Urgência



N/A: Pessoas, eu voltei. Jesus, finalmente eu voltei.
       Ok, dessa vez eu mereço tudo. Xingos. Greve de comentários. Qualquer coisa. Porque eu estrapolei e sei bem. Outubro de 2012. Faz muito tempo, e foi péssimo largar voces dessa forma. Parar com o enredo bem nos finalmentes. Mas agora eu voltei, capítulo 54 no ar, 55 a caminho. Vou terminar a fic. Prometo.
        Nem vou discorrer muito sobre a loucura da minha vida, pq não vale a pena. Não justifica. Tampouco vou falar sobre o enredo, já que nesse ponto, não posso me arriscar a falar demais. Não vamos muito alem desses 54 capítulos. Sim, eu sei que eu venho falando assim desde o trigésimo. Mas agora é pra valer.
        E vocês vão adorar o 55. Estou trabalhando nele de verdade, e eu espero que fique tão intenso quanto eu planejei, uns bons dois anos atrás.
        É isso. Particularmente, detestei o nome do capítulo. Não consegui pensar em nada melhor, mas odiei. Sei lá, não parece certo. Se algum de vocês tiver uma ideia melhor, agradeço. E, se eu mesma tiver algum surto inspirativo, venho e mudo. Só espero que o capítulo esteja melhor que o título. Preciso entrar em forma de novo.
         Bem-vindos de volta. Agora a casa cai.

Giovanna de Paula


Capítulo 54


 


  Harry suspirou, mirando o chão. Seu cérebro zunia. Era definitivamente informação demais para um só dia. Em qualquer outra situação, ele estaria radiante por chegar às três da tarde sem ter tido nenhuma aula. No contexto atual, contudo, tudo que ele desejava era voltar à aula de Poções.


     Repassou mentalmente tudo que descobrira naquele dia, tentando desesperadamente se organizar. Primeiro, Ella e Jason, e seu treinamento. Como se sentira poderoso. Como se sentira tentado pelo poder. A presença metálica da adaga, ainda em suas vestes.


      Depois, Laurene Mezzofanti e seu filho. Como Willian mais uma vez os havia passado a perna. A ironia da relação dos dois rapazes. A descoberta, enfim, de uma razão dele ser odiado pelo loiro que, embora não fosse exatamente o que ele chamaria de plausível, parecia correta.


      E agora, aquilo. O fantasma da Horcrux. Harry sabia que, eventualmente, aquele dia chegaria. Era impossível derrotar Voldemort sem, primeiro, destruí-la. Mas ele dia a esperança, a vã e inútil esperança, que as coisas se resolvessem por si só. Que sua presença não fosse requisitada. Que ele fosse considerado incapaz. Qualquer coisa, que o impedisse de ir. Porque, odiava admitir, estava com medo. Não se sentia pronto, de forma alguma.


        - Tem mais uma coisa, Harry – disse Jason, que até então o estivera examinando com cuidado – Temos pressa. Muita pressa, na verdade, e é por isso que iremos logo amanhã. Isso porque temos motivos para crer que Voldemort atacará muito em breve.


        Harry ergueu os olhos. Era só o que me faltava, pensou. Desesperou-se internamente, mas tentou não demonstrar tal sentimento em sua expressão.


        - Que motivos são esses? – perguntou apenas.


         Jason suspirou. Tirou uma cópia do Profeta Diário de dentro das vestes.


         - Você não teve sequer tempo de ver o jornal, não foi, meu rapaz? – comentou. Entregou-o o jornal, deixando que Harry examinasse a primeira página.


          “Ministro deposto - a crise que o mundo mágico não precisava”, anunciava em letras garrafais, logo acima de uma foto de Rufo Scrimegeour, enorme, deixando o Ministério. Erguia o braço para esconder o rosto, envergonhado. Perplexo, Harry passou os olhos pelas palavras-chave da matéria, com continuação de três páginas no interior do jornal. Corrupção, desvio de verbas, tráfico de influência e negligência constitucional eram apenas algumas das numerosas e escabrosas acusações.


