primeiras foram James e Marlene. Bom, comecei nessa vida por causa dos meus pais: minha mãe era alcoólatra e meu pai era um belo vagabundo. Viviam se estapeando pela casa e não eram o melhor exemplo do mundo. Acabei me envolvendo com as pessoas erradas tentando fugir do universo dos meus pais. Quando fui expulso, arranjei um defensor público e consegui me emancipar. Agora vou te contar uma coisa feia: eu era traficante, logo tive dinheiro suficiente para sair de Liverpool...”
- Espera! – interrompeu Lily. – Como você conseguiu se livrar do vício? – Sirius quase riu diante da pergunta.
- Lily, traficantes raramente usam as drogas. Eles devem ser mais espertos e alertas que os usuários, porque há muita coisa em jogo. Dinheiro é a mais importante e mexer com dinheiro exige sobriedade. A pessoa deve estar sempre atenta e as drogas tiram a lucidez. Logo, eu não era viciado, usava mais por diversão do que outra coisa. Quando me emancipei, decidi que era hora de parar, muita coisa ruim estava acontecendo e eu já tinha perdido... parceiros. Não chegavam a ser amigos, mas mesmo assim. Enfim, vim para Londres, me hospedei numa pensão e arrumei um emprego; depois me matriculei numa escola e foi onde conheci James e Marlene.
“Não virei amigo deles da noite para o dia, não mudei de essência de repente. Eu era o novato e o queridinho das garotas. Você sabe que modéstia não faz meu tipo e te digo que fiz o maior sucesso quando cheguei à escola. Ficava com todas as meninas, era o pegador do colégio. Mas mesmo assim, fazendo fama com todo mundo, ficando conhecido como o garanhão, o bonitão e tendo, quase literalmente, todos aos meus pés, eu permanecia sozinho. Era um grande solitário. E permaneci assim por uns bons meses.
Eu via os olhares dos dois. Sabia que falavam de mim pelas costas. James sempre teve algo de super-herói dentro dele. Uma necessidade insana de salvar as pessoas. Foi assim comigo, está sendo assim com você. Mas Marlene é desse jeito também. Um dia ambos me abordaram na saída das aulas, mas eu os afastei. E foi assim por uns dois meses, até que me venceram pelo cansaço. No início eu me sentia um intruso entre eles, não compartilhávamos das mesmas coisas. James e Marlene eram amigos desde sempre, filhos de boas famílias, e eu era só um bad boy que não criava laços com ninguém. Bom, conhece aquele velho ditado ‘água mole em pedra dura tanto bate até que fura’? James e Marlene meio que me escavaram, sabe? Um dia me puseram contra parede e me fizeram contar tudo. Esperei que fossem embora e me largassem ali, sozinho como eu sempre havia ficado. Eu só tinha quinze anos e por mais independente que fosse, era uma criança sem pais, irmãos ou amigos. Mas eles ficaram.
Eles ficaram, Lily. E eu finalmente me encontrei entre eles. Senti que era um deles de verdade. Percebi que aquela duplinha irritante e insistente tinha virado um trio. James e Marlene faziam parte da minha vida e eu fazia parte da vida deles.”
Sirius fez uma pausa na narração e tomou um gole do café já frio. Lily olhava para ele, mas não havia pena em seus olhos. Havia interesse, ternura e algo como compartilhamento. Eles dividiam algo. Tinham histórias de vida bem diferentes, mas partilhavam uma dor e... um resgate, talvez.
- Como você e Marlene começaram a namorar? – Lily perguntou e sorriu ao ver um brilho rápido nos olhos de Sirius.
- Já éramos amigos há dois anos. Eu sabia que Marlene gostava de mim, eu via os olhares que ela me lançava, as indiretas que dava. Ela pode ser bem insistente quando quer. Marlene nunca desiste. Aprenda isso desde já sobre ela.
“Eu também sentia algo por ela. Mas eu era o pegador da escola, tinha minha fama. Sirius Black com uma corda no pescoço? Jamais, era o que apostavam. Eu acreditava nisso: jamais me veriam apaixonado por alguém. Por muitas vezes eu fiquei com várias meninas na frente dela, ignorei-a e outras coisas mais. Eu sabia que aquilo a machucava, mas que uma hora ela cansaria. Mas Marlene é incansável. Uma chata se você quer saber.
