Contra-golpe
"Não é vergonha ter medo. Nós todos temos medo. O que você tem que fazer é descobrir do que tem medo... Porque quando você sabe o que é... Você pode vencê-lo. Melhor ainda, você pode usá-lo."
“Brasileiro busca o sucesso nos gramados de Torquay”. Pela quinta vez, João Pedro folheava a primeira edição do ano do jornal escolar “A Tocha” e não continha o riso. Hermione havia feito o inimaginável com as inúmeras conversas que travaram. Sam e Draco não pouparam as brincadeiras para cima da nova estrela do colégio. Naquela segunda-feira foi impossível para o brasileiro passar despercebido.
Cedrico releu a reportagem de capa e se perguntava se o rapaz, realmente, estava disposto a todos aqueles sacrifícios para sua profissionalização no esporte. O desempenho do filho de Sirius Black era elevado se comparado com a maioria dos estudantes que formavam seu plantel, mas, pouco relevante para os padrões das categorias de base de times profissionais ingleses. O brasileiro precisaria evoluir consideravelmente em trabalho coletivo se quisesse sonhar com o futuro dentro das quatro linhas.
_ “Aos 9 anos, a brincadeira evoluiu para esporte e pouco tempo depois, ganhou possibilidade de me proporcionar um futuro. Eu cresci dentro dos gramados e espero viver disto em breve”. – gargalha Draco lendo um trecho da reportagem de A Tocha. – A cidade vai ser pequena para comportar todo o seu ego.
_ O que foi primo? Ta com inveja? – provoca o brasileiro.
_ Fala sério! Eu sei que você aceitou a entrevista só para se aproximar da Granger. Me impressiona apenas ela ter lhe dado tanta atenção. – argumenta Malfoy.
_ Não precisa se sentir desprezado, Draco. Na próxima edição, eu sugiro que ela faça uma matéria com o cara menos talentoso da família! – debocha.
_ Não foi a matéria desta edição? – retribui a “gentileza” – Porque não sou eu quem tem ficado no time reserva nos últimos treinos.
Irritado, João Pedro retorna sua atenção para o almoço e permanece em silêncio, enquanto os amigos continuam lendo o primeiro jornal do ano escolar. Na verdade, sua consciência pesava com situações adversas e que poderiam definir seu destino. A comunicação com os pais e o treinador estava bastante rara e insignificante. Apenas dois telefones e breves emails em mais de três meses residindo na Inglaterra. A desculpa do pai era que a gravidez de risco da mãe exigia toda a sua atenção e pela recente mudança para a casa de seu melhor amigo e padrinho do garoto, Remo Luppin, a certeza da segurança e bem estar do filho estava redobrada.
Após a conversa com o técnico, Cedrico Diggory, o brasileiro tentou modificar seu estilo de jogo em vão. Não conseguia os mesmos resultados e decaiu de produção, resolvendo retomar sua antiga forma. Consequentemente, desagradando seu treinador que optou por torná-lo uma peça a mais na equipe e não alguém para fazer a diferença.
Afastada de seu habitual grupo no período escolar, Brooke folheia demoradamente o exemplar de “A Tocha”, que contém sua primeira colaboração como a colunista de moda e tendências. Algumas garotas passam e elogiam o texto da jovem, que orgulhosa se detém na leitura da matéria de capa.
“A batalha para entrar um lugar no sol no mundo do futebol começou aos 12 anos nas categorias de base de um clube do interior do Rio de Janeiro, Madureira. Depois de passar por complicada situação econômica na família, o convite para integrar o elenco da equipe juvenil do Celtics empolgou o jogador. “A possibilidade de jogar em um clube inglês parecia a solução de todos os meus problemas e a grande chance da minha vida”, avalia Black.
Mas, rejeitado pelo treinador Mark Meyer, o brasileiro de 16 anos sentiu que a rotina longe de casa era difícil e confessa que pensou seriamente em desistir. “Eu fiquei quase dois meses sem disputar nenhuma partida. Isso é horrível para quem acreditava que iria se destacar rapidamente. O mais frustrante era a dúvida constante de que o meu melhor não era o suficiente. É triste sentir em cada manhã que aquilo em que você acreditava ser realmente bom poderia não passar de um engano”, afirma João Pedro.
Ao examinar a foto do entrevistado, Brooke o reconhece há alguns metros rodeado por Draco extremamente sorridente e mais 4 alunos do 2º ano. Com a insistência em fitar o grupo, Malfoy percebe o interesse e a solidão da filha de um dos principais amigos de seu pai e gesticula lhe convidando para se unir a turma.
