capítulo seis.
Capítulo seis.
Isso está muito estranho, cara.
Remo olhou para ele de soslaio, disfarçando a sua preocupação pela última vez naquela noite. Todo o castelo estava quieto e cheio de sombras pelos corredores. Sirius, ao seu lado, ainda usava a camisola da Enfermaria e um casaco que Remo havia trazido para ele.
Os dois se esgueiraram pelas sombras atrás de uma armadura, e pararam. Um trovão soou lá longe ao mesmo tempo em que eles trocaram um olhar.
- Ok, o tempo está perfeito – Sirius disse – estava chovendo naquele dia.
- Tempo perfeito para você congelar com essa roupa.
- E eu ligo?
- Eu acho melhor a gente esperar. – o outro respondeu, agarrando o mapa do maroto entre os dedos apertados – Sirius, isso é muito perigoso.
Sirius fez um som que lembrava algo como se estivesse cheirando o ar.
- Eu adoro esse cheiro de perigo. Você não sente?
- Sirius...
- Qual é, Rem! Eu quero acabar com isso de uma vez. Eu sei que parece terrível mexer com um ser desse nipe, mas é o meu destino, entende? Eu não agüento mais isso.
Remo o fitou por alguns segundos. Depois, estreitou os olhos, e abriu o mapa entre eles, murmurando o feitiço que o abria.
- Ok. Por esse caminho a gente chega até o pátio e... Por aqui é o mais curto até o lago.
- A gente pode pegar o mesmo atalho da noite que eu o encontrei.
- Não pode.
- Por quê?
- Porque você levou uma garota para aquela passagem uma vez e Filch o pegou em flagrante.
- O quê? – Sirius intrigou-se – Filch nunca me pegou em passagens!
- Bem, você não andava muito... Cuidadoso, Sirius. Eles trancaram aquela.
Sirius passou as mãos pelos cabelos.
- Por isso não fizeram mais festas depois daquela?
- Também. Além de não ter mais um lugar propício para contrabandear bebidas... A gente não se reuniu muitas vezes mais depois disso, sabe.
- Claro, Sirius Black foi o grande idiota da história.
- Cala a boca ou eu te faço voltar para a Enfermaria aos berros.
- Vamos acabar logo com isso.
Os dois pegaram o caminho indicado por Remo. Enquanto caminhava sorrateiramente pelo pátio, Sirius sentiu uma fisgada de dor em sua cabeça que o deixou cego por alguns instantes, mas não disse nada ao outro. Remo já estava preocupado com ele, provavelmente acabaria estragando tudo.
Quando estavam na saída, Sirius encostou a mão na lateral da porta para respirar com dificuldade. Maldição, estava sendo pior do que ele pensava. A dor voltou alguns graus mais alta do que antes, mas o oxigênio foi rápido e a fez passar. Remo pousou a mão em seu ombro:
- Vamos voltar.
- Sem essa. Já chegamos até aqui. Eu estou bem.
- Está uma ova.
Sirius o olhou irritado e desviou dele para ganhar o jardim a longas passadas. Estava tudo tão escuro que ele se perguntou se era algum truque da sua mente atordoada e estranha ou se estava assim, mesmo. Ultimamente, as coisas estavam diferentes do que ele via.
De qualquer maneira, Remo o seguiu com a mesma pressa urgente. A respiração de Sirius fazia um ruído ofegante que só aumentava seus receios. Eles estavam se aproximando rapidamente da beira do lago, correndo no jardim aberto, duas sombras no meio da noite.
- Sirius – Remo sussurrou de repente.
O outro, que estava um pouco mais a frente, virou:
- O que foi?
- Isso está muito estranho, cara.
Um vento forte e frio soprou entre eles e, pela visão periférica, viram um raio cortar o céu escuro muito além da Floresta Negra. Menos de dez segundos depois um trovão fez Remo dar um pulo.
- Não seja um bebezinho. – Sirius riu baixinho.
- Eu não estou preocupado comigo.
Outro trovão. A expressão debochada sumiu do rosto de Sirius. Quem ele estava tentando enganar?
- Remo, isso é o que eu quero. Eu não posso mais adiar, tenho me torturado nessa vida há uma semana!
- Sirius – o outro se aproximou mais, e falou calmamente – tem sangue no seu nariz de novo. Você está respirando como um velho asmático e eu aposto que está morrendo de dor de cabeça.
Sirius o olhou intrigado.
- Não. Eu não vou voltar. Pode voltar se quiser.
Remo afastou-se dois passos para trás, sem desviar o olhar do amigo, mas continuou ali.
- Eu não vou te deixar sozinho nessa.
Sirius concordou e os dois tornaram a correr até a beira do lago. Os pingos grossos de chuva começaram a despencar do céu e os atingir, tornando a sensação térmica ainda mais fria. E pior. Chegaram à orla do lago e foram pela esquerda, em direção à Floresta Negra. A árvore em que Sirius havia topado com o gênio devia ser uma das primeiras.
