Nuvens no horizonte



17.Nuvens no horizonte


 


“Evitar o perigo não é, a longo prazo, tão seguro quanto se expor ao perigo. A vida é uma aventura ousada ou, então, não é nada."


 


Helen Keller


 


No último capítulo:


 


Ela observou-o em silêncio e reparou que ele fez o mesmo. Mas... mas ele estava diferente, concluiu. Ele tinha um brilho estranho no olhar que lhe fez ter um estranho arrepio e pôr os seus sentidos em alerta.


- Então diz. – Pediu sentido os seus pêlos do braço se arrepiarem.


Mas ele só sorriu.


- Richard, - bufou impaciente – importaste de falar? É que eu não faço telepatia contigo...


Ele fechou os olhos inspirando fundo e disse calmamente:


- Estou a ganhar coragem.


 


Ela não se conteve e franziu a testa ligeiramente divertida ao ouvir aquilo.


- Coragem? Vais fazer o quê? Lutar contra um dragão?


Mas, ela reparou, ele não lhe prestava atenção. Prestava sim atenção aos seus lábios uma vez que não parava de olhar para eles parecendo hiptonizado, o que fez o seu repentino bom humor sumir completamente.


- Richard?! Estás ai? – Disse agarrando-o pelo ombro e abanando-o vendo se ele ‘acordava’.


Ele abanou a cabeça ao sentir o puxão e pareceu voltar ao normal.


- Passa-se alguma coisa Richard? – Perguntou preocupada.


- Passa. – Disse dando um passo em frente, ficando quase apegado a ela e suspirando.


A Sarah estranhou a proximidade mas pensando que ele provavelmente só queria dizer alguma coisa que tinha dificuldades de dizer em voz alta, esperou pacientemente que ele dissesse o que se passasse para estar tão diferente, e sorriu amavelmente para o encorajar.


- Richard, - chamou vendo que ele continuava calado – eu...


Mas ela não pode continuar porque num minuto estava a falar e no outro sentiu um puxão, uns lábios sobre os seus, uma mão possessiva na cintura e outra no seu pescoço puxando-a mais de encontro a ele.


Primeiro, sentiu surpresa, depois raiva e, por último, reagindo por puro instinto, tentou afastar-se dele mas ele como resposta só a apertou mais de encontro a si fazendo com que tivesse que usar toda a sua força para finalmente se afastar dele.


Inspirou fundo e olhou para ele com os olhos arregalados não acreditando que ele podia ter feito o que tinha acabado de fazer.


- Porque... – ofegou e assustou-se ao vê-lo com um sorriso estranho que lhe causou arrepios e um brilho no olhar, que fê-la ficar com os sentidos em alerta – porque é que fizeste isto?


- Porque… Porque eu amo-te. Essa é a verdade.


- O amor não existe. Foi a maneira que os franceses arranjaram para justificar o desejo. – disse automaticamente.


Quando ele sorriu ao ouvir aquilo deu um passo involuntário para trás... aquele sorriso outra vez... aquele olhar azul doentio que podia muito bem ser o resultado de um pesadelo... o que é que estava a acontecer?


- Que seja... – ele disse com a voz tão rouca de desejo que ela deu outro passo para trás. – Tudo o que eu sei é que te quero para o resto da minha vida. – Declarou com aquele sorriso bestial sem deixar o seu rosto.


Ela continuou a olhar para ele tentando controlar-se como a sua mãe lhe tinha ensinado. Inspirar, expirar e esconder todas as emoções... nunca mostrar medo... No entanto, o facto de o seu coração bater loucamente no peito, o sentimento de perigo que nunca tinha sentido até aquele momento, mais o facto de ele estar outra vez para agarrá-la fê-la saltar para trás se esquivando do ataque dele. O que raio era aquilo? O que raio era aquele sentimento? O QUE RAIO IA FAZER?


- Richard!!! – Quase guinchou quando ele estava outra vez para agarrá-la fazendo-a esquivar-se.


- Sarah, eu sei que tu sentes o mesmo...


Ela deu mais dois passos para trás, enquanto que, ele deu dois em frente e engoliu em seco outra vez. Porque é que estava com tanto medo, se nem tinha medo dos seus pais?


- Richard, pensa! – Disse pondo as suas duas mãos à frente contra o tórax dele impedindo-o de continuar a andar. – Tu não podes estar em ti. Desculpa, mas eu não sinto o mesmo.


Ele riu... Um riso rouco... enlouquecido. O que ele tinha?


- É impossível! Eu sei que sentes o mesmo por mim!


Ela baixou os braços derrotada e fechou os olhos com força tentando se concentrar e obrigando o seu corpo a continuar ali, uma vez, que ele parecia desejoso de correr dali. Ela não podia fugir... não era cobarde... MAS PORQUE É QUE TINHA TODOS OS SEUS SENTIDOS EM ALERTA? Era só o Richard...


- Não, não é. – Disse voltando a abrir os olhos e sentindo um arrepio pelo seu corpo ao ver que ele ainda continuava com aquele olhar enlouquecido. – Agora, eu vou para a Torre que...


- NÃO! – Ele gritou, fazendo-a saltar. – Eu esperei estes anos todos para te dizer isto e, agora, que eu finalmente ganhei coragem para dizer isto... no meu último ano em Hogwarts... tu não podes só te ires simplesmente embora.