            - Não entendi – admitiu Harry – O que isso têm a ver conosco?


           - Simples – disse Ella – Existe uma previsão em lei para essa situação. Uma cláusula, que é a mesma para casos de deposição ou morte. É uma espécie de período regulamentar, de adaptação, por assim dizer. É o período no qual o posto de Ministro não é ocupado por ninguém, e cabe a uma série de tribunais especiais a denominação de um novo Ministro. Mais ou menos como acontece nos parlamentos trouxas. O problema é que esse processo de escolha é extremamente burocrático, quase como um conclave: é necessária a unanimidade de dois terços da corte, para que uma nova pessoa seja escolhida. Por isso o prazo é bastante longo, são vinte dias úteis, ou um mês. É considerado um período extraordinário, exceção das exceções. Quando Fudge deu lugar à Scrimegeour, não ficamos um mês sem governo. Isso porque, um mês antes de Fudge sair, esse processo já tivera inicio. Basicamente, o que pareceu ao público ser uma renúncia, na verdade já estava planejada há muito.


    - É essa merda que chamamos de politicagem, perdão o termo, professora – intrometeu-se Jason - Só que dessa vez foi tudo realmente repentino, então os trâmites ainda não haviam sido feitos. O problema é que estamos no meio de uma guerra não declarada, e o Ministério parece ser o único que não vê isso, ignorante como ele só.  Agora você já deve ter chego a alguma conclusão, não?


     - É a oportunidade perfeita... – disse Harry, devagar – Para Voldemort atacar.


      - Não podemos nos esquecer do jovem Sr. Kenbril – alertou MacGonagall. – Ele também foi incrivelmente favorecido por isso. Como já deve imaginar, não é coincidência.


      - Ele é responsável por isso? – espantou-se Harry - Como?


      - Ele tinha Scrimegeour sob a Imperius – explicou a professora – Sabia de todos os seus segredos, todos os seus podres. O jornal não cita, mas o Conselho chegou à todas essas acusações por meio de uma investigação, resultante de uma carta anônima enviada à eles algum tempo atrás. Willian a mandou, sem sombra de dúvida, para tirar o Ministro do caminho, mas também para facilitar a própria vida. Ele tem livre zona de manobra. Não há nada que possa acobertá-lo melhor que o caos.


        - Ele quer isso. Ele quer o conflito. Lembre-se, ele jura vingança contra você, mas contra Voldemort também. É perfeito,arrisco dizer – disse Jason.


         - Mas isso significa... – concluía Harry – Que, ao destruímos a Horcrux, estaremos basicamente fazendo um favor a ele? Poupando-o do trabalho?


          - Exatamente – murmurou Ella, visivelmente mau-humorada – Mas não temos escolha.


 


         Hermione caminhava pelos corredores do castelo, lentamente por conta de sua perna manca. Aquilo a irritava tremendamente. Nunca tivera tanta vontade de correr ou pular, sem motivo algum, mas agora o mais simples pensamento a respeito já causava nela um espasmo de dor. E dizem que a dor não é psicológica, refletia, amargurada. Temia sentir dores na perna ruim permanentemente. Aquilo, como dissera Madame Ponfrey, era possível por conta da lembrança inconsciente que Hermione guardava da dor. Assim, mesmo após a perna não ter mais fisicamente problema algum de funcionamento, ela poderia sentir incômodos como uma espécie de reflexo psicológico.


            Tentou focar-se. Onde diabos estava Harry? Não aparecera na aula de Poções, e nem sequer Rony sabia de seu paradeiro. Ela tinha uma má intuição a respeito daquilo. Bastavam de notícias ruins por um dia mas, de alguma forma , ela sabia que algo não estava certo. Havia mais uma bomba em curso.  


  Suspirou, parando de caminhar. Aquela era, definitivamente, uma busca infrutífera. E seu horário livre estava próximo do fim. Depois de tanto tempo na ala hospitalar, não podia se dar ao luxo de matar aulas a torto e a direito. Foi quando a sorte lhe sorriu e Hermione percebeu uma movimentação no fim do corredor em que se encontrava. Instintivamente, sem saber ao certo por que, deixou-se ocultar a sombra de uma armadura.


