O adeus de Malfoy

- Eu sabia que isto aconteceria! – Harry falou, trazendo Hermione para mais perto de si, enquanto fazia uma manobra com o Testrálio – Eles falaram quando pretendem realizar o ataque?

Hermione não respondeu.

- Hermione? Eles falaram...

Hermione não respondeu, mas escorregou para o lado e cairia se Harry não a tivesse segurando firme.

- Hermione, segura firme, assim você acaba caindo. Hermione?

A mão que Hermione tinha agarrada às vestes de Harry escorregaram e caíram sem vida ao lado da garota. Só então Harry percebeu que Hermione desmaiara. Ele a puxou para bem perto do seu rosto, mas quando não sentiu sua respiração começou a ficar preocupado. Então olhou para Rony que vinha um pouco mais atrás e fez sinal para descerem.

Eles estavam muito perto do castelo, mas Harry decidiu pousar numa clareira, na floresta proibida.

Rony pousou com estrondo ao seu lado e escorregou do Testralio.

- Ei, por que descemos aqui? – Rony perguntou.

- Rony, me ajuda, a Hermione desmaiou e acho que ela não está respirando.

Mesmo empalidecendo, Rony segurou a garota, enquanto Harry descia do cavalo alado. Harry roubou Hermione de Rony e colocou no chão com muito cuidado.

- Ela está bem? – Rony perguntou.

Harry tomou seu pulso e, ao perceber que os batimentos estavam muito fracos, coloca a cabeça no peito de Hermione e fica em silêncio para escutar seu coração, ficando desesperado ao perceber que sua querida amiga sofrera uma parada cardíaca.

- Deus do céu! – Harry suspirou apavorado, deixando Rony ainda mais preocupado.

Harry fica de pé e saca imediatamente a sua varinha. Lembra-se de um feitiço, que vira ser utilizado numa de suas visitas ao hospital St. Mungus, mas não tinha idéia se isto funcionaria.

- PULSATO! – Da ponta de sua varinha um fio de luz azul claro foi projetado acertando Hermione em meio ao peito.

Hermione convulsiou como se recebesse um choque elétrico muito forte, mas não reagiu.

- Harry... ela está... – Rony começou a dizer, assustado.

- Não... Rony. Ela não vai morrer.... PULSATO!

Novamente, o raio a atinge, fazendo Hermione receber a carga de energia.

- Não está funcionando, Harry!

Harry só tinha visto este feitiço uma vez. Não tinha a capacidade suficiente para reproduzir com perfeição, mas tinha que tentar algo, ou ela....

Harry não perdeu mais tempo, abaixou-se e rasgou as vestes de Hermione. Colocou uma mão sobre a outra e as cruzou sobre o peito de Hermione, um pouco acima do estômago, posicionando a palma da mão com suave pressão.

- Harry, o que...? – Rony perguntou assustando, sem entender o que Harry estava fazendo.

Harry encosta seus lábios sobre os de Hermione e sopra com força.

- 1..2..3.. – ele diz, pressionando e soltando a mão sobre o peito de Hermione. Harry sopra novamente sobre os lábios de Hermione e coloca dois dedos sobre o pescoço muito alvo de Hermione para sentir se havia pulsação, mas nada parecia fazer efeito.

- 1..2..3.. Por favor, Hermione, não morra, não agora. Eu não te tirei daquele lugar horrível para que morresse nos meus braços.

Rony estava deseperado, sem entender o que Harry estava tentando fazer e sem poder fazer nada.

De novo Harry iniciou a seqüência da massagem cardíaca, rezando para surtisse efeito.

- 1..2..3.. Vamos, respire... respire...

Um vento suave soprou por entre as folhas das árvores e tocou de leve o rosto de Hermione. Harry parou de fazer a pressão sobre o tórax dela e se abaixou para soprar em seus lábios. Soprou forte, desejando transferir sua vida para ela, doando sua alma para que Hermione melhorasse. O sopro atingiu em cheios seus pulmões e espalhou-se dando-lhe vida.

Harry sentiu em todo o seu ser, a vida tomando conta do corpo de Hermione novamente: ela reagira! Ele encostou a cabeça novamente no peito de Hermione. Podia escutar seu coração batendo novamente. Uma batida leve e fraca adquirindo a cada nova pulsação um ritmo maior.

