capítulo sete.



Capítulo sete.
Eu quero ficar com você, de verdade.




"Ás vezes, o que importa não é ganhar. Ás vezes, o importante é se curar." One Tree Hill


 Eles vasculharam cada centímetro para achar alguma passagem, e então Sirius começou a se desesperar quando a idéia de estar enterrado sob a terra, invés de apenas sob ela, passou pela sua cabeça, e ele conjurou sabe-se de onde uma pá para cavar.


 Remo começou a afastar a terra com os pés, mesmo, enlameando o tênis, um pouco longe do outro. Sirius estava cavando com tanto medo de enfiar a pá na própria cabeça que estava progredindo devagar.


 - A gente tem que pensar em algo rápido. – Remo falou.


 - Cavar é rápido – murmurou o outro em resposta.


 - Vamos pensar – Aluado continuou sem ouvi-lo – se eu fosse um gênio porco e imundo que se alimenta do sangue das pessoas e prende suas almas em sonhos, onde eu viveria?


 Sirius revirou os olhos. Ele olhou onde Remo estava e percebeu a estranha elevação na terra.


 - Rem, você!


 - Eu o quê?


 - Cave! – Sirius jogou a pá para ele.


 Remo segurou-a, confuso por uns instantes e depois enfiou a pá na terra. Na primeira porção de terra que atirou para o lado, ele ergueu a cabeça para Sirius:


 - Tem alguma coisa aqui!


 Sirius correu até ele e ouviu quando a pá bateu em algo metálico e sólido. Ele arrancou com pressa a pá das mãos de Remo e fez o serviço mais rápido, limpando um pedaço e deixando aparecer uma portinhola de ferro com apenas um círculo redondo e sujo que de vidro que devia ter a intenção de deixar passar a luz. Um alívio imenso percorreu pelo corpo de Sirius, energizando-o, afinal, não estava enterrado.


 - Como abre? – o lupino perguntou, aflito.


 - Abra-te Sésamo? – ironizou Sirius, procurando alguma maçaneta – ah que merda, que grande merda!


 - Sirius, se afaste!


 Ele fez o que Remo pediu e lançou um feitiço que explodiu a porta de ferro. Ela não era exatamente segura, se fossem pensar, para um gênio. A porta pendeu para cima e revelou um buraco escuro, com uma escadinha que desaparecia no breu.


 Remo e Sirius se entreolharam:


 - Primeiro as damas – disse o primeiro.


 Sirius deu de ombros e começou a descer, rápido. Remo tentou imaginar se ele já estava mesmo consciente a ponto de perceber o perigo que aquele buraco representava, enquanto descia logo encima dele.


 Sirius encontrou o chão e acendeu a ponta da varinha no meio da escuridão.


 - Lumus.


 Quando a luz ganhou vida, Remo arquejou pesadamente ainda nos últimos degraus da escada, como se tivesse tomado um susto. Sirius teria, também, se não estivesse cansado demais até para suspirar. Ele esperou o outro descer.


 Na frente deles havia uma galeria de paredes de alambrado, tudo tão escuro que chegava a ser impossível saber o que os esperava a cinco metros de distância. Nos ferros dos alambrados haviam raízes mortas e coisas grudentas penduradas de um jeito sinistramente mortal. O cheiro de folhas em decomposição e coisa podre era horrível.


 Deram alguns passos o corredor, em pose defensiva. Quando chegaram à primeira divisória do alambrado, Remo cutucou Sirius e apontou para dentro: eram as botas que ele usara naquela noite, enlameadas em um canto.


 Sirius assentiu e tentou se concentrar para ouvir o próprio coração. Não foi difícil, logo que os sons ali dentro pareciam silenciados por magia de tão ausentes. Tudo o que precisou silenciar na própria mente foram os sons de Remo e uma goteira distante, e então ouviu a palpitação leve.


 - Por aqui – sussurrou para o outro.


 Remo o seguiu por duas galerias, e então Sirius ouviu seu coração se acelerar mesmo sem estar concentrado. Susto. Ele procurou onde o olhar de Remo estava e viu ossos embolados.


 - Sinist... – Sirius ia dizendo até que viu.


 Melhor, até que se viu. Com uma sensação estranha de situação sobrenatural, ele aproximou-se curiosamente do próprio corpo, amarrado pelos pulsos ao teto baixo, os pés flutuando, parados, a um centímetro do chão. A própria aparência estava horrível: os cabelos negros estavam desgrenhados e muito sujos, assim como todo o seu corpo que podia ver. A cabeça pendia molemente, desacordada, e manchas roxas preenchiam sua pele anormalmente pálida. Ele deu a volta no próprio corpo, olhou para si mesmo de costas e riu baixinho:


 - Agora eu sei por que as meninas gostam de me ver por trás.


