Epílogo
Epílogo
Gina dormira por muito tempo. Haviam se passado 24 horas quando percebeu que o Dr. Franco, o médico particular dos Potter, lhe dera um sedativo.
Acordou descansada e ressentida. E, embora detestasse admitir, dolorida.
O médico passou mais um dia inteiro murmurando sobre seus cortes e escoriações no tom gentil, mas implacável de sempre. O fato de ter recebido ordens de Sua Alteza Real para mantê-la em repouso, não deixou outra alternativa ao médico e à paciente se não obedecer.
Gina reclamou. Embora recebesse visitas com freqüência, a ociosidade a irritava. Recebera notícias do quartel-general do SSI através de Rony, que deveriam tê-la animado. A operação de Deboque fora destruída. Recebera a esperada promoção. Porém, tudo que conseguia era sentir-se aborrecida e ansiar por escapar.
Foi Eve que lhe proporcionou uma oportunidade na noite do baile de Natal.
- Está acordada. Ótimo.
- Claro que estou acordada. - Irritada por passar dois dias na cama, Gina mudou de posição. O fato de suas costelas ainda doerem ao mínimo toque tomava a estada ainda pior - Vou enlouquecer
- Estou certa que sim. - Sorrindo, Eve sentou-se na beirada da cama. - Não vou constrangê-la, dizendo-lhe o quanto todos nós nos sentimos agradecidos por tudo que fez. O que vou fazer é lhe transmitir as últimas ordens do Dr. Franco.
- Oh, poupe-me!
- Que são para se levantar, vestir-se e dançar até de madrugada.
- O quê? - Gina se sentou na cama, exibindo uma discreta careta de dor - Posso me levantar? Está falando sério?
- Claro. Agora, aqui está. - Erguendo-se, a princesa pegou o robe de Gina. - Coloque isso. Minha cabeleireira está sendo esperada a qualquer minuto e fará sua mágica em você primeiro.
- Mágica! - Com um suspiro resignado, Gina levou a mão aos cabelos. - Terá de ser mesmo uma mágica. Eve, por mais que eu queira levantar e ser tratada, acho que não é uma boa idéia ir ao baile.
- É uma idéia perfeita. - Após ajudar Gina a vestir o robe, a princesa se inclinou para inspirar o aroma das gardênias que adornavam os lados da cama.
- De Harry?
- Sim. - Gina se permitiu tocar as pétalas macias com as pontas dos dedos. - Trouxe-as esta manhã. Não o tenho visto com muita freqüência. - Afastando o desânimo, apertou o cinto do roupão. - Sei o quanto todos têm estado ocupados com as coletivas de imprensa e os pronunciamentos públicos para esclarecer toda essa confusão.
Eve ergueu o sobrolho. Decidiu não contar à amiga que o cunhado não a deixou sequer um segundo durante a primeira noite. Era romântica o suficiente para desejar que descobrissem um ao outro sozinhos.
- Por falar em confusão, deveria ver a ala leste. Tem vidro espalhado por todos os lados. As criadas levarão semanas para limpar tudo. - E deixando escapar um longo suspiro, pousou as mãos no ombro de Gina. - Vou constrangê-la. Sei que era uma missão, mas quaisquer que tenham sido as razões que a trouxeram até nós, transmitiu-nos paz. Nada que possa dizer ou fazer pagará isso. Meu filho... - Um leve sorriso curvou os lábios da princesa. - Marissa e este estão seguros. Sei o que Deboque tinha em mente.
- Está tudo acabado, Eve.
- Sim. - Solene, a princesa beijou a face da amiga. - Devo-lhe minha vida e a de todos os meus entes queridos. Se houver algo que possa fazer por você, e estou falando como amiga e esposa do herdeiro do trono de Cordina, terá apenas de pedir.
- Esqueça isso. Nunca fui capaz de manter amizades duradouras. Quero crer que isso acabou.
Eve estudou a mulher que estava apenas começando a conhecer
- Tenho duas irmãs, a de sangue e a que Alexander me deu. - A princesa lhe estendeu a mão. - Gostaria de ter três.
- Alteza. - Uma das jovens criadas assomou à porta. - Desculpe interromper, mas madame Frissoutte está aqui.
- Maravilhoso! - Eve deslizou o braço pelo da amiga. - Prepare-se para a transformação.
