Decepções
Ali, alheios a presença de Harry, Hermione e Willian se beijavam. Não, beijar era um termo muito fraco. Eles estavam decididamente atracando-se no meio do corredor. As mãos de Willian passavam repetidamente pelo corpo da morena, acariciando todas as suas partes. Ela agarrava-se fortemente ao pescoço do loiro, arranhando-o.
O coração de Harry falhava em suas batidas. O ar, de repente, pareceu muito escasso, e ele se tornou ofegante. O suor escorria por sua face e suas mãos tremiam de raiva. Seu maxilar doía, tamanha a força com que trincava os dentes. Mas sua mente não percebia essas mudanças. Ela só tinha olhos para o casal a sua frente, que ainda não percebera sua presença.
Impossível. Foi essa a palavra que ecoou em sua mente. Seus olhos o deviam estar enganando, traiçoeiros. Era a única explicação levemente plausível que conseguia encontrar.
Mas, no seu intimo, sabia que era real. Ela não desaparecia durante o jantar? Não estavam sentando juntos em todas as aulas? Não viviam conversando pelos cantos? Eles estavam juntos... Namorando...
Com um estalo, eles se separaram. Foi Willian que o viu primeiro, e um sorriso vitorioso esboçou-se em sua face. Só havia uma palavra para aquela expressão: deboche.
- Veja só, Mione... Parece que termos companhia – disse ele, fazendo um gesto para Harry. A morena virou-se assustada.
- Harry... – o sussurro surpreso escapou de seus lábios. Repentinamente, o rapaz viu seus olhos se encherem de lágrimas.
- Surpreso, Potter? Já deveria saber, não? Hermione me contou que você leu minha carta... – disse Willian.
- Harry, não é nada do que você está pensando... – tentou explicar Hermione, mas Harry sacudiu a cabeça.
- Como não é nada? – sua voz irrompeu em um sussurro furioso – Não existe outra explicação para isso. De novo, Hermione, isso só serve para provar o quanto você mudou... E como eu nunca te conheci de verdade.
Não esperou uma resposta, simplesmente de as costas e foi embora. Desolado. Entristecido. Decepcionado. Todos esses adjetivos pareciam não qualificar corretamente o estado de espírito no qual ele se encontrava. Ele estava bem pior que aquilo.
Logo que saiu do campo de visão dos dois começou a correr furiosamente, como que para aliviar sua ira. Alem de triste, estava bravo com eles. Bravo com ela. Ainda não entendia como aquela Hermione gentil e carinhosa tinha se transformado na pessoa que vira hoje.
Estava tão perdido em seus pensamentos que não percebeu que a garota o seguia. Ele seguiu quase inconscientemente até a beira do lago, onde se agachou e lavou o rosto, tentando ao máximo não deixar as lagrimas escaparem de seus olhos marejados. Só se deu conta da presença de Hermione quando ela tocou de leve seu ombro.
- Por favor... Deixe-me explicar – pediu ela, suplicante.
- Explicar o que? – respondeu, rouco – Não há o que explicar. Está claro.
- Não, não está claro – retrucou a morena, séria – Olhe para mim.
Por um segundo, Harry considerou não obedecer. Considerou gritar, por para fora tudo que estava sentindo, e depois simplesmente deixá-la, sozinha com seus sentimentos. Queria ver se ela se arrependia.
Mesmo assim, virou lentamente a cabeça em direção a ela. Seus olhos se encontraram, e ele tentou desesperadamente expressar o que estava sentindo. Tentou transmitir tudo a ela através de um simples olhar, como sempre pudera fazer. Mas não conseguiu. Era como se a conexão tivesse sido quebrada.
- Por que faz isso? – questionou Harry, em um sussurrou – Será que já não é o suficiente? Por que insiste em me seguir, só para me ver sofrer mais?
Então, ele não conseguiu. Uma única e azulada lágrima correu por sua face, e pingou na grama verde. Harry respirou fundo e fechou os olhos, tentando se conter. Esperava uma resposta de Hermione, mas ela permaneceu calada. Concluiu que ela não sabia o que dizer.
