Capitulo 1



Gina tentava se equilibrar na escada e ao mesmo tempo se livrar de um pedaço de papel de parede que se grudara em suas mãos quando ouviu a campanhia tocar. Impaciente, libertou-se do papel e desceu as escadas para atender à porta. Estava muito cansada, pois havia trabalhado o dia todo revestindo a parede do quarto.


Quando, há alguns anos, tinha comprado sua casa no lado leste de Londres, a região era bem pobre e havia pago muito pouco pela propriedade. Agora, tudo havia mudado.


Aquela zona da cidade fora ocupada por famílias ricas, o que provocara grande valorização da área.


Gina já não tinha mais paciência com seus vizinhos Raul e Janice. Eles formavam um casal jovem, mas enquanto Raul estava trabalhando, Janice ficava de casa em casa atrás de conversa.


"Justamente agora que estou quase terminando meu serviço", ela pensou, com preguiça de conversar com a vizinha.


Gina trabalhava como ilustradora de revistas e livros infantis. Achava difíci concentra-se no trabalho durante o dia, pois havia Robbie que, apesar de frequentar a escola, quando estava em casa era irriquieto demais para deixa-la produzir alguma coisa. Desde que começara a trabalhar, ela o fazia à noite. Era a hora em que Robbie dormia, e Gina não precisava se preocupar em controlar as brincadeiras e travessuras próprias de um garoto de cinco anos. Aproveitava as tardes, para arrumar sua casa, como estava fazendo naquele momento.                                                               


 


A campanhia tocou outra vez e Gina, suspirando, foi atender. Ao abrir a porta, deparou com um homem alto, de ombros largos, que estava de costas para ela. Sua primeira reação foi de fechá-la imediatamente, antes que ele tentasse lhe vender alguma coisa. Mas o homem foi mais rápido e segurou a porta. A luz do sol iluminou-lhe o rosto, fazendo com que Gina recuasse, com as pernas bambas.


- Harry! - exclamou, sem querer acreditar no que estava vendo.


- Eu mesmo - ele concordou, com indiferença. Mas não havia nada de indiferente na maneira como olhava para ela, com aqueles olhos de um verde tão profundo Seus olhos moveram-se atrevidos sobre a calça jeans de Gina, e pararam nas curvas de seus seios.



A respiração de Gina ficou presa na garganta. Aquela antiga sensação voltava, agora bem mais forte, pois havia mais razões para se sentir tensa e temerosa na presença de Harry. Num gesto de insegurança, passou os dedos entre os cabelos ruivos e encaracolados, que caíam com suavidade até os ombros. Mas sentiu-se mal quando percebeu o olhar distante e frio de Harry observar seu gesto.



- Guarde esses truques para os que gostam desse tipo de sedução, Gina - falou ele de modo brusco. - Conheço muito bem a sensação de passar os dedos nesses cabelos: portanto, não há necessidade de chamar minha atenção para eles.



Não adiantava Gina tentar explicar que atrair sua atenção era a última coisa que desejava no momento. Aquele gesto fora simplesmente um reflexo nervoso, um tique que possuía desde criança, e Harry sabia disso.



- O que você quer, Harry? - A resignação em sua voz pareceu agrada-lo.



- Melhor assim - disse Harry, rapidamente. - Preciso falar com você e quero ser rápido, pois perdi muito tempo tentando encontrá-la.



- Estou surpresa por você ter se incomodado com isso - Gina respondeu ironicamente, e pensou desanimada: " Por que um simples olhar desse homem é o suficiente para anular os cinco anos em que venho tentando esquecê-lo?"      


 


Havia se esforçado tanto para apagar St. Martin da lembrança e começar uma vida nova e independente em Londres...


- Não foi minha escolha, Gina. Vai me convidar para entrar ou tenho que solicitar uma audiência? - Dizendo isso, Harry olhou rapidamente para a vizinha que estava na janela apreciando a cena com interesse.



Tentando controlar aquele tão conhecido tremor que a simples presença de Harry a fazia sentir, Gina virou-se e entrou na sala, deixando a porta aberta.