  Seu pressentimento se provou correto quando ela viu Harry, Jason, Ella e MacGonagall, a não mais que vinte metros dela. Não havia ninguém naquele corredor, logo o ressoar de suas vozes era surpreendentemente nítido.


  - Creio que devemos partir logo pela manha – orientou Jason – Não podemos correr o risco de ficarmos presos la ate o anoitecer.


  - Exatamente – concordou Ella – Oito horas é bom o suficiente?


  - Claro – disse Harry. Hermione leu a apreensão em seus olhos – Há alguma coisa que eu devo fazer? Para me preparar? As Horcruxes tem fama de estarem sempre muito bem protegidas.


  O cérebro da morena funcionava a mil. Eles vão atrás da última Horcrux, pensou, sabem onde ela está.


  - De fato, sim – disse Ella. – Mas não creio que teremos muitos problemas. Quero dizer, é burrice presumir que não haveram imprevistos, mas somos bem-preparados.


  Harry acenou positivamente com a cabeça, olhos no chão. Precisava de um banho. Sono. Uma nova vida. Pensou em Hermione, dando graças a Deus por ela não estar metida naquilo. Pensou também como conseguiria esconder seu temor da morena. Afinal, ela sempre parecia ler sua alma, e Harry tinha basicamente o peso do mundo nas costas.


  - É cedo, Harry, mas não vejo necessidade de você atender a nenuma de suas aulas hoje – disse MacGonagall – Já providenciei uma autorização, apenas para registro. Vá para o salão comunal, para os jardins. Tente relalaxar um pouco.


  Ele murmurou um agradecimento rápido e não se demorou a partir. Hermione prendeu a respiração quando o moreno passou a menos de um metro dela, quase correndo, sem contudo vê-la. O trio de mestres também não se prolongou por muito tempo. Mas Hermione deixou-se ficar onde estava, sobrancelhas franzidas, punho fechado sob os lábios.


   Nao deixaria Harry fazer aquilo sozinho, claro que não. Sua perna que fosse para o inferno, ela daria um jeito. Naquele momento, suas limitações físicas pouco importavam.


  Do que ela precisava, e precisava desesperadamente, era um plano.


 


   Harry se agachou à beira do grande lago, tocando a água com a ponta dos dedos. Encarou seu reflexo na água, sembrante preocupado, olhos mortos, barba por fazer. Não, aquilo não parecia nem um pouco bom. Sentia-se velho como um centenário. Pensou por um instante na Casa dos Riddle, imponente sob a colina, e nos segredos que aquelas paredes guardavam. Ah, se elas falassem. Outora um lar feliz, desfeito pela morte, e que agora abrigava a única porção remanescente da alma de seu assassino. Que ironia.


   Fechou os olhos. Deus, estava perdido. Não sabia o que fazer, por onde começar. Não se sentia minimamente apto a desempenhar a missão que lhe era proposta. Mesmo com Jason e Ella em sua retaguarda, sentia-se a caminho de uma missão suicida. Não temia, ao menos não diretamente, a dor, ou a morte. Temia o fracasso. Desperdiçar a única chance que tinham. Ninguém havia dito, mas era óbvio: se perdessem essa oportunidade, Voldemort desapareceria novamente com sua Horcrux e não haveria tempo para encontrá-la novamente. Ele atacaria, e venceria.


   Abriu os olhos e tomou um susto, ao deparar-se com o reflexo de Hermione às suas costas. Ela se apoiou em seus ombros e se agachou, acomodando-se atrás dele e abraçando seu pescoço. Harry suspirou. Odiaria ter de mentir para ela.


   - Você parece preocupado – disparou ela. Droga, Harry pensou.


   - Tive um dia cansativo – justificou.


  - Ah, Harry – suspirou ela, passando os dedos pela franja arrepiada do moreno – Eu sei sobre a Horcrux.