- Achei que te conhecia – continuou, ainda com os olhos fechados. Não sabia como estava sendo a reação da morena – Achei que, depois de tantos anos... Saberia qual seria sua reação. Mas você fez algo que eu nunca imaginei que seria capaz de fazer... E isso desmonta qualquer perspectiva que tinha com relação a você. Cheguei a um ponto... em que não sei mais nada.
Resolveu então por um fim naquilo, antes que se descontrolasse. Levantou-se e se ajeitou demoradamente. Esperou que Hermione dissesse alguma coisa, expressasse algum tipo de reação. Mas ela permaneceu ali, fitando o reflexo da lua na água cristalina. Ficou ali mesmo depois de ele ter ido embora. Permaneceu até uma fina chuva começar a cair, e desmanchar por completo seu reflexo na água.
Assim que Harry entrou no salão comunal, foi direto para o dormitório. Gina e Rony, que conversavam em frente à lareira, perceberam o estado do amigo e chegaram à conclusão de que alguém deveria ver o que estava acontecendo. Rony, minutos depois, o seguiu pelas escadas.
O ruivo o encontrou parado de frente para a janela, observando a noite estrelada. Seus lábios estavam contraídos em uma linha fina, e ele parecia fazer força para não chorar. Rony, sem dizer uma palavra, postou-se ao seu lado.
Por algum tempo, eles permaneceram daquela forma. Em silencio, porem em uma compreensão mútua. Até que Rony não agüentou mais de curiosidade e perguntou:
- Aconteceu alguma coisa? – o moreno balançou a cabeça. Era óbvio que não queria falar sobre o assunto. Rony, percebendo isso, concluiu que era melhor deixá-lo sozinho. Entretanto, antes de ir, disse:
- Eu sei que está chateado, e não vou obrigá-lo a falar sobre isso. Eu só queria que soubesse... Que você ainda tem amigos. Para o que der e vier, sempre que precisar, ok? Quando quiser conversar... Vou estar aqui para te ouvir – disse o ruivo. Tinha pensado bem naquelas palavras, e achou que era realmente o melhor a fazer naquela situação. Dando umas ultimas palmadinhas nas costas de Harry, virou-se e saiu.
O rapaz, de certa forma, sentiu-se agradecido pelas palavras do amigo. Respirou profundamente o gélido ar da noite, misturado com o odor quase imperceptível do orvalho. Pensou em tudo que já tinha vivido, tudo que já tinha enfrentado. Já passara por muita coisa... mas nunca desistiu. Sempre tivera alguém para apoiá-lo. Alguém que acreditasse nele, e o acompanhasse por qualquer caminho que resolvesse trilhar. E era esse o papel que Hermione sempre representou para ele: alguém com quem pudesse contar. E agora se sentia perdido, pois ela não estava mais lá.
Suspirou novamente, dando as costas ao céu estrelado. Deitou-se na cama, sem trocar de roupa ou ao menos tirar os óculos. Apesar de estar deprimido, triste, enraivecido e principalmente inconformado, conseguiu adormecer pouso tempo depois, mergulhando em sonhos inquietos nos quais sempre revia a cena da passagem atrás da tapeçaria.
De manhã, Harry levantou sem muito ânimo. Tivera pesadelos durante toda a noite, e conseqüentemente não descansara como devia. Estava tão sonolento que se viu tentando colocar a camisa no lugar da calça.
- Cara... você está péssimo – disse Rony, mirando as olheiras do rapaz.
- Não dormi muito bem – justificou, desanimado.
-Queria que me contasse o que houve... Vai ver eu posso ajudar – ofereceu o ruivo, no salão principal. Harry suspirou.
- Estou tão cansado que nem vou me dar ao trabalho de esconder nada... Eu vi Hermione e Willian se beijando ontem à noite – disse, sem rodeios. Lembrar-se mais uma vez daquilo doeu fundo em seu peito, mas o moreno ignorou o fato. Rony engasgou-se com a comida.
- Como?! – exclamou ele, como que se esperasse que Harry virasse sorridente e dissesse “brincadeirinha!”. Ele, logicamente, não o fez – Caracas... Eles estão juntos mesmo. Não é a toa que você esteja desse jeito... Putz, está saindo dos limites, isso...
Harry não disse nada. O prato dourado a sua frente permaneceu vazio durante todo o café da manhã. O máximo que fez foi tomar, relutante, alguns goles de seu suco de abóbora.
