Novidades sobre o desconhecido



E.E. Cummings escreveu:


“Não ser ninguém exceto você mesmo, num mundo que se esforça dia e noite para torná-lo igual a todo mundo é lutar a pior das batalhas que todo ser humano pode enfrentar e nunca deixar de lutar.”


Estranho. Foi o primeiro pensamento do brasileiro ao acordar em um quarto, uma casa, uma vizinhança completamente diferente do que estava adaptado. Conferiu o relógio: 10h17min, não tão tarde para quem havia varado a madrugada jogando Fifa com pessoas, a quem ele passara automaticamente de desconhecidos a prováveis melhores amigos. João Pedro escolhe uma roupa qualquer na mala e a veste. No outro cômodo de seu novo lar, o que seria uma espécie de sala / cozinha / escritório de Lupin, ele encontra um recado do padrinho avisando que estaria na universidade ministrando aulas e que retornaria perto das cinco horas da tarde.


Muito estranho fora o pensamento de Sam ao constatar que no meio da manhã de sábado ele estava em casa e que, por milagre, sua casa estava praticamente vazia. Dawn terminava de ajeitar os quartos, enquanto, ele tratava de organizar sala, cozinha e começar um almoço básico. Estranho também era receber visitar e não mais membros da sua grande família. Fora dessa forma que ele, beirando as dez e meia, recepcionou o recém-chegado e acordado João Pedro Black. De imediato, o novo vizinho recusou-se a ser um empecilho e muito a contragosto dos anfitriões pôs mãos a obra, ou melhor, a faxina.


Em outro canto muito mais recatado de Torquay, Draco Malfoy ensaiava os primeiros passos fora da cama. A noite bem comportada ao lado dos pais não desgastara tanto o jovem. A primeira e habitual ressaca do final de semana fora adiada, ou mesmo erradicada, por suas ultimas extravagâncias. Há cerca de dez dias, havia sido detido dirigindo embriagado e em altíssima velocidade. Só não passou a noite preso pela atuação extremamente ligeira do advogado Arthur Weasley, pai de seu colega de classe Ronald e da conhecida Ginevra, e pela promessa de Lucio Malfoy que ficaria de olho no rebelde sem causa. Como penitencia estava proibido de sair de casa sem a autorização ou companhia dos pais, o que mudaria em poucas horas... Já que a mãe o liberara para ir a único lugar: visitar o primo, o que aconteceria com hora para ir e vir, é claro. O herdeiro dos Malfoy possuía poucas lembranças do primo brasileiro... Sabia que tinha ido ao país algumas vezes na sua infância e tinha uma vaga idéia da vinda da família de Sirius a Inglaterra há uma década. Nada além do que memórias a muito desgastadas e algumas noticias sobre a frustrada transferência do primo para um time da segunda divisão do campeonato inglês, apenas o que ele sabia até então sobre João Pedro Black.


Alan Lovegood não sabia mais o que fazer para conter sua impulsiva filha. No auge de seus 16 anos, Luna era a cópia física da mãe e possuía a personalidade impossível do pai em sua juventude. Desde o suicídio da mãe, a garota fechara-se em seu próprio mundo e ali afundava-se dia após dia. Não era segredo para ninguém que a garota andava as voltas com drogas e abusava do álcool constantemente, os problemas no colégio também não eram raridade e nem o recente relacionamento com um dos garçons do restaurante, o jovem Ronald Weasley, havia acalmado o senso de autodestruição da adolescente. Muito pelo contrario, as idas e vindas infinitas do protótipo de casal eram mais um motivo para extravasar em vícios ilegais seu desapontamento.