Como todo o resto da casa, a sala também havia sido decorada por ela. Estava pintada num tom suave de marrom e laranja, com um carpete de sisal e uma mobília simples. Gina sabia que sua casa era bem modesta, mas Harry não precisava ficar olhando com aquele ar de pouco-caso...



- Que mudança! - ele disse por fim. - Por quê, Gina? Está levando esse tipo de vida para se punir por suas culpas do passado?



Recusando-se a se sentir magoada por aquelas palavras, Gina apertou os lábios para não responder: não ia começar outra discussão. Já havia perdido muitas para ele, e não estava disposta a lhe dar esse gosto.



- O que você quer, Harry? - repetiu.



- Não vai pelo menos me oferecer um drinque? Andei metade de Londres a pé e viajei do Caribe até aqui só para vê-la. Consegui seu primeiro endereço através do banco, isto é, pensei que tivesse conseguido, mas você se mudou e eles não sabiam o novo endereço. Por que não usou o dinheiro que lhe mandei nesses últimos cinco anos, Gina?



- Não precisei dele.


- Não, é claro que não precisou. Você tem alguém para sustentá-la. Mas ele terá que ficar sem você por algum tempo - zombou Harry.



- O que quer dizer com isso? - O coração de Gina batia com mais força, e logo se arrependeu por ter perguntado. Mas agora era tarde, e Harryl sorria com uma satisfação cruel. Deus! Ele realmente gostava de torturá-la e de vê-la demonstrar medo e ansiedade.



- Ora, não se preocupe - Harry falou suavemente, olhando-a com tanta intensidade que Gina foi tomada por pequenos arrepios e seu coração disparou.


                                                                                                                                                      


- Você não ficará longe por muito tempo. Só até Tiago morrer...



- Não! Não é verdade! - Chocada Gina ouviu sua própria voz. - Você não esta falando sério! - Lutava contra o sentimento de dor e tristeza.



Tiago Potter era o homem que desde o momento em que se casara com sua mãe a tinha tratado como filha. Aquele que tanto a mimara e que lhe dera um lar, fazendo com que só se lembrasse de ter morado em St. Martin e em nenhum outro lugar. E que a consolara em sua dor e desespero quando sua mãe morrera... Tiago lhe oferecera toda proteção naquela ocasião: viera do Caribe para ficar com ela. Gina tinha dezesseis anos e estudava na Inglaterra. Comovido com sua solidão, Tiago levou-a para sua casa, em St. Martin. E agora ele estava morrendo! Gina suspirou e olhou para o rosto impassível do homem à sua frente. Será que Harry não tinha sentimentos? Não demonstrava nada? Impossível! Afinal, Tiago era o pai dele!



- Não adianta ficar histérica - disse Harry, rude. - Tiago não está aqui para presenciar essa cena dramática. De qualquer forma, não é de emoções que ele está precisando agora, mas sim de você, Gina. O que acha disso? - zombou, deixando transparecer um leve prazer nos olhos.



Uma vez Tiago havia dito a Gina que Harry herdara o sangue mouro de algum ancestral. A família possuía St. Martin desde o século XVII, pois a ilha fora um presente da rainha Elizabeth I. Diziam que os ancestrais da família haviam raptado e aprisionado a filha de um rico mercador mouro. A estrutura óssea de Harry mostrava que esses comentários poderiam ser verdadeiros.



Gina lembrava-se de como na sua infancia era fascinada pela história da família. E fascinada por Harry, tão moreno e misterioso, tão másculo e adulto aos vinte e sete anos, em comparação com ela, tão imatura, com apenas dezesseis anos.



- Tiago... - tentou falar alguma coisa, não querendo pensar no passado. - O que...                           


-


 Ele começou a ter problemas de coração logo depois que você partiu - Harry explicou, sério. - E foi piorando cada vez mais. Se Tiago se operar, há uma chance de sobrevivência, mas ele diz que só fará essa operação se você estiver lá.



Gina umedeceu os lábios:


"Voltar? Mas é impossível! Existem caminhos que não têm volta", pensou, desesperada.


- Eu só estou lhe comunicando, Gina, e não pedindo - Harry alertou com delicadeza. - Você vai voltar comigo de qualquer jeito, nem que eu tenha de raptá-la.