Mais de uma vez, ela tentou ficar comigo sozinha, mas eu sempre dava um jeito de fugir. James armava contra mim também, aquele pequeno traidor. Marlene tentava me fazer ciúmes, aparecia de surpresa na pensão, me beijava quando ia me cumprimentar. Eu não dizia ‘não’, imagina o que isso era para a minha fama: uma garota literalmente correndo atrás de mim!
Mas Marlene não queria apenas ficar comigo. Ela gostava de mim de verdade, pelo meu jeito bad boy, arrogante e mulherengo. Ela sabia de toda a minha história nada bonita e mesmo assim me queria. Mas eu só ia enrolando e evitando o inevitável.
Um belo dia, não tão belo assim, nós três estávamos sentados na salinha de estar da pensão onde eu moro. Conversávamos sobre algo sem importância quando a Sra. Robinson colocou a cabeça dentro do cômodo e disse que minha mãe estava ao telefone. Minha mãe? Deus, eu não falava com ela há dois anos e a última vez fora para dizer onde eu estava morando. Atendi à ligação e percebi que sua voz estava falha. Meu pai estava morto. Fora assassinado porque devia dinheiro aos agiotas. Não esperei minha mãe acabar de falar e larguei o telefone. James e Marlene estavam ao meu lado e conseguiram escutar a conversa; minha mãe sempre falou alto. Eu saí da pensão e caminhei a esmo pela cidade. Quando dei por mim, estava no Hyde Park. Sentei-me debaixo da maior árvore do parque, sobre a neve. Estava um frio de congelar os ossos, mas eu não liguei.
Não foi surpresa nenhuma quando a neve fofa do meu lado afundou sob o peso da Marlene. Ela não disse nada, apenas sentou do meu lado e ficou olhando para frente, do mesmo jeito que eu. De repente eu senti os braços dela ao meu redor, me abraçando com força. Eu chorei dezesseis anos de mágoa naquela tarde.
Foi quando eu percebi que eu estava sendo tremendamente idiota e cometendo um dos maiores erros que eu poderia cometer. Eu estava deixando Marlene escapar por entre meus dedos.
Bom, uma semana mais tarde, na véspera de Natal, eu a pedi em namoro. E cá estamos nós um ano depois.”
Lily sorriu para ele, um sorriso aberto e meigo. Nunca gostara tanto de Sirius quanto naquele momento. Finalmente entendia o que Sirius tinha que fez Marlene ficar tão arrebatadoramente apaixonada por ele. Ele não era apenas um cara bonito, com uma voz sexy e um sorriso que fazia a perna de qualquer mulher virar gelatina. Sirius era um menininho inseguro também, que tentava não decepcionar as pessoas que se importavam com ele de verdade. Podia ser brincalhão, adorável e forte como uma muralha, mas por dentro era cheio de remendos.
Tudo bem, Lily. Já sacamos. Se seu coraçãozinho não tivesse sido arrebatado por James, você estaria caidinha por Sirius. Ok, nós entendemos isso perfeitamente bem. Como não amá-lo?
Eles pagaram o café e voltaram para o frio invernal que fazia. Fecharam seus casacos e caminharam pela rua quase deserta. Lily soltou uma risadinha de repente.
- Nossos namorados são super heróis. – disse ela, sorrindo para Sirius, que lhe retribuiu.
- É verdade. Eles me tiraram da prisão.
- E vocês me tiraram da torre. – ela olhou a hora e já estavam no meio da tarde. – Venha, eu tive uma idéia.
- Conte-me.
- Leve-a ao Hyde Park. – Sirius a olhou em questionamento. – Não foi lá que você percebeu que amava a Lene? Então, leve-a até lá. Que tal um piquenique romântico na neve? Sob a mesma árvore que vocês ficaram aquele dia. – Sirius continuou a olhá-la de forma estranha e ela concluiu – Ah! Sinto muito, Sirius. O lugar te lembra seu pai e eu aqui falando...
- Não! A idéia é boa. É ótima, na verdade.
- Jura?
- Juro. – ele a puxou pela mão. – Vamos, temos que comprar as coisas, senhorita Lily!
