Escolhas



      Harry e Rony adentraram sorrateiramente na Ala Hospitalar. A noite que caía do lado de fora trazia ventos de uma tempestade que se aproximava. Ao contrário do que seria sensato pensar, naquele momento na mente de Harry aquilo não significava mau-presságio. De acordo com suas novas aspirações, ele construiria seu destino.


       Hermione não dormia. Para surpresa e divertimento dos dois amigos, tinha à tiracolo um livro e algumas folhas de pergaminho, avidamente preenchidas em uma letra caprichada, mas sem rodeios. Harry sorriu ao perceber sua perna ferida dobrada sobre seu corpo, na posição que a morena definia como ”confortável”. Ao dar-se conta da presença dos dois, ela parou o que estava fazendo e pediu auxílio para retirar as coisas de cima da cama, dando espaço à eles.


        - Rony! – sorriu ela – É bom te ver.


        - É bom te ver, Mione. Como está? – perguntou o ruivo, sentando-se.


       - Melhorando, ainda bem – curiosamente, ela dirigia o olhar a Harry enquanto respondia a pergunta do amigo – Madame Ponfrey disse que a poção foi bem sucedida ao aniquilar o veneno. Ela garante que ficarei aqui por pelo menos uma semana, mas acha que vai dar tudo certo.


         - Ora, pois... – brincou Harry – Que boa notícia.


        O trio permaneceu junto e conversando até a enfermeira ter de vir expulsá-los. Harry sentia-se muito contente, apesar de haver, de fato, algo o incomodando. Sua relação com Hermione parecia estranhamente superficial, como se houvesse um muro de diferenças separando-os. E ele sabia que não era assim. Ainda não sabia ao certo o que iria fazer, mas queria retomar sua amizade com a morena. Para um fim ou para outro, ela era uma parte grande demais de seu passado para que ele a ignorasse.


        E ele, de fato, não pretendia fazê-lo.


 


        Ella bebia tranquilamente um copo de suco enquanto pensava sobre a escolha que acabara de fazer. Modéstia a parte, a sua escolha para ajudar Potter em sua preparação mágica não a surpreendia. Contudo, não achava que Potter precisasse realmente de ajuda. Se Jason Mayer não havia conseguido despertar sua carga mágica, certamente não seria ela que o faria. Toda sua destreza e talento resumiam-se na manipulação da magia em si, não em sua, por dizer, obtenção.


         Tirou os óculos e passou uma das mãos pelo rosto. Era fato que sabia muito mais do que a grande maioria dos bruxos que conhecia. Também que, nesta altura de sua vida, podia se dar ao luxo de escolher com o que iria trabalhar. Portanto, não era obrigada a aceitar a proposta de Dumbledore. Mas ela sentia-se perigosamente atraída pelo emoção de estar, novamente, fazendo alguma coisa. A verdade era que o trabalho burocrático a entediava. Havia sido uma grande auror em seus dias de glória, até o acidente ocorrido no semestre anterior. Ainda era possível ver a marca mais clara em seu dedo anular, onde anteriormente colocava sua aliança.


            Engraçado estar pensando em Andrew naquele momento, naquelas circunstancias. O desejo de vingar o marido morto não se dissipara, mas Ella estava bem menos agressiva do que costumava ser. Grandes poderes, grandes responsabilidades e dores de cabeça maiores ainda, pensou com amargura.


           Ela treinaria Potter. O ensinaria a usar o melhor de seu poder, e a transformar suas desvantagens em características próprias e únicas. Mais do que isso: ensinaria a Potter sua principal vantagem, o “algo a mais” que seus professores sempre elogiaram.


            Quando ela terminasse, Potter não precisaria sequer de uma varinha.


 


         Jason bateu à porta do gabinete com latejante receio. Tinha um pretexto válido para estar ali: comunicar Dumbledore da decisão de sua colega e amiga, Ella Martinez. Mas pretendia ir além deste tópico, pois sabia que o ex-diretor era a melhor pessoa para tratar do assunto. Contudo, não tinha a mínima idéia de como fazê-lo.