- Richard... – disse tentando usar todo o seu tom persuasivo – Vê se compreendes...


- Tu desejas como eu te desejo... – Disse sem ouvir o que ela disse.


Ao ver aqueles dois olhos azuis brilharem para ela daquela forma, ela não evitou e andou tanto para trás que bateu de encontro à parede, fazendo-o ganhar um sorriso quase predatório.


- Por favor, Richard... – a sua voz saiu mais fraca – Pára!


- Eu já disse que NÃO! – Gritou e não a deixando esquivá-la agarrou-a com fúria. – TU ÉS E SEMPRE SERÁS SÓ MINHA!


Ela engoliu em seco ao sentir aquelas duas mãos fortes nos seus ombros balançando-a. Ela tinha que reagir, tinha que...


- Certo. Não me deixas escolha. – Disse olhando-o fixamente nos olhos dele e aproveitando-se da desconcentração dele fugiu do aperto dele fazendo-o ainda mais furioso. Ela retirou instintivamente a varinha e apontou-a. – Agora, ou vais-te embora e quando estiveres normal conversamos ou eu enfeitiço-te...


Ele riu... aquele riso outra vez...


- Não vai ser esse bocado de madeira que me vai impossibilitar de ficar contigo. – Disse dando um passo em frente.


- POIS NÃO! VOU SER EU! – Disse uma voz possessa dando um murro no Richard que cambaleou para trás e teve que se apoiar à parede para não cair. – Ela já disse para IRES!


- Potter! – Riu ele se pondo erecto outra vez num instante. – É o teu guarda-costas agora, Sarah? – Disse desviando a sua atenção outra vez para ela, como não houvesse mais nada que lhe importasse.


- Eles já te avisaram. – Disse outra voz, uma muito mais fria e educada mas que tinha muitas ameaças no tom dela e cujo dono se pôs protectoramente à frente da Sarah.


- E Malfoy. – Sorriu outra vez inclinando a cabeça dando a impressão de um gato a analisar a sua presa. – Nunca pensei ver Potters e Malfoys a defenderem a mesma coisa... A vida é irónica.


- Chega! – Gritou outra vez a Sarah, desta vez, se livrando do Scorpius que se queria pôr, protectoramente, à frente dela impossibilitando-a de se aproximar do Richard. – Ele não está normal. Por isso, vai-te embora Richard. Vai para as masmorras.


- Nunca. – Disse sorrindo com aquele sorriso doentio.


- Então desculpa. – Disse fazendo um gesto com a varinha que produziu um raio vermelho fazendo-o com uma agilidade que ela não sabia que ele tinha desviar-se e, num segundo, ter a varinha na mão.


- Um Potter, um Malfoy e... uma Franklin do mesmo lado? Que estranho...


Ela estreitou os olhos. Quando ele só mexia com ela era uma coisa, agora com os seus amigos...


- Estou a avisar-te.


- Não tenho medo. – Disse dando de ombros. – Os únicos empecilhos são eles, mas não te preocupes que eu dou um jeito neles. – Disse apontando a varinha para o Albus.


Ela soltou um som muito parecido com um rosnado ao ver que ele ia mesmo atacá-los fazendo-a gritar:


- Vão embora! Eu trato dele sozinha!


- Não!


Ela continuou a apontar a varinha para o Richard mas o seu olhar zangado foi para o Albus.


- Isto não é como o ano passado. Vão!


- Eu já disse que não! – Disse o Albus decidido tendo o apoio do Scorpius que não desviava nem por um segundo o olhar do Richard.


- Se eu fosse a vocês seguia o conselho dela. Não vêm que estão a mais?


- Nem penses que te vamos deixar com ela.


- Potter, Potter... – murmurou suspirando. – Eu avisei. – Disse voltando a ganhar aquele sorriso enlouquecido e balançando a varinha produzindo um raio roxo.


Ela assustou-se realmente ao reconhecer aquele feitiço... Como é que ele sabia fazer aquele feitiço se nem a maioria dos bruxos adultos sabia? Mas não pode pensar muito sobre aquilo porque se aquilo lhes acertasse eles iriam ficar desmaiados e com uns ossos partidos, então, fez o que o seu instinto lhe disse. Com um aceno simples da varinha fez uma bolha negra absorver o Albus e o Scorpius e, também absorvendo o feitiço do Richard.


- Bom feitiço Sarah. – Disse o Richard piscando-lhe o olho. – Mas não vai durar para sempre.


- Tu passaste dos limites Richard. – Murmurou com uma voz não mais alta do que um sussurro. – Tu podias fazer o que quisesses comigo mas não com eles. TU NÃO TENS ESSE DIREITO! – Gritou esquecendo-se completamente onde estava e com quem estava a lidar e pouco se importando com o sentimento de que estava em perigo. Ele tinha mexido com eles e se aqueles feitiços lhes acertassem eles iriam ficar muito mal. Ele não tinha aquele direito... NINGUÉM TINHA!


Ele só sorriu e lançou-lhe um feitiço contra ela o que a fez desviar-se com facilidade.