- Harry! – ouviu uma voz feminina gritar seu nome. Por um instante delirante, achou que fosse Hermione. Mas era apenas Gina, seguindo afobada até eles. – Merlin, você está horrível!
- Nem precisa falar – disse, desanimado.
- O que houve? – questionou ela, sentando-se ao seu lado – Foi por causa...
- Depois eu explico – cortou Rony, lançando um olhar significativo a irmã. Ela sacudiu a cabeça e mudou de assunto.
- Conversei com Hermione ontem à noite... – começou a ruiva. Aquilo chamou a atenção dele na hora – Ela parecia distante, estava concentrada em alguma coisa. Disse que você estava triste e tudo mais, e ela concordou, meio vagamente. Perguntei sobre Willian... Ela disse que ele era boa pessoa. Não passou muito disso, por que em seguida ela foi dormir. Não me deu chance de perguntar mais nada.
Contentou-se em respirar fundo, tentando controlar-se. Boa pessoa? Ótimo. Aquilo apenas melhorava seu humor.
Mas algo o deixava inquieto. Gina comentara que Hermione estivera vaga, pensativa, provavelmente depois de seu encontro no lago. Será que estava averiguando melhor a situação? Será que se arrependera?
Foi tirado de seus pensamentos pelo barulho do sinal. Aquele som ribombou em seus ouvidos, provocando uma aguda dor em sua têmpora. Não sabia como agüentaria as aulas do dia daquele jeito. Talvez fizesse uma visita a Madame Ponfrey, ver se ela não tinha uma poção para “acordar”.
Seguiu massageando a cabeça em direção a sua primeira aula. Mirando Gina, a sua frente, lembrou-se do que tinha visto na noite anterior. Aquela lembrança só faz aumentar sua dor de cabeça. Resolveu que conversaria com ela em um momento mais oportuno.
Estava tão concentrado em sua dor de cabeça que mal percebeu uma figura loira que vinha apressadamente no sentido contrário. Colidiu com ele.
- Que isso, Potter? Ressaca? Ou resolver dar uma de mendigo para saber qual é a sensação? – debochou Malfoy, mirando o rosto do colega.
- Não estou com paciência para você hoje, Malfoy – resmungou Harry, sem nem ao menos olhá-lo.
- Credo, que antipatia – comentou ele – Levou da Granger de novo? Soube que ela te trocou por outro, digamos... Melhor dotado.
- Ah, cale a boca – dessa vez foi Gina quem falou.
- Quieta, Weasley – respondeu Malfoy. Harry supôs que tinham que continuar agindo como se odiassem um ao outro, para disfarçar o que realmente estava acontecendo – Não vou perder meu tempo com vocês, se não me atraso para a aula. A propósito, Potter... Dumbledore quer que o trio maravilha compareça a sala da diretoria amanhã durante a jantar.
O loiro seguiu rapidamente seu caminho. Harry lançou um significativo olhar para Gina, e ela murmurou um breve “Deixe que eu falo com a Hermione” antes de seguir para sua própria aula. Harry, ainda massageando as têmporas, seguiu em direção as escadas.
N/A: Taí, uma postagem-relampago para conpensar meu atraso anterior. Eu sei que muita gente deve estar "p" da vida com a cena do beijo, e não culpo ninguem. Eu no lugar do leitor tambem ficaria. Mas as coisas tem que ser assim, pq eu ainda tenho muita coisa para desenvolver nesse aspecto. Vão ter que conviver com essa coisa de Hermione/Willian por mais um tempinho, até que...ooops! Tenho que tomar cuidado para não falar demais.
A proxima postagem não vai ser tão rápida, mas tbm não vai demorar meio século como a ultima. O tempo de sempre, uma semana ou duas. Chutem a vontade, apostem o que está por vir. Adoro teorias malucas e diferentes, vocês sabem!
Comentem, e prestem atenção nos detalhes! Mas principalmente comentem!
Bjos e até o proximo cap!
Comentários (1)
Ai, ai... até eu que não sou bruxa já conheço o significado de "vago" no mundo de Harry Potter: amaldiçoado pela Imperius!Dãã... Ô Harry! Será que dá pra parar de mimimi e notar que a Mione tá sendo controlada pelo William?? o.O
2012-04-28