- Não posso! - Seus olhos a traíram e Gina olhou em direção ao quarto de Robbie.



Sim... Robbie, o motivo pelo qual nunca pudera voltar a St. Martin. A criança que significava tudo para ela, que dava sentido à sua vida vazia, mas cujo nascimento a tinha afastado para sempre de sua casa.
- Você não pode ou não quer, Gina? Não minta" Mas isso não tem a menor importância. De qualquer maneira, você vai voltar comigo!



Gina olhou para ele com firmeza, esforçando-se para encarar aqueles olhos frios. Embora desejasse muito ajudar Tiago, tinha que proteger seu filho.



- Se eu voltar com você, Harry, como será? Como sua esposa ou como irmã de criação?


Por alguns instantes, pensou que ele não fosse responder. Então ele se mexeu, e, pelo seu rosto contraído, Gina viu que Harry estava furioso.



- Minha esposa! Mas você nunca foi, não é, Gina? Nós nos casamos com padre, festa e tudo o mais, mas há um detalhe, Gina, um detalhe muito importante: você já havia pertencido a outro homem, e casou-se comigo apenas para resolver seus problemas


.
- Não quero falar sobre isso! - Gina sentiu-se mal. - Se não se importa, gostaria que você fosse embora. Tenho muita vontade de ver seu pai e poder ajudá-lo, mas agora é impossível!



- Do que tem medo, Gina? De perder seu último amor? Se é isso que a preocupa, garanto que valerá a pena.... financeiramente. E, se pensa que eu tentaria alguma coisa com você, pode ficar sossegada: não a tocaria nem que fosse a última mulher do mundo.                                                                                                                 


Instintivamente, Gina ergueu o braço, e protestava com raiva quando seu gesto de agressão foi impedido pela força dos dedos de Harry em seu pulso, como garras de aço, ameaçando quebrar-lhe os ossos.



- Não, você não vai me bater! - ouviu-o dizer entre dentes. - Seu amiguinho talvez deixe você fazer isso com ele, mas eu não.


Atemorizada pela frieza daquela voz e pelo brilho daqueles olhos, Gina deu um passo para trás e encostou-se na parede como um animal acuado. Não havia como escapar do olhar enfurecido e das mãos dele, que ainda prendiam seus braços.



A respiração de Harry estava acelerada e ele lutava para se controlar. Gina sabia que não a soltaria naquele momento, e, para não demonstrar medo ou implorar, ergueu a cabeça, encarando-o desafiadoramente. Sua demonstração de coragem só serviu para aumentar a raiva de Harry. Seus nervos também estavam explodindo e ela mal conseguia respirar.



Sabendo que Harry a maltratava de propósito, ficou quieta, embora sua vontade fosse de gritar. Por que ele não parava com aquilo? Será que não percebia o quanto doía para ela estar tão perto dele?



O pensamento de Gina se voltou para o passado e a fez lembrar-se de sua inocência, quando fazia planos para o casamento, de quanto queria pertencer a Harry, e de como se desiludira depois...



A boca de Harry estava encostada na dela. Sentiu-se desfalecer ao se lembrar dos beijos dele. Sem perceber, deixou que seus lábios macios se abrissem. Abaixou os olhos, pálida. O corpo de Harry estava colado ao dela, e essa proximidade fez com que começasse a perder as forças e a vontade própria. Uma leveza se apoderou de seu corpo, e sensações que mantivera sob controle por tanto temo começavam a voltar.


Harry continuava a encara-la e ela ergueu os olhos, sem se importar com o que ele pudesse pensar, começando a sentir um abondono total. Harry baixou o olhar para sua boca e o corpo de Gina amoleceu. O desejo que sentia era incontrolável. Então, subitamente, ele a soltou e afastou-se dela com um olhas de cinismo estampado no rosto.