_ Que milagre é este que me permite te ver sem o trio maravilha a tira colo? – brinca Draco se referindo a Hermione, Ronald e Harry.
_ Eu e o Harry brigamos ontem... Então, bem... – explica sem jeito a garota sentando-se perto do grupo.
_ Geralmente, o Draco possui a tendência de falar a coisa errada no momento mais inadequado possível. – resmunga Gina – Mas, adorei suas dicas de moda no jornal, Brooke! – modificando o assunto principal.
_ Ah, obrigada! Achei bem interessante colaborar, sabe? É uma área que eu realmente gosto! – anima-se a jovem – Também fiquei muito impressionada com sua entrevista, João Pedro!?! – tenta se enturmar, o garoto se limita a sorrir – E aquela festa na beira-mar vocês foram? Ouvi diversos comentários pelos corredores.
_ Eles trabalham direto no fim de semana, mas, eu fui. Tava lotado! Parece que vão fazer outro nesta sexta-feira... Se a gente vencer o jogo, tive pensando que a gente pode comemorar lá! – planeja Draco.
_ Em caso de derrota, vocês também pode afogar as magoas nesta festa. – rebate Gina.
A risada contagia o grupo e os jogadores saem em defesa própria. Pela primeira vez em meses, Brooke se diverte verdadeiramente. Incluída de maneira improvisada no novo e benéfico circulo de amizades de Draco não se viu isolada ou obrigada a inventar algum assunto para não permanecer perdida na conversa. As gargalhadas e suas contribuições foram espontâneas, por mais que conhecesse pouquíssimo daqueles adolescentes.
Harry terminava de contar os detalhes de seu provável termino de namoro para o melhor amigo, quando Hermione sentasse ao lado dos dois completamente eufórica com diversos exemplares do A Tocha em mãos. A menina se contém e escuta até a última palavra da desilusão amorosa do colega de classe antes de confronta-los com relação as suas impressões de seu primeiro trabalho como editora-chefe.
_ Ficou muito bom, Mione! Ainda não consegui ler todas as páginas, mas, você ta de parabéns! – ressalta Harry, a garota agradece ansiosa pelo respaldo do ruivo.
_ Ah, obrigada Harry! Eu percebi alguns erros de digitação e algumas coisas não saíram da forma com que eu planejei, só que... Está de bom tamanho para a primeira vez, não é? – busca os olhos de Ron.
_ Você poderia ter ouvido o treinador. – limita-se o ruivo, ela não entende. – Na matéria sobre o João Pedro... Acho que ficaria mais completa se o técnico Diggory também tivesse sido entrevistado, sabe? Ele poderia passar mais informações do desempenho do Black no nosso time. – acrescenta – E bem, você deu muito destaque para esse cara. A nossa equipe é formada por mais 22 jogadores além dele! – implica descontraído.
A jovem permanece estática diante das afirmações de seu amado melhor amigo. Ele, realmente, lhe dera boas sugestões para o desenvolvimento de suas matérias e ainda lhe presenteara com uma vivaz demonstração de ciúme. Sua segunda-feira começara muito bem.
_ Você tem razão! – os dois garotos lhe encaram espantados – Eu deveria ter falado com o professor Diggoy. A questão é que eu havia conversado com ele sobre a mudança de treinador e achei melhor não repetir a fonte, entendem? Mas, se vocês jogarem bem na estréia eu posso encaixar matérias com o capitão e o goleiro da equipe! – sorri.
Ron abre um imenso sorriso e emenda mais elogios a amiga e colega de classe. Os três finalizam a refeição apressadamente para poderem se dedicar a suas atividades extracurriculares.
Apesar de ocupado com os afazeres estudantis, Harry não passou despercebido a nova interação de sua namorada com direito a risos e animada conversação. Ela estaria sentindo a sua falta? Teriam que resolver aquela situação para o bem ou mal do futuro de seu relacionamento. “Precisamos conversar. Você pode me esperar depois do treino de futebol?”. Ele manda por mensagem de celular e em resposta por SMS, ela confirma o compromisso.
O problema na relação entre Harry Potter e Brooke Davis nunca beirou a falta de afeto ou fidelidade. A problemática consistiu no papel em o namoro desempenhou na vida de cada um. A garota jamais se envolvera tão profundamente com alguém e não tinha consciência de quando falar “eu te amo” seria verdade e conveniente. Esquecida pelos pais e criada praticamente pela empregada, Brooke alimentou um medo constante pela rejeição que estampou em seus relacionamentos superficiais até o momento em que o filho de Tiago e Lílian entrou em sua vida e abalou sua indiferença natural.
