Prólogo



— Com licença! — disse Gina Weasley, com a cara fechada, tendo seu pedido ignorado o que fez com que ela tivesse que se encolher toda para passar pelo peque­no grupo de homens, todos atentos às palavras de um deles. E que homem, teve que reconhecer Gina um tan­to contrariada. Se a masculinidade fosse uma fragrância, ela seria inspirada naquele homem, que deixou os sentidos de Gina em alerta.


 


Ele era alguns centímetros mais alto que o homem ao seu lado e sua voz tinha um timbre sensual que fazia Gina arrepiar-se toda, como se uma luva perfumada de veludo deslizasse sobre sua pele nua.


 


Presa onde estava pela multidão de pessoas que ten­tava passar pelo corredor estreito que ia de um canto ao outro da feira de negócios, Gina equilibrava-se no salto alto. O salto, assim como a maquiagem pesada, foi idéia do seu primo Raoul. Empurrada por aquele mar de pes­soas, ela acabou sendo levada para perto daquele estra­nho. Tão perto, na verdade, que se ela esticasse o braço poderia tocá-lo. Não que ela tivesse a intenção ou a vontade de fazer tal coisa. Ou será que tinha? Gina tratou de espantar rapidinho tais pensamentos.


 


Ele, o homem que deixou seu corpo tenso por tentar abafar a excitação que provocava nela, levantou o pu­nho para olhar o relógio. Seus dedos eram compridos e bronzeados, suas unhas cortadas e asseadas, mas ainda assim eram mãos muito masculinas. Mãos capazes de realizar qualquer tarefa e capazes também de assinar um cheque e mandar alguém fazê-la para ele.


 


Sim, ele devia ser muito bom em se tratando de assi­nar cheques, pensou Gina. Ele tinha aquele tipo de ar­rogância. A arrogância de um homem rico.


 


Outro empurrão de uma pessoa tentando passar pelo corredor, lançou Gina de encontro a ele, de forma que seus corpos experimentaram uma troca física que fez o sangue dela ferver e sua respiração parar.


 


O que estava acontecendo com ela? Por que ela ficou tão mexida daquele jeito, imaginando que por debaixo daquele terno impecável que ele estava usando estaria um corpo de uma masculinidade crua, com músculos fortes e firmes, sensuais e...?


 


Irritada com ela mesma e com sua reação descontro­lada em relação a ele, Gina aproveitou o espaço que se abriu no meio da multidão e resolveu ir embora.


 


Com as faces rubras e quentes, ela percorreu o corre­dor a procura de seu primo Raoul.


 


— Venha cá, Gina, e deixe os rapazes sentirem o cheiro da nossa nova fragrância. Venha cá um instante. Sem graça, Gina virou-se para olhar seu primo e o co-diretor.


 


Ela ainda estava furiosa com Raoul por ele a ter per­suadido a usar o mais novo perfume da loja. Sua essên­cia foi criada na época do pai de Raoul, quando ele este­ve à frente da empresa, ainda pequena e familiar. Ela estava irritada com ela mesma por ter acabado aceitando usá-lo. Ela devia ter ouvido sua intuição e não ter concordado com aquilo no momento em que ela cheirou o perfume horroroso que era uma ofensa ao seu olfato. Ela odiou aquele cheiro! Mas em vez disso, ela acabou cedendo pelo bem da família.


 


A princípio, ela iria à feira com Raoul, simplesmen­te. Mas ele tinha outras idéias para ela. Ele a fez usar aquela roupa, aquela maquiagem pesada e a fez usar aquele penteado exagerado. Ela não queria fazer nada disso, mas acabou aceitando tudo isso para manter a harmonia entre os primos. Mas como desejava agora não ter aceito!


 


Naquelas últimas horas havia sido alvo de olhares lascivos e cantadas sugestivas dos compradores mascu­linos em potencial que Raoul chamava para sentir o per­fume no corpo dela.


 


Ela odiou aquela fragrância! Ela resumia tudo que Gina detestava nos perfumes modernos. Não tinha per­sonalidade, nem sutileza. E seu poder de fixação tam­bém não era bom, além de ser ralo e frio ao invés de consistente e quente para que mexa com os sentidos como chocolate ou como uma carícia de um amante. Era sensual, mas forte a ponto de deixá-la com dor de cabe­ça. Que cheiro horrível, pensou Gina.


 


— Pronto. Para mim chega! Vou voltar para o hotel. — disse Gina ao seu primo, enquanto se esquivava do comprador obeso que tentava cheirar o perfume no pes­coço dela. As coisas já estavam passando dos limites.


 


— Mas o que houve de errado? — perguntou Raoul


 


— O que houve de errado? — Gina respirou fundo.


 


Há dezoito meses, quando sua avó materna faleceu, Gina herdou trinta por cento das ações da pequena, mas famosa loja de perfumes francesa Francine, que passou por diversas gerações da família de sua mãe, assim como a receita secreta da fragrância mais famosa da loja.