E embora ele quase tivesse saltado para o lugar, a árvore não estava ali. Era estranho, havia um pedaço de terra sem nada entre as árvores. E ele tinha certeza absoluta de que aquele era o lugar.
- Não tem nada aqui – ele gritou sobre o barulho da chuva – vamos procurar pra lá!
- Sirius, a tempestade vai piorar, a gente tem que voltar! – Remo gritou de volta, alguns metros afastado.
- Eu não vou voltar, Aluado! – ele respondeu, e começou a correr para dentro da Floresta.
Estava escuro, e o frio parecia ter se concentrado entre os troncos gigantes das árvores. Sirius foi desviando deles, aprofundando-se na floresta, sem olhar se Remo o seguia ou se tinha voltado para o castelo. Talvez fosse melhor que tivesse voltado – o que ele se tornaria quando voltasse à realidade? “Merda de sonho estranho...” ele pensou, enxugando o nariz com a manga do casaco, percebendo o rastro escuro que ficou ali.
Ele encostou-se em uma dessas árvores imensas para tentar fazer a tontura passar. Duas fisgadas de dor em seu cérebro e ele caiu de joelhos com as mãos na cabeça. Urgh...
- Merda, merda, merda... – xingou baixinho, tentando se levantar para continuar a correr.
Quando ficou em pé, Remo o alcançou, ofegante e gritando:
- Sirius, tem sangue por toda parte!
A chuva pareceu ficar mais pesada e açoitou as costas de Sirius pesadamente quando ele olhou ao seu redor. Havia uma poça de sangue no chão, onde tinha se ajoelhado, e o olhar de Remo em seu rosto era apavorado.
E pela primeira vez na vida, Sirius Black ficou furioso com um gênio.
---
A dor em sua cabeça pareceu diminuir lentamente enquanto ele continuava a correr, sem rumo, para dentro da floresta, com os olhos atentos e perceptivos, injetados. Estava muito sensorial. Tinha uma boa noção de que Remo estava bem atrás dele, sentindo a fúria se desprender em ondas de seu corpo.
Então, quando toda a energia que percorreu loucamente seu corpo se exauriu, ele deixou-se cair no chão fofo e molhado da Floresta, e gritou, com todas as forças que ainda lhe restavam – o grito saiu do fundo de sua garganta e percorreu de uma forma sinistra pela Floresta.
Arfando, ele olhou para as folhas no chão, entre as suas mãos: ensopadas, algumas escurecidas. Um filete de sangue escorria do seu queixo e ia juntar-se à água da chuva. Exausto. E ainda assim, uma raiva gigante explodia dentro dele. Junto com a dor de cabeça. Os passos de Remo pararam bem atrás dele, mas ele não se agachou para perguntar se estava tudo bem, como fizera da outra vez, e Sirius ouviu a sua respiração se acelerar um pouco, junto com os batimentos. Medo.
Voltando o rosto para frente, Sirius o viu. A uns quatro metros de distância, ele estava tão perto de uma árvore que seria impossível distinguir o tronco de madeira e de seu corpo se não tivesse relampejado atrás dele no mesmo momento. Embora tivesse certeza que era mesmo ele, não era nada parecido com o gênio do mau-tempo que ele se lembrava: a estatura baixa e gorducha, agora, era alta e esguia, e sua pele era escura, meio azulada. Era careca, seus olhos quase brancos e por todo o seu rosto e corpo mal coberto, haviam linhas de palavras de uma outra língua escrita, e Sirius nem se atreveu a imaginar que língua seria ou o que aquilo significava.
O gênio fitava o rosto de Sirius com os grandes olhos arregalados. De repente, ele esticou um braço esguio na direção de Sirius e ele sentiu o próprio corpo ganhar vida e levantar-se pesada e dolorosamente por causa da magia. Remo arquejou. Um trovão soou ao longe e pode-se ouvir uma risada maldosa misturada aos estrondos.
- Ah, Sirius Black... – uma voz de sinos falou, embora o gênio não tivesse movido a boca – Porque tem que ser tão mal agradecido?
- Eu quero a minha vida de volta. – ele murmurou rouco, e encarou o gênio de volta com fúria entre os fios negros do cabelo que grudava em sua testa.
- Quer a sua vida de volta? – a voz tornou a soar no ar, e antes que terminasse uma gargalhada acompanhou-a.
- Eu vou ter a minha vida de volta.
- Ah, sinto muito, garoto... Você não vai.
- Você não tem nenhum direito. – Sirius conseguiu dar um passo para frente. Ele estava tentando ignorar os passos distantes que conseguia ouvir na Floresta bem ao lado deles, porque a coisa mais perigosa para ele, agora, estava bem na sua frente.
- Ah... Como não? Eu pedi. Quando você disse que tudo bem, você assinou um contrato, amigo.