- Harry... você conseguiu... você conseguiu! – Rony gritou aliaviado, sem poder acreditar, quando viu que Hermione respirava.

Mas Harry ouviu nada, estava tão tenso e preocupado que nem os sons da floresta, nem os gritos de Rony e nem mesmo um turbilhão de tamborins tirariam sua concentração nos batimentos do coração de garota que amava.

- Graças a Merlin! – Rony gritou aliviado, agachando-se para segurar a mão de Hermione. – O que será que está acontecendo com ela, Harry? Já é a terceira vez que ela fica assim mal. Será que deram algo a ela? Ou pior, será que Voldemort pode ter feito alguma coisa quando a capturou?

- Eu não sei, Rony. Acho que ela está muito fraca, e tem passado por maus bocados... por minha culpa. E além disso, não tinha se recuperado antes de ir para Azkaban e deve ter feito um esforço enorme para conseguir se tranformar em animaga.

- Hermione é uma animaga? – Rony perguntou surpreso.

- Sim...

- Que diabos foi isto que você fez, Harry?

- É uma massagem cardíaca. Um procedimento médico de trouxas que geralmente funciona. Eu vi isto num programa...

- Na tevelisão?

- Televisão! É, isto mesmo. Eu vi na televisão e também fiz um curso na escola que eu estudava antes de entrar em Hogwarts. Fazia muito tempo, fiquei com medo de que não funcionasse.

- Harry, acho que é melhor irmos logo, já está muito escuro.

- Não ainda não, Rony – respondeu, Harry sem tirar a cabeça do peito de Hermione - Ela tem que estar totalmente estabilizada senão ela pode sofrer outra parada, além disso, ela ainda não recobrou os sentidos tenho medo do tempo que ela ficou sem oxigênio no cérebro...Pode ter sofrido alguma seqüela.



Já estava tarde, a lua já despontava alto sem que Hermione recobrasse os sentidos. Harry a fitava apreensivo e temeroso, tomando, de hora em hora, seu pulso e escutava seu coração.

Depois de muito tempo, Harry percebeu que Hermione dormia tranqüilamente e parecia que a cor havia retornado a sua face. Era a hora de ir.

- Rony, acho que podemos ir, agora. É melhor irmos rápido para a ala hospitalar, antes que ela tenha outra parada.



Harry viajou o pequeno trecho que faltava para chegar ao castelo, com muito cuidado, a fim de não exigir demais de Hermione. Ela estava firme em seus braços, mas ficou todo o tempo desacordada.

Quando enfim, chegaram ao castelo, Harry e Rony correram com Hermione até a ala hospitalar onde Madame Pomfrey tomou todos os cuidados possíveis com a garota.

- Agora vão, deixem-na descansar. – A gentil senhora falou, com preocupação.

Não havia nada mais o que fazer. A não ser... esperar.



Harry foi para o dormitório tentar descansar, mas passou a noite toda em claro, pensando em Hermione. Tiveram muita sorte em poder encontrá-la. E depois conseguir salvá-la quando ela teve a parada. Mas havia ainda uma outra coisa que o perturbava muito. Agora que os Dementadores enfim se rebelaram, Voldemort fecharia o cerco. Harry precisava estar pronto para a batalha final que poderia ser a qualquer momento.

Quando o sol começou a clarear as primeiras resgas no quarto, Harry pulou da cama e acordou Rony para irem a enfermaria.

O corredor da enfermaria estava num alvoroço completo quando Harry e Rony o alcançaram. O Ministro Fudge gritava e brandia com os braços parecendo muito revoltado contra o professor Dumbledore que estava estático plantado na frente da porta da ala hospitalar.

- Hermione é uma foragida! Uma condenada! Você não pode mantê-la, aqui....

- E onde pensa em mantê-la, Cornelius? – o professor Dumbledore perguntou calmamente, sem se alterar com o tom de voz de Fudge. - Que eu saiba não sobrou ninguém em Azkaban. E os dementadores, que você confia tanto, já estão realizando ataques ao lado de outros comensais. Malfoy, o verdadeiro foragido, está às soltas enquanto você está preocupado com Hermione, uma garota de desesseis anos. Qual é o seu problema, Cornelius, porque está tão obsecado com ela.

Fudge abaixou a cabeça, enquanto Rony enrusbecia. Isto não passou despercebido por Harry.