 


A rixa existente entre sua avó e seu irmão, o tio-avô de Gina e o avô de Raoul, levou sua avó a se distanciar dos negócios, o que influenciou a reação de Gina com relação à herança. Mas Raoul, o dono das outras ações do negócio convidou-a para trabalhar com ele numa tentativa de acabar com tal rivalidade das duas ramifica­ções da família. Ela não só ficaria com o lugar da avó na diretoria, mas também poria em prática seus conheci­mentos sobre o ramo dos perfumes.


 


Mas ela não fazia idéia do quão diferente eram os planos de Raoul para os negócios.


 


Raoul, com seu faro aguçado para os negócios, pare­cia disposto a fazer o que fosse preciso para promover a loja de perfumes, sem se preocupar em manter a tradi­ção e a história da loja.


 


— O que há de errado? — repetiu Gina furiosa, com olhos dourados como ouro. — Você realmente precisa que eu responda, Raoul? Será que você não vê como esse seu esquema de publicidade está depreciando não só a mim como a nossos perfumes também? Isto tudo é ridículo!


 


— Mas estamos fazendo contato com os comprado­res mais influentes do mundo! — interrompeu Raoul irritado. — Você não pode ir embora assim...


 


— Vou voltar para o hotel — repetiu ela.


 


Sem lhe dar a oportunidade de prolongar o assunto, ela se virou em seu salto alto e dirigiu-se para a saída.


 


No começo, ela ficou excitada com a idéia de partici­par da feira, especialmente quando Raoul contou-lhe que ela aconteceria em Cannes, que ficava próxima a Grasse, onde o tataravô deles havia começado o negó­cio. Mas agora ela mal podia esperar para ir embora e voltar para seu chalé em Pembrokeshire, de frente para o mar, e voltar a se dedicar a seu próprio negócio de perfumes no qual ela conseguia os clientes pelo boca-a-boca.


 


Não, grandes negócios não eram mesmo a sua praia. Ainda mais com as táticas de Raoul. Que táticas...


 


Ao ir embora, ela estava tão envolvida por seus pen­samentos que nem percebeu o grupo de homens de ne­gócios ao lado da porta até que um deles ficou exata­mente na frente dela lançando-lhe um olhar repleto de desejo sexual antes de fazer um comentário com seus colegas:


 


— Venham ver a mais nova oferta de Raoul, rapazes.


 


Gina ficou estática e com muita raiva e nojo quei­mando dentro dela e respondeu com um olhar hostil.


 


Os outros homens todos viraram-se para ela. Pare­ciam verdadeiros urubus.


 


Um deles chegou a fazer um comentário desaforado sobre ela em francês. Graças a sua avó materna, seu francês era fluente, mas ela nem pensou em responder aquele tipo de comentário vulgar.


 


Em vez disso, ela ergueu a cabeça e pôs-se a andar, pensando que mais tarde, no hotel, diria a Raoul tudo o que ela pensava sobre seus métodos de marketing.


 


Ela tinha quase passado por todos eles, quando sentiu uma mão agarrar seu braço. Gina estava usando um vestido preto sem manga e. ela se arrepiou ao sentir a mão dele sobre sua pele nua. Ela continuou andando, o olhar fixo na saída.


 


Desta forma, ela nem viu o outro homem que apare­ceu ao seu lado.


 


Ela pode não o ter visto, mas tinha consciência da presença dele. Instintivamente, ela sabia e ficou toda arrepiada novamente! Ao se virar levemente para ele, o reconheceu na mesma hora. Sua altura e a largura de seus ombros másculos deixaram-na sem ar.


 


Ela se virou para a frente novamente decidida a con­tinuar andando em direção à saída. Para sua surpresa, sentiu a mão dele tocando seu ombro e virou-se ficando de frente para ele. Só aí percebeu o quão alto ele era!


 


Era muito alto! Muito alto mesmo. E seus traços pa­reciam gregos. Sua pele era cor de oliva, tinha um certo tipo de arrogância aristocrática, pensou Gina. Aqueles ossos da bochecha bem esculpidos, o nariz adunco e os cabelos negros. Mas seus olhos não eram de um casta­nho forte, eram verdes, bem clarinhos. Ele tinha um cor­po bonito e parecia estar na faixa dos trinta anos.


 


Gina viu que ele a olhava. Ele se aproximou e chei­rou-a lançando-lhe um olhar que a deixou em chamas.


 


— Que perfume diferente este que você está usando. Está à venda? — perguntou ele com uma voz que era pura sensualidade e com um sotaque australiano.


 


Era demais para Gina. Mais que demais.


 


— Como você ousa sugerir que estou à venda? O que deu em vocês, homens, hoje?


 


— Homens? — Os olhos verdes dele estreitaram-se. — Há uma coisa da qual não abro mão tanto em relação as minhas mulheres, quanto aos meus perfumes: exclu­sividade!


 


Ele se virou enquanto um homem mais velho pegou-o pelo braço, cochichando algo enquanto olhava com repugnância para Gina.


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.