Possível Solução
LEVOU MENOS de uma hora para que alcançassem a fortaleza de Hogwarts. Embora Gina se sentisse tola, olhando para trás a cada instante da curta jornada, não respirou tranquila enquanto as torres quadradas da casa da guarda não se tornaram visíveis. Colin cavalgava à frente, instruído a ficar de olhos abertos para potenciais atacantes.
Gina suspeitava que Harry quisesse o irmão caçula fora do caminho, pois Colin tagarelava sem cessar desde quando haviam deixado a ilha.
O coração dela foi parar na garganta diante da majestosa construção. Cintilando em cor branca, uma larga muralha protegia uma fortaleza quase três vezes maior que Godric. Situava-se no topo de um aclive, e soldados patrulhavam as ameias superiores.
— Não imaginei que fosse feito de pedra — observou Gina. Muitos dos castelos sonserinos no país estavam sendo convertidos para pedra atualmente, mas poucos foram completados.
— Não é — disse Harry. Enquanto se aproximavam. Gina compreendeu o que ele queria dizer. Os aplainados muros brancos eram de gesso, cobrindo uma estrutura de madeira. — Mas nossos inimigos acreditam que é, e é isso que importa. Ronald está trocando o gesso por pedra.
Gina se maravilhou com a engenhosidade da arquitetura. Os guardas deixaram que adentrassem os portões, e Gina ficou pasma com o grande alvoroço de atividades.
O retinir pesado do martelo do ferreiro se misturava ao ruído das pessoas trabalhando. Criados carregavam sacos de carvão para queimar, enquanto um mercador trazia uma carroça carregada de produtos para ser inspecionados para compra. Cavalos eram levados para os estábulos e crianças corriam livremente, rindo em alguma brincadeira.
As pessoas cumprimentavam Harry com sorrisos e tapinhas amigáveis nas costas. Um homem alto cumprimentou Harry com um forte abraço — outro irmão Potter chamado Neville. Um sorriso suavizou o rosto de Harry da impetuosidade severa à qual Gina se acostumara.
Quando não estava carrancudo, até que era um tanto bonito, ela admitiu. Os olhos verde-escuros, da cor da malaquita pouco lapidada, e os cabelos negros formavam uma impressionante combinação. As cicatrizes ao longo das faces acrescentavam um elemento de perigo.
— Preciso falar com meu irmão Ronald — disse Harry por fim. Olhou para Colin e disse: — Veja para ela um lugar onde dormir.
Gina começou a seguir Colin, mas antes olhou para trás para ver Harry. Não esqueceria o ar de determinação em seu rosto quando ela se negou a renunciar a Godric. Como poderia confiar num homem que queria conquistar a terra que era sua? Mas o medo que sentia de Draco era mais forte, então ela tinha pouca escolha.
Não se sentia segura ali, ainda não. Apesar de todos os soldados e do orgulhoso guerreiro grifinório que jurara protegê-la, Gina não podia baixar a guarda. Com o coração pesado, acompanhou Colin para dentro da fortaleza.
HARRY CAMINHAVA a passos largos na direção da fortaleza, cumprimentado amigos ao passar. Localizou Ronald, comandando um grupo de soldados.
— Soube que você trouxe a mulher. — Ronald dispensou os homens, cumprimentando o irmão com um aceno de cabeça.
— Mandei Colin encontrar um lugar para ela. Gina deseja enviar uma mensagem à família, para voltar à Sonserina.
— Por que você mesmo não a escolta para Grimmauld?
A indagação de Ronald reavivou a raiva que Harry sentia de Gina. Depois da admissão de que não o acreditava capaz de protegê-la, seu primeiro desejo fora expulsá-la, deixar que se defendesse sozinha de Malfoy. Ou então poderia se provar capaz escoltando-a até Grimmauld, apesar da vontade dela em esperar a família.
As dúvidas de Gina solidificaram sua decisão de lavar as mãos quanto a ela. Que ficasse ali. Que a família viesse buscá-la. Gina não era mais sua responsabilidade, seu débito com ela estava pago.
— Pretendo renovar o ataque contra Godric — ele disse. — Manter a mulher aqui pode se provar uma vantagem.