 Remo revirou os olhos.


 - Pare de piadas. Vamos, se acorde!


 Sirius engoliu seco e voltou à fronte.


 - Como eu...?


 Antes que Remo pensasse em alguma coisa pra dizer, eles ouviram um barulho metálico, de algo rangendo. Instintivamente olharam na direção da portinhola, e um vento muito estranho soprou entre eles, vindo do nada e bagunçando seus cabelos. Sirius olhou para Remo, que pareceu confortável com a situação pela primeira vez na noite, com as mãos enfiadas nos bolsos, olhando-o descontraído.


 - Remo? – indagou Six.


 - Ah, Sirius... Pare com essa besteira, vamos sair daqui – a voz dele foi macia e calma.


 - Como?!


 - Qual é... Isso está ficando ridículo. É claro que é tudo ilusão, cara. Vamos continuar as nossas vidas normais e...


 - Remo, qual é o seu problema? Eu preciso voltar!


 - Não, não precisa – não foi Remo quem disse isto.


 Foi James. A voz dele veio do escuro, e logo ele surgiu, com a mesma expressão confortável e relaxada de Remo. Sirius deu um passo para trás, esbarrando na própria perna.


 - Deus... – ele sussurrou, surpreso.


 - Toda essa crise vai passar, Almofadinhas.


 - Você me chamou de Almofadinhas?


 - Claro, você é meu melhor amigo.


 - James, eu...


 - Não precisa se desculpar, vamos – o outro lhe estendeu a mão – vamos voltar para o castelo e esquecer essa bagunça.


 - Não! – Sirius gritou.


 - Qual é o seu problema? – James aproximou-se alguns passos lentos - eu estou te perdoando, não era isso que você queria?


 - Tinha muita coisa que eu queria que voltasse a ser como era antes!


 - Você pode voltar a ter tudo isso.


 A respiração de Sirius falhou consideravelmente. Do outro lado de Remo, Madison apareceu no círculo de luz que a varinha dele alcançava, com o rosto passivo e doce. Por um segundo ele lutou contra a vontade de ir até ela e fazê-la sair daquele lugar horrendo que não combinava com aquele jeito doce, mas então estancou.


 - O quê? – ele sussurrou.


 - O tempo vai passar, Sirius... As coisas podem lentamente voltar ao que era antes. Tudo vai ser do jeito que você quer.


 Ele sentiu algo tremer dentro de si diante daquela possibilidade. Droga, onde estava...


 Ali estava. Marlene apareceu logo ao lado de Madison, com o sorriso mais lindo que ele já havia visto, e de repente a sala de iluminou além do que o Lumus conseguia fazer.


 - Lene? – ele chamou.


 - Deixa essa besteira pra lá, Six. – ela falou, ainda sorrindo – vamos voltar lá pra cima. Você tem que agüentar firme.


 - O que está fazendo aqui?


 - Eu ainda quero você. – ela falou.


 Sirius suspirou ao mesmo tempo em que a ficha caía. Todos ali, tentando convencê-lo a alimentar um gênio idiota. Ele não podia esquecer daquele pequeno detalhe. A voz de Marlene era muito tentadora e convincente, mas Sirius não podia deixar-se...


 - Eu sonho com você, toda noite. – ela continuava com a voz macia – não lembra? Você disse que não me deixaria em paz, nem nos meus sonhos...


 Ele fechou os olhos com força. Tinha que lutar contra aquilo... Era tudo uma ilusão. Tudo. Quando tornou a abri-los, Marlene estava bem na sua frente, a menos de um centímetro de distância, e o perfume dela superou o ocre da atmosfera pesada dali. Ela sorriu com um quê de malícia que fez Sirius suspirar de novo e inclinou-se para beijá-lo docemente.


 Ao sentir os lábios macios dela nos seus, Sirius abaixou as mãos para a cintura dela, correspondendo o beijo sem aprofundar. Quando pensou que não poderia suportar se alguém parasse aquele beijo, surpreso, ele próprio o fez com forças que considerou sobrenaturais, empurrando-a com delicadeza para longe.


 - O que foi, meu amor? – Marlene ajeitou o cabelo dele na testa – você não me quer mais?


 - N-não fala isso – Sirius arquejou – É claro que eu te quero.