- O que é que tu pensas que ganhas se conseguires me derrotar? – Perguntou com um sorriso para ele. A primeira regra de combate: nunca pensar que se é melhor do que o adversário... muito menos quando se tem o seu instinto a gritar para fugir.


Ele lançou-lhe um sorriso tão sugestivo de que não era nada de bom para ela que ela lançou o primeiro feitiço de que se lembrou.


- Alarte Ascendare. *


Ele riu ao reconhecer o feitiço e só se desviou dele, como se fosse a coisa mais simples do mundo, o que a surpreendeu completamente.


- Não é assim que me vais vencer. – Cantarolou ele. – Olha... – disse quando viu um brilho branco no corredor. – parece que os teus amigos querem sair da jaula.


Ela só olhou com o canto do olho para eles. Surpreendeu-se ao ver que eles conseguiam reagir com a bolha mas não se preocupou. Nenhum feitiço conseguiria passar por aquela bolha mas, também, em contra-partida eles não poderiam sair nem poderiam falar para as pessoas que estavam fora dela. Um óptimo feitiço de aprisionamento.


- Eles estão em segurança. – Murmurou fixando toda a sua atenção nele.


- Sempre a pensar nos outros Sarah... – Disse com reprovação. – Isso, minha cara, ainda vai ser a tua ruína um dia.


Ela não ligou ao que ele disse e lançou-lhe outro feitiço. Precisava de se concentrar, pelo bem deles...


No entanto, o feitiço foi absorvido sem esforço por um escudo conjurado por ele.


- O QUE VEM A SER ISTO? – Gritou uma voz autoritária que a fez suspirar e automaticamente guardar a varinha... Realmente, agora só faltava a professora Stella se juntar a eles... e aqueles olhos negros se fixarem nela com reprovação e outro sentimento que ela não soube distinguir.


- ENTÃO? – Gritou para chamar a atenção dela e arregalou os olhos ao ver a bolha negra com o Albus e o Scorpius lá dentro, o que a fez tirar rapidamente a varinha e com um gesto simples, ela desaparecer. De lá apareceram um Albus ainda mais despenteado e com uma cara furiosa a olhar para ela, parecendo prestes a saltar para cima dela, e um Scorpius ligeiramente vermelho a olhar irritado, também para ela.


- Alguém me explica? – Perguntou a professora baixando o tom, o que todos sabiam que era sinal de perigo. – Talvez... o monitor-chefe tenha algo a dizer?


Eles olharam para o Richard à espera de um ataque dele ou das mentiras deles de como os culpados eram eles. Mas para surpresa deles ele só mexeu nas vestes com uma mão e deu um sorriso fraco para eles enquanto dizia:


- Ah, professora... eu... eles... – e desmaiou.


Eles paralisaram ao vê-lo desmaiar ali á sua frente e a única reacção foi da professora que com um movimento ágil impediu a queda do corpo.


-O.que.é.que.vocês.fizeram? – Perguntou pausadamente coisa que só fazia quando estava completamente irritada olhando agora para o rosto machucado do Richard pelo murro que o Albus lhe tinha dado.


O Albus e o Scorpius trocaram um olhar e engoliram em seco quando enfrentaram o olhar rígido da professora. Como explicar que tinham chegado quando a Sarah e o Richard se estavam a beijar, e que a Sarah parecia nervosa e assustada, o que fez o Albus dar um murro ao Richard e o Scorpius protege-la? E que depois como o Richard não queria deixar a Sarah em paz eles começaram a lutar com o Richard, que por acaso, também era monitor-chefe e, por isso, a palavra dele valia mais do que a deles todos juntos?


- Hum, professora, pode dar os castigos. – Murmurou a Sarah pensado que mal tinha feito ao analisar tudo e ver que o quer que ela dissesse não iria adiantar de nada. – Ambas sabemos que só irá concordar com o que o Monitor Chefe disser.


Ela viu o olhar frio da professora sobre si o que a fez querer sorrir sonsamente para ela mas ao invés somente se virou ao ouvir passos.


- Monitora, venha cá! – Disse a professora Stella ao se virar e reparar que os passos eram da Ruth que vinha ofegante provavelmente por causa de ter ouvido o barulho no corredor.


- Eu ouvi barulho professora e... – parou de se explicar quando observou tudo e reparou no Albus completamente despenteado e o Richard agarrado pela professora inconsciente - ... vim ver o que se passava. – Lembrou-se de acrescentar tentando descobrir o que tinha acontecido.


- Leve o Sr. Hill para a enfermaria. – Disse fazendo com que com um feitiço não-verbal ele flutuasse.


- Claro, professora. – Assentiu, virando-se para ir para a enfermaria mas não antes de trocar um olhar com o Albus que só olhava fixamente para o chão não conseguindo suportar aquele olhar.


- Agora, - disse a professora virando-se para eles outra vez com um olhar furioso – podem contar-me o que aconteceu? E sem insolências menina Franklin. – Acrescentou ao vê-la abrir a boca.


Apesar do Albus e o Scorpius começarem a balbuciar explicando o que aconteceu, o que a Sarah previu, aconteceu. A professora ficou a olhar para eles por uns segundos até que perguntou estupefacta:


- Bateste num monitor-chefe?