O primeiro contato com a atual namorada aconteceu em trabalhos escolares. O entrosamento foi resultado da aproximação com Hermione e o primeiro envolvimento amoroso dos dois ocorreu em uma festa. Passar a noite com alguém apenas por diversão não era normal para Harry, ainda mais se tratando de Brooke. O gesto de ligar no dia seguinte e marcar outro encontro, encantou a jovem desacostumada com este tipo de atenção. O pedido de namoro aconteceu poucos dias depois e o relacionamento foi ganhando seriedade e rendendo sentimentos inesperados para ambos. Contudo, serviu como alicerce principal para o emocional frágil e irregular de Brooke e fortalecimento para o protegido filho do casal Potter.
Aos 17 anos, Brooke nunca havia declarado tantas vezes sua afeição por qualquer pessoa como naqueles meses, por isso, se sentira desamparada e totalmente vulnerável após o episodio mais dramático do namoro. A jovem percebeu estar plenamente depende do apoio de Harry e as complicações que esta conseqüência poderia render em caso de rompimento. Ela precisava aprender a caminhar e manter com as próprias pernas.
Harry não esperava encontrar a namorada tão decidida. O semblante confiante abalou o rapaz, que pode apenas escutar os argumentos e concordar que sua iniciativa em decretar o fim daquele relacionamento seria a mais acertada. Em pouco mais de 20 minutos de dialogo, Harry perdeu a namorada de quase seis meses e a certeza de que era querido por alguém. Estranhamente, ele saiu mais destruído do que Brooke.
Os dias seguem seu tradicional curso e a distancia Brooke e Harry observam suas novas rotinas se intensificarem. O trio retorna ao seu formato original e a possibilidade de romantismo naquele circulo de amizade intimida Ron a tomar alguma atitude mais definitiva em relação a sua melhor amiga. O que determina na frustração da menina e culmina na aproximação cada vez mais evidente entre ela e seu principal entrevistado na primeira edição da “A Tocha”.
A semana seria encerrada com a estréia da equipe de futebol escolar na Liga Estadual Inter-Colégios. Decepcionado com a maior promessa de seu recente time, Cedrico contraria as expectativas e escala Draco como atacante de referência e deixa o primo brasileiro amargando a reserva. Harry entra com a responsabilidade de comandar a equipe e Rony de evitar o balanço das redes da escola de Torquay.
Dino Thomas recebe a incumbência de articular o meio-campo da equipe e ligar os contra-ataques, o que não consegue realizar devido a forte marcação desde os primeiros instantes do jogo. A torcida formada basicamente por alunos, pais e amigos dos atletas se desaponta com a partida truncada e com poucas chances reais de gol.
O primeiro tempo se encerra com trabalho excessivo para Harry e pouca movimentação para o ataque. Irritado pela ineficiência do meio-campo de seu time, Malfoy explode ainda no vestiário e compromete a concentração de todo o elenco. Cedrico tentar contornar a situação e reflete sobre a possível de inserir João Pedro para desafogar seus volantes e possibilitar algum resquício de criatividade.
Abalado pela repentina exclusão da partida, o brasileiro permanece omisso e apático a difícil situação enfrentada por seus companheiros. Preferindo aquecer durante o intervalo a ficar e escutar as orientações de seu treinador, o que acaba lhe custando a oportunidade de entrar em campo. Em seu lugar, Simas é chamado para auxiliar Dino na saída de bola. Harry é recuado e passa a atuar como volante de contensão, ou seja, seu papel agora seria exclusivamente de marcação.
Remo observa com estranheza seu afilhado retornando para o banco de reservas. O mesmo ocorre com os demais conhecidos do jovem atleta. Um passe errado serve para decretar o fracasso do inicio do trabalho de Cedrico Diggory naquela equipe. Simas tenta ligar o contra-ataque com Draco, mas, a bola é interceptada por um adversário e com a defesa desarrumada o placar é aberto em favor dos visitantes. Visivelmente alterado, o treinador prefere substituir Draco por Blaise Zabini. Furioso pela saída, Malfoy não cumprimenta seu treinador e senta-se bufando ao lado do primo.
_ Não acredito nisso! A gente perdendo e ele me tira para colocar o Zabini! – dispara, Diggory presta atenção no dialogo.
_ Também você não sai da área! Eu já te falei que não adianta ficar parado na banheira, o estilo de jogo do nosso time se encaixa melhor com um atacante que se movimenta direto e dispersa a marcação. – assegura João Pedro.
_ Este esquema tático só dá certo quando você ta em campo. Por acaso, visse se o Dino conseguiu criar alguma coisa? A bola só chegava perto de mim na base do chutão! – explica Malfoy – O Diggory não vai te colocar mesmo? – estranha, o brasileiro dá de ombros.