Harry Potter gostava de acordar cedo nos finais de semana e, bem, isso pegara sua namorada, Brooke Davis de surpresa nos primeiros três sábados em que antes das 9 da manhã, ele aparecera em sua porta. Brooke adorava o jeitinho tímido e atencioso com que ele a despertara nessas ocasiões e mesmo agora relativamente acostumada a madrugar nos sábados, ela fazia questão de fingir ainda estar adormecida para desfrutar dessas pequenas vantagens que um relacionamento proporcionava. Harry era um caso a parte e o fato de ser apenas o seu caso, elevara o seu ego e apesar de perder horas preciosas de sono em seus dias de descanso, Brooke estava satisfeita com sua vida ultimamente.


Hermione estava enjoada de revirar sites e mais sites de faculdades naquela manhã. Nas últimas três horas, seus pais ficaram ao seu lado apontam esta ou aquela universidade de medicina que poderia ser capacitada o suficiente para que ela cursasse e mantivesse o legado de milagres médicos da família Granger. A garota mal agüentava ver sangue em sua frente, quem dera dedicar o restante dos seus dias a algo tão ligado a vida e a morte como a medicina. Não, isso não era para o para ela. O grande dilema seria... Como contar isso a seus pais?


Gina tentava pela trigésima vez acordar o amado irmãozinho. E nada além de protestos e xingamentos. Como medida extrema, a garota puxa o cobertor e deixa que o irmão, trajando apenas uma bermuda, a mercê do frio típico daquela época do ano. O rapaz se contorce, acrescenta alguns palavrões ao vocabulário de sua irmã e, finalmente, coloca-se de pé.


_ Por que é que você me acordou assim cedo, garota? – se enfurece Rony.


_ Você é idiota? Você mesmo colocou o relógio para despertar e me abusou horas para que eu não deixasse você perder a hora do maldito jogo do Liverpool. – explica Gina.


_ Ah! Meu Deus... O jogo! Já começou? Que horas são? Droga! – o rapaz corre para a sala.


Gina sorri da primeira trapalhada do dia do irmão. Ronald era fanático por futebol, fanático pelo Liverpool. E essa era a única coisa que poderia afetar a amizade do garoto com o melhor amigo, Harry, que por sua vez, era torcedor do Manchester. A rixa futebolística gerara discussões e provocações mais afiadas na infância e em época das finais do campeonato inglês, entretanto, nos últimos anos, as disputas foram substituídas pelas sadias e sádicas gozações de vencedor para derrotado. O pai de Rony, Arthur, acompanhava a paixão do filho pela equipe esportiva e não era nada incomum encontrar o respeitado advogado longe de seus casos, quando seu time entrava em campo. Naquela mesma hora, Harry despedia-se da namorada e rumava para casa a fim de acompanhar na casa do melhor amigo o jogo.


Placar indiferente a essa narrativa... Tempo além do que os 90 minutos de um jogo de futebol avançam em Torquay. Na primeira hora vespertina, Narcisa Malfoy conduz o filho até a casa de Remo Lupin e o deixa sob a custodia do primo. O entrosamento é evidente e imediato.


_ Eu ouvi direito? Castigo? – são as primeiras palavras de João Pedro a Draco.


_ É, digamos que meus pais exageraram e... – a explicação, antes da saudação, é cortada.


_ Exageraram? – gargalhada Dawn – Ele foi pego fazendo pega com o carro importado do pai dele! – conta Dawn.


_ A questão não é essa, mas foi... Basicamente isso. – confessa Malfoy.


_ Cara, você não nega o sangue! – ri também João – Mas, você poderia usar o carro para coisa bem melhor, né? – propõem o filho de Sirius.


_ Poderia mesmo. Só poderia... Porque agora nada de carro, dinheiro, festa ou qualquer coisa sem a autorização previa do meu pai ou da minha mãe. – afirma o loiro.


_ Pobre menino rico... – debocha o brasileiro.


_ Você não está esperando que eu lhe dê as boas-vindas depois disso! – ressalta Draco, momentaneamente, ofendido.