        Suas alegações não eram infundadas. Após suas constatações com suas cartas pessoais, aproveitara sua visita ao Ministério para conversar com alguns antigos colegas de profissão. Todos concordavam: Scrimegeour havia mudado muito no último ano. Suas estratégias políticas haviam se tornado menos sensatas e mais radicais; sua postura diante do governo, mais agressiva; seu próprio humor do dia-a-dia, antes aborrecido, porém gentil, havia se tornado intragável. E ele, como auror com anos de experiência, sabia que mudanças de personalidade eram comuns quando a maldição Imperius era utilizada. Eram poucos os praticantes desse tipo de magia que realmente se davam ao trabalho de pesquisar, conhecer e manter as características de suas vítimas. Um garoto de dezessete anos, por mais esperto, certamente não o faria.


          Provar, por outro lado, não seria uma tarefa nada fácil. E, ainda que conseguisse esse feito, o que faria a seguir? Ninguém podia afastar o Ministro da Magia do poder, a não ser em caso de renúncia. Afinal, quem iria querer o homem mais poderoso e influente do mundo mágico como inimigo?


         Achava que Dumbledore, talvez, estivesse disposto a comprar esta briga. E, se o fizesse, não estaria sozinho. Mesmo depois de morto, sua opinião continuava contando muito para a maioria das pessoas. Mas Scrimegeour tinha mais poder, mais dinheiro. Seus desvios, lavagens e corrupções freqüentes o haviam rendido muito dinheiro. Mais uma vantagem para o jovem Willian Kenbril, ele presumia.


 


          Severo aproximou-se sem medo do homem sentado na cadeira. Era pequeno, encurvado e velho. Lhe ocorreu como a vida podia ser irônica, em certas situações. Era difícil acreditar que se encontrava diante de uma das pessoas mais talentosas de seu grupo. Hans Müller, pensou. Você é exatamente o tipo de pessoa que eu preciso.


          - Em que posso ajudá-lo, Severo? – perguntou ele – Imagino que, como sempre, você tenha uma proposta muito interessante.


         - Tenho um desafio para você, Hans. Sei como você os aprecia – sorriu Snape – Já faz algum tempo desde seu ultimo jogo.


        - Sinto o cheiro de uma perseguição. Gato-e-rato com quem, desta vez? – disse ele, virando-se. Sua boca de dentes muito brancos sorria peculiarmente.


         - Imagino que você já tenha ouvido falar dele... e também penso que já saiba do que minha proposta se trata.


          - Confesso que estou um tanto decepcionado. Você bem sabe que Harry Potter é a minha maior ambição. Contudo... – disse ele, pensativo – Acredito que terei de me contentar com o garoto Kenbril. Não?


 


          Willian sorria ao sair do escritório do Ministro. Piscou para a secretária antes de ir em direção às escadas. Elevadores eram muito arriscados, ele podia ser reconhecido. Ainda mais agora, logo após sua pequena palhaçada em Hogwarts. Sentia-se um tanto decepcionado por saber que aquela era provavelmente a última vez que poderia entrar no Ministério. As coisas iriam esquentar, definitivamente.


           Sua mente viajava em uma velocidade impressionante, enquanto tentava constatar até onde seus atos haviam chegado. Quanto a Hogwarts e ao Ministério, tinha absoluta certeza: estariam a sua procura muito em breve. Seu principal foco no momento era se, por um acaso do destino, a providencial fuga de Severo Snape havia feito seu nome chegar aos lábios do Lorde das Trevas. Era provável que sim.


          Alcançou o andar térreo naturalmente.  Parcialmente escondido embaixo de seu chapéu, atravessou o saguão. Teve o prazer de cruzar com a face preocupada de Arthur Weasley pelo caminho. Família inútil, pensou. É uma pena Potter ter se afeiçoado com esse tipo de gente. Bruxos, é verdade. Mas desonrados ao longo das gerações.


