Capitulo I
Numa linda tarde de fim de janeiro, onde as folhas caiam constantemente como leves plumas flutuantes ao esperar de um novo dia, indicando o inicio do outono. Atrás de um lindo jardim, encontrava-se uma grande casa verde, com grandes janelas e uma porta de entrada bastante chamativa.
Sentada a frente dessa visão tão aprazível, achava-se uma garota de belos olhos negros que reluziam com o toque do sol, e formosos cabelos castanhos que lhe caiam aos ombros. Trajava uma blusa de mangas bem simples e de cor caramelada que estava totalmente suja de terra. Cobrindo-lhes as pernas postava-se uma curta bermuda jeans que lhe batia aos joelhos, que também estavam sujos, e que lhe dava um ar mais solto, ou como ela mesma gosta de dizer: um ar de liberdade e independência.
Ela olhava constantemente para a árvore que fazia o favor de cobrir seu jardim com folhas mortas, e que certamente ela iria ter que limpar mais tarde. A árvore estava parada, mas o olhar lançado pela jovem garota era um misto de susto e desagrado, onde parecia que daquela árvore fosse sair um monstro terrível ou coisa parecida, e ainda por cima lhe daria uma xícara de chá fumegante lhe convidando para o chá das cinco.
A garota aparentava ter seus quatorze anos de idade, e enfrentava uma fase meio complicada de sua vida. Estaria entrando agora para o ensino médio, e com isso o começo de um iniciar de carreira. Daqui a algumas semanas estaria ficando mais velha, e certamente iriam querer fazer algo mais que uma simples festinha de quinze anos. Do jeito que conhecia seus pais, sabia que no mínimo iriam alugar um galpão pra fazer uma festança chamando todos os vizinhos e as famílias das famílias dos vizinhos...
Sua amiga Isabela também estava indo para a mesma série que ela, e certamente tentará aprontar bastante, mas essa é uma coisa a qual a garota certamente não se preocupava, ainda. Isabela é do tipo de amiga que gosta de levá-la pro mau caminho, e que não tem medo das conseqüências que acarretam uma “simples” brincadeira. Certamente seria diferente se a mãe dela fosse uma militar linha dura que se pudesse colocaria o filho e o marido, e se possível à filha juntos para fazer um treinamento reforçado, com direito a flexões pesadas e longas caminhadas ao redor do quarteirão.
Ainda estava mergulhada em seus pensamentos, quando sentiu grossos pingos de água decair sobre seu corpo. Instintivamente olhou para o céu e riu ao lembrar de uma travessura que fizera quando era menor. Gostava de tomar banho de chuva escondido, mas já não tinha mais idade para tal travessura. Sabia que se passasse mais tempo ali poderia pegar um belo de um resfriado, e com certeza era algo de que menos precisava naquele exato momento.
Antes mesmo que pudesse se mover ou pensar em mais algo, ela escuta uma voz grave chamar por seu nome, e segundos depois alguém abre a porta a suas costas.
- Hermione Granger!!! Oras, mas o que você ainda está fazendo aqui fora? – perguntou um homem de cabelos castanhos bem chamativos, e de olhos de um negro que colocaria medo em qualquer pessoa, menos é claro, na mãe dela. Tinha um avental amarrado desajeitadamente posto na cintura e segurava uma colher de pau na mão esquerda. Tinha um olhar cansado, e ao mesmo tempo feliz, que sempre a fazia rir do jeito doce e ao mesmo tempo ordenado de fazer tudo se tornar uma simples brincadeira. Apesar de ter seus quarenta anos, aparentava ter uns trinta, e tinha um charme invejável a qualquer o homem nesta idade. – Numa chuva dessas... Imagina se é a sua mãe que vem te chamar? Imagina ai às três horas de sermão que você ia ter que ouvir sobre resfriado? – falou ele agora rindo. – Vem, vamos pra dentro.
Ela simplesmente o abraçou e rumou para dentro da casa. Na sala encontrou um garoto de cabelos igualmente castanhos como o seu, e a única diferença entre ele e seu pai eram os olhos. Os olhos do menino eram de um verde esmeralda, que certamente colocariam várias garotas a seus pés futuramente.
- Ei mocinho! Já pro banho, e sem chiar! – falou o homem fazendo com o garoto desse um resmungo chateado, e desligasse o aparelho de vídeo game que estava em sua frente. – E isso também serve pra você. Aproveite e dê uma olhada em seu irmão. Ele tem mania de “me esqueci”. – falou ele dando um beijo carinhoso no rosto dela.
Lançando um sorriso para o pai, ela subiu as escadas e entrou em seu quarto. Estava morta, pois passara o dia inteiro limpando o quintal. Já era a segunda vez na semana que Boris havia feito uma bagunça de deixar qualquer um doido. Boris não era normal e ela tinha certeza de que na hora do parto deve ter dado muito trabalho.