   Harry deu um pulo, surpreso, e a encarou. Hermione o encarava de volta calmamente. Não parecia irritada, apenas precisa.


   - Como...?


   - Tenho um bom sexto sentido, além de um pouco de sorte, é claro. Passei a última hora te procurando, e acabei esbarrando com sua conversa com Ella, Jason e MacGonagall no corredor. Você não ia me contar, ia?


    - Não fique irritada comigo – disse ele – Não queria que você se preocupasse.


   - Não achava que eu ia estranhar você desaparecer amanhã novamente? Assim você me mata de preocupação, Harry. Tem muita coisa acontecendo.


   - Desculpe.


   - Eu é que peço desculpas. Mas não posso deixar você fazer isso sozinho.


   Ah, não, pensou Harry, não, não não. Ergueu-se de um salto, e Hermione o acompanhou. Ele viu a determinação brilhar em seus olhos, e na forma com que ela contraía os lábios. Por isso, sabia de antemão que era uma batalha perdida.


   - Não posso deixar você fazer isso – disse ele, se esforçando ao máximo para manter o tom de voz baixo. Tudo que não precisava era discutir com a morena. – Você mal se recuperou do seu último ferimento, Mione. É muito arriscado, não vale a pena. Eu vou ficar bem.


   - Tenho certeza que sim. Mas eu estou tão metida nisso quando você, Harry. Eu jurei que faríamos isso sempre juntos, e não pretendo quebrar com a minha palavra. – disse ela – Sem contar que está fora de suas mãos. Falei com Ella. Sabe, desde aquele fiasco da caverna no começo do ano, venho pesquisando e aprendendo muito sobre Horcruxes. A professora MacGonagall também me deu acesso aos registros das Horcruxes que Dumbledore destruiu. Existem alguns feitiços padrôes que protegem uma Horcrux, e Voldemort parece seguir quase como um modus operandi ao protegê-las. Com variações aqui e ali, é claro, mas essencialmente é a mesma coisa. Ela e Jason concordaram que eu poderia ser bastante útil.


   Harry abriu a boca para falar, mas a fechou novamente. Tremia. Não podia evitar sentir uma pontada de raiva da namorada. Ela sequer havia considerado seus sentimentos com relação àquilo. Ele compreendia como ela se sentia, mas ainda assim não concordava. Era perigoso demais.


     - Hermione, por favor... – disse, a voz rouca – Nao faça isso. Por favor. Eu já quase te perdi uma vez, não se arrisque tanto.


     Hermione deu dois passos para frente, colocando ambas as mãos em seu rosto e forçando-o a encará-la. Os olhos castanhos eram ternos, porém também intensos, decididos. Ela o olhava com carinho enquando passava os dedos por seu rosto. Harry fechou os olhos ao toque. Só queria esquecer.


      - Ninguém sofreu mais que você Harry, eu sei. Mas Voldemort me fez desistir de muita coisa também. E eu vi você sofrer, se consumir de culpa, por todos esses anos. Aquilo sempre me matou por dentro Harry, porque se você não conseguia ser forte, quem no mundo conseguiria? Eu o odeio pelo que fez com você. E eu jurei apara mim mesma que jamais te deixaria sozinho, quer você queira ou não a minha ajuda. Porque isso é sobre mim. Você me salvou mais vezes do que posso contar, Harry. Me deixe ao menos tentar.


      Hermione tinha lágrimas nos olhos. Harry respirou o mais fundo que pode, abraçando-a forte em seguida. Ele tinha seu corpo pequeno encolhido contra o seu, e era como se ele segurasse o mundo inteiro. Tinha tanto medo de perdê-la. Mas não era a coragem, a determinação, a sabedoria que o faziam amá-la tanto? Ela fazia aquilo pelo mesmo motivo que ele correra como um louco procurando-a, naquela noite em que Willian por fim se mostrara. Era justo impedi-la? Seria dar a ela uma angústia descomunal, ele bem sabia.


      - Promete que vai tomar cuidado? – sussurrou Harry, como uma criança.


     - Prometo se você prometer.