Mais uma parcela diária é consumida na frente de um vídeo-game, rendendo, como sempre, gozações para cima de Sam. Até mesmo Draco é capaz de derrotá-lo vergonhosamente. Curiosamente, nenhum dos três “homens” da casa é capaz de vencer a única garota do lugar. Dawn é soberana absoluta na maioria dos jogos, causando certo desconforto a Sam e João Pedro e determinado fascínio em Draco. Boa parte da tarde escorre sem que o quarteto toma conhecimento. Era visível que o atalho tomado por João Pedro a poucas horas atrás para ultrapassar as apresentações e alcançar o posto de amigo, também fora percorrido por seu primo britânico.


_ Bom, vocês vão fazer alguma coisa de noite? – comenta Draco.


_ Não sei... O Dean falou se ele e a Buffy vão sair hoje, Sam? – questiona a menina.


_ Acho que não, talvez a Buffy ia trabalhar essa noite ainda. – fala o rapaz desinteressadamente, pousando sua concentração na partida que disputava.


_ Ah, é verdade! A gente poderia dar uma volta... Mostrar a cidade para o JP! – sugere Dawn, apelidando e abraçando inesperadamente o latino-americano.


_ JP!?! – Sam se espanta a ponto de interromper o jogo temporariamente.


_ Gostei! – aprova “JP” – No Rio, uns amigos meus costumavam me chamar assim também. Gostei da idéia também, Dawn! Eu queria também dar uma olhada na beira-mar... – confidencia o carioca.


_ Com esse frio? – Draco estranha a vontade do primo.


_ Ninguém aqui ta dizendo que eu me jogar na água. Só que... Bom... Eu vivia dentro d’água e... Nossa... Como eu to sentindo falta... – revela João.


_ Então, combinado? Vamos apresentar a cidade ao nosso visitante? – propõem a voz feminina do quarteto.


_ É, acho que sim! Eu tenho que pegar leve mesmo... – fala Draco, provocando uma nova onda de risadas.


Luna insistia na tentativa de incluir Gina em suas saídas nada aconselháveis para menores de 18 anos. A caçula dos Weasley odiava mentir ou discutir com a amiga, contudo, algumas vezes a filha do dono do melhor restaurante da cidade poderia ser bem desagradável, inclusive, com aqueles que a estimavam. Com o relacionamento de Rony e Luna praticamente arruinado pelo gênio destrutivo e explosivo da moça, estava complicado lidar com a garota sem gerar guerras e tragédias. Vencida pelo cansaço, Gina convence Luna a refrear sua agitação e comparecerem ao cibercafé UPGRADE. Mistura de lanchonete, lan house e livraria, o UPGRADE era, o que poderia considerar, o point, o local mais visitado pela juventude da pequenina Torquay. Como todo santo final de semana, o “barzinho” abria suas portas com um atrativo a mais: música ao vivo, todavia, naquele determinado sábado o lema da casa seria o “faça você mesmo”, os fregueses poderiam aventurar-se no karaokê e os mais corajosos poderiam colocar definitivamente a mão na massa: tocar e cantar sem nenhum acompanhamento.


_ GINA! – berra Rony, a garota aparece – Você vai a algum lugar hoje de noite? – interroga o irmão mais velho.


_ Acho que sim, a Luna queria sair e nós... – sua fala é bruscamente interrompida.


_ Por que você continua andando com essa garota? – irrita-se o jovem.


_ Ela é minha amiga, e sua ex-namorada também, irmãozinho.


_ Que seja! Mesmo assim... Cuide-se, ela não é exatamente uma “boa companhia”.


_ Eu sei, mas tudo bem. Nós só vamos ao UPGRADE, vocês vão sair? – ela devolve.


_ Vamos lá também. Eu até convidaria vocês, senão fosse... – constrange-se Rony.


_ Eu sei, maninho. – sorri Gina – O jeito que vocês romperam não foi muito amigável. Quem sabe mais pra frente, né? – fala sem tanta certeza.


_ É, quem sabe! – responde Rony ainda mais incerto.