- Sim, mas foi porque... – Começou tentando se explicar mas, mais uma vez, a professora não lhe deu atenção.


- Queres, sinceramente, que eu acredite nisso? – Perguntou descrente. – Para a próxima inventa algo mais imaginável.


A Sarah não se conteve e revirou os olhos exasperada. O dia já estava mau o suficiente, por isso, não precisava das ironias da professora.


- Professora, o veredicto é?


- Duas semanas de detenção e se quando o Sr. Hill acordar acrescentar alguma coisa mais grave pode-se agravar. Agora, saiam!


 


*****


 


- Aquela mulher é parva, estúpida, egocêntrica,...


- Chega Albus! – Bufou exasperada a Sarah e depois, acrescentou ligeiramente constrangida. – E... e desculpem. – Acrescentou desviando o olhar deles que olharam confusos para ela. – Eu só vos meto em sarilhos quando me querem ajudar.


- Que é isso, - murmurou o Scorpius cansado, passando uma mão pela cara – nós somos amigos... – e acrescentou com a voz arrastada - não fizemos nada de mais.


Ela, involuntariamente, sorriu para eles. Se eles imaginassem o quanto aqueles gestos involuntários deles mostravam-lhe a ela, que foi criada para ler as pessoas como quem lê um livro, o quanto ela era importante para eles, eles se espantariam. Era nestes momentos que ela percebia a frase que tinha ouvido há muito tempo atrás “ Amor é querer dar sem querer nada em troca” e isso fazia-a sentir feliz e principalmente inteira como já não se sentia desde a morte da Kate há muito tempo atrás.


- Obrigado. – Foi tudo o que conseguiu dizer.


O Albus olhou para ela e ao vê-la tão estranha passou um braço pelos ombros dela num gesto reconfortante e disse-lhe:


- Nós não fizemos nada que não fizesses por nós.


Ela sorriu outra vez, desta vez, para ele que riu ao vê-la sorrir e piscou-lhe um olho divertido.


Apesar de todas as emoções negativas do ataque por parte do Richard que sofreu ela estava feliz. Feliz por ter pessoas que confiavam nela... feliz por ter amigos verdadeiros.


- Mesmo assim é chato. – disse se dirigindo aos sofás onde estavam o John e a Susan quando chegaram a sala comum. – Vocês estão em detenção só por minha causa.


- Não foi por tua causa Sarah, foi por... – Mas não conseguiu concluir o que ia dizer porque um John exaltado levantou-se do sofá onde estava sentado e começou a gritar.


- Eles estão em detenção por tua causa? O que aconteceu?


Ela fez um esforço para não revirar os olhos. Aquele John era demasiado protector até para o seu próprio bem.


- Nada de especial John, tem calma. – Acrescentou contendo o riso ao vê-lo ficar vermelho de preocupação. – Foi só uma estupidez. – Acrescentou sentando-se ao lado da Susan que olhava atentamente para eles tentando compreender o que tinha acontecido, apesar de ter uma ideia que era culpa de eles terem estado a espiar a Sarah.


- Estupidez?! - Exaltou-se o Albus. – Tu chamas de estupidez ao que o Richard fez? Se nós não estivéssemos ali nem sei o que aconteceria Sarah. – Acrescentou angustiado com a ideia. – Tu viste como ele estava... Ele não ia parar até que... até que... – e calou-se branco não conseguindo acabar a frase.


- Até o quê? – Gritou o John com algo muito parecido com um rugido parecendo que ia para cima do Albus para ele concluir a frase, fazendo a Susan se levantar e obrigá-lo a sentar-se ao lado dela, com um aperto forte no braço.


- Ah, John. O Richard não estava bem.


- O Richard não estava bem. – Imitou-a o Albus fazendo troça. – Ainda o defendes Sarah!


- Não é isso Al! – Disse olhando em socorro para o Scorpius que só deu um sorriso cínico na sua direcção e deu de ombros se sentando no outro sofá. – Tu sabes Al. – Acrescentou ao ver que o Scorpius não ia dizer nada em sua ajuda.


- O que eu sei é que quando eu cheguei lá vocês estavam a beijar-se.


- E tu impediste? – Perguntou o John quase com os olhos a brilharem de felicidade. – Grande AL! – Festejou.


- Eu não ia fazer nada. – Disse envergonhado ao ver o olhar reprovador da Sarah na sua direcção. – Mas quando a Sarah queria se afastar e ele não deixava eu... eu, bem... fiquei fulo e não pensei... – ao ver o olhar do John acrescentou. – e dei-lhe um murro! Mas foi só porque a Sarah queria sair dali e ele não deixava. – Acrescentou rapidamente justificando-se.


A Sarah olhou para o John e tremeu ao ver a pura raiva nos olhos dele, temendo o que ele podia fazer.


- ONDE É QUE ELE ESTÁ? EU VOU-LHE DAR UMA LIÇÃO! – Gritou levantando-se. – ONDE É QUE ELE ESTÁ? – Repetiu vendo que ninguém lhe respondia.


O Albus agora olhou temeroso para o John e ao ver o Scorpius com cara de tédio percebeu que tinha que ser ele a continuar.