Sorriu ao perceber que seu quarto estava intacto e que não havia nem sinal dele por ali. Certamente ele iria morrer de medo de chegar perto de seu quarto, até porque ela tinha suas artimanhas pra saber se havia ou não vasculhado seu cômodo. Olhou para cabeceira de cama e viu o livro que deixara de manha logo cedo.
- “Os contos de Deimos, por Asaph Hall”. – sorriu ao perceber que faltava pouco para terminá-lo, e pretendia o fazer antes do retomar das aulas. Ainda não entendera sua fascinação por livros estrangeiros, mas certamente era algo normal, pois seus primos também apreciavam tal leitura. – Acho melhor eu olhar o Hector antes. – falou ela saindo de seu quarto, e se dirigindo ao outro cômodo entrou sem pedir licença.
- Ei! Você sabia que é falta de educação entrar no quarto dos outros sem bater? – falou ele irritado. – Então faz o favor de na próxima vez bater antes de entrar tá legal?! – falou o garoto voltando a ler sua revista.
- Sabe que sou sua irmã mais velha, e com isso tenho direito até de lhe dar um banho se quiser. Mas sei que você já tem capacidade o suficiente para tomar um banho bem tomado, e rápido porque a mamãe está chegando. – falou a garota em tom imperativo. O garoto mal se moveu.
- Estou lendo minha revista em quadrinhos, quando terminar eu vou. – falou ele voltando a sua leitura. Sem ligar muito para o que a garota dissera.
- Certo. Só não venha me pedir socorro quando a mamãe vier lhe dar sermão. Você sabe que hoje ela chega mais cedo do quartel, e com certeza vai querer todo mundo pronto pra um jantar em família. – falou agora ela ameaçadoramente, fazendo com que o garoto corresse para o banheiro. – Sempre funciona. – falou ela sorridente para si.
- Gostaria de ter esse poder de persuasão com ele. Parece que puxou isso de sua mãe. – falou o homem olhando da porta do quarto. – E também, a beleza dela. – falou ele estendendo-lhes a mão. – Isabela está lá em baixo.
- Certo. Mande-a subir, diga que estou tomando banho. – falou ela se retirando em direção ao seu quarto. Rapidamente correu para o banheiro para se aprontar para o jantar. Não gostaria de ter sua mãe reclamando quando chegasse. Passou uns vinte minutos no banheiro, e saiu de lá já vestida. Era sempre o mesmo ritual todas as quartas-feiras. Mamãe chega mais cedo, sempre podemos ter um jantar em família. Geralmente ela só chega depois de meia noite, quando a gente já está dormindo, mas nas quartas feiras ela chega pontualmente às oito horas da noite. Estava tão distraída com seus pensamentos, que até tinha esquecido que Isabela se encontrava no aposento.
- Hermione? – perguntou uma garota de cabelos longos e negros, e de olhos de um azul penetrante. – Você já voltou, ou ainda tá lá na lua? – perguntou a garota passando a mão em frente ao rosto de Hermione, como se para acordá-la de algum transe.
- Que lua menina, que lua? Tá doida é? – perguntou ela se afastando para se sentar na cama. – Só tava pensando...
- Oh, eu não percebi... – falou Isabela ironicamente – Devia estar sonhando com seu príncipe encantado... – falou ela rindo. – Quem é ele?
- Ele o que peru doido. Tava pensando na vida, e não em nenhum garoto, ainda não sou você. – falou ela sentando na cadeira em frente ao computador.
- Graças a Deus. – falou Isabela rindo. – E ai, vai amanhã lá pra casa?
- Não sei ao certo. Tenho que pedir permissão ao papai, mas acho que ele deixa, até porque o Hector já é grande o suficiente para ficar sozinho em casa sem aprontar.
- Certo. Se seu irmão não fosse mais novo com certeza eu o pegaria. Ele deve estar um gato – falou ela se jogando na cama. – Você sabe que ele não é de se jogar fora, e que ele vive rodeado de garotas. – falou ela rindo. – Você não fica com ciúmes?
- De quem, do Hector? Jamais se iluda... – falou ela ficando de pé. – Quero mesmo é que ele se ocupe e esqueça que eu existo. Parece um guarda-costas, a toda hora no meu pé, como se todos os meninos da rua fossem me agarrar a qualquer momento.
- Bom, ele tem razão de ser super protetor, até porque com uma irmã dessas... – falou Isabel rindo, e imediatamente recebendo uma almofadada. – O Matheus disse que queria te ver. Disse que tinha assuntos importantes a tratar contigo.