                                                                                                                                                      


- Ah, não! - disse devagar. - Não vou substituir nenhum homem para você, Gina. Terá que fazer alguma coisa para controlar esse seu apetite sexual enquanto estiver em St. Martin. Lá não existe mais nenhum Mike Peters para satisfazê-la. 


ina tentava se equilibrar na escada e ao mesmo tempo se livrar de um pedaço de papel de parede que se grudara em suas mãos quando ouviu a campanhia tocar. Impaciente, libertou-se do papel e desceu as escadas para atender à porta. Estava muito cansada, pois havia trabalhado o dia todo revestindo a parede do quarto.


Quando, há alguns anos, tinha comprado sua casa no lado leste de Londres, a região era bem pobre e havia pago muito pouco pela propriedade. Agora, tudo havia mudado.


Aquela zona da cidade fora ocupada por famílias ricas, o que provocara grande valorização da área.


Gina já não tinha mais paciência com seus vizinhos Raul e Janice. Eles formavam um casal jovem, mas enquanto Raul estava trabalhando, Janice ficava de casa em casa atrás de conversa.


"Justamente agora que estou quase terminando meu serviço", ela pensou, com preguiça de conversar com a vizinha.


Gina trabalhava como ilustradora de revistas e livros infantis. Achava difíci concentra-se no trabalho durante o dia, pois havia Robbie que, apesar de frequentar a escola, quando estava em casa era irriquieto demais para deixa-la produzir alguma coisa. Desde que começara a trabalhar, ela o fazia à noite. Era a hora em que Robbie dormia, e Gina não precisava se preocupar em controlar as brincadeiras e travessuras próprias de um garoto de cinco anos. Aproveitava as tardes, para arrumar sua casa, como estava fazendo naquele momento.                                                               


 


A campanhia tocou outra vez e Gina, suspirando, foi atender. Ao abrir a porta, deparou com um homem alto, de ombros largos, que estava de costas para ela. Sua primeira reação foi de fechá-la imediatamente, antes que ele tentasse lhe vender alguma coisa. Mas o homem foi mais rápido e segurou a porta. A luz do sol iluminou-lhe o rosto, fazendo com que Gina recuasse, com as pernas bambas.


- Harry! - exclamou, sem querer acreditar no que estava vendo.


- Eu mesmo - ele concordou, com indiferença. Mas não havia nada de indiferente na maneira como olhava para ela, com aqueles olhos de um verde tão profundo Seus olhos moveram-se atrevidos sobre a calça jeans de Gina, e pararam nas curvas de seus seios.



A respiração de Gina ficou presa na garganta. Aquela antiga sensação voltava, agora bem mais forte, pois havia mais razões para se sentir tensa e temerosa na presença de Harry. Num gesto de insegurança, passou os dedos entre os cabelos ruivos e encaracolados, que caíam com suavidade até os ombros. Mas sentiu-se mal quando percebeu o olhar distante e frio de Harry observar seu gesto.



- Guarde esses truques para os que gostam desse tipo de sedução, Gina - falou ele de modo brusco. - Conheço muito bem a sensação de passar os dedos nesses cabelos: portanto, não há necessidade de chamar minha atenção para eles.



Não adiantava Gina tentar explicar que atrair sua atenção era a última coisa que desejava no momento. Aquele gesto fora simplesmente um reflexo nervoso, um tique que possuía desde criança, e Harry sabia disso.



- O que você quer, Harry? - A resignação em sua voz pareceu agrada-lo.



- Melhor assim - disse Harry, rapidamente. - Preciso falar com você e quero ser rápido, pois perdi muito tempo tentando encontrá-la.



- Estou surpresa por você ter se incomodado com isso - Gina respondeu ironicamente, e pensou desanimada: " Por que um simples olhar desse homem é o suficiente para anular os cinco anos em que venho tentando esquecê-lo?"      


 


Havia se esforçado tanto para apagar St. Martin da lembrança e começar uma vida nova e independente em Londres...


- Não foi minha escolha, Gina. Vai me convidar para entrar ou tenho que solicitar uma audiência? - Dizendo isso, Harry olhou rapidamente para a vizinha que estava na janela apreciando a cena com interesse.



Tentando controlar aquele tão conhecido tremor que a simples presença de Harry a fazia sentir, Gina virou-se e entrou na sala, deixando a porta aberta.