     - Eu prometo – disse ele – E eu amo você.    


 


     Naquela noite, Harry não viu ninguém, não falou com ninguém. Depois que ele e Hermione deixaram o lago, foram diretamente para o salão principal. Estavam servido apenas pães, mas na pratica nenhum dos dois sentia fome. Era, talvez, uma tentativa inconsciente de que, ao manterem as bocas ocupadas, evitassem discutir o problema. A morena partiu em seguida, vendo-se na obrigação de estar em sua ultima aula, já que não comparecera à duas naquele dia. Assim que ela saiu, Harry sentiu o peso do mundo cair em suas costas. Sou um idiota, pensava.


     Não era certo restringí-la, e ele sabia muito bem. Era nisso que pensava, quando a culpa e o medo o dominavam. Em seu lugar, Harry iria se predispor ao mesmo comportamento. Não a julgue.


      Porém, bem no fundo, naquele buraco escuro de sua mente que ele tentava desesperadamente evitar, residia um sentimento incômodo. Um mal pressentimento. A ideia de que talvez, só talvez, eles estivessem subestimando Voldemort.  E que, nesse contexto, nem mesmo quatro excelentes bruxos estivessem aptos a detê-lo.


      Então, enquanto rumava em diração ao salão comunal, certo de que não encontraria ninguém, ele se desesperou. Praticamente correu até os dormitórios, subindo tres degraus de cada vez, apenas para se jogar na cama, apagar o abajur e fechar completamente o cortinado a sua volta. Sentou-se abraçado aos joelhos, como uma criança, e sentiu-se patético. Suas mãos tremiam enquanto o resto de seu corpo suava.


       Não era o medo de Voldemort. Não era o temor do desconhecido e da morte. Não era o fardo que carregava, a responsabilidade em seus ombros.


      Ele simplesmente não podia perdê-la.


 


     O quarteto surgiu na encosta do morro no qual se localizava a casa dos Riddle. O ar tinha o mesmo cheiro podre que Harry achava que teria. Dormira muito mal na noite anterior, e por isso seus músculos pareciam feitos de chumbo. Entrara e saira de diversos pesadelos por toda a madrugada, mas todos continham essencialemente as mesmas coisas. Dor, sangue, medo, morte. Hermione também tinha fundas olheiras debaixo dos olhos, que ela inutilmente tentara disfarçar com maquiagem. Ella e Jason também não pareciam exatamente confiantes. Fora uma noite agitada para todos, concluiu.  


     A casa caindo aos pedaços fez um arrepio passar por sua nuca. Enquanto subiam vagarosa e cuidadosamente em sua direção, Harry quase conseguia sentir o ar ficar mais pesado. Todos miravam o chão. Ninguém dizia uma palavra.


     Cristo, pareciam um grupo de condenados sendo levados à forca.


     Poucos minutos depois, que facilmente poderiam ter sido alguns anos, o quarteto alcançou o topo. Um gradeado capenga de metal enferrujado circundava o jardim abandonado. Rangeu quando Jason o abriu, para dar a eles passagem. Um caminho de pedras sujas de terra os conduzia diretamente à porta.


     Estava entreaberta. Para Harry e Hermione, aquilo nada significava, mas Jason e Ella ficaram alarmados. Havia registro de um casal de idosos residindo ali. Os nomes nada diziam a eles, mas ambos pressupunham que foram escolhidos a dedo por Voldemort, ou por saberem demais, ou, como achavam mais provável, por saberem muito pouco. A ignorância protegeria o segredo do Lorde Negro, que não podia arriscar-se colocando o casal sob a Imperius. Naquela região remota, o radar do Ministério rapidamente detectaria atividade suspeita.


     Harry rapidamente chegou a conclusão que tudo naquela casa rangia, das portas ao assoalho. Era impossível realizar uma entrada que sequer beirasse o silêncio. O primeiro cômodo era uma antessala, que possuía apenas uma cadeira, uma pintura e um pequeno móvel de canto. Dele saiam outros dois cômodos, de duas portas distintas, à esquerda e à direita. A da esquerda estava fechada, mas de onde ele estava era possível ver o piso esbranquiçado sujo da porta da direita. Presumiu que era a cozinha, onde eles adentraram primeiro.