- Você sabe muito bem quais são os assuntos pendentes que o seu irmão tem para tratar comigo, e nem vem que não tem Bela. Você sabe que eu não quero me relacionar com ninguém, e por mais que o Matheus seja um garoto gentil, carinhoso e um perfeito cavalheiro, eu não quero nada atrapalhando meus estudos esse ano.
- Tá, tá bom Hermione. Não está mais aqui quem falou. – falou ela gesticulando com as mãos. – Porque você está usando essa jardineira? – falou ela olhando para o vestido da amiga. Hermione usava uma jardineira jeans escura, que lhe batia acima dos joelhos, e por dentro uma blusa amarela clara com alguns detalhes negros.
- Deu vontade. Você sabe muito bem que é quarta, e eu não tô a fim de ter de escutar minha mãe reclamando de minhas roupas. – falou ela pegando uma sapatilha branca e começando a colocar. – Cadê a Laurinha? – alfinetou ela. Sabia que a irmã da amiga era trabalhosa.
- Nem me fale daquela pestinha Mione, nem me fale. Ela já me fez raiva demais por hoje. – falou ela fechando um dos pulsos. – Aquela menina me tira do sério!
- Quem mandou ter irmã mais nova? Agora agüenta nega... – falou ela dando um último retoque no cabelo. – Vamos lá pra baixo.
Isabela apenas consentiu, mas ao sair pela porta sentiu que deveria ter ficado mais um pouco. Do quarto ao lado, Hector, o irmão de Hermione acabara de sair trajando uma bermuda verde, e estava sem camisa, fazendo com que um pouco de sua cueca ficasse a amostra. O cabelo molhado dava-lhes um ar sedutor que fizera Isabela ficar estática, e quando ele passou a mão por entre os cabelos como que para diminuir o excesso, foi simplesmente a gota de água para que a garota quase perdesse o fôlego. O físico do mesmo era algo que também colaborava bastante para a imaginação da garota naquele exato momento.
- Hector! – repreendeu Hermione. – Vai colocar uma camisa, agora! – falou ela tentando conter o riso pelo estado da amiga, mas precisava manter o pulso firme.
Sem falar nada, ele entrou no quarto novamente. Hermione desatou a rir da cara da amiga que ainda estava em transe. Isabela tinha no rosto um misto de surpresa e desejo que aparentava ser tão engraçado quanto o possível.
- Meu pai eterno... O que você fez com seu irmão? – perguntou ela voltando ao normal, e puxando Hermione saiu descendo escada a baixo. – Ele tá totalmente diferente, e bota diferente nisso... – falou ela se abanando com uma das mãos.
- Ei, ele ainda é meu irmão, e ainda tem treze anos tá legal! – falou Hermione rindo. – Mas foi realmente engraçado ver a sua cara de assustada ao vê-lo somente de bermuda. Você estava praticamente o engolindo com os olhos! – falou Hermione desatando a rir novamente. – Foi realmente hilário!
- Vai ter volta viu, você sabe que tem. Mas algo que eu não posso negar é que com certeza – falou ela se aproximando da amiga para segredar-lhes algo – Eu vou tirar uma casquinha dele.
- Papa anjo! – falou ela dando uma tapa no ombro da amiga que exibia um sorriso maroto – Quer jantar conosco?
- Não posso, adoraria, mas não posso. Mamãe está me esperando e eu disse que só vinha dar uma passada pra te ver. – falou ela dando um abraço na amiga – Tenho que ir. Te espero amanhã lá em casa?
- Pode contar comigo. – falou ela abrindo a porta para a amiga. – Até.
Viu a amiga se retirar e seguir seu caminho para a casa ao lado. Voltou para dentro e assim que fechou a porta, ela escutou o barulho de um carro estacionar. “Ela chegou”, pensou Hermione voltando para abrir a porta. Do carro desceu uma mulher de cabelos negros que brilhavam com o luar, e de olhos extremamente verdes, iguais aos de seu irmão. Tinha uma postura séria e compenetrada. Trajava roupas militares, e a mão trazia consigo uma bolsa que aparentava estar bem pesada. Se aproximou da porta e deu um beijo no topo de sua cabeça.
- Como foi seu dia querida? – falou a mulher carinhosamente enquanto adentrava em casa. – E onde está seu...
- Eu estou aqui, pronto, lindo e cheirosinho só pra você. – falou o homem a abraçando por trás, depositando um beijo em seu pescoço.
- Hector... – falou ela reprovadora.
- Tá, já sei. E então, muito trabalho no quartel? – perguntou ele voltando para a cozinha. – Você não me parece muito animada.
- Só algumas dores de cabeça, mas nada que eu não possa resolver. – falou ela subindo as escadas. – Onde está o Hector? – perguntou ela parando no alto da escada.