De fato, foi uma transformação, pensou Gina, enquanto estudava o próprio reflexo no espelho. Seus cabelos caíam em uma cascata de cachos, como os de uma cigana, pelos ombros, e estavam afastados da face por dois pentes cintilantes. O vestido brilhava e faiscava, caindo da altura dos ombros até os tornozelos. Foi esperta o suficiente para cobrir com maquiagem as escoriações nos braços e na face.
Precisava apenas de sapatos de cristal, pensou com um meio sorriso. Mais ilusões. Mas se aquela tinha de ser a última que desfrutaria com Harry, a aceitaria de bom grado. Não se arrependeria quando o relógio soasse as 12 badaladas.
A música já enchia o salão de baile. Gina entrou, discreta, como de costume, e absorveu o brilho do local. Espelhos impecavelmente polidos refletiam o cintilar e o glamour dos vestidos e das jóias. Candelabros emitiam reflexos semelhantes aos das estrelas. Tudo em prata brilhante e azul glacial dos buquês e globos resplandecentes. Em uma árvore de Natal de seis metros, brilhavam cem anjos de cristal que captavam as luzes.
Ele a estivera observando. Esperando. Quando a viu, o ar sumiu de seus pulmões. O casal com quem estivera conversando se deteve, em silêncio, com as sobrancelhas erguidas, quando o jovem príncipe se afastou sem dizer uma palavra.
Harry lhe pegou ambas as mãos, mesmo enquanto ela se curvava em uma reverência.
- Meu Deus, Gina! - Pela primeira vez em sua vida ficou sem palavras. - Está esplêndida!
- Uma produção de Eve. - Ele trajava indumentária branca com a insígnia de sua patente e uma espada pendendo da cintura. Apesar das muitas formas que recordava de Harry, jamais esqueceria a aparência dele naquela noite. - Tudo está tão lindo!
- Agora está. - A mão do príncipe deslizou em sua cintura, quando ele a girou para os primeiros passos da valsa.
Era como mágica, pensou Gina. A música, as luzes, os espelhos...
Por quatro horas dançaram juntos, girando ao redor do salão, deixando a comida e o vinho para os demais. Quando ele a guiou, dançando, até o terraço, Gina não objetou. Ainda lhe restavam alguns minutos antes da meia-noite.
Afastando-se, ela se encaminhou para a grade para apreciar a paisagem de Cordina.
Luzes brilhavam em cores festivas por causa do feriado. A brisa tinha a tepidez e o aroma da primavera.
- Algum dia se cansou de apreciar esta vista?
- Não. - Harry se postou ao lado dela. - Acho que significa ainda mais agora.
Gina compreendia o que ele queria dizer, e pretendia manter o fantasma de Deboque afastado.
- Na Inglaterra, estaria frio, com chuva de granizo. Talvez nevasse pela manhã, ou o céu em tom cinza e nublado. Todas as lareiras estariam acesas e o rum, aquecido. Os cozinheiros teriam preparado todos os perus e iguarias de modo que sentiríamos os odores do Natal por todos os lados.
- Não podemos lhe proporcionar neve. - Harry ergueu a mão dela e a beijou. - Mas podemos oferecer lareiras e conhaque aquecido.
- Não tem importância. - Gina deixou escapar um suspiro. - Quando chegar em casa, vou me recordar de estar aqui neste local com o Natal quase sobre nós. Lembrarei da fragrância de rosas e jasmins.
- Pode esperar um momento?
- Está bem.
- Fique onde está. - ordenou o príncipe, e lhe beijou a mão outra vez. - Será apenas um minuto.
Quando ele saiu, Gina voltou a apreciar as luzes e o mar. Dentro de poucos dias estaria em casa e, então, talvez Cordina lhe parecesse um sonho. Cordina, pensou, mas nunca Harry. Ergueu a face e olhou uma estrela, mas não se atreveu a fazer um pedido.
- Tenho algo para você.
Com um meio sorriso lhe curvando os lábios, Gina se voltou, e sentiu a fragrância.
- Oh, castanhas! - Com uma risada, pegou o saco que Harry estendia em sua direção. - E estão quentes!
- Queria lhe dar algo de seu país.