- Bem nós começamos a lutar só que a Sarah fez um feitiço que me tirou a mim e ao Scorpius da luta. – Disse zangado lembrando-se da cena. – Eles só pararam quando a professora Stella chegou e como o Richard, naquele exacto momento, desmaiou nós ficamos de castigo. Ele está na ala hospitalar.


- Quando ele sair de lá vai ganhar um bilhete de ida para lá outra vez. – Murmurou sentando-se com os olhos brilhando tanto de ódio que a Sarah se viu obrigada a refutar a ideia do irmão.


- John não faças nada de estúpido.


- Ele tem que pagar pelo que fez.


- JOHN! Eu não preciso que ninguém me defenda. – Disse dando um olhar com segundas intenções para o Albus e o Scorpius que só deram de ombros. – Por isso, tu nem vais querer saber o que te vai acontecer se eu descobrir se fizeres alguma coisa a ele!


O John olhou para a irmã prestes a discordar mas ao ver aquele olhar cheio de determinação na sua direcção soube instantaneamente que a batalha estava perdida.


- Está bem. – Murmurou irritado levantando-se e indo para o dormitório sem mesmo se despedir.


A Sarah seguiu-o com o olhar e também se levantou.


- Bem, eu também me vou deitar e desculpem por tudo. Eu amanhã vou ver se consigo falar com a professora Stella para ver se ela vos tira do castigo.


- Mas Sarah...


- É o mínimo que posso fazer Scorpius. – Disse com um sorriso cansado. – Bem, boa noite.


Eles observaram-na em silêncio ir para o dormitório feminino e só quando ela saiu do campo visual deles é que voltaram a falar.


- Vocês continuam a segui-la? – Observou a Susan com um tom repreensivo.


- Ainda bem, né? Já viste o que poderia acontecer hoje se nós não aparecêssemos?


- Não é essa a questão Al. O facto é que isso mostra falta de confiança neles. Nem sei como convenceram a Rose a participar nisso...


- A Rose sabe tão bem quanto nós que algo se passa de estranho com eles e que a Sarah precisa da nossa ajuda.


- Scorpius, se ela precisasse pedia!


- Ela deve de ter um factor externo que nos impede de saber ou então tem medo de nos por em sarilhos. Tu sabes como ela é para nos proteger. – Disse o Albus automaticamente, mostrando que tinha decorado aquela frase para quando a Susan perguntasse.


Ela só bufou irritada.


- Albus, isso foi o que vocês inventaram para não se sentirem culpados por traírem a confiança de uma amiga.


Ele emburrado ao ouvir aquilo cruzou os braços o que fez o Scorpius rir.


- Mas Susan, tu percebes que não podes contar a ninguém, não é? Nem ao John? – Perguntou-lhe o Scorpius.


- Está descansado, eu faço isso, mas SÓ isso!


- Fogo, a professora Stella está muito mal-humorada. – Disse o James chegando cansado e com cara de poucos amigos acompanhado com a Rose.


- O que aconteceu? – Perguntou o Scorpius ao ver a cara deles.


- Porcaria. – Murmurou sentando-se no sofá. – Ia sendo morto duas vezes! – Exclamou olhando irritado para a Rose que se tinha sentando no sofá há frente dele, ao lado do Scorpius, e que ao ver a cara dele só lhe deu um sorriso cínico.


Aquilo despertou a atenção da Susan.


- Morto? Duas vezes?


- Não és tu que és a Senhorita-que-não-gosta-de-espiar?


- Ah, Albus não sejas chato. Eu sou contra e posso não ajudar mas como vocês fazem podem me dizer o que descobriram. Pode ser que me convençam a ajudar. – Disse dando um sorriso brilhante para ele que só revirou os olhos.


- Claro. – Murmurou descrente, mas a curiosidade falou mais alto e virou-se para o irmão. – E ai? O que aconteceu?


- Bem, nós estávamos a espiar o Risson e, por meia hora nada. Até que do nada, no meio do jardim apareceram muitos alunos e nós curiosos aproximámo-nos mais, para ver se reconhecíamos alguém. No entanto, como estava muito escuro não deu para reconhecer ninguém, mas o mal já estava feito. – Disse suspirando com a lembrança.


- O que aconteceu? – Perguntou o Albus.


- O que aconteceu é que a Rose ia-me matando! – Resmungou.


- Matando? Porquê?


- Porque será, Scorpius. Porque ele me beijou.


- TU O QUÊ? – Exaltou-se ele para espanto de todos que nunca o viam irritado.


- Não foi bem assim. – Disse se desculpando ao ver o Scorpius prestes a saltar em cima de si. – Eu acho que quando nós mudamos de posição fomos descobertos e, como eu ouvi passos na nossa direcção fiz a única coisa que me lembrei que iria justificar o facto de estarmos fora do castelo a esta hora.


- Beijaste-a? – Perguntou incrédulo o Scorpius. – Não podias, sei lá... SÓ ABRAÇÁ-LA?


- Não me lembrei de nada. – Murmurou dando de ombros o que só fez o ódio, para o prazer da pequena plateia que os assistia, do Scorpius aumentar. – A verdade é que levei uma chapada tão forte que até fiquei tonto.


- Bem feito! – Murmurou o Scorpius olhando com orgulho para a Rose.