Harry estava começando a se preocupar. Era a quarta vez que sentava para conversar seriamente com seus pais a respeito de que faculdade freqüentar, qual profissão escolher e nada, absolutamente, nada. Ele não era burro. Admitia que não genial como Hermione ou estava tão focado como Rony em seguir os passos do pai na advocacia, ainda assim, não encontrava o menor rumo a ser seguido. Nenhuma vontade, nenhum interesse verdadeiro por curso algum... Sua regularidade em cálculo não significava simpatia pela engenharia, administração ou qualquer profissão na área das exatas. Não era alguém criativo ou objetivo como o pai para tentar trilhar uma carreira na publicidade ou no marketing, não possuía o dom das palavras, curiosidade e/ou paciência para psicologia, sociologia, pedagogia ou alguma dessas “ogia”... O alfabeto se extinguia e seu futuro persistia no breu. As favas com tais problemas, deixaria, por enquanto, esses problemas em algum canto oculto de seu mente e trataria de aproveitar o final de semana ao lado da namorada e dos melhores amigos.


_ Eu não posso acreditar que em pleno sábado a noite eu estou a pé! – reclama Draco, saindo de sua casa na companhia de João Pedro, Sam e Dawn.


_ Dá pra parar com a choradeira? – indigna-se JP – Você mora bem no centro da cidade, fomos nós que tivemos que andar quase meia-hora pra chegar até aqui!


_ Também não exagera, João. Foram vinte minutos no máximo! – esclarece Dawn.


_ O seu pai falou alguma coisa, Draco? A madrinha achou que ele poderia não deixar. – pergunta hesitante Sam.  


_ Não, não! Depois que eu mencionei que iria com vocês e a pé, ele não falou nada. Só me deu hora para voltar! – se estressa o castigado.


_ Não acredito! E que horas a gente precisa te trazer? – JP zomba da desgraça do próprio primo.


Lucio Malfoy e Alan Lovegood poderiam não saber, contudo, naquela noite possuíam algo em comum. Ao menos, por aquela noite poderiam dormir tranqüilos por terem a exata noção de onde e com quem seus filhos estavam. Haveria outras coisas e pessoas a aumentar o grau de peculiaridades que ambos colecionariam em igualdade. Porém, façamos como Harry e deixemos o futuro em seu devido e temporal lugar, retomando e concentrando nossas atenções e narrações para o presente.


Harry, Brooke, Rony e Hermione adentram ao barzinho e cumprimentam alguns conhecidos, antes de acomodarem-se próximos ao improvisado palco. Pela singularidade e intimidade do quarteto, muitos confundiriam os quatro amigos com um “casal” de casais. Brooke repousa nos braços de Harry, provocando uma certa inveja em Hermione. Apesar da cumplicidade de anos, Hermione acreditava que não poderia mais do que imaginar-se em situação romântica semelhante com Ron. A idéia de que algo além da amizade viesse a suceder entre os dois não era novidade para ela, todavia, não era sinônimo de que a própria tomaria a iniciativa para que a imaginação ganhasse contornos reais. Minutos depois é a vez de outro quarteto entrar no recinto. Brooke é a única a cumprimentar alguém dos recém-chegados.


_ Harry, aquele ali não é o rapaz que o seu pai foi buscar ontem na estação? – aponta Brooke após ter acenado para Draco.


_ Ah...É, sim! Hum... Ei... Vamos lá falar com ele?


_ Foi mal, cara! Mas, agora não. Ele ta com aquele mala do Malfoy! – desconversa Ron.


_ É, Harry... Nós podemos esperar um pouco mais! – afirma Hermione.


_ Não, não... Já fiz bobagem em não ter cumprimentado ele logo que entrou, vou lá agora. Não tem problema vocês não irem. Mas, é mais pelo meu pai... Entendem? Ele e o Sirius eram melhores amigos. – Rony e Hermione compreendem o amigo, Brooke levanta-se também.


_ Eu suporto o Draco... Por você – ela sussurra – E para conhecer aquele gato! – ela brinca.