 Ela abriu um enorme sorriso, e pela visão periférica ele viu a imagem dos outros amigos trocarem sorrisos cúmplices. Não eram sorrisos contentes por ele. Foi algo sinistro, como a vitória sobre ele. Com um flash, ele percebeu que era o que estava acontecendo, mesmo. Aqueles não podiam ser seus amigos, não os de verdade. Eram... Imagens...


 - Eu quero ficar com você, Marlene... – ele começou a dizer, tomando uma decisão que o fez respirar fundo.


 Os olhos dela brilharam e suas mãos se uniram, esperando ansiosamente o que ele ainda tinha para dizer. Sirius olhou de relance para os outros, que estavam sorrindo, como que para confortá-lo. Resposta errada. Ele adoraria desapontar aquela versão manipulada de seus amigos.


 - Mas eu quero ficar com você de verdade. – completou finalmente, e virou-se para si mesmo com rapidez, começando a socar.


 “Vamos, vamos, cara, acorde”, pensou enquanto se sacudia, batendo no próprio peito. Ia puxar os próprios cabelos quando viu um pequeno buraquinho em seu pescoço perto da jugular. Ele ofegou, pensando pela primeira vez na noite que podia estar morto, e seu corpo se congelou ao correr os olhos pela própria pele pálida e cheia de tons esverdeados. “Não, não, não...”, começou a repetir para si mesmo.


 - É isso mesmo, meu rapaz – uma voz enjoativa que ele havia conhecido aquela noite falou atrás dele.


 Sirius virou a varinha para ver o gênio. Todos os outros tinham desaparecido. Ele não estava mais com aquela aparência ridícula de alguns minutos atrás, lá em cima na floresta; não, agora era um homem alto e troncudo, com vestes de gala e cabelos negros penteados para trás, bem arrumado.


 - Não há mais esperanças – ele disse outra vez.


 - Isso é impossível. – Sirius deu uma risadinha com esgar – eu ainda posso ouvir meus batimentos.


 - E eles estão fracos não estão? Leves como uma pluma... – o homem deu alguns passos para frente.


 - Mantenha distância! – Sirius gritou, empunhando varinha e jorrando luz no rosto bem talhado do gênio.


 - Não vejo porque insiste em voltar àquela vida... Opa, seria morte?


 - Eu não vou morrer!


 - Como pode ter tanta certeza?


 - Você está tentando me convencer a continuar te alimentando. – ele fez uma careta – eu sei que eu sou gostoso, mas cara... Essa foi a coisa mais nojenta que alguém quis fazer com o meu corpo.


 - Impertinente. – murmurou o outro sombriamente – foi muito fácil manipular a figura dos seus amigos, sabe? Principalmente daquele lobisomem, leal... Pena que é pesquisador também. E eu te dei uma garota quase igual à outra... Mas eu posso continuar manipulando, tudo a seu favor, amigo, as coisas vão ser exatamente como você quiser e...


 - Eu não quero isso.


 O gênio ergueu as duas sobrancelhas até onde podia, sorrindo torto.


 - Como?


 - Eu não quero uma vida perfeita, se isso só acontecer na minha cabeça. Que se foda se eu me machucar no caminho! Que ele pelo menos seja real!


 - N-não fala isso. – o gênio piscou nervosamente.


 - Eu não quero viver o que acontece nos meus sonhos! – ele gritou, exausto.


 O homem continuou piscando nervosamente, e então seu semblante calmo e perfeito começou a arquejar. Como se algo dentro dele estivesse explodindo, ele caiu de joelhos, segurando a cabeça entre as mãos e gritando, e a sua imagem começou a se desintegrar com labaredas de fogo. Surpreso, Sirius arregalou os olhos e deu alguns passos até ficar atrás de si mesmo.


 Então, teve um insight, muito, muito rápido. Se o gênio estava morrendo – era o que parecia, ele estava gritando tanto e seu corpo estava derretendo no chão, como uma coisa pastosa – ele ficaria preso ali... Para sempre? Mais desesperado do que nunca esteve, ele começou a se sacudir furiosamente.


 E a realidade começou a se confundir com o sonho.


 Após ter vários flashes de si mesmo se sacudindo enquanto o gênio gritava E ao mesmo tempo que tinha visões estranhas dele mesmo, ali amarrado dolorosamente com os braços para cima, sentindo tapas furiosos no rosto, os quais não era ele quem estava se dando, Sirius Black abriu os olhos de verdade.




n.a: gente, to com pressa e nem vai dar tempo de fazer um n.a decente :/ só falo que esse é o penúltimo capítulo, e em breve vocês vão ter raiva de mim. :O beijo beijo.

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