Rindo, ela se deixou levar pelo amigo. Compraram as coisas para o piquenique: velas, toalha de mesa, taças, pratos, talheres, comida, bebida e etc... Lily aproveitou para comprar os presentes para os amigos, o pai e a Sra. Phillip.
Ela mesma tinha ido pedir o cartão para o pai. Disse-lhe que precisava de dinheiro para comprar cordas novas para o violino e novas sapatilhas de ballet. Ele liberou uma verba de 500 libras para que ela comprasse tudo. Lily esperava que ele não ficasse muito furioso quando soubesse que ela mentira descaradamente. Mas era por uma boa causa.
Deixar seu pai furioso nunca é uma coisa boa, Lily. Mas você é quem sabe.
Quando acabaram de comprar as coisas, Sirius e Lily caminharam de volta ao estacionamento. Lily olhou o carro com uma pequena dúvida.
- Sirius? – ele a olhou enquanto abria a porta do motorista. Lily entrou ao seu lado. – De onde é o carro? Sobrou dinheiro suficiente da vinda de Liverpool para você comprá-lo ou foi fruto do seu trabalho?
- Nem um, nem outro. Veja bem, o Sr. Potter ganhou esse carro quando era adolescente. Mas o carro quebrou. Bom, o Sr. Potter cresceu, casou, teve dois filhinhos nem tão adoráveis assim e o carro continuou quebrado e fechado na garagem. Quando a família teve dinheiro suficiente, um novo carro foi comprado, mas o Sr. Potter não quis se desfazer do velho. Quando eu apareci em toda a minha magnitude dizendo que queria o carro, James e o Sr. Potter prometeram me dá-lo se eu o consertasse. Como pode ver, eu sou também um ótimo mecânico. Então, dúvida esclarecida?
- Com toda a certeza. Não sabia de tudo isso, Sirius. Você está me saindo um homem de muitas faces.
- Pois é, uma mais bonita que a outra. É isso que me impressiona. – Lily não conseguiu conter uma gargalhada diante da arrogância forçada do amigo. Estava feliz de ter saído com Sirius, para variar um pouco. Ele era um bom amigo e soubera como cativá-la.
Se antes Lily tinha ainda alguma dúvida com relação a Sirius, alguma hesitação, agora estava tudo certo. Ela podia se dizer uma verdadeira amiga dele.
Saíram do centro da cidade e Sirius deixou Lily em casa, como sempre.
- Adeus, cara donzela.
- Adeus, caro prisioneiro.
Rindo, eles se despediram e Lily seguiu para casa. Tinha muito o que fazer, como planejar o seu Natal.
Lily passou o domingo organizando tudo para a noite seguinte, que seria véspera de Natal. Ela foi até o sótão e pegou a árvore e todos os enfeites; limpou e deixou tudo brilhando. Resgatou os velhos gorros de Papai Noel e as velhas meias que eram colocadas na lareira. Deixou tudo à mão para ser arrumado na tarde seguinte.
O banquete já estava todo planejado e os presentes estavam escondidos. Os únicos que seriam colocados na árvore seriam os do Sr. Evans e da Sra. Phillip. Os presentes de Marlene, Sirius e James seriam entregues no dia seguinte.
Dia 24 amanhecera com um sol frio e muita neve. Lily esperava que o dia de Sirius e Marlene fosse perfeito e ficou pensando nos dois amigos com carinho enquanto arrumava a casa. No canto mais iluminado da sala, próximo ao piano, Lily montou a árvore de Natal e a enfeitou com esmero usando as pequenas bolas coloridas, luzes, anjinhos, flores e a grande estrela no topo. Na lareira, ela pendurou as meias e colocou um pratinho de biscoitos fresquinhos e um copo de leite. Aos pés da árvore, ela colocou os presentes. Ajudou a Sra. Phillip a colocar a mesa e quando tudo ficou pronto, ela subiu para se arrumar.
Tomou um banho quente e demorado. Cantarolava animada pensando na noite ótima que teria enquanto colocava o vestido de inverno e calçava as sapatilhas. Penteou os cabelos e colocou o gorro vermelho de Papai Noel sobre a cabeça. Tinha um sorriso radiante no rosto quando desceu de encontro à Sra. Phillip. A governanta pensou que se Lily fosse trinta centímetros mais baixa, passaria facilmente por uma criança ansiosa.