— Você pode ser acusado de sequestrá-la — observou Ronald. — O rei Severo exigirá compensação.
Ele não arriscará guerrear contra nós. É melhor nos ter como aliados.
— Os exércitos sonserinos já invadiram Diagonal e Gringotes. O rei em seguida colocará os olhos em Hogwarts, caso você atraia a ira dele sobre nós. — Ronald lhe encontrou o olhar e, então, revelou o que Harry já suspeitava. — Seus homens não retornaram de Godric. Se já não estiverem mortos, Sir Draco os mantém cativos. Pode tentar usá-los contra nós.
— Se me conceder mais guerreiros, posso libertá-los. — Harry não descansaria até expiar sua derrota. Odiava pensar em seus homens sob custódia de Malfoy.
— Você é necessário aqui — disse Ronald. — Enviarei Neville para libertá-los. O rei sonserino está visitando Corvinal, mantendo corte com o rei supremo. Talvez se consiga chegar a um acordo para evitar guerra entre nossa gente.
— Que tipo de acordo?
Ronald mudou de rumo, sem responder à pergunta de Harry.
— Ou talvez se possa trocar as vidas de nossos homens por Gina. Você pode devolvê-la a Godric e não se preocupar mais com ela.
— Ela foi surrada, Ronald. Se eu a deixasse lá, Malfoy acabaria por matá-la.
Ronald refletia, aceitando um cálice de vinho de um criado. Ofereceu outro a Harry.
— Então foi por isso que a levou consigo?
— Sim. O maldito a machucou, muito mais do que possa imaginar. Se qualquer homem colocasse a mão em Hermione, você faria o mesmo.
As palavras saíram antes que pensasse. Jamais quis comparar seus sentimentos por Gina com os sentimentos de Ronald pela esposa. Queria protegê-la; isso era tudo. Não gostava de ver qualquer mulher sofrendo.
— Tenha cuidado, irmão — disse Ronald. — Não quero que perca a vida por causa de uma mulher.
— Não precisa se preocupar pensando que eu deixaria que uma mulher interferisse em minha vida. — Especialmente uma que se agarrava com teimosia à crença de que Godric pertencia à família dela. Era irritante pensar que Gina continuaria a brigar por uma terra que lhe pertencia havia anos.
Harry acrescentou:
— Libertarei os homens, não importa o quanto demore. Godric será nossa novamente.
— Que assim seja — aquiesceu Ronald. — Ou talvez o rei sonserino concorde com minha oferta de evitar derramamento de sangue. Acho que a ideia o agradará. Uma ligação com nossa família e a de Gina.
Harry compreendeu de súbito a ideia do irmão: um casamento arranjado.
— Não.
— Você é um tolo se acredita que Godric ainda lhe pertence para ser recuperada. O rei sonserino simplesmente enviará mais homens para recuperar a terra — disse Ronald. — E nossos homens provavelmente já estão mortos. Se tiver esperança de recuperar a fortaleza, seu único recurso é casar com Gina. — A expressão dele se tornou solene. — Uma união entre vocês pode abrandar a raiva do rei deles, pois permitirá que ele tenha uma forte aliança conosco.
— Não tem o direito de me pedir tal coisa. — Harry não suportava a ideia de tomar outra mulher por esposa. Havia jurado nunca casar novamente e pretendia manter o voto.
— Como seu rei e suserano, posso ordenar isso — disse Ronald. A ameaça não era nada velada.
Harry se negava a acreditar que o irmão agiria assim.
— Ela voltará para a casa dos pais na Sonserina. Enquanto isso, nossos homens irão para Godric.
— Se não quiser casar com ela, talvez Neville queira.
Ao pensar em outro homem colocando as mãos nela, Harry teve vontade de rosnar. Gina já sofrera o bastante. O melhor lugar para ela seria um convento, onde nenhum homem poderia tocá-la.
— Você se importa com ela, não é? — perguntou Ronald tranquilamente.
— Ela arriscou a vida por mim e Colin. Isto é tudo que há entre nós.
— Tenho minhas dúvidas quanto a isso, irmão. Do contrário não estaria tão zangado.