- Bem feito, nada! A verdade é que eu tinha razão. A professora Stella apanhou-nos e se não fosse o facto de a ter beijado tinha nos interrogado até à morte.


- Mas não estavam sobre a capa? – Perguntou o Albus.


- Acho que devemos de ter deixado alguma parte do nosso corpo à vista. Ela tirou-nos a capa quando estava a dar a chapada ao James o que a fez pensar que era luta de namorados.


O Albus riu não se contendo, tentando imaginar aquela cena.


- Não te rias. – Murmurou indignado o James. – Foi ai que eu morri pela segunda vez. A professora deu-me um discurso de como nós homens não sabemos respeitar as mulheres, blá-blá-blá que eu ia morrendo de tédio e a Rose só ria!


- Eu não me ri. – Murmurou querendo conter o riso.


- Mas querias! – Acusou-a de braços cruzados. – Pensas que eu não te conheço? E quem está de castigo por não valorizar os valores humanos não és tu e tu fostes a única que partiu para a violência.


- Deixem-se lá disso. – Interrompeu o Albus ao ver que o brilho assassino do Scorpius ainda não tinha desaparecido. – E o que aconteceu ao Risson?


- Desapareceu... com todos. Quando olhamos para trás não estava lá ninguém, não me perguntes como. Ele nem é uma pessoa muito popular para falar com tantas pessoas. – Observou a Rose.


- E agora Susan? – Inquiriu o Albus olhando para ela com expectativa. – Ainda achas isto normal?


Ela só deu de ombros se levantando.


- Não mudei de opinião. Bem, vou dormir. Boa-noite.


 


*****


 


Um dia depois...


 


- Se torturar não fosse crime, eu juro que torturava a professora Stella.


- Não digas isso, Al. – Riu a Rose só observando depois que todos no sala comum olhavam para eles. – Nem foi assim tão mal.


- Nãooo. – Ironizou revirando os olhos. – Lembra-te lá bem.


 


Flash-back


 


Era de manhã e estavam para ir tomar o pequeno-almoço quando um menino do 2º ano veio ter com a Sarah, o Scorpius e o Albus com um recado da professora Stella que dizia que era para a encontraram na enfermaria. Eles lembrando-se da noite anterior decidiram ir logo para não arranjarem problemas e quando, finalmente, chegaram à enfermaria espantaram-se ao ver uma sorridente professora a falar com um também sorridente Richard que ao vê-los corou e sorriu envergonhado.


- Boa-tarde professora. – Cumprimentou a Sarah sendo seguida dos outros dois que não largavam por um segundo sequer o olhar do Richard.


- Olá, - ela disse sorridente com os seus olhos cintilando de alegria – eu estive a falar com o Senhor Hill e ele explicou-me o que aconteceu.


O Scorpius baixou os ombros numa atitude desanimada, a Sarah suspirou adivinhado o que ia acontecer mas o Albus reagiu agressivamente.


- Nem coragem tens de admitir os teus erros. Vê-se logo que estás nos Slytherin.


- RESPEITO POTTER! Com quem é que pensas que...


- Não, professora. – Cortou o Richard desanimado. – Ele tem razão.


O Albus ficou paralisado ao ouvir as palavras dele e espantou-se ainda mais quando ouviu o resto.


- Eu expliquei à professora que a culpa não foi vossa. – Disse suspirando e sentando-se melhor na cama olhando para um ponto na porta da enfermaria enquanto continuava. – Eu não me lembro de muita coisa, mas do que me lembro eu envergonho-me. – Disse desviando o olhar cansado para a Sarah. – Desculpa-me Sarah. O que eu fiz ontem não tem desculpa. Eu... eu estava completamente descontrolado.


- Eu reparei que não estavas normal. – Disse lhe dando um sorriso conciliador.


O Albus bufou irritado ao ouvir aquilo.


- Então explicaste o que aconteceu? – Perguntou o Scorpius com um sorriso vingativo. – Que nos atacaste...


- Sim, Malfoy. Eu expliquei que a culpa não foi vossa. Eu, por assim dizer, ataquei a Sarah e a única maneira que vocês tiveram de a defender foi atacando-me.


- Mas como eu discordo disso, vocês continuam de castigo. – Disse a professora se levantando da cadeira olhando para eles com o seu melhor sorriso à espera que algum deles fosse estúpido o suficiente para protestar.


- Quê?! – Foi a resposta colectiva, até do Richard.


- Pelo que conseguimos descobrir o Sr. Richard bebeu alguma coisa que lhe fez mal, ou melhor dizendo, - continuou com um brilho estranho no olhar – ele bebeu alguma bebida que não tinha só bebida.


- Claro! – Disse descrente o Albus. – E agora a culpa é nossa?


- Posso acabar Potter? – Ao vê-lo calar-se continuou não perdendo o seu sorriso. – Como eu disse, ele tinha alguma coisa na bebida que o fez descontrolar-se e, por isso, agiu irracionalmente e vocês quando viram o estado dele deviam de ter chamado alguém para ajudar e não começar uma luta! – Murmurou irritada. – Por isso, estão de castigo.


-Ah, claro. Ele ameaçava-nos e nós íamos a correr feitos desalmados a pedir ajuda? E deixava-mos a Sarah sozinha com ele? Isto só pode ser uma brincadeira...