Gina ergueu o olhar para fitá-lo. Havia tanto o que dizer e nada que pudesse ser dito. Em vez disso, ergueu-se na ponta dos pés e o beijou.
- Obrigada.
Harry roçou os dedos na face pálida.
- Pensei que dividiria comigo.
Gina abriu o pequeno saco e com os olhos fechados inspirou o aroma.
- Não é maravilhoso? Agora parece Natal.
- Se Cordina pode se parecer com seu lar, talvez possa ficar.
Gina descerrou as pálpebras e baixou o olhar rapidamente para o saco de castanhas.
- Tenho ordem de retornar até o final da semana.
- Ordem! - Harry fez menção de a tocar, mas se deteve. - Sua posição no SSI é de grande importância para você. - afirmou, sem conseguir disfarçar o tom de ressentimento. - Fui informado de que recebeu uma promoção.
- Um cargo na diretoria. - Gina mordiscou o lábio inferior - Trabalharei atrás da mesa por um bom tempo. Dando ordens. - explicou, forçando um sorriso.
- Alguma vez considerou desistir?
- Desistir?
Foi o olhar vazio e surpreso que o preocupou. Seria possível que Hannah não pensasse em mais nada além do dever para com a organização?
- Sim. Se tivesse algo com que substituí-lo. É a excitação que a estimula? - Ele tomou a face delicada nas mãos em concha, girando-a em direção à luz, de modo que visse a sombra do ferimento provocado por Deboque.
- É simplesmente o que faço. - Gina deixou escapar um suspiro. - Harry, nunca falamos sobre o que aconteceu no iate. Não lhe agradeci por me salvar a vida. Acho que é porque estou acostumada a tomar conta de mim mesma.
- Eu o mataria apenas por isso. - murmurou o jovem príncipe, traçando com a ponta do dedo o contorno do ferimento na face de Gina.
Ela fez menção de recuar, mas a visão daquele homem a impediu de fazê-lo.
- Não se afaste de mim. Não conversei com você sobre isso porque o Dr. Franco estava preocupado em mantê-la calma e despreocupada. Mas, danação! Falarei agora. - Harry deu um passo, permitindo que ela sentisse a ansiedade e a mal contida fúria. - Tive de permanecer sentado, escutando-a lidar com aquele homem. Tive de ficar onde estava, impotente, enquanto estava a sós com ele. Quando irrompi naquela cabine e o vi segurando um revólver contra sua cabeça, tive um lampejo do que seria a vida sem você. Portanto, não se afaste de mim agora, Gina.
- Não me afastarei. - Tentando controlar a respiração, pousou vagarosamente a mão sobre a dele. - Está tudo acabado, Harry. A melhor coisa a fazermos é tirar isso tudo de nossas mentes. Cordina está segura. Sua família está a salvo. E eu também.
- Não aceitarei que arrisque sua vida outra vez por ninguém.
- Harry...
- Não permitirei. - O jovem príncipe tomou um punhado dos cachos macios nas mãos e beijou Gina, mas daquela vez com uma intensidade e poder que a deixou sem fôlego. Em seguida, recuou, lembrando a si mesmo que tinha um plano e o levaria até o final. - Vai experimentar estas castanhas ou passará a noite toda sentindo apenas seu aroma?
- O quê? - Gina mantinha o pacote fechado com a mão que o apertava pela abertura. Engolindo em seco, abriu-o outra vez. - Estou certa de que estão deliciosas. - começou ela, sabendo que iria gaguejar - Foi tão atencioso de sua parte... - Calou-se quando tocou uma pequena caixa. Surpresa, retirou-a do saco.
- É uma tradição norte-americana. Uma caixa de doces com um prêmio dentro. Tive ímpetos de lhe dar seu presente de Natal mais cedo.
- Sempre fui muito disciplinada em não distribuí-los antes da manhã de Natal.
- Poderia ter lhe dado ordem de recebê-lo, Gina. - O príncipe lhe tocou a face. - Mas preferi não fazê-lo.
- Bem, já que estamos no baile de Natal. - Gina abriu a tampa e pela primeira vez em sua vida sentiu que iria desmaiar.
- Pertenceu a minha avó. Tive de restaurá-lo, mas significa mais para mim dá-lo a você do que escolher outro em uma joalheria. - Harry lhe tocou as pontas dos cabelos com os dedos. - Ela era inglesa como você.