Harry tomou um prolongado gole de vinho, encarando Ronald.
— Eu a mantive a salvo, nada mais.
Ficou mal humorado ao pensar nos abusos de Malfoy. Ocorreu-lhe que a família dela tivesse arranjado o noivado. Mesmo que Harry a mandasse para casa, talvez Gina fosse forçada a casar com Malfoy.
Embora ele mesmo não quisesse casar com Gina, não queria vê-la sofrendo novamente. Via o belo rosto de Cho, ouvindo-a gritar enquanto os sonserinos a levavam dele. A sombra vermelha da batalha, o grito arranhando por sua garganta ao ser abatido por eles. Não fora capaz de salvá-la.
Se libertasse Gina, o casamento dela com Sir Draco aconteceria. Harry estava certo disso. Ela continuaria sofrendo por sua culpa.
Culpa e fúria o dominaram, pois Ronald estava certo.
Enquanto uns poucos flocos de neve flutuavam ao vento, Harry voltou o rosto para o frio. As sementes da dúvida de Gina haviam enraizado nele.
Como poderia se intitular um guerreiro se não era capaz de defender as pessoas que amava? Costumava lutar com a confiança da experiência, sabendo que sua espada era mais forte que a do inimigo.
Mas o ataque à Godric fracassara. Não poderia culpar Colin por isso. Tinham subestimado os sonserinos. E Harry ainda provocara a prisão de seus homens, talvez suas mortes.
Um leve movimento lhe chamou a atenção, e Harry viu a silhueta de Gina entre as ameias. O rosto dela estava marcado pela preocupação ao mirar o horizonte.
Imediatamente lembrou de Gina lhe aquecendo os pés, os dedos lhe devolvendo o calor. Ela cuidara de suas feridas, ficara acordada durante a noite para vigiá-lo.
Harry subiu as escadas até as ameias, se aproximando até poder ver o rosto dela. Sombras lhe tomavam as feições, uma mancha escura lhe cobria uma das bochechas. Gina recebera o golpe enquanto tentava resgatar Colin e ele próprio.
Não se falaram. Harry não precisava perguntar o que ela estava pensando. A expressão medrosa revelava tudo.
Incapaz de se conter, ele estendeu a mão para tocar o hematoma. A mão dela cobriu a dele, a sensação da palma quente em sua pele lhe provocando um choque.
Gina fechou os olhos. Uma mecha dos cabelos ruivos escapou do véu, caindo sobre sua mão. Embora o sopro gelado do inverno avermelhasse as bochechas dela, a pele parecia macia. Com o polegar, Harry acariciava o hematoma, como se quisesse apagá-lo.
Ela encostou-se à mão dele, os lábios lhe roçando a pele da palma. Não era um beijo, apenas a mais leve das carícias. Harry sentiu os quadris enrijecerem, e de repente se viu querendo sentir os lábios de Gina nos seus. Desejava a suavidade de uma mulher, aplacar a sede de dois anos de solidão.
Ergueu o rosto de Gina e fitou fundo aquele olhar — olhar que guardava um temor que Harry não podia silenciar.
Então compreendeu por que nunca haveria um casamento entre eles. Casar-se com Gina seria enfrentar demônios do passado. Se a aceitasse como esposa, não poderia ignorá-la para continuar seguindo com a vida que vivia.
Abruptamente, virou-se. Não podia aceitar a sugestão de Ronald. Tampouco poderia deixar que Gina voltasse para Malfoy.
Jurou viajar até Corvinal, pedir a ajuda do rei supremo. Se fosse necessário, também apelaria ao rei sonserino. Pelo bem de seu orgulho, conseguiria fazer com que Gina e seus homens ficassem a salvo.
GINA LEVANTOU-SE ao amanhecer, tendo compartilhado um quarto com duas outras mulheres. Colocou seu vestido antes que as outras acordassem, envergonhada com os rasgos na roupa. Tentou pentear os cabelos com os dedos, desejando ter um véu para escondê-los.
Deixou o quarto e desceu as escadas. Uns poucos criados lançaram olhares curiosos em sua direção, mas Gina os ignorou. Encontrou o caminho para o salão, onde as pessoas tinham se reunido para o desjejum.