_ Eu posso dispensar o sacrifício? – ele prostra-se quase furioso.


_ Pode, mas, vai estar dispensando a namorada também.


_ Ok! Eu me garanto mesmo. – ele se paga de convencido, a garota ri.


Draco nota a aproximação do casalzinho e fecha o semblante. Não era de agora sua inimizade para com Harry Potter e seus amigos. Observando o principio de confusão, Brooke é a primeira a fazer uso das palavras:


_ Não sabia que já estava livre do castigo, Draco! – dispara a garota, quebrando o “gelo”.


_ Tudo bem com você também, Brooke? – Draco finge-se ofendido, mas, em seguida se levanta e cumprimenta a garota e, rapidamente, seu acompanhante – Vocês devem conhecer a Dawn, ela estuda com a Gina, e esse é Sam. – o casal os saúdam – E esse é o meu primo, João Pedro Black, afilhado do professor Lupin.


_ Queria mesmo te conhecer, cara. – fala Harry – Harry Potter, filho do Tia-... – apresentação cortada amistosamente pelo brasileiro.


_ Eu sei, ouvi falar muito sobre ele. E bem... Fiquei muito grato pela preocupação do seu pai ontem. É, eu cresci ouvindo falar de Tiago Potter. – Harry sorri – E, bem... Já sou grato ao seu pai... Por toda a mão de obra que ele teve por minha causa ontem. – constrange-se o rapaz.


_ Ah, pois é... Eu é que queria me desculpar... Deveria ter ido ontem também, mas tinha já tinha um compromisso marcado. – retrata-se o filho do melhor amigo de Sirius.


_ Era só o que me faltava... Achei demais ter alugado a família inteira dos dois – referindo-se a Sam e Dawn – E eu realmente odeio ser um peso ou um atraso para os outros. – confidencia João Pedro.


Dawn e Sam fingem indignação pelo comentário nada singelo de João Pedro. Harry ainda emenda duas ou três colocações com o brasileiro, no entanto, o seu pedido estava a caminho e, pelo visto, Rony e Hermione não tardariam em principiar alguma discussão. O namorado de Brooke anuncia a chegada em sua mesa da refeição tão aguardada e retira-se, prometendo logo a seguir, retomar a conversação. Draco faz quatro ou cinco considerações nada saudáveis a respeito do colega de classe. João liga-se muito mais em demonstrações claras e nada inocentes sobre a acompanhante do desafeto de seu primo. Brooke não passara desapercebida aos olhos tropicais do jovem Black e fora citada de forma mais amena pelo irmão caçula de Dean Winchester.


Coincidentemente, Sam é o nome e o homem que concentra os olhares e a mente divagante de Brooke. O quê desenfreado e desinibido da garota paira sobre o rapaz, sem que o trio note qualquer registro futuro. Falo grego? Em trio entenda pelo triangulo que seria formado dentre pouquíssimo andar do relógio. Sam não repara na vigília sobre si. Harry não diagnostica a ameaça previa e Brooke não planeja ou não intercepta a intenção da roda viva em lhe roubar o sossego atual e atira-la em uma espiral sentimental dentre em breve.


Mais observador, Rony almejava decifrar o oportuno instante para confidencia que o posto de amigo, por mais que melhor, de Hermione já não lhe bastava. E a garota, por sua vez não fazia oposição na presença da mão do rapaz sobre a sua. a sensação de proximidade que esse gesto lhe rendia era confortável em demasia para ser rejeitada por mais que o sentimento que motivara seu amigo estivesse léguas distante do coração e pensamento de Hermione.


Gina aguarda por quase meia-hora na porta do UPGRADE até ter coragem e cara de pau suficientes para entrar sozinha no lugar. A primeira olhada desanimada a moça. Alguns conhecidos, colegas de aula e o irmão e seus amigos, extremamente bem acomodados e servidos, ao alongar os olhos para a suculenta tabua presente na mesa do quarteto. Ela pretendia dar meia-volta ao interceptar um chamado discreto por si. Após uma melhor analisada, ela reconhece Dawn Summer, amiga de classe.