Nervoso, o capitão ainda causa uma falta desnecessária perto da área resultando no segundo gol e determinando a primeira derrota de Cedrico Diggory como técnico de futebol escolar. Entretanto, o saldo não fora totalmente negativo. A percepção da tática da partida do brasileiro animou o inexperiente treinador e determinadas peças da equipe cumpriram o seu papel apesar da derrota.
_ É, parece que nos restou seguir a sua dica, Weasley. – declara Draco na saída do campo.
_ Do que você ta falando? – estranha a garota abraçada ao pretenso namorado.
_ Afogar as magoas na festa de hoje na beira-mar. Vocês estão a fim de dar uma volta lá? – convida o costumeiro grupo.
_ Já perdi meu tempo no banco de reservas, não quero perder o resto da noite em casa. Eu topo, vocês vem? – JP sugere aos vizinhos.
_ Antes da meia-noite, a entrada ainda é $10, não é? – confere Sam, Malfoy confirma com a cabeça – Vocês – referindo-se a Dawn e Gina – Aceitando, eu me animo!
_ Ei, Winchester! Não desgruda mais da minha irmã, agora? – provoca Ronald chegando com Hermione e Harry.
_ A gente está pensando em ir para a festa lá na beira-mar, vocês vem? – a ruiva convida o trio.
_ Não dá, vou tomar um banho em casa e correr para o restaurante. Hoje, tem um coquetel enorme e o pai da Luna só pode me liberar para a partida mesmo. – se despede Ron.
_ Eu também não estou empolgado para festas, não. Te dou uma carona, Ron. Você vem, Hermione? – questiona o capitão.
_ Sim. – retorna a atenção ao grupo – Gina, me liga a hora que você estiver indo, ta? Não to com vontade de passar outro fim de semana trancada em casa. – a menina confirma o pedido.
_ Ela vai mesmo com a gente nesta festa? – exclama Draco – O meu carro vai ficar pequeno para tanta carona. A Luna também vai?
_ Provavelmente. O estranho não será a Hermione nesta festa, mas, ela chegando de carona contigo, Malfoy. – debocha Gina.
A caminho da casa da melhor amiga, o ruivo se remexe no banco despertando a atenção de Hermione. A garota estranha a reação do amigo ao saber que ela compareceria ao festejo sem a presença deles.
_ Por que essa cara, Ronald? Não é a primeira vez que eu saio sem vocês! – argumenta a jovem.
_ Ah, mas... Justo hoje, Hermione? Nós perdemos o jogo, eu tenho que trabalhar... Não é exatamente a melhor data do calendário! – resmunga.
_ Sinceramente, nada me convence a festejar nesta noite. A minha ultima esperança pra salvar a semana era a vitória, mas, pelo visto não estou na melhor época da minha vida.
_ Então, Rony, se você não estiver muito cansado pode aparecer na festa depois do expediente no restaurante. – arrisca a menina envergonhada.
_ Você vai precisar me dar um excelente motivo para isso. – brinca.
_ Eu prometo tentar de tudo para salvar a sua noite – afirma a jovem.
_ O que não vai ser nada difícil, Hermione. – brinca Harry, corando Ronald e Hermione.
O condutor deixa o amigo ruivo em casa e se encaminha para residência da família Granger sendo alvejado pelo olhar nada contente da garota.
_ A gente poderia ter passado sem esse comentário, né? – fala desconfortável.
_ Qual é, Mione!?! Já está mais do que na hora de vocês se acertarem. Todo mundo sempre soube do sentimento entre vocês... É só facilitar as coisas! – aconselha.
_ A questão não é iniciar um relacionamento, Harry. O problema é se a relação chega ao fim. Você sabe como é complicado lidar com isso, agora, imagine na situação de melhores amigos. Eu me apavoro apenas com a hipótese de não contar com o Ron na minha vida. – confessa.
_ Terminar não significa que não valeu a pena. Vocês nunca foram só amigos. Sempre teve alguma coisa a mais. – avalia.
O evento comemorativo na beira-mar atrai centenas de jovens da região de Torquay. A festa temática começa embalada pelo ritmo eletrizante do psy. Mesmo Buffy e Dean se empolgam em comparecer e aliviam o número de caronas, a que Draco estava obrigado em conduzir.
Estranhamente, Hermione esquece os problemas com o mais rebelde dos colegas de classe e mantém discreta e amistosa conversação com o filho de Lucio e Narcisa. A garota bem que tentou tirar Brooke de casa, mas, o rompimento com o capitão do time de futebol ainda estava muito recente na memória da jovem.
