Capitulo 3



O ruído brusco dos freios a trouxe de volta à realidade. Draco sempre fora apressado para dirigir e, pelo jeito, não havia mu­dado nada.


 


— Contei a Gina sobre nosso novo diretor — Draco disse a Paul, e depois virou-se para ela novamente: — Ao contrário de mim, Paul gosta de trabalhar sob a direção de Harry. E ele não é o único. Sarah Frey, que vai ser a doce e inocente Berengária, também adorou a mudança. Aliás, Harry também a aceitou com muita calma. Na verdade, não tinha outro jeito, pois Sarah é protegida de um dos maiores produtores do filme!


 


— Sim, mas Harry consegue mantê-la sempre a distância — Paul comentou. — Sem ofendê-la, é claro.


 


— E verdade — Draco concordou —, é muito simples de en­tender. Harry sempre foi bom em jogo duplo, não é mesmo, Gina? —  Ele riu com gosto. — Você vai ser a maior surpresa para ele!


 


          — Aliás, uma linda surpresa — Paul acrescentou. — Talvez não saiba, Gina, mas a princípio havia outra atriz escalada para ser Joana, Rachel Ware. E, como a responsável pelo elenco saiu, não é o seu nome que está na lista, mas o de Rachel. Harry não sabe que você a substituirá.


 


— Pode imaginar a surpresa que ele vai ter, queridinha? — Draco piscou o olho.


 


Gina sentiu o coração apertado. Nunca lhe falaram que uma outra atriz tivesse sido convidada para o papel.


 


— Não fique preocupada, Gina — Paul continuou —, Harry não vai recusá-la. Ele é ótimo diretor e sabe conseguir exatamente o que quer dos atores. Além disso...


 


— Não precisa explicar, Paul. Gina conhece Harry. Trabalha­mos com ele em Shakespeare. — Draco agora se dirigiu a Gina: — Vai desculpar nosso novo amigo, mas ele é novato no meio e não sabe de muita coisa.


 


— Isso é verdade. Eu era um simples contador que namorava uma modelo. Ela me conseguiu uma ponta num anúncio de televisão e, de repente, me vi trabalhando no cinema.


 


A mente de Gina funcionava rápido. Que bom! Paul não devia saber nada sobre seu casamento com Harry. Lógico, isso acontecera há mais de três anos, e na Inglaterra. Tomara que ninguém mais soubesse. Ficaria mais à vontade. Caso contrário, não ià ser fácil atuar sob a direção do marido, com todo mundo olhando para ela!


 


— Ainda falta muito? — Gina estava tensa e suas costas doíam.


 


Tinha a impressão de que andavam há horas, naquela es­trada escura.


 


— Mais uns dez quilômetros — Paul respondeu.


 


— Se Guy não fosse tão perfeccionista, poderíamos estar fil­mando no deserto da Califórnia e aproveitando as facilidades do estúdio — Draco comentou com amargura.


 


Gina podia entender o comentário. Afinal, Hollywood tinha se tornado um lar para Draco e ele estava acostumado aos luxos dos grandes estúdios. Mas ela achava mais emocionante filmar num cenário autêntico.


 


— Bem... chegamos — Draco anunciou, quinze minutos mais tarde, quando saiu da estrada principal para pegar uma outra secundária e empoeirada.


 


À sua frente, Gina viu luzes acesas. Notou que havia vários trailers alinhados. Passaram por um portão, onde um guarda veio recebê-los. Ele olhou com desconfiança para Gina, mas, ao reconhecer Draco, deixou-os entrar.


 


Paul desceu do carro, despediu-se e se afastou.


 


— Ai, que raiva desse guarda! — Gina falou. — Parece que ele achou que você me pegou em algum lugar apenas para ter companhia durante a noite.


 


— Então deve ter morrido de inveja! — Draco estacionou ao lado de um dos trailers. — Temos um outro problema para re­solver, Gina. — Não há acomodação para todos ainda. A esta hora da noite, então, é quase impossível encontrar um lugar para você. Se importa de ficar em meu trailer? Tenho uma cama vazia.


 


Gina ficou surpresa, mas acabou concordando. Não ia acor­dar todo mundo só por causa de um fim de noite. Já passava das duas da manhã e seu corpo pedia uma boa cama. Não fazia questão de dividir um quarto com alguém, mas esperava que fosse com outra moça. Porém, não havendo outro jeito, ia ficar por ali mesmo.