_ Oi Gina! – cumprimenta Dawn – Procurando pelo seu irmão? – ela questiona ao avistar o rapaz algumas mesas a frente.


_ Não, não! Eu estava esperando a Luna, mas ela está demorando tanto... – queixa-se brandamente a ruiva – E como eu notei que o palco já estava sendo montado, resolvi entrar.


_ Ah! Novidade a Luna atrasando... – descontrai Dawn – Então, senta com a gente... Enquanto ela não chega!


_ É, e quem sabe a minha futura colega poderia me explicar decentemente o que seria a noite do “Faça Você Mesmo”, porque esses três aqui... Ninguém merece! – reclama JP.


_ João Pedro, o afilhado do professor Lupin? – ela pergunta sorridente.


_ Por acaso andaram fazendo propaganda da sua chegada? Cara, essa fama instantânea vai te tornar ainda mais arrogante! – debocha Draco, recebendo um tapa na cabeça do primo.


Como o mencionado por Gina, os últimos preparativos para o conserto pouco ortodoxo foram logo finalizados. Luna apareceu em cima da hora, alegando que o pai a alugara por tempo interminável. O dono do cibercafé faz as honras da casa e abre o evento para participação do publico. Posteriormente aos primeiros eufóricos e valentes candidatos, os números começam a destoar pela desafinação e contagiar pela empolgação. Rony convence Harry e a dupla dinâmica apresenta uma versão nada agradável aos ouvidos de alguma balada romântica, contudo, exaustivamente aplaudida pela disposição e carisma dos rapazes. Dawn frustra-se ao não conseguir arrancar das cadeiras Sam e muito menos João Pedro.


Com a vigésima terceira badalada do relógio, Luna confessa um tédio inexplicável pelo excesso de calmaria e ousa sugerir ao grupo uma loucura: uma visita noturna a praia. JP anima-se de imediato, o falto do contato, mesmo que visual, com o oceano o consome. Draco adere a travessura, incentivando Gina. Sam e Dawn desconfiam das intenções da garota. Não eram poucos os absurdos que ouviam protagonizados pela filha de Alan Lovegood.


Hermione alerta quanto a partida da irmã de Ron, o ruivo a observa saindo do estabelecimento. Logo, tranqüiliza-se ao receber uma mensagem no celular da caçula avisando que dariam uma volta para mostrar mais da cidade a João Pedro e após pediria que a levassem para casa. Ele tinha o mesmo pensamento, apesar de estarem de folga, no domingo teriam obrigações a cumprir no restaurante e uma bela noite de sono era o recomendado para agüentar a jornada dupla a partir de segunda-feira: colégio e trabalho. Essa inquietação de Ronald era algo que encantava sua melhor amiga. Mesmo na modesta função de garçom, o jovem orgulhava-se por ter e fazer por merecer sua parcial “independência financeira”. O mais incrível do ruivo era sua força e a insegurança natural mesclarem-se de maneira tão única e adorável. Quero dizer, o filho de Arthur era estrondosamente honrado e não sabia fazer e não desejava fazer alarde de tal característica. Sua simplicidade e sua felicidade por isso, por esse modo de ser e parecer cativavam fraternalmente Hermione. Em outras palavras: ela amava o amigo como amigo, sendo amada pelo amigo como amiga e amor.


Os passos apressados conduzem Luna a beira-mar, que beirava a perfeição pelo luar despontando no oceano e embelezando noite, almas e horizontes. Irresponsável e irreparável, a idealizadora do passeio corre sem freios para dentro das águas marinhas. Ao chocar-se com as ondas, ri alto e incentiva a entrada coletiva. Draco livra-se rapidamente da camisa e dos tênis, seguindo o caminho para o mar. Dawn sorri, porém, desconsidera a sugestão descabida de Luna, limitando-se a sentar na areia e observar de longe a travessura daquelas crianças crescidas. Sam ri largamente, mas, acomoda-se ao lado da irmã de criação. JP reluta, só que cede ao “chamado” do oceano. Gina recusa veemente a proposta e contenta-se em caminhar descalça pela orla marítima.