Como todo o resto da casa, a sala também havia sido decorada por ela. Estava pintada num tom suave de marrom e laranja, com um carpete de sisal e uma mobília simples. Gina sabia que sua casa era bem modesta, mas Harry não precisava ficar olhando com aquele ar de pouco-caso...



- Que mudança! - ele disse por fim. - Por quê, Gina? Está levando esse tipo de vida para se punir por suas culpas do passado?



Recusando-se a se sentir magoada por aquelas palavras, Gina apertou os lábios para não responder: não ia começar outra discussão. Já havia perdido muitas para ele, e não estava disposta a lhe dar esse gosto.



- O que você quer, Harry? - repetiu.



- Não vai pelo menos me oferecer um drinque? Andei metade de Londres a pé e viajei do Caribe até aqui só para vê-la. Consegui seu primeiro endereço através do banco, isto é, pensei que tivesse conseguido, mas você se mudou e eles não sabiam o novo endereço. Por que não usou o dinheiro que lhe mandei nesses últimos cinco anos, Gina?



- Não precisei dele.


- Não, é claro que não precisou. Você tem alguém para sustentá-la. Mas ele terá que ficar sem você por algum tempo - zombou Harry.



- O que quer dizer com isso? - O coração de Gina batia com mais força, e logo se arrependeu por ter perguntado. Mas agora era tarde, e Harryl sorria com uma satisfação cruel. Deus! Ele realmente gostava de torturá-la e de vê-la demonstrar medo e ansiedade.



- Ora, não se preocupe - Harry falou suavemente, olhando-a com tanta intensidade que Gina foi tomada por pequenos arrepios e seu coração disparou.


                                                                                                                                                      


- Você não ficará longe por muito tempo. Só até Tiago morrer...



- Não! Não é verdade! - Chocada Gina ouviu sua própria voz. - Você não esta falando sério! - Lutava contra o sentimento de dor e tristeza.



Tiago Potter era o homem que desde o momento em que se casara com sua mãe a tinha tratado como filha. Aquele que tanto a mimara e que lhe dera um lar, fazendo com que só se lembrasse de ter morado em St. Martin e em nenhum outro lugar. E que a consolara em sua dor e desespero quando sua mãe morrera... Tiago lhe oferecera toda proteção naquela ocasião: viera do Caribe para ficar com ela. Gina tinha dezesseis anos e estudava na Inglaterra. Comovido com sua solidão, Tiago levou-a para sua casa, em St. Martin. E agora ele estava morrendo! Gina suspirou e olhou para o rosto impassível do homem à sua frente. Será que Harry não tinha sentimentos? Não demonstrava nada? Impossível! Afinal, Tiago era o pai dele!



- Não adianta ficar histérica - disse Harry, rude. - Tiago não está aqui para presenciar essa cena dramática. De qualquer forma, não é de emoções que ele está precisando agora, mas sim de você, Gina. O que acha disso? - zombou, deixando transparecer um leve prazer nos olhos.



Uma vez Tiago havia dito a Gina que Harry herdara o sangue mouro de algum ancestral. A família possuía St. Martin desde o século XVII, pois a ilha fora um presente da rainha Elizabeth I. Diziam que os ancestrais da família haviam raptado e aprisionado a filha de um rico mercador mouro. A estrutura óssea de Harry mostrava que esses comentários poderiam ser verdadeiros.



Gina lembrava-se de como na sua infancia era fascinada pela história da família. E fascinada por Harry, tão moreno e misterioso, tão másculo e adulto aos vinte e sete anos, em comparação com ela, tão imatura, com apenas dezesseis anos.



- Tiago... - tentou falar alguma coisa, não querendo pensar no passado. - O que...                           


-


 Ele começou a ter problemas de coração logo depois que você partiu - Harry explicou, sério. - E foi piorando cada vez mais. Se Tiago se operar, há uma chance de sobrevivência, mas ele diz que só fará essa operação se você estiver lá.



Gina umedeceu os lábios:


"Voltar? Mas é impossível! Existem caminhos que não têm volta", pensou, desesperada.


- Eu só estou lhe comunicando, Gina, e não pedindo - Harry alertou com delicadeza. - Você vai voltar comigo de qualquer jeito, nem que eu tenha de raptá-la.