            Refletiu sobre sua conversa com Scrimegeour. Em breve, não precisaria mais dele. Apenas mais um passo era necessário, faltava pouco. Este, porém, teria de esperar. Como dizia a expressão popular, até a poeira baixar.


          Até porque, se tudo saísse como planejado, ele queria que todos pudessem ver muito bem o que se passou.


 


         - Entre – ordenou Dumbledore. Jason respirou fundo mais uma vez, e o fez. – Jason. Eu o esperava.


           - Imagino que sim, professor – respondeu, formal. – Boa noite.


          - Então...penso que tenha tirado proveito de sua visita ao Ministério?


          - É claro. Falei com Ella Martinez, professor, e ela aceitou vir à Hogwarts. Confesso que, no início, ela relutou, mas quando disse que se tratava do Sr.Potter...


          - Ela se interessou, como pensei que faria. É muito sua cara, não acha? – disse, sorrindo maroto. Jason concordou, também rindo.


          - É, também achei. Além do mais, ela está procurando por ação já a algum tempo. O senhor a conhece, burocracia não é exatamente seu feitio. Nem o meu, diga-se de passagem.


          - Nem sempre as circunstancias nos sorriem, Jason, você sabe disso. Mas o ser humano tem uma feliz capacidade de se adaptar à grande maioria das situações.


          - Ella e eu temos um passado infeliz em comum, eu diria. De certa maneira, isso nos une ainda mais. A conheço a muito tempo, veja bem. E por isso digo que não há melhor opção que ela para isso, senhor.


          - Permita-me uma correção: vocês dois juntos são a melhor opção. Fico contente em saber que ela aceitou nossa proposta. Agora...há mais algum assunto pendente sobre o qual eu deva saber?


           Jason prendeu a respiração, ansioso como uma criança. Repreendeu-se mentalmente por tamanha hesitação. Já havia se decidido sobre o que fazer, e era um homem de palavra. Principalmente com relação a si mesmo.


           - Na verdade, senhor, sim. Cheguei a certas conclusões sobre nosso Ministro da Magia que gostaria de refletir.


           O ex-diretor não pareceu nem um pouco alarmado, e isso o surpreendeu.


            - Presumo que você tenha chegado a mesma conclusão que eu, Jason. Peço que por favor, não me interrompa. Você chegou a conclusão de que o nosso Ministro está sobre o controle de uma maldição imperdoável, estou certo? Imperius. Como você descobriu eu não sei, mas estava certo que mais cedo ou mais tarde o faria. Aliás, estou surpreso que ninguém mais o tenha feito... a pessoa que o amaldiçoou não foi exatamente meticulosa a respeito. Quanto a identidade desde, creio que não haja dúvida que o jovem Willian Kenbril seja responsável. Entretanto, e acho que você concordará comigo, não há muito o que possamos fazer a respeito. Não?


            - Era precisamente a respeito dessas providencias que queria discutir com o senhor, professor. Tem certeza que não há nada? Quero dizer, não penso em uma revolução nem nada do tipo. Apenas algo para modificar o fato que, quer queira ou não, há um garoto de 17 anos potencialmemente perigoso a frente do mundo mágico. – disse Jason, de uma maneira mais rápida e vermente do que seria educado.


              - Compreendo a sua indignação e, acredite, partilho dela. Contudo, estamos de mãos atadas, pelo menos por enquanto. Por isso que insisti tão assiduamente para que você contatasse Ella. Agora mais do que nunca, é preciso que Harry esteja pronto. E, ao meu ver, já está na hora de transformar esse castelo, verdadeiramente, em uma fortaleza.


 


               Ella caminhava rapidamente pela pequena cidade alemã, a varinha em punho. Desde que recebera a ligação preocupada de Jason, não conseguira ficar parada em casa. As casas passavam excessivamente devagar, apesar de ela estar praticamente correndo. O desespero lhe subia quente pela garganta. 101, 103, 105... E se não chegasse a tempo? Não poderia se perdoar se falhasse. 109, 111, 113. Onde diabos estava a casa? Sabia que não deveria estar ali, que era muito pessoal. Mas era seu marido, pelo amor de Deus! O que queriam que fizesse, esperasse sentada pelo retorno? Ela também era um auror, tinha condições de defender sua família.