 


— Na verdade, você deveria dividir um trailer com Sarah.  Draco abriu a porta e eles entraram. — Mas ela fez uma briga danada, dizendo que queria dormir sozinha. Não quer ninguém no seu trailer, ninguém... a não ser, claro, o nosso diretor. Mas Harry não está topando... pelo menos abertamente. Ele já tem muitos problemas para resolver e provavelmente não quer criar caso com um dos banqueiros que estão financiando o filme. E, claro que Harry poderia desistir desse trabalho, mas como seu último filme não foi exatamente um sucesso de bilheteria...


 


— Ganhou o prêmio de melhor filme! — ela replicou, depres­sa.


 


— Sei disso, queridinha, mas, na minha opinião, Harry deu o passo maior que a perna. Gastou muito naquele filme e vai levar anos para recuperar o dinheiro. — Já dentro do trailer, Draco foi até um armário, na pequena cozinha. — Quer tomar algo, antes de deitar?


 


— Obrigada, mas vou direto para a cama. Estou muito can­sada. Não atrapalho você, ficando aqui hoje?


 


— Claro que não. — Draco parecia impaciente. Levou-a para o fundo do trailer, passando por uma minicozinha bem equi­pada. — Guy pensou em tudo, colocou ar-condicionado nos trailers, mandou construir uma piscina lá fora e fez o possível para que tivéssemos conforto. Agora não sei se vamos conseguir des­cansar, sendo dirigidos por Harry. Ele é um verdadeiro feitor de escravos!


 


Gina conhecia a velha competição entre os dois homens, mas agora a coisa parecia ter piorado muito. Sua suspeita se confirmou quando Draco acrescentou:


 


— Harry mudou muito, desde que filmamos Shakespeare. Acho que nunca se conformou com aquela derrota. Mas não vou per­mitir que a magoe, Gina. Conte comigo para qualquer coisa!


 


Gina estava tremendo, quando foi para a cama. Nem abriu as malas, pois ficaria ali por pouco tempo. Pegou apenas uma camisola e, depois de uma ducha no minúsculo banheiro, foi deitar.


 


Não devia ficar nervosa só porque ia trabalhar de novo com Harry. Ele tinha que esquecer o passado, assim como ela. Não havia dito na noite do casamento que nunca mais queria vê-la? Era uma pena que Harry não tivesse concordado com o divórcio! Será que ele achava que ela ia querer se aproveitar do fato de ele ser rico? Como Harry a conhecia mal! Não queria um centavo dele, queria apenas que lhe desse a liberdade!


 


Gina suspirou. Ainda lembrava da voz calma de seu advo­gado dizendo-lhe que Harry não havia concordado com o divórcio.


 


— Por que tanta pressa, Gina? Está querendo casar nova­mente?


 


Gina negara com um gesto da cabeça.


 


— Então tenha paciência. A lei é sábia, dá um tempo aos casais para que eles tenham a chance de superar seus problemas.


 


Gina sentiu o coração apertado. De que adiantava pensar nisso agora? Tinha sido uma loucura se apaixonar por Harry. Não bastava ter sofrido com a sedução e o casamento? Aquele idiota não havia matado o resto de paixão que ainda sentia? Então por que essa apreensão agora?


 


Estava cansada demais para encontrar respostas às suas per­guntas. Cobriu-se e num instante adormeceu profundamente.


 


Abriu os olhos devagar e então se deu conta de onde estava. Sentou na cama e olhou para o relógio. Pouco mais de sete horas! Provavelmente, as filmagens já haviam começado.


 


Vestiu rapidamente um jeans e uma camisa xadrez. Escovou os cabelos e prendeu-os num rabo-de-cavalo. A primeira coisa a fazer era procurar o assistente de Harry e saber quando devia se apresentar.


 


Felizmente, tinha aproveitado as últimas semanas para es­tudar bem seu papel. Ou será que já haviam mudado alguma coisa? O autor estaria presente às filmagens? Já que ele era também o roteirista, não era impossível que quisesse acompa­nhar de perto o trabalho.


 


Gina sentiu um tremor de ansiedade. Fora escolhida para fazer um papel num filme que tinha tudo para se tornar cam­peão de bilheteria! Que sorte, isso surgir numa época em que precisava tanto! Sem se falar que havia adorado a história! O autor pusera tanto de si no roteiro que já o admirava anteci­padamente, devia ser alguém capaz de sentir emoções profun­das, alguém leal e cheio de respeito próprio, uma pessoa real­mente admirável.


