Capitulo 7



- Tem certeza de que quer sair para jantar?



   Harry estava em pé na porta do quarto de vestir, colocando abotoaduras nos punhos da camisa branca. Gina fez que sim. Já estava vestida, terminando de aplicar a maquiagem. A camisa de Harry estava aberta até a cintura, e ela seria capaz de jurar que ele sabia o quanto a afetava vê-lo de peito nu. De novo experimentou a mesma estranha sensação nascer na boca de seu estômago. Ele estava abotoando a camisa, enfiando-a na calça com um descuido que mostrava claramente que não considerava estranho que alguém testemunhasse tal intimidade.


 


   Algo em seu rosto deve ter revelado o que sentia, pois ele parou de abotoar a camisa para fitá-la com ar pensativo, atravessando logo em seguida o quarto.        Deteve-se atrás dela, e Gina ficou parada ao vê-lo pegar a escova de cabelo. Seu olhar assustado encontrou-se no espelho com o de Harry, enquanto ele passava a escova suavemente por seus cabelos, repetindo o movimento até ela se sentir relaxar.


- Eu entendo que o que aconteceu foi um choque para você, ma jolie. – No espelho, os olhos verdes ainda prendiam os dela e, mesmo querendo quebrar o contato, Gina não conseguiu. – Mas você é uma criança inteligente, que já deve ter percebido que sempre falo sério. Assim sendo, não tem nada a ganhar com um desafio sem sentido. Só vai acabar se magoando mais do que é capaz de me magoar. Tente encarar isto como outro período de aprendizagem depois do qual estará livre para seguiu sua própria vida.


- Livre para ser o brinquedo de outro homem – Gina rebateu com raiva. – O que vou aprender com você são coisas que só deveria aprender com meu marido!



   Lagrimas tremulavam em seus cílios, e uma onda de desolação invadiu-a ao se lembrar dos avisos severos das freiras sobre o destino das garotas que eram tolas o bastante para se “comportarem mal”. E agora aquele homem, que a tirara calmamente do santuário do convento, lhe dizia com a mesma tranqüilidade que o que fizer a beneficiaria.


   - Você está exagerando como uma menininha. A vida não é toda em preto e branco. Existem muitas tonalidades de cinza no meio, e já se foram os dias em que uma mulher media seu valor em termos de sua virgindade. Na verdade, você se diminui fazendo isso. No mundo moderno, uma mulher é avaliada pelo modo como as valoriza, e a beleza física sem compaixão, humor e inteligência não é nada. Ninguém a julgará desfavoravelmente por ter sido minha amante, Gina. É só na sua imaginação juvenil que “mulheres caídas” existem.


 


  -Se isso fosse verdade, você não estaria planejando se vingar do meu pai do jeito que está – ela replicou com desdém. Por acaso ele pensava que não tinha inteligência?


   A escova parou. Inclinando-se para a frente até estar com o rosto ao nível do dela, Harry segurou-lhe o queixo e obrigou-a a encará-lo.


- Minha querida criança – disse, num tom perigosamente frio – seu pai é um homem muito sofisticado para dar o menor valor à sua virgindade, a não ser como uma mercadoria vendável.


   - Eu odeio você! Não sei como a madre superiora me deixou sair na sua companhia.


   - Muito simples. Eu falsifiquei a assinatura do seu pai, e de qualquer modo, as freiras já estavam ficando preocupadas com você. Sentiram-se aliviadas demais ao descobrir que, afinal, sir Artur não era o pai indiferente que julgavam, para questionar minha autoridade com mais cuidado. Ah, outra coisa! – ele acrescentou, percebendo o que ia na cabeça dela com uma facilidade que a assustou. – Nem pense em fugir. Estou com o seu passaporte e pretendo ficar com ele. Você não tem dinheiro nem amigos por aqui, e esta parte da França ainda é feudal em muitos aspectos. Minha família está aqui a séculos, com os mesmos arrendatários vivendo em nossas terras. A menos que me dê sua palavra de que não tentará escapar, direi a todos que você sofre de uma doença mental, que a faz pensar que é vitima de um complô para raptá-la...