Quando o relógio principal da sala de estar bateu as oito badaladas, Lily e a Sra. Phillip serviram os pratos na mesa de jantar e ficaram a esperar o Sr. Evans ansiosamente. Lily se balançava de um lado para o outro, sentava e levantava, ajeitava o vestido, mexia no gorro... Tudo em vão e ela só conseguia ficar mais nervosa.
Dez minutos mais tarde, elas ouviram o som característico do portão sendo aberto e o carro estacionando na garagem. Lily se levantou e colocou um sorriso brilhante no rosto. A porta se abriu e o Sr. Evans irrompeu pela sala. Estacou ao ver tudo iluminado e decorado.
- O que é isso? – perguntou pausadamente. Lily não viu a veia da têmpora começar a pulsar. Ela correu para o pai e deu um abraço nele.
- Feliz Natal, papai! – ela esperou que ele correspondesse ao abraço, e quando isso não aconteceu, ela o soltou. Pigarreou tentando dissipar o constrangimento. – O que achou?
- Você fez isso, Lily?
- Sim, senhor! Montei e enfeitei a árvore, coloquei as meias na lareira, comprei presente e pedi para Jane fazer um banquete para nós. Até encontrei gorros de Papai Noel para nós dois! O senhor quer o seu agora? – Lily falava como uma metralhadora, sorrindo de forma radiante e abrindo os braços para mostrar o que havia feito. Mas o Sr. Evans mirava a sala em silêncio, com um olhar furioso. A veia em sua têmpora pulsava perigosamente, mas Lily estava tão eufórica que não havia reparado ainda. – Papai?
- Lily Elizabeth Evans, você tem algum distúrbio mental? Alguma doença? – a cada palavra ele ia aumentando o tom de voz. Lily piscou atônita.
- O que? Papai, eu...
- Você o que, Lily?! Quem lhe deu autorização para que você fizesse isso, hã? Ande, diga-me como você me desrespeitou! Ande, Lily! Quem lhe autorizou? Diga-me! – a esta altura o Sr. Evans estava gritando e cada palavra era recebida como uma ferroada por Lily.
- Papai, eu só quis fazer uma surpresa! Há tanto tempo não temos uma ceia de Natal ou sequer uma confraternização. Sinto muito se isso...
- Sente muito? – agora seu tom de voz era baixo como o silvo de uma cobra. A frieza era quase sentida na sala. – Sente muito? Quem a senhorita pensa que é? Eu não preciso de ceia, não preciso de festa, não preciso de confraternização e muito menos presente! – de repente, ele pareceu concluir alguma coisa e seus olhos se estreitaram perigosamente. – As 500 libras foram usadas na compra de presentes? Você mentiu para mim, Lily? Responda! Você mentiu para mim?
- Papai, eu não fiz por mal, por favor! Acredite, eu só quis ter um Natal novamente. Desde que a mamãe se foi que...
- Não mencione sua mãe! Não. Faça. Isso! – ele voltara a gritar e Lily começou a ficar assustada. Enquanto ele falava, ela ia se encolhendo, com medo de que ele a agredisse. Mas isso ele não fez, apenas desviou os olhos dela e disse: - Sra. Phillip!
A velha governanta surgiu na sala, esperando para ser despedida, mas ainda assim havia determinação em seu olhar.
- Sim, senhor Evans.
- Junte toda essa comida e distribua entre os empregados, dê para os pobres, jogue fora, faça qualquer coisa, mas tire isso daqui. – a Sra. Phillip engoliu em seco, sentindo uma raiva seca subir pela garganta, mas nada disse. Assentiu e começou a recolher os pratos em silêncio.
O Sr. Evans voltou seu olhar para Lily. Ela o olhava em uma mudez magoada.
- E você, Lily, vai tirar toda essa parafernália da minha sala. Quero tudo fora daqui! Não quero árvore, não quero meia, não quero gorro, não quero absolutamente nada aqui! Você me entendeu?
Lily chegou a menear a cabeça, concordando, mas algo a interrompeu. De repente, treze anos de reprimendas, tristeza, solidão, medo a engolfaram e uma raiva jamais vista borbulhou ardentemente dentro dela. Seus bonitos olhos verdes brilhavam furiosos.