Pela primeira vez, o grupo se reúne em uma verdadeira comemoração adolescente. Sam e Gina cada vez mais estampam as características de um típico casal, mesmo que nenhum dos dois tenha manifestado claramente o interesse em oficializar ou elevar o grau de seriedade da relação. Praticamente inseparáveis, os jovens tentam aproveitar a noite respeitando o espaço individual de cada um. O rapaz já entendera que Gina valorizava demais sua liberdade, então, tentava agir respeitando a necessidade latente da garota de estar entre os amigos.
Draco não demorou muito para reencontrar os antigos companheiros de saídas noturnas, entretanto, preferiu permanecer ao lado dos atuais acompanhamentos. O herdeiro dos Malfoy notara que na presença dos colegas de seu primo se sentia mais a vontade em ser ele mesmo e reduziu drasticamente as probabilidades de encerrar a noite encarcerado em casa ou em uma delegacia. Mesmo a relação com os antigos desafetos de sala estava mais equilibrada o que melhorara consideravelmente o clima nos treinos. Parar seu carro em frente à casa de Hermione e lhe trazer para a festa, realmente, comprovavam a nova fase.
O simples pedido da filha para que Alan Lovegood aprovasse sua saída naquela noite serviram para certificar algo que o dono do maior restaurante de Torquay suspeitava há algum tempo. Luna estava muito menos arrisca que o normal. Atualmente, a garota permanecia mais em casa ou nas companhias de Gina e Dawn. A solicitação para sair de casa foi inesperada para o Lovegood. Ainda não existia nada parecido com um dialogo entre pai e filha, todavia, um começo neste caso já representava uma gigantesca vitória. Alan fez questão de perguntar como, com quem e que horas a garota pretendia regressar. Respostas secas, mas, esclarecedoras animaram o homem, que não inibiu o programa da filha.
Já na festa, Luna tentava se adequar ao ritmo mais sossegado dos companheiros e não passar dos limites com o mais novo colega de classe. Particularmente, Luna adorou a fisionomia e a personalidade do brasileiro e normalmente, não seria nada discreta para deixar extremamente evidentes suas segundas intenções. O entrave ou novidade foi a aproximação e cumplicidade que trocaram desde o primeiro dia de aula. João Pedro se tornou mais do um possível caso para ela. Por isso, acompanhou com desagrado o visível interesse do latino em Hermione e a atenção quase nula que ele lhe rendera na noite em sua casa.
Por sua vez, o filho de Sirius Black se preocupava em esquecer o seu horrível inicio de temporada com ajuda da cerveja e da música alta. Estava determinado a não terminar aquela noite sozinho. Hermione seria sua escolha natural, mas, a garota parecia alheia ao seu redor e por mais que suspeitasse da possibilidade de engatar algo com Luna preferia se distrair ao lado dos vizinhos.
“Como está a festa? Você ainda está disposta a me esperar?” é o primeiro contato que Ron consegue com Hermione durante a agitada recepção que tentava organizar no restaurante. A menina sorri com a mensagem e trata de renovar o compromisso rapidamente. “Está boa! Enquanto tiver música, eu tenho um excelente motivo para continuar aqui. Vai demorar?”. O ruivo disfarça e responde que tentaria sairia em um hora, o que resultaria em uma chegada na festa entre às 2 ou 3 horas da manhã.
_ Não acredito que em uma festa em que até o meu irmãozinho está acompanhado, você vai ficar só na base da dancinha! – debocha Dean.
_ Ainda ta cedo, cara. – relata o brasileiro sorridente.
_ Você não seguir a dica do Dean e me deixar aqui sozinha, né? – se preocupa Dawn – O Sam e a Gina e o Dean e a Buffy não se desgrudam e o Draco sumiu a tanto tempo que deve estar com alguém... A Luna não é a companhia mais indicada para uma festa... E eu realmente não conheço a Hermione... Então, só me resta você, JP. – dispara.
_ Você sabe mesmo convencer alguém! – brinca – Mas, eu não vou sair para procurar quando já tenho a melhor companhia da festa. – fala próximo a menina.
_ Você não acha que eu vou cair nessa, né? – corta prematuramente qualquer tentativa do brasileiro.
_ Entende como você quiser, mas, eu falei a verdade! – sorri matreiro.
_ Que cara de pau! Você tava até agora em cima da Hermione... Você não presta mesmo! – declara se afastando do vizinho.
Luna observa a estranha situação protagonizada pelos dois amigos de sala de aula e percebe o tom de malicia com que o brasileiro reagiu ao dialogo com Dawn. Percebendo o descaso dele com a nova música, tenta uma aproximação.