Uma mulher alta a observou com expressão interessada. Pela maneira com que os outros lhe mostravam deferência, Gina imaginou ser a senhora do castelo.
A mulher trajava uma veste azul-escura e um véu branco, um vestido grifinório que se estendia até os tornozelos num suave drapejado. Os cabelos castanhos estavam trançados ao redor da testa, enquanto o resto fluía até a cintura.
— Você é Gina? —A mulher falava a língua sonserina tão fluentemente que surpreendeu Gina.
— Sou. — Ela estendeu as mãos em cumprimento e a mulher as segurou.
— Meu nome é Hermione Potter. Meu marido é Ronald Potter, rei de Hogwarts.
— Um rei? — perguntou Gina.
— Não o rei supremo. — Hermione riu em resposta. — Existem muitos reis subordinados na Grifinória, assim como já foi na Sonserina. Mas não precisa ficar intimidada com meu marido ou comigo. Eu só queria conhecer a mulher que salvou as vidas de Colin e Harry. Não é sempre que uma dama consegue resgatar um dos melhores guerreiros da Grifinória.
Gina corou.
— Harry me ajudou a fugir do homem com quem estou comprometida. Salvar a vida deles foi uma maneira de me salvar.
— Você tem a nossa gratidão — respondeu Hermione. — E posso ver por que Harry ficou tão encantado com você.
Gina não respondeu ao cumprimento, pois não sabia o que dizer.
— Creio que está exagerando, rainha Hermione.
— Pode me chamar de Hermione. E não, não exagero a verdade. Harry não reagia a uma mulher desde a morte da esposa.
— Nossos caminhos se cruzaram, nada mais — argumentou Gina. Pressentia que Hermione queria bancar a casamenteira, mas não queria tomar parte nisso. Tinha confiado seu coração a um homem tão bonito quanto Harry. E Draco quase a destruiu.
— Teremos uma celebração esta noite, para dar as boas-vindas a Harry — disse Hermione, mudando de assunto. — Ele me disse que você viajará para a Sonserina em breve, mas pensei que poderia participar de nossas festividades antes de ir.
— Eu adoraria. — Gina se levantou. — Posso ajudar nos preparativos?
— Está tão ansiosa assim? — Hermione parecia achar isso divertido.
— Gostaria de ser mais útil — admitiu Gina. — É difícil esperar, não quero ficar ociosa.
Hermione apontou para o salão.
Há todo o tipo de atividades por aqui. O que mais lhe agrada?
Gina pensou por um momento. Amava música mais do que tudo. Costumava tocar saltério na casa de seu pai, entretendo os convidados com sua voz. Draco destruíra o instrumento numa de suas explosões de fúria. Ele disse que música não passava de uma atividade inútil, e desde então Gina não cantava por medo de contrariá-lo.
Temia que os outros também considerassem música uma bobagem, então respondeu:
— Sou boa com costura. — Olhando para o vestido rasgado, admitiu: — Venho tentando consertar isto, mas não tinha as ferramentas adequadas.
— Cuidarei para que receba tudo que for necessário. E... — Hermione ponderou por um momento. — Se isso não ofendê-la, poderá experimentar o estilo grifinório de se vestir mais tarde. É bem confortável.
Gina concordou, querendo se livrar do vestido esfarrapado o quanto antes.
— Você fala muito bem a língua de meu marido — comentou Hermione. — Como aprendeu? Ninguém fala a língua grifinória na Sonserina.
— Sou da Sonserina, — explicou Gina. — Mas as terras de meu pai ficam próximas à fronteira de Grifinória. Fui educada lá, junto com uma grifinória. Fomos ensinando nossas línguas uma à outra enquanto crescíamos.
Hermione animou-se.
— Minha família também é da Sonserina. — Ela descreveu a localização das terras de seu pai, mas eram distantes das da família de Gina.
— Há quanto tempo sua família vive lá? — perguntou Hermione.
— Há três gerações. Meu bisavô veio de Lufalufa. Ele se casou, e a esposa lhe trouxe inúmeras propriedades. Ela se recusava a casar caso não pudesse ficar na Sonserina.