- Quer saber, pai? Eu não sinto muito! A única coisa que eu consigo sentir agora é raiva! Eu queria lhe fazer uma surpresa! Fiz de coração, com todo o meu amor pelo senhor! Há treze anos eu não sei o que é um carinho, um afago! E eu jamais reclamei! Sempre fui uma boa menina, acatando ordens sem receber um agradecimento sequer! “Faça isso, Lily! Faça aquilo, Lily!” E quando eu tento fazer uma coisa bonita, sincera, sou recebida com sete pedras na mão! Eu queria que minha mãe estivesse aqui! Ela sempre me amou e nunca me considerou um fardo como o senhor parece considerar! E o senhor quer saber? Para mim chega! – ela despejava tudo sem dó, a raiva jorrando por cada poro dela. Enquanto falava, mantinha os olhos cravados no pai. Quando terminou de falar, caminhou até a árvore e pegou um embrulho grande; parecia um quadro. Lily parou de frente para o pai novamente e empurrou o presente com força contra o peito dele. – Feliz Natal, papai!
O peito de Lily subia e descia freneticamente e a adrenalina pulsava dentro dela. Nunca tinha levantado a voz para o pai e muito menos o desafiado. Sabia que estava encrencada, mas no fundo não ligava a mínima. Continuava furiosa e demonstrava isso ao fitar o pai.
- Arrume tudo. – foi o que ele disse após a explosão da filha. Deu-lhe as costas, apagou as luzes da sala e subiu as escadas, largando-a sozinha na escuridão.
Lily tateou no escuro e se jogou no sofá. Logo os soluços se tornaram audíveis, frenéticos e desesperados.
Pela primeira vez em treze anos, a menina Lily voltava a chorar.
Era um choro sentido, magoado e triste. Mas era também um choro raivoso e feroz. Ela sentia tudo ao mesmo tempo e sua garganta queimava. Enxugou as lágrimas com força e jurou jamais chorar por seu pai novamente. Aquela seria a última vez.
Caminhou até o telefone e discou um número que decorara dias antes.
- James? – o choro voltou quando ouviu a voz dele do outro lado.
- Lily, o que houve? Está tudo bem?
- Acho que eu preciso de um resgate. – um soluço escapou e James pediu que ela se acalmasse. – Por favor, venha me buscar.
- Estarei aí em dez minutos. Fique calma, ok? Eu te amo.
- Vou te esperar. Também amo você. – eles desligaram. Lily suspirou e conteve o choro; sabia que voltaria a chorar quando visse o namorado, mas tentaria não sucumbir. Avisou à Sra. Phillip que ia sair e que não era para esperá-la.
Até parece que Jane Phillip ia pregar os olhos enquanto Lily estivesse fora.
Lily só teve tempo de pegar um casaco e o presente de James, porque, conforme o prometido, dez minutos depois do telefonema ele estava parado na frente da mansão, encostado no carro do pai. Lily atravessou correndo os jardins e se atirou nos braços do namorado. Sentiu-se segura quando ele a envolveu num abraço; as lágrimas subiram aos olhos novamente, mas não deixou que elas caíssem. Ficaram cerca de meio minuto abraçados, até que James a afastou.
- Entre no carro, Lily. – ele abriu a porta do carona e ela entrou, apertando o casaco contra o corpo. Ele entrou ao lado dela e deu a partida. – Agora me conte o que aconteceu.
E Lily contou. Desabafou tudo o que estava entalado. Contou como havia planejado o jantar e como havia arrumado a casa. Contou como pai ficara furioso e como ela o enfrentou pela primeira vez. Nessa parte, James contribuiu com um “Essa é minha garota”. Lily chegou ao fim da narração no momento em que James estacionava o carro na garagem de sua casa.
Era uma residência bonita. Dois andares e de aparência aconchegante. Era feita de tijolos. James deu a mão à Lily e os dois adentraram o lugar. Lily deu um suspiro. Aquela casa tinha cheiro de lar.
O Sr. Potter saiu da sala de jantar acompanhado de Liam. O patriarca vinha de braços abertos.
- Senhorita Lily! Como vai? – ele a envolveu num abraço nada contido. Descobriu de onde James puxara tanto carinho.