Era uma esmeralda, brilhante, estonteante, e se tomava ainda mais cintilante com a sinfonia de diamantes que a circundava. Apenas vislumbrá-la a fazia sentir-se tonta.
- Harry, não posso aceitar isso. Pertence à sua família.
- Não seja cabeça-dura. - O jovem príncipe retirou o saco de castanhas das mãos dela e o colocou no peitoril da grade. A fragrância das castanhas se misturara à das rosas. - Sabe muito bem que a estou pedindo em casamento.
- Você... está sendo influenciado... - começou ela, dando um passo atrás -... pelos acontecimentos. Não está pensando de maneira clara e objetiva.
- Minha mente nunca esteve tão clara. - Harry pegou a pequena caixa das mãos dela, retirou o anel e jogou a caixa para o lado. - Faremos isso do meu jeito, então. - Tomando-lhe a mão, forçou o anel pelo dedo anular direito de Gina. - Agora a arrastarei até o salão e anunciarei nosso noivado... ou podemos discuti-lo de maneira racional.
- De maneira racional. - Como podia ter vontade de chorar e rir ao mesmo tempo?
- Eu a amo... discutamos de forma irracional então. - O jovem príncipe a puxou para si e tomou-lhe os lábios. Podia sentir o coração de Gina batendo descompassado e a respiração alterada dividida entre o desejo e o medo. - Não vou deixá-la partir, nem agora, nem amanhã, nem nunca. Terá de trocar o cargo de diretoria pelo de princesa. Acredite-me, isso pode ser tão exaustivo quanto sua profissão.
Seria magia ou um sonho se tomando realidade? A cabeça de Gina ainda rodava, enquanto tentava se agarrar ao bom senso.
- Sabe que não sou seu tipo. Por favor, Harry, escute-me.
- Julga-me um tolo? - A voz do príncipe soava tão suave que dava a falsa impressão de calma.
- Claro que não. Quero apenas dizer que...
- Cale-se. - Harry tomou-lhe a face nas mãos e ela percebeu que não havia calma nos olhos negros. - Pensei que a mulher pela qual me apaixonei a princípio era uma ilusão. - ele começou, roçando os lábios pela face delicada de maneira suave. - Estava errado, porque ela está exatamente aqui. Houve outra mulher, que fez minha boca secar toda vez que a via. - Os beijos se tomaram mais urgentes e opressivos. - Ela também está aqui. Não é todo homem que pode amar duas mulheres e ter ambas. E eu a terei, Gina.
- Você já me tem. - Estava quase convencida de que podia ser real, verdadeiro e duradouro. - Mas nem mesmo você pode ordenar um casamento.
Harry ergueu o sobrolho, arrogante e confiante.
- Não esteja tão certa disso. Uma vez você disse que me queria. Estava mentindo?
- Não. - Gina se equilibrou, pousando ambas as mãos sobre o peito musculoso. Estava cruzando uma linha em sua vida, na qual não era permitido farsas.
Harry lhe oferecia a chance de ser ela mesma, amar aberta e honestamente.
- Não. Não estava mentindo.
- Estou perguntando agora se me ama.
Gina não pôde responder. Dentro do palácio o relógio soou 12 badaladas. Meia-noite! Em silêncio, contou-as, e esperou que a magia se desfizesse. E, então, houve um silêncio profundo, mas ela ainda continuava nos braços de Harry. Baixando o olhar, avistou o anel brilhando no próprio dedo. Uma promessa. Uma vida.
- Eu o amo, e nada poderia ser mais verdadeiro.
- Divida comigo meu lar. - Harry tomou-lhe a mão ornada com o anel e pressionou os lábios na palma.
- Sim.
- E minha família.
Gina entrelaçou os dedos nos dele.
- Sim.
- E meu dever.
- A partir deste instante.
Ela deslizou os braços em tomo do pescoço de Harry e ergueu o rosto para desfrutar do beijo. Abaixo, até onde os olhos podiam alcançar, Cordina se espraiava à frente deles, e se preparava para dormir.
Fim.
Comentários (1)
Foi a melhor Fanifc que eu já li na VIDAAA!! C'est merveilleux, magnifique, Parfait!!! Ameiiii!!!
2013-04-05