- Não posso! - Seus olhos a traíram e Gina olhou em direção ao quarto de Robbie.



Sim... Robbie, o motivo pelo qual nunca pudera voltar a St. Martin. A criança que significava tudo para ela, que dava sentido à sua vida vazia, mas cujo nascimento a tinha afastado para sempre de sua casa.
- Você não pode ou não quer, Gina? Não minta" Mas isso não tem a menor importância. De qualquer maneira, você vai voltar comigo!



Gina olhou para ele com firmeza, esforçando-se para encarar aqueles olhos frios. Embora desejasse muito ajudar Tiago, tinha que proteger seu filho.



- Se eu voltar com você, Harry, como será? Como sua esposa ou como irmã de criação?


Por alguns instantes, pensou que ele não fosse responder. Então ele se mexeu, e, pelo seu rosto contraído, Gina viu que Harry estava furioso.



- Minha esposa! Mas você nunca foi, não é, Gina? Nós nos casamos com padre, festa e tudo o mais, mas há um detalhe, Gina, um detalhe muito importante: você já havia pertencido a outro homem, e casou-se comigo apenas para resolver seus problemas


.
- Não quero falar sobre isso! - Gina sentiu-se mal. - Se não se importa, gostaria que você fosse embora. Tenho muita vontade de ver seu pai e poder ajudá-lo, mas agora é impossível!



- Do que tem medo, Gina? De perder seu último amor? Se é isso que a preocupa, garanto que valerá a pena.... financeiramente. E, se pensa que eu tentaria alguma coisa com você, pode ficar sossegada: não a tocaria nem que fosse a última mulher do mundo.                                                                                                                 


Instintivamente, Gina ergueu o braço, e protestava com raiva quando seu gesto de agressão foi impedido pela força dos dedos de Harry em seu pulso, como garras de aço, ameaçando quebrar-lhe os ossos.



- Não, você não vai me bater! - ouviu-o dizer entre dentes. - Seu amiguinho talvez deixe você fazer isso com ele, mas eu não.


Atemorizada pela frieza daquela voz e pelo brilho daqueles olhos, Gina deu um passo para trás e encostou-se na parede como um animal acuado. Não havia como escapar do olhar enfurecido e das mãos dele, que ainda prendiam seus braços.



A respiração de Harry estava acelerada e ele lutava para se controlar. Gina sabia que não a soltaria naquele momento, e, para não demonstrar medo ou implorar, ergueu a cabeça, encarando-o desafiadoramente. Sua demonstração de coragem só serviu para aumentar a raiva de Harry. Seus nervos também estavam explodindo e ela mal conseguia respirar.



Sabendo que Harry a maltratava de propósito, ficou quieta, embora sua vontade fosse de gritar. Por que ele não parava com aquilo? Será que não percebia o quanto doía para ela estar tão perto dele?



O pensamento de Gina se voltou para o passado e a fez lembrar-se de sua inocência, quando fazia planos para o casamento, de quanto queria pertencer a Harry, e de como se desiludira depois...



A boca de Harry estava encostada na dela. Sentiu-se desfalecer ao se lembrar dos beijos dele. Sem perceber, deixou que seus lábios macios se abrissem. Abaixou os olhos, pálida. O corpo de Harry estava colado ao dela, e essa proximidade fez com que começasse a perder as forças e a vontade própria. Uma leveza se apoderou de seu corpo, e sensações que mantivera sob controle por tanto temo começavam a voltar.


Harry continuava a encara-la e ela ergueu os olhos, sem se importar com o que ele pudesse pensar, começando a sentir um abondono total. Harry baixou o olhar para sua boca e o corpo de Gina amoleceu. O desejo que sentia era incontrolável. Então, subitamente, ele a soltou e afastou-se dela com um olhas de cinismo estampado no rosto.


                                                                                                                                                      


- Ah, não! - disse devagar. - Não vou substituir nenhum homem para você, Gina. Terá que fazer alguma coisa para controlar esse seu apetite sexual enquanto estiver em St. Martin. Lá não existe mais nenhum Mike Peters para satisfazê-la.

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