- Ele não tinha consciência do que fazia ao contrário de vocês. Vocês atacaram alguém que nem tinha consciência do que fazia.


- Professora, - chamou o Richard cauteloso – eles têm razão.


A professora mandou um sorriso tão brilhante para ele que, por um momento eles pensaram que estavam livres.


- Isso é bondade sua. Agora, descanse que eu vou conversar particularmente com eles.


 


*****


 


E como previsto, a professora deu-lhes um castigo onde eles tinham que guardar e catalogar a hemeroteca de Hogwarts durante duas semanas e como bónus ainda passou meia hora a dizer-lhes como foram irresponsáveis...


Devido a isso, eles não estavam de muito bom humor. Tinham perdido o pequeno-almoço e agora, iam para a aula de DCAT com a professora Stella. A vida não era maravilhosa?


- Pensem positivo rapazes, - riu a Sarah – vão poder descontar toda a raiva na aula. Hoje é a aula de duelos.


- Ai não. – Resmungou o Albus parando de repente. – Vou lutar com o Edward. – Murmurou com um gemido de protesto.


- Hey, ele é o irmão da tua namorada mas não é nada demais. – Disse a Sarah.


- Isso é porque não o conheces. Estou morto.


- Morto?! – Ouviu-se a voz do Risson sarcástica. – Infelizmente, não Potter. Mas, felizmente, já faltou mais. – Disse entrando na sala.


O Albus rangeu os dentes tentando se controlar e entrou atrás dele. Se ele pudesse...


- Bom dia turma. – Disse a professora Stella animada. – Espero que tenham tomado um bom pequeno-almoço – disse olhando de relance para os três que ficaram ainda mais furiosos – porque agora, é hora da acção. – Disse batendo palmas fazendo com que aparecessem instruções no quadro atrás dela. – Estes são os pares agora ponham-se em posição eee que vença o MELHOR!


O Scorpius sorriu internamente ao ver que tinha ficado com o par habitual e piscou-lhe um olho cúmplice. O Albus olhou e quase saltou de alegria ao ver o seu par: a Susan mas perdeu toda a sua animação ao ver o par da Sarah.


- Será que eu posso trocar com a Sarah? – Perguntou o Albus pondo-se em posição vendo o olhar de advertência da professora. – É que era a oportunidade perfeita... dava uma lição ao Risson e ainda ganhava pontos.


- Vai sonhando Al. – Foi a resposta da Susan.


Ele só suspirou desanimado e ficou logo irritado quando viu o olhar da professora sobre eles, numa clara advertência de que ou começavam ou ela começava a descontar pontos, fazendo-o lançar um “expelliarmus” que a Susan desviou.


- Eu quero ver mais! – Exigiu a professora andando no meio deles não se preocupando em levar com um feitiço perdido. – Lutem com paixão.


- Ouviste Sarah? Luta com paixão. – Disse o Mike que estava de costas para o Albus com um sorriso sarcástico. – Eu quero ver essa garra.


- Acredita em mim Mike tu não me vais querer ver a lutar a sério... pelo menos quando tu és o meu inimigo. – Disse correspondendo ao sorriso sarcástico dele enquanto se defendia sem dificuldades do feitiço dele.


- Ah, faz-me um favor. – Disse aparentemente aborrecido. – Olha ali para os teus dois amigos. – Disse apontando com a cabeça para o Scorpius e a Rose que lutavam ao lado deles.


Ela observou-os por um segundo e sorriu orgulhosa quando viu que tinha razão quando pensou que eles tinham sido anteriormente treinados. Provavelmente, a Rose pela sede de saber mais, que ela tinha herdado da mãe e o Scorpius por causa do pai que tinha. Ela observou com entusiasmo quando viu que eles estavam a lutar com tudo naquela pequena batalha e não por causa da professora que mal olhava para eles, mas sim porque estavam no mesmo nível e, principalmente, pelo facto de serem completos opostos.


- Quem é que achas que vai ganhar? – Perguntou o Mike. – Eu aposto no Malfoy... ofensivo. – Disse sorrindo.


A Sarah riu como resposta. Era notável para quem tinha sido treinada como ela que ele estava a experimentá-la para ver se ela dizia os pontos fracos deles. Era verdade que eles juntos eram muito difíceis de vencer, a Rose extremamente defensiva e o Scorpius extremamente ofensivo, o que fazia uma grande dupla mas numa luta entre eles os dois? Não se espantava se ganhasse...


- Falhei. – Murmurou chateado o Mike. – Ganhou a Rose. – Acrescentou ao ver o Scorpius petrificado.


Era claro para ela o porquê de ele ter escolhido o Scorpius. Ele era ofensivo e pensava que a melhor defesa era um bom ataque, algo que viu no Scorpius.


- Ah vai haver segunda volta. – Murmurou o Mike animado. – O Malfoy está a levantar-se.


A Sarah já farta de ele só olhar para o duelo vizinho nem lhe prestou atenção observando, em vez disso, o Scorpius levantar-se, tentando fazer uma cara de zangado mas não conseguindo ao ver a Rose rir abertamente para ele.