 


Assim que ficou pronta, foi para a salinha do trailer. Não viu sinal de Draco. Ou ele estava dormindo ou já tinha saído para trabalhar. Ficou com vontade de tomar um café e pôs água no fogo. Abriu a porta para deixar o sol entrar.


 


O dia estava lindo, o céu muito azul, ideal para filmagens ao ar livre. Talvez, mais tarde, o calor se tornasse insuportável, mas àquela hora a temperatura era perfeita. Enquanto espe­rava a água ferver, encostou-se na porta, deixando que o sol lhe esquentasse o rosto e os braços. Fechou os olhos, para abri-los logo depois, sentindo que alguém se interpunha entre ela e a luz do sol.


 


Ao ver quem era, seu corpo começou a tremer e o coração a bater mais rápido. Harry Potter, seu marido, estava ali. O diretor e produtor do filme, a pessoa mais importante daquele lugar...


 


Harry a olhava com o rosto contraído pelo choque. Tinha cabelos escuros, como o anoitecer, o perfil bem defi­nido, olhos verdes, escuros e profundos, expressão séria, o quei­xo quadrado, revelando determinação.


 


Como sempre acontecia quando estava diante de Harry, Gina sentiu-se frágil e vulnerável. O olhar dele parecia penetrar até as profundezas de sua alma, como se pudesse ler tudo o que nela se passasse. Tentou se controlar, lembrando que Draco ha­via dito que Harry não sabia que ela estava no elenco. Isso lhe deu mais coragem e Gina desceu o degrau e levantou o queixo, com determinação.


 


Seu coração bateu ainda mais forte. Tinha se esquecido de como ele era alto! Reuniu todas as suas forças para esconder as emoções e encarou-o nos olhos.


 


Se Harry não esperava vê-la, já tinha se recuperado da surpresa. Seu rosto estava totalmente inexpressivo, a não ser pelo desprezo que mostrava. Gina notou que várias pessoas passa­vam por ali e olhavam para eles com curiosidade.


 


Por um segundo, ela ficou com medo de que ele não permitisse sua participação no filme, mas lembrou que tinha um contrato assinado. Nossa, ela precisava demais daquele emprego e...


 


Nesse instante, Gina sentiu o braço protetor de Draco em volta de sua cintura. Não sabia que ele estava por ali, mas sorriu feliz, sentindo-se mais segura. Paul também estava com ele.


 


— Bom dia, Harry — Draco falou com um sorriso. — Veio dizer alô à sua ex-esposa?


 


Gina viu os olhos de Harry escurecerem, seu rosto se trans­formar em pedra. Que loucura, Draco desafiá-lo daquele jeito! Por que não tinha ficado quieto?


 


—  Minha ex-mulher? — Harry murmurou calmamente, com ironia. Estendeu a mão e segurou o braço de Gina, puxando-a até que ela quase caísse em seus braços. — Quer dizer que ainda não contou a eles, querida?


 


Harry falou junto do ouvido dela, fazendo-a tremer ainda mais. Estava tão apertada nos braços do marido que mal podia respirar.


 


A situação era terrível, Draco a olhava, querendo entender o que estava acontecendo. Harry a abraçava com força e ela, muda, sem ação, ouvia apenas o bater descontrolado do próprio coração.


 


— O que é que Gina ainda não me disse? — Draco quis saber.


 


— Que, na verdade, ela nunca foi minha ex-esposa. — Harry usou todo seu talento de ator para causar impacto. — Você poderia ter contado a Draco, querida. — Harry inclinou a cabeça e roçou os cabelos dela com seus lábios, alcançando o rosto ma­cio, as orelhas delicadas. — Sei que lhe pedi para não falar sobre isso por enquanto, mas, já que aceitei esse trabalho só para ficar perto de você, não podemos continuar mantendo nos­so relacionamento em segredo, não acha?


 


Surpresa demais para responder qualquer coisa, Gina evi­tou o olhar estupefato de Draco. Não podia desmentir Harry, seria muito humilhante para ele e, afinal, ele não dissera nenhuma mentira: ela ainda era sua esposa. A única coisa que fez foi se soltar de Harry, mas se viu livre por pouco tempo. Logo ele a prendia outra vez, apertando-a de tal maneira que seus seios se colavam ao peito dele. Sentiu-lhe o perfume fresco da loção pós-barba e quase ficou sem fôlego. Por que ele tinha que afetá-la tanto?