- Ora... eu... ora – o ministro começou a falar, mas foi interrompido por Harry que tinha coisas mais importantes a dizer do que as balelas do mais poderoso líder político do mundo mágico.

- Professor Dumbledore, Ministro Fudge, Hermione nos revelou ontem que os comensais foram soltos em Azkaban.

- Já soubemos disso, Harry! – disse o ministro, rispidamente, vociferando contra Harry.

- Então já sabe que Malfoy vai liderar um ataque contra o MINISTÉRIO DA MAGIA? – informou Harry num tom forçadamente casual.

- O QUE? COMO? – O ministro empalideceu imediatamente.

- A foragida Hermione nos disse que Malfoy iria atacar o Ministério juntamente com os dementadores, mas, é claro, como ela é uma assassina condenada o senhor nem deve confiar nela, não é? - disse Harry sem paciência, com um notável sorriso sarcástico nos lábios.

O ministro não soube o que responder, mas ficou caguejando.

- Cornelius, seria uma boa idéia agora, você alertar os aurores e se preparar. E deixar de se preocupar com Hermione. Quando chegar o momento certo, ela será sua mais forte aliada. – disse Dumbledore com uma expressão paternal, porém, preocupada.

- Sim, sim... vou fazer isto. – disse o Ministro, todo polido, com pressa para ir embora – Até mais, Dumbledore, eu mandarei uma coruja, Sr. Potter, Sr Weezzle.

- Weasley! Seu babaca idiota! – Rony corrigiu o ministro quando Fudge já havia sumido no corredor.

- Isto é verdade, Harry? Os dementadores vão atacar o Ministério? – O professor Dumbledore perguntou, apreensivo.

- Sim, Hermione nos revelou ontem a noite antes de...

- De ter a parada cardíaca. – Completou o diretor, calmamente – Madame Pomfrey me disse. Ela teve outra hoje cedo. Mas já está fora de perigo, Harry – o diretor reiterou ao ver a expressão de susto no olhar de Harry.

- Eu posso vê-la? – Harry suplicou.

- Ainda não. Madame Pomfrey disse que ela já estará bem melhor à tarde. Você poderá vê-la então.

Harry girou nos calcanhares e já alcançava o fim do corredor, quando se lembrou:

- Professor... Hermione disse que o próximo alvo, depois do Ministério da Magia seria Hogwarts.

- Sim, Harry... eu imaginei isto. Chegou a hora...

Harry e Dumbledore se entenderam, embora Rony não estivesse entendendo nada. Hermione fizera aquela revelação enquanto estava no Testralio com Harry.

Harry contou todos os detalhes a um Rony enquanto iam para o salão principal para o café da manhã. Foi então que Harry aproveitou para questionar Rony:

- Você pareceu meio esquisito quando o diretor perguntou porque o Ministro da Magia estava obsecado com Hermione. Você não está sabendo de nada, não é?

- O que? – Rony perguntou, esfregando as mãos nervosamente e enrubescendo. – Por que?

- Eu não sei. – Harry respondeu – somente achei que, como o seu pai trabalha no Ministério da Magia, poderia estar sabendo de alguma coisa que nós não sabemos. Você me contaria não é Rony.

Rony agora empalideceu.

- Harry... eu...

- Rony... você viu o que as minhas mentiras causaram à Hermione, não é. Se souber de alguma coisa... é melhor dizer, pois qualquer informação será útil contra Voldemort. Mas não vou pressioná-lo.

- Eu prometi a meu pai que não iria contar nem a você, Harry.

- Está bem! Eu entendo, Rony.

Quando uma nuvem de corujas invadiu o salão principal, Harry não imaginou que receberia uma carta, já que nem estava tomando o café da manhã juntamente com os outros nos últimos dias, no entanto, Edwiges, fez um vôo razante até onde ele estava.

- O que é isto, Harry? – Rony perguntou, quando Edwiges, majestosa, pousou na frente do dono, erguendo a perninha direita.

- Não sei – Harry respondeu, assustado, tirando a carta da coruja e fazendo um carinho antes que ela alçasse vôo novamente.

Harry olhou ambos os lados da carta, mas não havia rementente, apenas um brasão vermelho.

- É melhor abrir. – Rony advertiu.