_ Você não está com muita sorte hoje, hein!
_ Fica a vontade pra dar um fim na minha onda de azar! – provoca descaradamente.
_ Você pensa que eu sou assim fácil? – debocha Luna.
_ Eu pedi um favor, mas, não determinei o método! – não perde a oportunidade o brasileiro.
_ Você é um cafajeste, João Pedro! – desdenha.
_ Então, você deveria parar de dizer essas coisas. – aproxima-se o garoto.
_ Que coisas? – estranha a menina.
_ Coisas que me fazem ter vontade de te beijar. – decreta o dialogo beijando a colega de sala.
Luna é surpreendida pela atitude do rapaz, mas, em seguida corresponde ao beijo enlaçando com as mãos o pescoço de João Pedro. A cena também prega sustos distintos em Hermione e Dawn. A vizinha se entristece pela quebra de promessa do rapaz em não se envolver com ninguém naquela noite para não deixa-la sozinha e a editora-chefe do jornal se acostumara as investidas sutis do rapaz e mesmo que estivesse distante dele naquela festa não imaginava vê-lo aos beijos com Luna. O brasileiro cochicha algo no ouvido de Luna, ela sorri e os dois voltam a se enturmar.
Outra ação inesperada tira o restante do ar do pulmão de Hermione. Visivelmente cansado e com a roupa já amassada, Ron se aproxima do gigantesco grupo de conhecidos e faz questão de cumprimentar lentamente cada um, deixando, convenientemente, a melhor amiga por ultimo. O sorriso exausto do ruivo fascina de maneira simples e extraordinária a morena. O rapaz possuía essas particulares e a simplicidade era o melhor de seus encantos.
_ Ei, você, realmente, me esperou! – fala abraçando-a.
_ Eu prometi salvar a sua noite, não foi? – sorri tímida.
_ Não precisa, você faz isso diariamente. – deixa escapar Ron, corando imediatamente.
_ Como assim? – solta-se dos braços do amigo.
_ Discutir com você é a melhor parte do meu dia. – suspira cansado e encorajado, ela despista estapeando levemente o braço dele – E te fazer rir é o que eu faço de melhor. – declara-se o rapaz.
_ Quem é você e o que fez com o meu melhor amigo? – brinca mudando de assunto – Não te imaginava com tão bom humor depois da derrota.
_ É só o início da temporada, a gente vai ter muitos jogos ainda. – fala despreocupado entrelaçando seus dedos as mãos da garota.
_ Você anda me surpreendendo ultimamente... – sente-se desconfortável com a proximidade do amigo.
_ Espero que eu continue de uma maneira boa... – termina a frase e cola seus lábios aos da melhor amiga.
Um singelo selar de lábios ocorre. O alarme na mente de Hermione dispara e ela barra qualquer outra situação mais complicada forçando uma mão no peitoral de Ron, indicando que ele se afastasse.
_ Ron... – suspira – Ron.... Não... Não é... Não é isso. É só... Só... Amizade. – fala a garota temendo pela reação do cúmplice.
_ O que? – responde assustado.
_ Eu... A gente... Não é nada mais do que apenas... Apenas amigos... – explica novamente temerosa.
_ Nada mais? Sempre houve algo a mais, Mione. – tenta argumentar desesperançoso.
_ Não, Rony. Pelo menos, não para mim. Desculpa... – ele se afasta.
_ Você tem certeza disto? Porque... Por tudo que já aconteceu entre a gente... Eu não posso acreditar que você faria aquilo tudo só para me atingir. – não acredita na resolução de sua aparente história de amor.
_ Por favor, Ron... Eu nunca faria nada para te machucar. – tenta argumentar.
_ E você acha que isso agora vai me fazer bem? – dispara – Eu não entendo essa sua reação agora. Sinceramente, não entendo. – fala se distanciando.
Agoniada, Hermione observa Ronald trocar palavras com a irmã na seqüência, ela encara, descrente, a melhor amiga de seu irmão. Hermione sente o rosto queimar. Sam se distancia da dupla de irmãos e comunica algo que causa mais dialogo e Dean se interpõem na conversação finalizando alguma pendência. No meio da confusão, Gina se separa dos amigos e segue em passadas rápidas e pesadas até a editora do “A Tocha”.
_ Eu não acredito que você fez tudo isso para dispensar o meu irmão deste jeito! – esbraveja a ruiva.
_ Tudo isso o que? – responde no mesmo nível Hermione.
_ Você importunou ele para vir nesta bendita festa, mandou todos os sinais possíveis... Ignorou todo mundo até que ele chegou e depois... Diz que vocês não passam de amiguinhos? Nessa ninguém mais cai, Hermione! – critica – Você fez algo ridículo nesta noite!