 


— Para aqueles que ainda não sabem — Harry falou em voz alta para ser ouvido por todos que estavam perto — Gina e eu estivemos separados durante os últimos anos, mas agora estamos juntos novamente. Minha única tristeza é não poder viver o papel de seu amado no filme que estamos rodando. As­sim, teria a oportunidade de demonstrar meu amor para todos os que quisessem participar de nossa felicidade.


 


A pequena multidão riu descontraída. Somente Draco e Gina permaneceram quietos. Ela não podia acreditar que aquilo es­tivesse acontecendo! Por que Harry estava agindo assim?


 


— Não sabia que ia chegar ontem à noite, querida — Harry disse, depois, dirigindo-se a Gina. — Deveria ter me avisado. Mas o que importa é que finalmente está aqui. Vou pedir a alguém que leve suas coisas para meu trailer. — Harry agora olhava para Draco. — Obrigado por ter cuidado dela, amigo. Até parece que voltamos aos velhos tempos, hein?


 


Gina percebeu imediatamente o que havia nas entrelinhas daquele comentário. Ironicamente, ele voltava a encontrá-la com Draco. Mas... por que então ele ainda insistia? Por que não lhe dera o divórcio, resolvendo o caso de uma vez para sempre? Ele não a queria! Tinha dito com todas as letras que ela devia ficar com Draco! Ainda podia recordar a crueldade de suas palavras. Por que, afinal, se incomodava com uma mulher que tinha re­presentado apenas o prêmio para uma aposta?


 


O grupo de pessoas que tinha se reunido junto ao trailer começou a se dissolver. Entre artistas, as brigas e reconciliações são tão frequentes que acabam sendo encaradas como inciden­tes sem importância.


 


—  Me solte! — Gina conseguiu finalmente falar, sem se preocupar em esconder a raiva que sentia.


 


Draco novamente se aproximou do casal.


 


— Gina, se...


 


— Não se preocupe conosco, Draco — Harry o interrompeu. — Como já disse, vou mandar alguém pegar as coisas de minha mulher. Você vai começar as filmagens em meia hora. Já não devia estar no setor de maquiagem?


 


Draco compreendeu que estava recebendo uma ordem e não teve outra alternativa senão sair dali. Harry continuou mantendo Gina em seus braços até o rapaz sumir de vista. Ela não con­seguiu esconder sua indignação:


 


— Agora que estamos sozinhos, não quer me explicar por que passou a noite no trailer de Draco? Ou acha que posso adi­vinhar facilmente?


 


—  Se vai julgar meu comportamento e o de Draco por seus próprios padrões, ficará muito longe da verdade. — Se pudesse, sairia dali correndo, para se livrar da presença perturbadora do marido. Mas ele era o diretor do filme e ela precisava do papel de Joana. — A propósito, por que disse para todos que nos reconciliamos?


 


—  Vamos trabalhar juntos, Gina, e quero que este filme seja um sucesso. Não vou permitir que a equipe técnica ou os atores se distraiam com fofocas. Eles têm um duro trabalho a realizar.


 


— Mas ninguém sequer sabia que éramos casados!


 


— Sim, eu sei, e poderíamos ter mantido o segredo. Só que gostaria que se lembrasse... de quem se encarregou de espalhar a notícia...


 


Gina o encarou, procurando entender o que ele queria dizer, até que se lembrou de Draco falando alto, para todos ouvirem, que ela era a ex-esposa de Harry.


 


— Ora, ninguém ia ligar para o que Draco disse. Todos sabem que é um eterno brincalhão.


 


— Agora não adianta lamentar, Gina. O mal já está feito. Tenho problemas suficientes para que você e Draco fiquem ar­ranjando outros. Sinceramente, preferia que não estivesse aqui, mas, já que está, a única opção que tenho é mantê-la sob meu controle. — Harry se afastou como se tivesse dito tudo o que precisava, mas depois tornou a se virar para ela. — Gina... —


 


Havia ameaça em sua voz gélida, — Qualquer tentativa de sua parte de recomeçar seu romance com Draco significará outra atriz para interpretar Joana. Pouco me importa se assinou um contrato ou não. Entendeu bem?