- Boa noite, Sr. Potter. Desculpe atrapalhar sua noite de Natal.
- Não atrapalha em nada, minha querida. Qualquer convidado de James é bem vindo, principalmente se for a namorada dele! – Lily sentiu as bochechas arderem, mas sorriu mesmo assim.
- Oi, Lily! – cumprimentou Liam, estendendo a mão para ela, que a sacudiu simpaticamente. Liam sorriu e completou, mais para si mesmo do que para os outros: - Cara, preciso arranjar uma namorada bonita assim também... – o Sr. Potter e James explodiram numa gargalhada e Lily apenas escondeu o rosto nas mãos.
Estava morta de vergonha, mas já se sentia infinitamente mais feliz ali do que na mansão. O Sr. Potter era gentil e carismático, com seus cabelos negros com algumas mechas brancas e seus olhos castanhos calorosos; Liam era a cópia fiel de James, a diferenciar pela altura – Liam era alguns centímetros mais alto que o primogênito -, e até o jeito de falar era parecido. Lily se deu conta que só moravam os três ali. James era órfão de mãe como ela? Ficou receosa de perguntar e preferiu pular essa parte, a não ser que o assunto surgisse.
Como ainda era relativamente cedo, o jantar ainda não tinha sido servido. James e Lily se sentaram lado a lado, e Liam se sentou de frente para os dois. O Sr. Potter colocou os pratos de comida na mesa e negou veementemente a ajuda que Lily ofereceu, e depois ele se sentou à cabeceira, como um bom chefe de família.
De repente, eles deram as mãos e Lily os imitou, sem saber muito bem que fazer. Não fizeram nenhuma reza, ou mencionaram nomes religiosos. Lily percebeu que eles só faziam menção à uma única pessoa: a esposa do Sr. Potter e a mãe dos meninos.
É, então eles partilhavam essa mesma dor. Uma coincidência meio mórbida, mas o que fazer?
Soltaram as mãos e ficaram em um silêncio confortável por alguns segundos. O Sr. Potter foi o primeiro a falar.
- Desculpe-nos por isso, Lily. – ela ergueu os olhos para o sogro sem entender. – Nas noites de Natal, nós costumamos pedir proteção à minha falecida esposa. Aposto que isso pegou você de surpresa.
- Nem tanto. – ela respondeu com um sorriso solidário. – Meu pai também é viúvo; minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos.
- Que coincidência estranha, não é mesmo? – falou o senhor. Percebeu que James e Liam estavam calados e constatou a que a ferida era recente. Com uma pontada de tristeza, lembrou que Sirius era órfão de pai. Só Marlene tinha ambos os pais.
Definitivamente, eles formavam um grupo interessante.
James foi o primeiro a mudar de assunto; mais tarde ele explicaria a história à Lily. Apreciaram a ceia de forma agradável, conversando sobre coisas amenas e se divertindo. Lily nunca comera tão bem, sem ninguém para vigiar o quanto colocava no prato ou dizer que ela estava gorda.
Ela se sentia bem vinda de verdade e pela primeira vez soube o que era estar em família. Lily nunca se sentira tão bem desde a morte da mãe.
Quando acabaram de jantar, sentaram-se nas poltronas que rodeavam a lareira da sala de estar e se juntaram para os presentes sob a bela árvore de Natal. Lily se sentiu envergonhada por só ter levado um presente para James e prometeu comprar um para Liam e outro para o Sr. Potter, mesmo após eles afirmarem que não era preciso; dessa vez, ela fincou o pé e disse que lhes daria presentes, sim. Acabaram por entrar num acordo.
James e Lily trocaram os presentes por último. Ambos seguravam embrulhos retangulares nas mãos.
- Você se lembra do dia do parque de diversões? – ele perguntou. Como ela poderia esquecer? Havia sido o dia mais mágico da vida dela. Lily assentiu. – Naquele dia, eu tirei uma foto sua, sem que você visse. – ela arregalou os olhos e ele riu. – Relaxe. Então, aquela foto foi o que me deu a idéia para o seu presente. Abra. – ele entregou o embrulho e ela o rasgou com cuidado.