— E você deseja voltar? — perguntou Hermione.
Gina hesitou, mas assentiu.
— Até a questão de meu noivado ser resolvida, é o melhor. Espero um dia voltar para cá.
Hermione sorriu e a guiou para o lado de fora. Passaram por várias dependências em direção ao pátio interno. O som familiar das atividades não diferia daqueles que ela ouvia em casa. Ali perto, vapor se elevava de um caldeirão no qual uma mulher usava uma vara para mexer a roupa. Havia uma sensação de segurança ali, de pessoas que trabalhavam tranquilamente apesar das ameaças externas.
Em seguida entraram numa cabana que continha teares. Hermione falou com uma das mulheres. Pediu que cortes de lã e linho fossem levados para seus aposentos mais tarde.
Quando voltaram para dentro da fortaleza, o respeito de Gina por Hermione aumentou. Era óbvio que ela estava acostumada ao trabalho pesado. Uma criada que espalhava junco fresco foi instruída a trazer mais, então Hermione se juntou à atividade de forrar o chão.
Gina ficou para trás, sem saber o que fazer. Nunca vira a senhora do castelo envolvida nas mesmas tarefas que os criados. Não sabia o que pensar disso, mas logo se juntou ao trabalho. As mulheres riam e tagarelavam enquanto faziam suas tarefas.
Quando Hermione subiu num banco, para arrumar uma das tapeçarias da parede, um homem surgiu atrás dela. Alto, com cabelos ruivos e olhos azuis, mas se movia furtivamente. O homem abraçou Hermione, agarrando-a pela cintura e deixando que deslizasse por seu corpo até os pés tocarem o chão. Ele a beijou, e Gina adivinhou que o homem era o marido de Hermione, Ronald.
O casal estava completamente absorto um com o outro. Gina, sentindo-se indiscreta, desviou o olhar. Passos ecoaram atrás, e ela deparou com Harry.
O rosto dele tinha melhorado, mas podia ver a bandagem por baixo da túnica, cobrindo o ombro ferido.
— Harry — Gina o cumprimentou calmamente. Estendeu as mãos para ele, pretendendo apenas um cumprimento educado.
Ele não as segurou, então ela baixou as mãos, o rosto vermelho de constrangimento. Harry parecia querer dizer-lhe algo, mas o desconfortável silêncio se estendia.
Escondendo seu desapontamento, Gina ergueu os olhos para o teto e começou a girar lentamente.
— Hogwarts é a maior fortaleza que já vi. E mesmo assim Ronald não é o rei supremo?
— Pediram que ele competisse pela honra — disse Harry —, mas ele recusou o convite.
— Por que faria isso?
— Ronald preferiu cuidar de sua própria tribo — respondeu Harry.
Gina se surpreendeu com a ideia de um homem recusando tamanha chance de poder, mas considerou que a posição exigiria muitos sacrifícios.
Harry ficou ao lado dela, observando Hermione e as criadas arrumarem folhagens ao redor do salão para o banquete. Gina tentou por várias vezes fazer perguntas a Harry, mas ele simplesmente resmungava ou só respondia com monossílabos.
— Já mandou alguém trazer meu pai? — ela perguntou.
— Não. — Harry não a fitava, a atenção fixa numa guirlanda de folhas.
Gina tentou novamente.
— Quais são seus planos?
— Ronald aceitou cuidar da questão.
Mais do que nunca, Gina quis que aquele embaraço entre eles chegasse ao fim. Decidiu ser direta.
— Está me evitando, acho. — Cruzando os braços, Gina assentiu como se falasse consigo mesma. — Não quer falar comigo porque sou a temível sonserina que devora recém nascidos e cospe fogo.
A boca dele se contorceu, mas Harry não respondeu.
— Ou talvez esteja amuado feito uma criancinha porque não aceitei que me escoltasse até Grimmauld. É isso?
— Isso foi escolha sua. Tenho outras tarefas a cumprir. Tarefas que não envolvem você.