     Assim como seu antecessor, o cômodo não era grande, tampouco rico. Havia outra porta que dava para o jardim e outra que sairia bem no meio da casa, provavelmente em um corredor ou algo do tipo. Harry observou o ambiente absolutamente normal e se deprimiu. Se a Horcrux estava de fato ali, onde poderia estar oculta? A porta pela qual acabaram de passar sequer possuía uma fechadura.


     - Como exatamente pretendemos encontrar a Horcrux? – foi Hermione quem verbalizou sua frustação – Isso aqui não tem nada de especial.


     - Temos que ser atentos aos detalhes. Um entalho na parede, um alçapão. Qualquer coisa. – murmurou Ella, visivelmente apreensiva – Tem de estar aqui.


     Nesse meio tempo, Jason apenas observava. Havia farejado algo de errado. Seu subconsciente havia captado algo que a parte racional de seu cérebro tinha deixado passar. Mas estava lá, definitivamente. Passou os olhos com atenção pela pia de pedra clara, o fogão. A cortina que cobria a única janela estava ligeiramente mais comprida em uma das pontas. Ao erguer o olhar, Jason percebeu que alguns dos elos haviam se soltado. Aquele detalhe, a primeira vista insignificante, aguçou ainda mais seus sentidos. Não conseguiu tirar da cabeça que o tecido havia sido puxado.


     Então, ele viu. Logo abaixo da janela, semioculto pela sombra do fogão. Seu coração batia acelerado pois ele entendia as implicações.


     Não era grande. Mas era o que era. Era sangue.


     - Ella – ele disse, muito sério – Ali. Ao lado do fogão, debaixo da cortina.


     Ella demorou alguns segundos para localizar a machinha disforme. Mas quando viu, sua expressão também mudou radicalmente. Harry deu dois passos em direção ao sangue até identifica-lo. Hermione não se moveu, mas estava estampado em seu rosto que também entendera.


     De súbito e com certa violência, Ella virou-se e deu cinco largos passos até a outra porta que saia da antessala, porta esta que ela abriu ruidosamente. Os três a seguiram, e se depararam com uma cena brutal.


     Haviam grandes poças de sangue espalhadas pelo tapete, que remontavam ao corpo da senhora estendido no chão. O vaso usado para matá-la jazia estraçalhado no chão, a poucos centímetros do outro corpo, de um velho, ainda sentado em sua poltrona. Ele havia sido morto com uma maldição, um fim bem mais brando do que aquele que levara sua esposa. Pelo padrão das manchas de sangue e os ferimentos em seu rosto e pescoço, ela não morrera imediatamente após o golpe. Havia um corte na bochecha do homem, e Jason imaginou ele sendo esbofeteado na cozinha, agarrando-se à cortina para manter o equilíbrio, gotejando sangue no chão.


     A cabeça de Harry girava. Já havia visto corpos antes, mas nunca daquela forma. Nunca com aquela brutalidade. Mal era possível reconhecer a sombra de uma face no rosto daquela mulher, tamanho fora o estrago. Sentiu alguém apertar-lhe a mão com força, e viu que Hermione tinha a outra mão levada a boca, olhos fixos na cena odiosa.


     O sangue e a violência, viriam a concluir, eram o menor de seus problemas.


     - Isso... – sussurrou Ella – Não faz sentido. Voldemort não o faria. Não assim. É burrice.


     - Não é burrice, Ella. É impulsividade. – disse Jason em resposta, muito sério. Houve um momento de tensão genuína antecedendo suas próximas palavras. Só havia uma possibilidade, uma pessoa que o faria daquela forma. Mais uma vez, o inimigo estava muito mais próximo do que esperavam. E um passo à frente, como lhe era costumeiro – Ele esteve aqui. Willian Kenbril já sabe sobre a Horcrux.


 

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Comentários (1)

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