Minutos depois, Buffy, Dean, Sam, Gina e Ronald desaparecem e através do comentário geral, a jovem se informa que foram embora e caberia a Draco conduzir os remanescentes mais tarde. A cena foi reprisada inúmeras vezes na cabeça da garota e as palavras sempre saiam de boca como se por vontade sobrenatural e sem que ela conseguisse deter a sentença que desmanchara qualquer possibilidade de relacionamento entre os dois e abalara consideravelmente a amizade.
O medo paralisou a garota e a possibilidade que brigas intermináveis ultrapassassem a condição de amigos e se instalassem na categoria de namorados arruinasse tudo provocou, consequentemente, a ruína de qualquer coisa da hipótese e da certeza. Estranhamente quanto mais temos medo de tomar uma atitude mais erros cometidos em função deste adiamento.
O trabalho, as festas, as lágrimas, os arrependimentos, os sorrisos e os acertos marcam o restante do final de semana em Torquay. A semana começa devagar, preguiçosa e ressentida como boa parte dos adolescentes que adentram a escola naquela segunda-feira. Pela primeira vez em tempos, Ron não acompanha Harry e Hermione, algo que se tornaria rotineiro.
Brooke se depara com o antigo namorado e pela primeira decide não virar o olhar e ignora-lo, se limita a cumprimenta-los e segui seu rumo sozinha. Sentia-se mais solitária do que o habitual, entretanto, mais independente e segura. Esbarrando com Malfoy no corredor optou por qualquer dialogo com o rapaz e seguiu com ele até a sala de aula. A mudança de ambos era notável. Draco não chegava mais apático e destruído devido às festas homéricas no fim de semana, parecia mais centrado, apesar de conservar o humor acido e a tradicional arrogância.
A comédia permanece com os olhos do 2º ano que não cansam de caçoar com o mais novo caso entre João Pedro e Luna, mesmo Dawn deixa-se embalar pelas piadas. Diferentemente de tudo que já passara, Luna permite-se desfrutar da sensação e da ansiedade pela reação do rapaz e decide não se antecipar e aproveitar daquela aparente novidade em relacionar-se com alguém bacana o suficiente para cumprimenta-la no dia seguinte sem qualquer comentário pejorativo ou vulgar.
_ Vocês vão acabar me nomeando a vela oficial! – reclama Dawn sentando-se na sala.
_ Menos né? Não é como se eu e o Sam estivéssemos planejando o casamento. – atiça Gina sendo fulminando pelos olhos do companheiro.
_ Ninguém daqui falou em relacionamento ainda! Então, acho que subir ao altar vai demorar mais um pouco. – decretou Luna.
_ Ei! Estou comprometido... – Sam avermelha no mesmo instante em que pronuncia seu estado civil – Bom, acho que estou. – sorri desconcertado.
_ Fala sério, esse menino me dá tanto orgulho! – debocha João Pedro – Mas, não vi nenhum dos dois mudando o relacionamento no Facebook!
_ É que eu ainda não tinha sido informada... Mas, gostei da novidade! – sorri para colega e aparente namorado – E vocês dois? – apontando para Luna e João Pedro.
_ No Brasil existe uma coisinha que as pessoas costumam respeitar: a privacidade! – dispara no momento em que entra a professora de biologia.
O desinteresse aparece depois de vinte minutos de explicação sobre o modo de vida dos anfíbios e os detalhes nada importantes da alimentação das diferentes espécies. Os cochichos começam a preencher a sala. João Pedro rabisca algumas palavras no caderno, arranca meia página e repassa para a garota que se tornara seu relacionamento em potencial. “Fiquei desconfortável com o comentário da Gina. Podemos conversar no intervalo?”. Pela primeira vez em muito tempo, a filha do proprietário do principal restaurante da cidade sente-se nervosa perante um convite de um rapaz.
_ Então, eu devo esperar um pedido de casamento? – brinca a menina tenta dissipar o nervosismo.
_ Na verdade, eu queria saber a sua opinião sobre a gente. – comenta o brasileiro sentando no pátio ao lado da colega – Eu ainda estou me adaptando e não to a fim de apressar as coisas.
_ Isso significa que eu não vou precisar mudar o meu status no Facebook. – desconversa.
_ Isso significa que eu ficaria com você em qualquer momento. Mas, quero saber o que você pensa sobre o que aconteceu na festa. – confessa.
_ Você é o primeiro cara que realmente me pergunta isso. – revela abalada sensivelmente.
_ Isso é ruim? – questiona intrigado.