- Tô aqui. – falou o garoto saindo de seu quarto, só que totalmente vestido. Havia posto uma blusa branca de mangas curtas. E aos pés o simples chinelo de ficar em casa.
- Menos mal. – falou ela com um sorriso. – Estou indo tomar banho, não demoro. – falou entrando em um dos quartos do andar de cima.
Por mais ocupada que sua mãe fosse, Hermione sabia que ela era zelosa e que os amava muito. Ela só era um pouquinho rude demais, mas nada que estivesse fora de seus padrões, até porque mesmo que não quisesse ela inda era uma militar, e tinha que agir como tal. Era muito carinhosa, por mais que detestasse demonstrar, e às vezes Hermione se perguntava como a mãe dela conseguia ser tão seria, e ao mesmo tempo tão descontraída. Os jantares das quartas feiras eram obrigatórios a serem feitos em casa, e ai de quem resolvesse jantar fora.
O jantar fora igual ao de todas as quartas-feiras: Conversas, perguntas sobre o dia e tudo mais. Sua mãe era bem alegre e descontraída quando estava a sós com a família, e isso fazia com que o relacionamento não ficasse monótono. Mas como nem tudo é um mar de rosas, então o que era bom durou pouco. Após o jantar, só passaram algum tempo conversando e logo depois eles tiveram que ir pra cama.
Lá fora caia uma chuva fraca, enquanto a lua se escondia por entre as nuvens.
O quarto de Hermione talvez fosse o mais privilegiado da casa, pois tinha uma varanda que dava de frente ao quarto de sua vizinha. Que por acaso era sua melhor amiga.
Entrou no quarto e trocou de roupa rapidamente, optando por uma camisola leve e confortável. Esperou alguns minutos até ouvir seu celular começar a vibrar. No visor do celular encontrava-se o nome de Isabela. Era o sinal que precisava.
Correu para a varanda e logo sentiu a brisa leve e o cheiro de terra molhada invadir suas narinas. Logo a sua frente Isabela também saiu na varanda, com um sorriso de uma orelha a outra, e uma animação jamais vista por Hermione.
- Que afobação é essa? – perguntou Hermione rindo. – Viu um passarinho verde?
- E então, como foi o jantar? – perguntou Isabela logo a cortando com a repentina pergunta e mudança de assunto, enquanto se acomodava melhor.
- Normal, como todas as quartas feiras. Você sabe: conversas, risadas e depois cama. – falou ela dando de ombros. – Mas você ainda não me disse o motivo de estar tão, tão, tão... – falou ela colocando a mão no queixo – Tão animada. Por acaso andou bebendo algo mais forte que vinho?
- Oras Hermione Granger! Como ousa insinuar que eu estou bêbada? – falou ela com uma falsa irritação, logo depois tornando a rir. – Papai vai me dar um computador novo, e totalmente meu. E também vai tirar a Laura do meu quarto.
- Legal! Realmente é um ótimo motivo para estar tão empolgada. – falou Hermione feliz pela amiga, até porque sabia que era merecido. – Segunda começam as aulas não é?
- Infelizmente sim. Mas pelo menos ainda temos o seu aniversário pra salvar. – falou a amiga rindo. – Cadê teu irmão?
- Vixi... Gamou mesmo foi? – falou Hermione rindo. – Provavelmente lendo alguma revista em quadrinhos, ou então realmente já foi dormir.
- Quer apostar quanto que eu fico com ele? – perguntou a garota com um sorriso malicioso brincando nos lábios.
- E o que iríamos apostar? – falou Hermione rindo.
- Que tal... Se eu perder, fico sem aprontar por um mês. Agora se eu vencer... – falou ela esfregando as mãos.
- Se você vencer...? – perguntou Hermione incentivando a amiga, sentindo um leve interesse em tal proposta. Talvez possa ser interessante para sair da rotina, pensou Hermione.
- Terá que ficar com um dos garotos do colégio, que eu mesma escolherei a dedo. – falou ela esperando a reação da amiga. Isabela sabia que com certeza Hermione não iria aceitar, pois não era do seu feitio. Mas o que veio a seguir foi algo realmente inesperado para qualquer pessoa que conhecesse Hermione.
- Aposta aceita. – falou ela calmamente, enquanto se espreguiçava manhosamente.
- Como assim aposta aceita? Assim numa boa? – perguntou Isabela perplexa.
- Quer desistir? – perguntou Hermione se levantando, com um sorriso brejeiro aos lábios.
- Não. Proposta aceita. Boa sorte amiga, pois vai precisar. – falou ela percebendo que já era tarde para conversas na varanda. – Boa noite.
- Pra você também Bela. – disse isso e se retirou para seu quarto. Deitou-se em sua cama e resolveu dormir para mais um longo dia.
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