Harry leu a carta atentamente até o fim, mesmo percebendo logo que não era exatamente para ele. Quando terminou de ler, guardou no bolso da calça, desejando que ela simplesmente evaporasse. Era uma carta de Malfoy. Uma carta que pertencia a Hermione, embora Harry não soubesse exatamente se deveria entregar ou não. Durante todo o dia, até a hora em que Harry teve permissão para entrar na ala hospitalar, aquela carta ficou pesando em sua consciência, mas do que pesava em seu bolso. A carta toda era um “adeus”, mas de quem, isto Harry não podia deduzir. “Meu destino e o destino de Hermione estão em suas mãos”, dizia a carta, um destino que cabia a Harry decidir.





Harry contou os minutos até que a tarde enfim chegasse. Quando chegou a ala hospitalar, Madame Pomfrey resistiu em deixa-lo entrar, mas depois, pensando que talvez surtisse algum efeito positivo em Hermione, abriu as portas para ele.

Harry aproximou-se da cama de Hermione, silenciosamente, rezando para não perturbá-la, embora quisesse muito vê-la acordada e bem disposta.

Ela estava dormindo tranqüilamente, mas estava bem mais corada do que nos últimos dias. Bem ao lado da cama, havia um estranho objeto que lembrava muito um aparelho de hospital que os trouxas usavam para monitorar o coração, mas a diferença é que não havia nada ligado a Hermione, nem fios, nem soros ou seringas.

Naquele objeto em forma de caixa, havia somente uma pequena linha numa cor verde fluorescente que alternava em pequenos picos a cada batimento de Hermione.

Harry sentou-se do lado da cama e começou a observar atentamente a pulsação, desejando que cada pontinho revelasse mais sobre o estado de saúde de Hermione do que já mostrava. Do lado daquela engraçada caixa, havia um frasco vazio de uma poção, anteriormente ministrada, conforme deduziu Harry. Ele desejava desesperadamente que tudo o que fizera pudesse ter efeito e que Hermione pudesse se recuperar.

- Madame Pomfrey? – Harry perguntou, ao ver a senhora se aproximando de onde estava.

- O que foi, querido?

- Ela... ela vai se recuperar... o que eu fiz piorou o estado dela?

- Calma Harry você fez tudo certo, estou admirada, graças seu pensamento rápido você conseguiu salvá-la.

- E as seqüelas...? Ela ficou muito tempo sem respirar....

- Fique calmo, está tudo bem, esse monitor é só para precaução. Ela vai ficar boa. – disse a gentil senhora, saindo do aposento para deixá-lo a sós com Hermione.

Harry voltou a olhar para o monitor. Os batimentos pareciam constantes. Seus olhos estavam fixos no pontinho verde que mostrava a pulsação, como se cada batimento fosse também seu próprio coração. De repente, Harry sentiu que Hermione se mexia, tirando-o de seu transe.

- Mione? – Harry perguntou, retirando alguns fios de cabelos sobre o rosto de Hermione, e acariciando a face macia de Hermione, enquanto ela parecia despertar.

Hermione abriu os olhos vagarosamente. Harry ficou emocionado ao vê-la acordar. Uma felicidade que se espalhou pelo seu ser, tanto, que queria ser capaz de irradiar esta felicidade para ela.

- H-harry...? – ela balbulciou.

Quando Hermione tentou se mover, gemeu de dor. Levou a mão ao peito, bem onde Harry fizera a massagem cardíaca.

- Ah, Mione, me desculpa, eu não queria machucá-la.

- Me machucar? Por que?

Hermione não entendia, mas quando viu o monitor ao lado da cama ficou surpresa e assustada.

- É um mon...

- Eu sei o que é... eu já vi isto em algum livro... o que... Harry... o que aconteceu? - Hermione perguntou, muito confusa, sem saber o que tinha acontecido.

- Bom, assim que saímos de Azkabam, durante a viagem no Testrálio, você desmaiou e eu percebi que não estava respirando. Eu fiquei apavorado, então fiz sinal para o Rony, e embora estivéssemos perto do Castelo eu achei mais prudente descermos em uma clareira, na floresta proibida. – Harry relatou, preocupado. - Assim que decemos eu a coloquei no chão e quando tomei seu pulso e vi que estava muito fraco, coloquei minha cabeça em seu peito e eu...foi assustador Mione... não escutar seu coração bater... foi aí que vi que você teve uma parada cardíaca. Eu tentei animar você com o feitiço PULSATO, mas não consegui. Eu fiquei desesperado, Hermione. Tentei tudo o que podia, até massagem cardíaca. Sinto muito se a machuquei, não queria machucá-la.