 


Por um instante, ela sentiu uma vontade de jogar tudo para o alto e fugir dali, mas se conteve. Queria aquela participação no filme. Queria e precisava dela. Desde a primeira vez que lera o roteiro, soubera que era a pessoa certa para viver Joana. Tinha certeza de que o filme seria um sucesso, não só pela superioridade do roteiro, como também pela direção de Harry. O melhor era reprimir sua raiva.


 


— Não quero dividir o trailer com você — ela ainda disse, para não admitir que tinha entregado os pontos.


 


— Também não me animo nada com a idéia, mas não temos nenhum outro lugar para acomodá-la.


 


— Então fico sem cama, só porque Sarah insiste em perma­necer sozinha? Por que você não divide as acomodações com ela e me entrega o trailer onde está? — Gina usou toda sua ironia. — Seria uma ótima maneira de manter suas duas atrizes prin­cipais felizes.


 


— Pelo visto, Draco andou fofocando mais do que devia! Gina reparou que ele ficara mais corado, os olhos apertados.


 


De alguma maneira, seu comentário o tinha atingido. Harry seria tão imune a Sarah como fazia crer?


 


— Lembre-se de que, desta vez, você e Draco estão vivendo papéis bem diferentes. São irmãos, e não amantes. E se há algum culpado por ter que dividir o trailer comigo, esta pessoa é Draco. — Olhou para o relógio. — Preciso estar nas filmagens em dez minutos. Vá para meu trailer, que fica no extremo do acampamento. É fácil encontrá-lo. É o único marrom e creme. — Chegou mais perto dela, pressionando-a contra a porta. — A propósito, por que mudou o horário de seu vôo? Tinha a in­tenção de ir buscá-la.


 


— Tinha mesmo? Mas...


 


Gina ficou confusa com as idéias que se passaram em sua mente. Uma delas era que Draco estava enganado: Harry sabia que ela fazia parte do elenco, para viver o papel de Joana. A outra era que alguém, deliberadamente, o tinha informado er­rado acerca do horário de seu vôo, porque ela não tinha mudado nada!


 


— Mas... — ele repetiu para encorajá-la — você e Draco pen­saram que iam causar um impacto maior se fossem vistos jun­tos, não é? Talvez tenha sido uma boa idéia, Gina, mas não acabou muito bem, concorda?


 


—  Só porque você mentiu, dizendo que tínhamos feito as pazes — ela respondeu com frieza, sem se importar com a acu­sação que ele lhe tinha lançado. — Reconciliação! Só pode ser brincadeira! Para começar, nunca quis casar comigo!


 


—  Pois está enganada! Eu quis. E por isso estou pagando um alto preço! Só que você também está, Gina. E pode ter certeza de que, desta vez, não vou permitir que você e Draco se divirtam às minhas custas!


 


Harry girou nos calcanhares e foi embora antes que ela pudesse responder. Gina o observou até ele sumir no meio da poeira que o vento levantava. Tinha notado poucas mudanças em Draco, durante esse período em que não o vira, mas em Harry... muita coisa estava diferente!


 


Como Southampton, ele tinha sido um ator excepcional, des­truindo corações femininos com sua figura atraente e insinuan­te, deixando a plateia feminina apaixonada. Harry tinha trinta anos, naquela ocasião. Agora estava com quase trinta e quatro. Estava mais severo, o rosto parecendo moldado em ferro. Mas continuava bonito e sensual como sempre. E, como todas as mulheres, ela não era imune a essas qualidades.


 


Agora, quando estivera novamente nos braços dele, relem­brara o que havia acontecido no passado. Fora dominada pela mesma paixão que alimentara por Harry há quase quatro anos. Ainda podia sentir o fogo do desejo queimando seu sangue, o estranho frio no estômago, a cabeça nas nuvens, a sensação do contato delicioso de sua pele com a dele...


 


Gina sacudiu a cabeça. Precisava afastar essas lembranças que a faziam sonhar acordada. Na verdade, agora, sentia-se fraca e desorientada. Suspirou fundo, lamentando o momento em que Guy Holland tivera que deixar a direção desse filme.


 


E se rescindisse o contrato? Era uma maneira de se livrar de Harry. Mas, afinal, ia agir como Mary Fitton, diante de Southampton? Ia se esconder como um coelhinho assustado? Se era adulta e madura, tinha que ter capacidade de enfrentar Harry. Era isso que ia fazer. Ficar e mostrar sua personalidade! Antes que mudasse de idéia, se afastou, caminhando para o lugar que Harry havia indicado.