 Harry ainda a observava, e Gina percebeu que ele falava mais sério que nunca.  Deus do céu, como gostaria de fazer alguma coisa... Qualquer coisa para atravessar aquela mascara implacável, ferindo-o e destruindo-o como ele fizera com ela!


 


    -Mudei de idéia. Não quero mais sair para jantar. – Gina deu-lhe as costas, recusando-se a fitá-lo, embora soubesse que ele agora caminhava para o quarto de vestir.



   - Está bem. Darei ordens a Pierre para lhe preparar alguma coisa.


    Gina levou vários segundos para entender as implicações do que Harry dissera. Ele iria jantar fora, enquanto ela comeria sozinha. E logo em seguida veio a percepção de uma espécie de... desapontamento? Não, simplesmente de um anticlímax, buscou garantir a si mesma. Anticlímax porque seu oponente saíra da arena, na atitude de uma pessoa que sabe que não poderá vencer. Mas esse foi um pensamento que não a convenceu pois, se havia um homem que sabia exatamente como vencer, esse homem era Harry.



   Pierre levou seu jantar para a biblioteca, colocando a bandeja sobre uma mesinha junto à lareira. Era um cozido, e Gina viu que ele também trouxera uma garrafa de vinho, com uma águia e o nome de Harry impresso no rótulo.  Provou-o cautelosamente, descobrindo que, embora tivesse sido ensinada a reconhecer as grandes safras e a selecionar o vinho correto para uma refeição, poucas vezes tomara um tão bom quanto aquele.



   O liquido que derramou em seu copo era de um amarelo-pálido, seco e encorpado ao paladar, ressaltando o aroma do cozido com seu molho delicado. O mundo, que lhe parecer um lugar cinza e sem esperança ao entrar na biblioteca, assumiu um aspecto menos opressivo. Na verdade, bem podia entender por que as pessoas bebiam, pensou, decidida a servir-se de mais um copo.


   Metade do terceiro copo já tinha ido quando Pierre apareceu para tirar a bandeja e servir o café. Gina estava certa de que a névoa morna, ligeiramente atordoante, que a envolvia era muito melhor que a infelicidade assustadora que vinha experimentando desde que soubera dos planos de Harry. Reconhecendo que estava um pouco bêbada, ela contemplou o café pensativamente e resolveu que seu atual estado de espírito era infinitamente melhor do que a sobriedade.


 


As freiras ficariam chocadas se pudesse vê-la! Sem que soubesse se por quê, pensar no convento foi tão desagradável que tomou mais alguns goles de vinho.  Depois, quando tentou se levantar, surpreendeu-se ao descobrir que a biblioteca girava loucamente em torno dela.


Seu único pensamento claro, enquanto se dirigia ao quarto com passos inseguros, foi que seria poupada da vergonha de ter Harry testemunhando sua tolice. No fundo, sabia que não tinha escapatória, e a sensação gostosa, dada pelo vinho, começou a diminuir quando abriu a porta e deu com a cama. Não havia chave na porta, e na certa Harry a traria de volta, se fosse para outro quarto.



   Um pequeno soluço quebrou o silêncio do cômodo escuro.


   Eram apenas dez horas, mas ela se sentia muito cansado. Tão cansada que quase dormiu no banho. Mas afinal ela se viu seca e usando uma das camisolas de seda que odiava, o corpo perdido na vastidão da cama feita para dois. Por um instante, exatamente quando os olhos se fecharam, sua mente se desanuviou e ela teve a nítida percepção do que seria sua vida dali em diante, com a alma em perpétuo tormento... A menos que, como Harry havia sugerido, encontrasse um meio de conviver com o que acontecera, de construir e crescer a partir daquilo...



   Teria ele razão? O mundo não era claramente dividido em branco e preto, bom e mau, como as freiras tinham lhe ensinado? Não podia enfrentar Harry fisicamente, mas sua mente ainda era sua, continuava inviolada, e poderia mantê-la desse modo...


 


 


 


 


(...)


 


 


 


N/A: O próximo cap. Será mais hot! Hoho ;)


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