Era um álbum de fotografias. A capa era de couro vermelho e tinha seu nome pintado em letras floreadas e douradas. A primeira foto do álbum era a do parque, que James tirara enquanto ela comia o algodão doce. Na seqüencia havia fotos dos quatro em diversas situações: na cabine de fotos do parque, na rua no meio da neve, na sorveteria... Lily olhava as fotografias e o coração palpitou no peito. Amara de verdade o presente e era o melhor que podia receber de James, a quem agradecia por tudo. O álbum era uma lembrança da gratidão eterna que teria por ele.
Lily colocou a álbum no colo e estendeu o outro embrulho para James, sorrindo envergonhada.
- Acho que nós pensamos parecido. Não é um álbum de fotos, mas... você lembra quando estávamos passeando no Hyde Park semana passada e tiramos uma foto com um desses fotógrafos de rua? – James assentiu rindo. Lembrava-se bem do dia: estavam caminhando pela grama coberta de neve quando o homem os abordou e disse que eles eram um dos casais mais bonitos que ele já vira e pediu para tirar uma foto dos dois. James deixou que Lily ficasse com a foto, porque poderia ser a única foto dos dois que ela teria. – Eu mesma fiz, então se você não gostar...
- Fique quieta, Lily! – riu ele, puxando o presente das mãos dela. Lily riu e acatou a ordem, fingindo passar um zíper pelos lábios. James rasgou o embrulho e arfou quando viu o que era.
Era uma pintura. Lily transformara a foto dos dois numa pintura. Lá estavam eles, no meio do Hyde Park, sob uma árvore que tinha seus galhos cobertos de neve. Lily estava com o corpo inclinado para trás e James a segurava pela cintura, ambos olhando nos olhos do outro. James pôde ver os sorrisos borrados de tinta que apareciam na tela. Como tudo o que Lily fazia, aquele quadro era lindo, com sua moldura prateada.
- Uau! – foi só o que ele disse e Lily interpretou como um elogio. O quadro passou às mãos de Liam e depois do Sr. Potter.
- Você é muito talentosa, Lily! – disse o sogro, olhando com minúcia para a pintura.
- Depois você me ensina a desenhar, Lily? – perguntou Liam, olhando ansioso para a cunhada.
- Ensino, Liam. Obrigada pelos elogios. Então você gostou? – o último trecho ela disse para James, que respondeu com um beijo singelo na boca dela. Eles sorriram um para o outro.
Tão lindos e apaixonados!
O relógio anunciou as doze badaladas. Lily não se importou em estar fora de casa à meia-noite e apenas se aconchegou a James no sofá. A madrugada de 25 de dezembro acabara de começar.
Agora seria tudo diferente, pensou Lily. Não havia mais volta, mas ela não queria voltar. Daquele jeito estava bom para ela, estava mais que certo. Apesar do início desastroso, aquele Natal estava saindo melhor do que a encomenda. Lily deu um sorriso caloroso para James.
- Feliz Natal, James. – disse ela.
- Feliz Natal, amor.
É, Feliz Natal, Lily.
----------------------------------------------------------------------------------
N/A: Ooooi, bonitões! Finalmente capítulo 5 postado! Espero que gostem, porque eu gostei bastante de escrevê-lo, apesar de achar que em termos de escrita ele não esteja lá essas coisas. Mas mesmo assim, eu me amarrei nele.
O que acharam da história do Sirius? Ele é um tudinho, né? Como não amá-lo? HAHAHAHA
E a Lily mandando ver com o Sr. Evans, botando moral meeesmo! Sou muito fã dessa menina, HAHAHAHAHA! O James é outro delícia. E o Liam e o Sr. Potter? Uns fofos! É, eu amei o capítulo!
Comentem, seus lindos!
Amo vocês (L)
Beijos,
Liv
Comentários (1)
Nunca tinha chorado tanto lendo um capitulo assim , serio eu me acabei aqui. Fiquei morta de raiva do pai da Lily, poxa a garota dá o melhor de si o tempo todo, nunca responde a ele, e ele ainda faz tudo que faz. Nossa se fosse eu teria pirado no começo, mas ela foi bem forte! Nossa, acho que considero o melhor capitulo da fanfic, até agora é claro. Muito bom flr *-*beijoooos!
2012-07-23