 


Primeiro passou pelos trailers que abrigavam o pessoal dos serviços administrativos. Falou com uma das moças, uma mo­rena gorduchinha, que lhe mostrou a escala dos trabalhos.


 


— Aqui está seu horário, mas, naturalmente, poderá haver alterações diárias, Gina. Todos os dias, de manhã, eles serão afixados no painel, lá fora. Mas é claro que, se tiver qualquer dúvida, você poderá resolvê-la pessoalmente com o chefão, à noite. — A moça riu maliciosamente, evidentemente sem querer ofender, mas apenas para brincar.


 


Gina também sorriu. E só então a moça estendeu a mão para ela.


 


— Desculpe, esqueci de me apresentar. Sou Lois e trabalho aqui com mais três garotas, Anne, Helen e Sue. Ainda bem que você é boa gente! Depois de todos os problemas que tivemos com "madame" Sarah, já estávamos preocupadíssimas com você. Depois da notícia-surpresa desta manhã, então... Ninguém ima­ginava que o chefão fosse casado, e muito menos que a esposa fosse uma das atrizes principais.


 


— Ficamos separados durante algum tempo — Gina expli­cou, sem vontade de entrar em maiores detalhes.


 


— Não pode imaginar como a invejamos — Lois confessou —, mas o melhor de tudo vai ser olhar para a cara de Sarah! Ela resolveu que o chefão era sua propriedade particular, em­bora ele se esforçasse por se livrar dela. Imagino como ele está feliz, porque, com você aqui, agora, Sarah vai ter que se controlar um pouco. E isso é bom para todos, já pensou se ela conseguisse alguma coisa com Harry e o amante dela ficasse sabendo do caso? Nossa! Ele é um dos banqueiros que mais está pondo dinheiro nessa produção...


 


— Eu sabia que vários banqueiros estão financiando a produção do filme, mas não que o amante de Sarah era um deles. — Gina se fingiu de inocente para ver se ficava sabendo de maiores detalhes,.


 


— Ele é simplesmente o maior. Guy lutou como um louco para conseguir o dinheiro e ficamos superfelizes quando soube­mos que estava tudo acertado. Depois, para melhorar, Harry re­solveu aceitar a direção. Foi muita sorte nossa!


 


Era muito raro uma equipe de filmagem gostar de um diretor. Sempre se colocavam contra o "ditador de ordens". Se com Harry era diferente, ele devia realmente ser muito bom.


 


Gina ainda conversou mais um pouco com Lois e depois se despediu seguindo para o trailer de Harry. Era maior que o de Draco e ficava afastado dos demais. Privilégios do poder, Gina pensou, perguntando-se por que Harry tinha preferido aquele iso­lamento. Seria para que Sarah pudesse visitá-lo, sem ser vista?


 


Era tolice pensar nisso, já que acabara de ouvir Lois falando sobre o desinteresse dele pela atriz. E... mesmo que fosse ver­dade, que diferença fazia para ela?


 


Entrou e olhou ao redor. Na mesa havia uma pilha de papéis e uma máquina de escrever. Estranhou aquilo. Para que havia na administração tantas máquinas de escrever supermodernas e secretárias que se encarregavam de todos os serviços de es­critório? Não fazia sentido. Mas Harry não era a própria encar­nação de um enigma?


 


Gina seguiu pelo pequeno corredor, passando pela cozinha, tão bem equipada como a de Draco. Pregado à cozinha ficava o banheiro, mais confortável que o do outro trailer. Gina con­cluiu que provavelmente Harry tinha escolhido para ele o quarto que ficava pregado ao banheiro. Então ficou com o de trás.


 


Como suas malas ainda não estavam lá, resolveu preparar um café. Afinal, não tinha posto nada no estômago desde de manhã. Foi para a cozinha e, enquanto ligava a cafeteira elétrica, olhou para o papel com sua escala de trabalho. Suas cenas só seriam filmadas no fim de semana. No entanto, já tinha hora marcada com a figurinista no dia seguinte de manhã. Então, nas próximas horas podia dedicar seu tempo a ver os cenários e dar uma volta pelo local.


 


Gina se serviu de café e torrada com manteiga. Depois foi para fora para se familiarizar com o lugar que durante os pró­ximos dois ou três meses seria seu lar.


 


O que lhe reservava aquela região árida, cheia de cenários, trailers e gente?


 


 


 


 


Continua...


 


 


 


 


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