- Mas você me salvou, Harry. Esqueceu que eu sou nascida trouxa? - Hermione interou. Ela conhecia o procedimento trouxa para reanimação e, apesar de muitas pessoas não confiarem nestes métodos, ela bem sabia que eram métodos científicos confiáveis que os trouxas desevolveram durante séculos.

Pensando no que Harry fizera, abandonando a magia para salvá-la, Hermione abriu os lábios num sorriso timido, mostrando seus dentes alvos e alinhados. Era a primeira vez que sorria desde que aquele pesadelo começara. Mesmo abatida e visivelmente cansada, aquele sorriso a deixava adorável. Harry desejava muito beijá-la àquela hora, mas o peso da carta de Malfoy em seu bolso, impedia-o.

- Hermione... sabe – Harry disse, enrusbecendo, continuando o relato – Eu.. er... quando eu fiz a massagem cardíaca eu, bom, eu tive que rasgar a sua roupa, só queria que soubesse que, não tentei nenhum atrevimento.

- Eu sei, Harry, eu sei. - Hermione enrusbeceu também, envergonhada ao pensar que Harry havia rasgado sua roupa, mesmo sabendo que era algo necessário. – Rony também estava lá, quando aconteceu?

- Tava sim.

Hermione enrusbeceu mais ainda.

- Você avisou Dumbledore sobre os ataques? – Hermione perguntou, deixando morrer um sorriso sem graça nos lábios, tentando, desesperadamente, mudar de assunto.

- Avisei, sim. E avisei o Ministro. O babaca queria te prender novamente. Tem alguma coisa estranha Hermione. Alguma coisa estranha no jeito do Fudge. – Harry não falou nada sobre Rony, não queria incomodá-la. E arrependeu-se de ter falado o que falara, sabia que Hermione poderia ficar apreensiva.

- Há muito tempo que eu estou estranhando a obsessão de Fudge e de Voldemort por mim. Mas não tenho idéia de que tipo de ameaça eu posso oferecer. Eu sou a AMIGA de Harry Potter. Só isso, eu não sou O Harry Potter.

Harry sorriu quando Hermione falou “amiga”. Já era um progresso da parte dela, mas Hermione ficou séria.

- Harry, estou falando muito sério. Eu quero que saiba que o que fez por mim, mexeu muito comigo. Você salvou a minha vida, e eu serei eternamente grata, mas não pense que esqueci tudo o que você fez, como você me magoou. Você passou de meu melhor amigo pra meu pior inimigo, Harry, e eu confiava mais em você do que em meus pais, até. – Os olhos de Hermione marejaram de lágrimas. Lágrimas que estavam custando muito para extravasarem nos últimos dias. – Eu não sei se um dia poderei perdoá-lo.

- Não fale mais, Hermione, você não pode se esforçar...

Harry abaixou a cabeça, não conseguiu resistir às palavras de Hermione. As lágrimas vieram aos seus olhos e correram por sua face. A carta de Malfoy parecia pulsar em seu bolso com a consciência de que isto era o melhor para ela. Hermione o odiava agora, e amava a Malfoy. Isto bastava para que ele soubesse o que fazer. Era seu dever entregar Hermione para Malfoy, nem que isto causasse a maior ferida de sua alma. Se isto era necessário para a felicidade de Mione, então, ele o faria. Por que a amava, e esta verdade nem mesmo Hermione poderia tirar dele.

Ele enxugou as lágrimas com as costas das mãos e pegou a carta na mão, como se a pesasse com a palma.

- Esta carta pertence a você, Hermione. Vou deixá-la agora. – Harry disse, colocando a carta na mão de Hermione. – Eu não quero te encomodar, você precisa se recuperar agora.



Hermione ficou tocada com a expressão de Harry, mas manteve-se séria. Ficou curiosa com o conteúdo da carta imaginando se fora escrita por ele, mas não a abriu até que Harry saísse do aposento.

Era um pergaminho muito sujo e surrado, como se arranjado de última hora e o brasão tinha um enorme M em cera vermelha. Não era a escrita de Harry e o selo estava quebrado.