Os minutos transcorrem e o sopro noturno, congela os valentes insanos forçando a saída e o fim do banho fora de hora. Por morar nas proximidades da praia, Luna é a primeira a despedir-se e em semanas, chega em casa antes do pai. O que rende uma agradável surpresa a alguém já exausto por temer pela integridade física, mental e moral do seu ente mais querido.


Draco dispensa a escolta até os arredores de sua residência e faz sozinho as ultimas quadras. Gina solicita companhia, ao contrario do “pobre menino rico”. Os três a conduzem em segurança até a frente de sua casa e permanecem por algum tempo dialogando com a futura colega, para infelicidade de João Pedro. Ronald não tarda em chegar e troca algumas palavras com o trio.


Com os irmãos recolhidos, os três rumam também para suas casas. Dawn aquieta-se, inquietando seus dois acompanhantes. Evidentemente, ela havia rejeitado o banho fora de esquadro e rotulado a atitude coletiva como estupidez. Ela apenas dirige a palavra ao brasileiro ao estar para entrar. Surpreso, JP releva o pouco caso da nova amiga e corre para uma demorada ducha quente.


Remus Lupin reservara seu domingo para apresentar ao afilhado a família de um dos melhores amigos de seu pai, Tiago Potter. Um brasileiríssimo churrasco é servido em “homenagem” ao novo morador de Torquay. Harry interroga-o detalhadamente sobre o período passado no Celtics, time da segundona britânica. João Pedro Black é afável e cordialmente recebido pelos Potters, contudo, a sensação de conforto seria muito distinta da sentida por ele na casa das Summers. Harry seria um ótimo amigo e companheiro de time, no entanto, não repetiriam a camaradagem da amizade de seus pais. Seus caminhos e camaradas seriam adversos, contrários e contraditórios. Ao fim da tarde, padrinho e apadrinhado retornam para a casa e Harry segue para a casa da namorada.


_ Você toca bem! – Dawn flagra JP com o violão em mãos – Deveria passar mais tempo assim!


_ Obrigado! – agradece João parando para dialogar.


_ Quem sabe não faria bobagens como ontem. – abri o jogo.


_ Era isso? Eu senti mesmo que havia algo errado.


_ Não imaginava que você deixava-se levar tão facilmente, João Pedro! – fala seriamente.


_ O nome inteiro? O negocio ta feio, então! – ele tenta quebrar o gelo.


_ Sabe, há motivos para que eu e o Sam não tenhamos entrado “no espírito” da brincadeira. Diferente do seu primo, se eu me atira-se teria que chegar em casa e cuidar da roupa molhada. E aposto que aqueles dois engraçadinhos chegaram em casa e caíram ensopados na cama. Eu estaria perdida se fizesse igual. Você nota a diferença?


_ Sim, só não sei o motivo desse sermão todo. Não é que eu tenha cometido um crime, ok?


_ Você não enxerga, não é? Nossos mundo são totalmente incompatíveis. Mas, por uma coincidência, por uma noite esses mundos se cruzaram...


_ Eu compreendo tudo isso... Eu... Hum! Não me deixei influenciar, certo? Eu só... Só precisava extravasar... Me livrar de alguns pesos, sabe?


_ Se refere a sua passagem naquele time? – Dawn ameniza o tom acusativo.


_ O futebol sempre foi meu sonho... Eu sempre fui melhor nos gramados... Mas, o meu melhor não foi o suficiente. E eu perdi a melhor parte de mim, de quem eu era... Hã... E... Bem, isso é meio frustrante. – ri fracamente o estrangeiro.


_ E agora... Quem é você, Black?


_ Agora!?! Acho que o seu novo vizinho.

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