            131. O número era esse, e ela podia ouvir o alvoroço lá dentro. Colocou a mão na maçaneta, mas conteve-se. O sexto sentido que havia adquirido em anos de batalhas a mandou pensar antes de agir. O que poderia encontrar? Desconsidere o lado pessoal. Não é Andrew, é só mais uma vítima. Eles só querem se divertir, nunca matam os trouxas que capturam. Só que, dessa vez, era o seu trouxa. O amor de sua vida.


            Gritos. Barulho de algo atingindo o chão, como um peso morto. Ella adentrou de supetão na casa, passando pelos corredores estreitos e subindo até o segundo andar. A direita estava uma pequena sala. Espreitou pelo vão do corredor. O que se seguiu ficaria permanentemente gravado em sua memória. Gravado a fogo.


           Jason estava lá, varinha apontada para um homem encapuzado. Só que haviam três desses homens. Um apontava o bico de sua própria varinha para as costas do auror, e o terceiro segurava um facão de carne contra o pescoço da vítima. Da vítima? Quem estava tentando enganar? Era Andrew, seu Andrew, seu marido, ameaçado de morte por culpa sua. Tinha de agir imediatamente.


            Entrou na sala e estuporou o homem que apontava a varinha para Jason. Este, surpreso, virou-se para procurar sua própria. Nesse meio tempo, o encapuzado tomava o facão das mãos de seu companheiro. Ella gritou. Andrew a olhou nos olhos, e disse seu nome, sem emitir nenhum som. Seus olhos se encheram de lágrimas ao mesmo tempo que o homem cravava a arma no peito de seu marido. Pego no meio de uma respiração, Andrew engasgou-se, gorgolejante. Seus joelhos se dobraram e seu corpo caiu contra o chão pesadamente. Seus olhos estavam entreabertos, e um filete de sangue escapava por sua boca. Ele ainda teve tempo de mexer os lábios dolorosamente. “Eu te amo”. Ella olhou para ele e uma certeza sufocante se abateu sobre sua consciência. Andrew não mais a via.


              Ella acordou de um salto, nauseada. Vomitou no chão, engasgando-se, chorando. Nunca antes a memória daquele dia havia voltado a ela de uma maneira tão viva, tão real. Mirou o lado vazio na cama ao seu lado, e teve de colocar ambas as mãos na boca para conter os soluços. Mais do que nunca, aquela arrebatadora sensação retornou.


           Estava sozinha. Completamente sozinha.             

  N/A: Voltei!
         Ok, mas eu avisei que demoraria mais desta vez. Afinal de contas, tinha um exame de prificiencia pra fazer. Prestei o de alemão semana passada, e prestarei espanhol na proxima semana. Então, considerem esse cap um presente, pq eu realmente não pretendia postar tão cedo. Tanto que o cap não vem tão grande assim, só 6 pags de word.
          Prefiro deixar para comentar o enredo no proximo cap, onde certas coisas irão se completar. Não vou me prolongar muito na questão do marido morto de Ella, apenas o suficiente para dar a entender o que a leva a fazer o que ela irá fazer daqui para frente.
           Contudo, irei prometer uma coisa: até terça feira a noite postarei o capítulo 2, completamente reformulado. Está pela metade, e com o feriado devo conseguir terminar.
            Infelizmente esse cap também vem sem correção. É uma época bem atribulada para todo mundo. Espero conseguir estabilizar as coisas até a proxima postagem.

Bjo, Giovanna de Paula 

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Comentários (2)

  • matthew malfoy

    capítulo muito bem elaborado e escrito, continue assim abraços e até o próximo

    2011-11-19
  • rosana franco

    Gostei do capitulo depois com mais tempo comento mekhor.

    2011-11-14
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