_ Não, isso quer dizer que você é realmente o primeiro cara legal com quem eu me envolvo em bastante tempo. Eu adorei a maneira como tudo aconteceu naquela noite e significa que eu voltaria a ficar com você a qualquer momento. – dispara diretamente.
_ Você é incrivelmente desconcertante, Luna Lovegood. – sorri satisfeito o brasileiro – Eu ainda to me adaptando a toda essa mudança na minha vida e não quero colocar você no meio desta confusão. Eu nem sei por quanto tempo vou ficar aqui. – esclarece.
_ Você tem noção de como é desorganizada a minha vida? – brinca – E eu realmente não me prendo muito ao calendário. Vamos deixar as coisas simplesmente acontecerem então? – define.
_ Parece ser uma boa solução para essa bagunça que nós fizemos. – brinca.
Os dois permanecem sozinhos por poucos minutos e a habitual presença dos demais colegas se somam a dupla, que passa por mais deboche e gozações. Draco logo se une aos amigos e ajuda no desconcerto do primo. Já o quarteto transformado em trio e ameaçado em se tornar dupla eventual caminha para os momentos mais críticos desde a união definitiva dos amigos ainda nas primeiras semanas da primeira série escolar. Ron e Harry se direcionam para o refeitório e encontram Hermione sentada com Brooke. Ron, automaticamente, se desvencilha do amigo e encaminha-se para outro ponto qualquer do local.
A menina se sente derrotada e decide ir atrás dele, restando para Potter o primeiro dialogo pós-rompimento com Brooke. O silêncio constrangedor, as perguntas prontas sobre a aula e o fim de semana consomem os primeiros instantes e se esvaziam dando espaço para a alimentação e uma espécie de entendimento silencioso entre os dois. Antes de se envolverem, os dois nunca haviam ultrapassado a intimidade escolar.
_ Sério, você vai me evitar daqui para frente? – pergunta Hermione encontrando Ron nas arquibancadas do campo de futebol.
_ Eu preciso de espaço, Hermione. – responde sem encara-la.
_ Nós somos melhores amigos, Ron! – desespera-se a menina.
_ Não, eu sou apaixonado por você e achei que era correspondido. Nós fomos melhores amigos e ultrapassamos essa barreira. Só você não enxerga isso! – profere irritado.
_ Eu não quero perder a sua amizade. – senta-se ao lado dele.
_ Eu não sou o cara para você, talvez, também não sirva como amigo. – dá sinais de se levantar.
_ Não mistura as coisas, por favor. Eu sempre vou precisar e querer estar perto de você. Mas, não desta maneira. – tenta argumentar.
_ Por que não? Eu não sou bom o suficiente para você? – a fita pela primeira vez.
_ Não diz isso! Você sabe que não é verdade... Eu só... Me desculpa... Eu não quero te afastar... Eu não quero me afastar de você! – fala consideravelmente alterada.
_ Eu não entendo. Você nunca recusou os meus abraços ou impediu as minhas indiretas... Eu imaginei que pudéssemos dar certo. Mas, não me preparei para ouvir não. Não o seu não, Hermione. – confessa também emocionado.
_ O que você quer dizer com isso?
_ Eu quero que você seja feliz, mas, esperava que fosse ao meu lado. Nunca pensei na chance de ser com outra pessoa. Eu preciso de tempo para entender isso.
_ Você me faz feliz... Sempre fez, Ron! – derruba as primeiras lágrimas.
_ Você não sente absolutamente nada por mim além da amizade? – questiona.
_ Não sei... Eu to apavorada com a possibilidade de te perder agora... Eu não sei... Mesmo, não sei... Nem o que te dizer para evitar que você saia da minha vida.
_ Isso não depende de você, como eu não poderia interferir nos seus sentimentos por mim... – dispara Ron ameaçando se levantar.
Impulsivamente, Hermione impede o afastamento do ruivo puxando-o para um inesperado beijo. Atordoado, Ron precisa de segundos para processar o que estava havendo e emendar qualquer reação. O beijo não se estende e nem se aprofunda demais. Era apenas a reação desesperada de Hermione na tentativa de brecar a despedida de Ron de seu cotidiano. Ele ainda permanecia com os olhos fechados quando ouviu os passos dela descendo a arquibancada do campo de futebol e partindo em direção ao refeitório. A partir daquele dia, tudo na rotina dos amigos seria tão surpreendente quanto o segundo beijo trocado.
“Eu sei que um dia você terá uma vida maravilhosa,
Eu sei que você será uma estrela
No céu de um outro alguém,
Mas por quê? Por quê? por quê?
Não pode ser, não pode ser o meu (céu)?”
(Pearl Jam – Black)
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