- Um contrato com a morte, você quer dizer?
- Ah... Isso tudo vai passar, Sirius. Essas dores de cabeça...
- Elas estão piorando.
- Só na sua cabeça...
- É CLARO QUE É SÓ NA MINHA CABEÇA! TODA ESSA PORRA SÓ ESTÁ ACONTECENDO NA MINHA CABEÇA, MESMO!
- Black, eu sugiro que pare de gritar, não precisamos de escândalos.
- NÃO! EU QUERO VOLTAR!
Então, uma coisa muito estranha aconteceu. Quando o gênio estava prestes a dar outra resposta ardida que provavelmente enlouqueceria Sirius de vez, alguma coisa bateu na cabeça dele e ele caiu devagar para frente, inconsciente. Sirius viu Remo atrás do gênio com um pedaço de madeira, e ele golpeou o homem outra vez na cabeça.
- Corre, temos que te achar! – Remo gritou.
- Como diabos você chegou até aí? – Sirius gritou em resposta enquanto corria até ele.
- O gênio não me viu. E nem ouviu, parece que eles são meio surdos.
- Então, era você! Mas você parou de andar bem atrás de mim! – Sirius franziu a sobrancelha olhando para os lados, pensando por onde começar a procurar a si mesmo.
- Não, Sirius! – Remo afastou uns galhos na parte que parecia mais densa das outras que os rodeavam – Você esqueceu que pode ouvir coisas além do normal quando está sob pressão? É tão idiota, a animagia foi realmente boa pra você e...
Sirius pensou por um segundo, e a solução apareceu na frente dele enquanto Remo ainda falava alguma coisa sobre sentidos caninos.
- Remo! – ele chamou-o.
Remo continuou falando sozinho e afastando os galhos na sua frente, e Sirius percebeu, de maneira engraçada, que podia ouvir cada palavra do que ele falava, embora a chuva açoitasse e fizesse um barulho escandaloso nas árvores e no chão e os trovões soassem constantemente agora. Ele podia fazer isso antes, como ouvir os batimentos das pessoas se acelerando, mas a sua cabeça não estava realmente boa.
- Remo, pare! – ele gritou.
O outro parou no mesmo momento o que estava fazendo, e virou-se para olhá-lo. Sirius fechou os olhos, se concentrando. Ele não tinha idéia se poderia dar certo. Assim que fechou os olhos, tentou separar cada som que podia ouvir. A chuva na Floresta. Conseguiu anular aquele som, e deixá-lo baixo, bem distante. Os ruídos ficaram mais intensos em sua cabeça, e ele pôde ouvir com clareza a respiração ofegante de Remo e os batimentos do seu coração. Seus pés fizeram barulho no chão de folhas quando ele moveu o corpo para endireitá-lo na direção de Sirius.
Então ele tentou se concentrar ainda mais nos ruídos distantes, anulando os sons que Remo fazia. Algum pássaro roçava com ritmo o bico no tronco de uma árvore a alguma distância deles. Anulou aquele som e... Uma palpitação distante e fraca. Entre um galho e outro, no meio das árvores. Abafado pela... Terra. Uma palpitação sob a terra.
Sirius abriu os olhos, rápido, e começou a correr na direção do som, tentando não perder o fio da concentração e de tabela o som. Correu, aturdido pela própria descoberta, e parou quando o som ficou alto e a palpitação passou a acompanhar respirações rápidas e trêmulas. Era uma clareira pequena no meio da floresta, cuja terra estava estranhamente amassada. Ele teve certeza que ele mesmo estava ali, sob a terra, em algum lugar.
- Sirius! – Remo o alcançou – é aqui?
Dolorosamente, todos os sons voltaram de uma só vez para a sua cabeça. Sirius levou uma mão à têmpora e fechou os olhos com força, tentando não berrar. Quando se acalmou, olhou furiosamente para Remo:
- Nunca mais interrompa um homem super dotado que esteja concentrado.
- Ok, ser instintivo, eu devo te lembrar que o nosso amado gênio é imortal e pode acordar a qualquer segundo enquanto você brinca de ser super?
- É aqui sim, Aluado. Eu estou embaixo da terra.
n.a: amoooores! haha sim, eu voltei rápido *--* ah, eu já escrevi a fic inteira, e estava realmente ansiosa pra postar esse capítulo aqui! A partir deste, são os meus preferidos! Ação e mais ação... e revelações... hah :D adoro isso. Bem, vamos ver qual é a da Madison, certo? adorei as opiniões, todo mundo achando que a Mad é má, uaau! Faltam dois capítulos para o fim, gente! Já tô ficando com saudade. Ok, nem tanto. Hahaha brincadeira. Continuem comentando que eu acho que na quinta ou na sexta, eu coloco o próximo. Eu devia ser malvada e demorar mais, mas eu não resisto, mesmo. Devo ser a tapada mor. até mais! beijo beijo,
Nah Black
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!