Não contendo mais a curiosidade, Hermione a abriu:



“Minha cara, Hermione



É com meu coração e minha alma que agora lhe escrevo, tentando extrair de meu ser, tudo o que desejo lhe falar. Eu pensei diversas vezes antes de escrever, e quando, enfim tive a coragem, a imagem do seu rosto me veio à mente como uma brisa suave que varre todas as preocupações.

Eu sempre pensei te odiar, Hermione, pois você era a garota de Harry e Harry era meu inimigo. Eu soube desde o início que você era uma garota especial, mas, acabei me envolvendo demais com o meu mundo deturpado, cheio de maldades e desviei-me do caminho que me levaria até você, embora eu deva admitir agora, querida, que sempre desejei estar ao seu lado.

Você é a luz que iluminou o meu espírito e me fez querer ser melhor. Se é tarde, Hermione, eu não sei, mas vou passar o resto dos meus dias tentando ser melhor.

No entanto, diante do que está acontecendo em nosso mundo, minha presença ao seu lado é quase inconcebível. A partir do momento que ajudei a sua fuga das garras de meu mestre, acabei me tornando mais um alvo. Em nenhum momento eu me arrependi do que fiz, Hermione, quero que saiba, apesar das dificuldades que estou passando agora. E sinto muito não ter a coragem suficiente para voltar e lutar ao seu lado.



E por isso que eu me despeço aqui. Pois a guerra que vem à sua frente é dura e pesarosa e, com certeza, mudará o mundo de uma maneira irreversível.



E juro para você, e para Harry Potter, que também lerá esta carta, que você fez meu coração gelado pulsar de uma maneira que nunca pulsou e isto já valeu a pena por uma vida inteira.



Eu amo você, sempre amei, e sempre amarei... até o fim dos meus dias.



Adeus meu amor...





Harry, não somos amigos e agora é muito tarde para tentarmos ser. No entanto, você sabe que o mundo mágico sofrerá um colapso nos próximos dias e tudo poderá acontecer, inclusive a minha morte e a sua. Eu gostaria que Hermione soubesse do meu amor por ela, mas acho que esta revelação poderá perturbá-la e não quero atrapalhar o seu relacionamento. Assim, estou colocando esta carta em suas mãos: você é o seu melhor amigo e agora que ela não tem mais ninguém, acho que você deve ser o responsável pela decisão de entregar a carta a ela ou não e decidir o seu destino. Se não a entregar... eu entenderei e saberei que não sou merecedor deste amor. Meu destino e o destino de Hermione estão em suas mãos. Decida sabiamente.







Draco Malfoy.”



Hermione fechou a carta com um sorriso triste no rosto. Estava feliz e aliviada por saber finalmente que Draco estava vivo e bem. A revelação que ele fizera era algo tocante e emotivo, algo que, Hermione tinha certeza, Draco fizera com o coração e isto era o que mais importava para ela. Ela FINALMENTE havia conseguido converter um coração enegrecido pela maldade de Voldemort e o trouxera à luz. Isto bastava para que ela se reanimasse na luta.

Nos últimos dias, ela havia se desvirtuado de suas metas, de seu papel. Também pudera, Harry a havia perturbado e a provocado de tal forma que ficara totalmente confusa. Ah... Harry, e seus olhos verdes profundos, marejados de lágrimas demonstrando um sentimento que Hermione não conseguia compreender. Ele fora bravo! Hermione concluira. Ela sabia que se fosse Draco no lugar de Harry e Harry no lugar de Draco, Hermione sabia que jamais leria a carta.

Hermione ficara tocada com o gesto de Draco, mas ainda mais tocada ficou pelo gesto de Harry. Afinal, estava nas mãos dele a carta e ele deveria escolher entregar ou não. Malfoy lhe dera este direito, um direito que Harry recusara para vê-la feliz.

Tudo isto a deixava muito feliz, pois sabia que Harry estava começando a entender seus sentimentos e a agir como deveria agir, mas estava também triste, pois a carta de Malfoy deixava claro que a guerra estava muito perto e sabia que tudo poderia acontecer. Este perigo iminente a fazia temer pela vida das pessoas que amava. Sabia que havia baixas numa guerra, mas o que faria se seus amigos morressem? E se algum dos professores morresse? E se Minerva e Dumbledore morressem? E se Rony, Neville, Gina e Luna morressem? E se Harry morresse...?




Este capítulo foi deselvolvido em colaboração com Cristina, autora da fic "O Silêncio de Hermione".

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