Harry se pôs diante dela e Gina viu que ele tentava intimidá-la com sua altura. Olhando para os braços fortes, para o peito largo, soube que deveria temê-lo. Contudo, parte dela acreditava que Harry nunca lhe faria mal, apesar das palavras grosseiras.
— E não sou criancinha, Gina.
Ela manteve o queixo erguido.
— Então pare de se comportar como uma. Minha família virá me buscar, então não precisa se preocupar comigo outra vez. — Deixando-o sozinho, foi ajudar Hermione com os preparativos.
Harry não conseguia acreditar na acusação. No momento sentia-se ansioso por um luta de espadas, qualquer coisa que aliviasse a tensão que crescia em seu interior. Voltando-se para Ronald, gritou:
— Estou indo para o campo de treinamento. Mande Colin para outra lição, se ele quiser praticar.
— Gina, suba comigo — ouviu Hermione dizer. — Tenho um vestido que talvez sirva cm você.
Harry mal ouviu a resposta de Gina enquanto rumava para fora. O ar havia se tornado mais frio, as nuvens se avolumando com a neve que estava por vir, Ele precisava sentir o choque de aço contra aço, enterrar a raiva dentro dele.
Depois de tudo que fizera por ela, Gina achava que ele estava se comportando feito uma criancinha?
Furioso com a crítica, sinalizou para que um dos homens viesse lutar com ele. Não se deixaria prender num casamento com ela, apesar do que Ronald dissera. Se isso significava guerra, que assim fosse.
Harry bloqueou o golpe do oponente com o escudo, permitindo que sua raiva explodisse com força completa. Investiu com a espada vezes seguidas, conduzindo o soldado na direção do muro enquanto visualizava o rosto de Draco.
Gina podia ter salvado a vida dele e a de Colin, mas a dívida já estava mais do que paga. A espada escorreu, impedindo que Harry conseguisse bloquear um ataque do oponente.
A espada do soldado resvalou no ombro ferido.
— Sinto muito, Harry. Eu não pretendia...
A dor intensa o fez ofegar, então Harry sinalizou o fim da luta.
— Sim, você lutou bem. Não peça desculpas. Baixei a guardar e mereci o corte.
Apertando a mão sobre o ferimento, Harry sentiu o sangue escorrendo. Isso fez com que recuperasse a razão e lembrasse de como Gina havia cuidado de seus ferimentos. Pensou no hematoma na bochecha, no sangue seco grudado à cabeça por causa do homem que era seu noivo. Recordou-se do medo que Gina sentia.
Malfoy sempre a tratara como um pertence, nunca como uma igual. Harry admitia que sua própria esposa nunca lhe fora uma igual, ela sempre esteve muito além de seu alcance. Bela, praticamente perfeita em todos os sentidos. Não se sentia digno de ser seu marido. Teria dado a Cho qualquer coisa que ela desejasse, se fosse capaz.
A sombra do sofrimento ressurgiu sobre ele, mas Harry a rechaçou. Quando chegou ao quarto, tirou a túnica e estancou o sangue com um pano.
Ronald talvez acreditasse que uma aliança com Gina seria a melhor maneira de reclamar Godric, mas Harry não se casaria com ela. Ou com qualquer outra mulher. Largou o pano ensanguentado, deixando que um familiar lamento o envolvesse.
Pare de se comportar feito uma criancinha.
Gina tinha razão. O orgulho estava impedindo que Harry a perdoasse. Mas, acima de tudo, ele estava negando a atração existente entre eles. Gina lhe parecia tão frágil, tão vulnerável, que queria confortá-la. Queria sentir o toque de uma mulher outra vez.
As urgências primitivas se avolumando dentro dele eram resultado de anos afastando-se de todas as mulheres. Não era um monge e, no momento, seu corpo parecia reger seus pensamentos.
Se fosse com outra mulher talvez se sentisse capaz de casar, criar uma aliança que lhe devolvesse Godric. A sugestão de Ronald não o teria aborrecido tanto, pois seria mais fácil ficar indiferente a uma estranha.
Mas temia que, caso deixasse Gina chegar muito perto, ela tentasse usurpar o lugar de Cho. E Harry não poderia deixar que isso acontecesse. Jamais.
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