Ela ainda conseguiu ver a movimentação do feitiço mas entre tantos na sala só lhe prestou atenção tarde de mais. Ainda se conseguiu desviar parcialmente mas o feitiço acertou-lhe de raspão fazendo com que ela soltasse um “Oh” de surpresa por a ter acertado. No entanto, quando se preparou para contra-atacar ela não se conteve e começou a rir fazendo com que os mais perto dela na sala se virassem para ela para ver do que se estava a rir e começassem a rir também. Ela não sabia como, apesar de desconfiar, mas o cabelo do Mike que estava sempre perfeitamente arranjado estava espetado de cor verde florescente, com orelhas de coelho e um fofo bigode de gato. O que era algo completamente esquisito porque ela não o atacou e mesmo que atacasse nunca conseguiria fazer aquilo porque nunca ouviu falar daquele feitiço.


- Mas o que está a acontecer? – Perguntou a professora parando e vendo todos pararem de lutar porque se estavam a rir, até que olhou para a direcção de onde vinham os risos e arregalou os olhos ao ver o Mike. – Quem fez isto? – Perguntou olhando directamente para a Sarah que só deu de ombros enquanto se sentava para rir à vontade. – Franklin? – Perguntou com algo muito parecido com um rugido e bufou quando só teve como resposta uma negação com a cabeça porque ela não conseguia parar de rir o tempo suficiente para falar. – Se não foi a Franklin quem foi?


Todos olharam para o Mike que agarrava e olhava as orelhas de coelho chocado e murmurou numa voz estranhamente fina para o divertimento de todos:


- Foi alguém atrás de mim e... – mas calou-se ao ouvir como a sua voz suava fazendo com que as gargalhadas aumentassem.


- Silêncio! – Exigiu a professora fazendo com que as gargalhadas parassem.


Ela olhou para trás dele e não precisou de um segundo olhar para descobrir o culpado que estupidamente ainda tinha a varinha apontada para o Mike, o que a fez enfurecer ainda mais.


- ALBUS POTTER! – Gritou esganiçada. – O que é que fizeste ao Rissson? 


- Eeeeeeeeeuuuuuuuuuuuu? Nada! – Ao ver o olhar assassino da professora continuou. – Isto é… eu posso justificar. Ah…  é que… a minha pontaria. É isso! A minha pontaria está um bocado trocada. – Disse tentando fazer a maior cara de inocente que conseguia.


- Ai sim? – Perguntou sibilando perigosamente.


- Pois! Eu só estava a fazer o que a professora mandou. - Explicou apressadamente.


- Então explica-me porque é que a tua pontaria está tão trocada ao ponto de acertares o colega que está atrás de ti E FAZERES ESSE FEITIÇO QUE EU NEM CONHEÇO!


 Ele mordeu o lábio contendo o riso quando desviou o olhar para o Risson e olhou fixamente para a professora, o que o fez engolir em seco ao ver aquele olhar cheio de ódio, na sua direcção.


Ele só tinha lançado o feitiço porque viu a Susan arregalar os olhos para algo atrás dele e quando se virou e viu a Sarah quase ser acertada por um feitiço do Risson não pensou... simplesmente lançou o primeiro feitiço que se lembrou... que tinha sido o feitiço que o James lhe tinha dito no dia anterior quando ele recebeu uma carta do Fred, que agora estava a trabalhar na loja do pai em Hogsmeade. O problema foi que ele não fazia a mínima ideia do que aquilo fazia e o Fred só tinha, dito usem numa pessoa que não gostem, e bem... não se podia dizer que ele amava o Risson pois não?


- E então Potter? – Perguntou a professora ao ver que ele não respondia o que lhe fez dar um sorriso amarelo enquanto respondia.


- Então se a professora não conhece o feitiço não é minha culpa. – Disse dando de ombros fazendo os olhos da professora se estreitarem o que era um mau sinal. – E em relação à pontaria... hum, a Susan confundiu-me.


- Que insolência Potter. Castigo! – Murmurou com um sorriso maldoso. – Pelos vistos o castigo que tens não te chega. Quatro semanas de castigo e sem reclamação – disse ao vê-lo abrir a boca – a não ser que queiras que aumente. – Ele fechou a boca zangado. - Óptimo! Franklin leva o Risson à enfermaria e vocês continuem. – Disse não dando um segundo olhar ao Albus que estava enfurecido.


 


*****


 


5 minutos depois...


 


- Com que então confundi-te? – Riu a Susan.


- Para a próxima bem que me podias dar mais apoio não?


- Para a próxima - replicou ela - ataca alguém que está à tua frente e não atrás de ti.


- Hey, bonito feitiço Al. – Comemorou o Scorpius piscando-lhe um olho que tinha conseguido juntamente com a Rose no meio dos feitiços deslocar-se de forma a ficar ao lado dele, enquanto que a Rose ficou ao lado da Susan.


- Tu és um inconsequente Al. – Resmungou a Rose. – Quando os teus pais descobrirem...


- Ai... – Gemeu ao lembrar-se e lançou um Atordoar para despistar a professora que parou a olhar para eles. – Eles não precisam de saber pois não?


- Como é que achas que eles não vão saber, Al? Tu depois de ganhares um castigo apanhaste logo outro. Que irresponsabilidade. – Murmurou abanando a cabeça descrente que aquilo tinha mesmo acontecido.


- Pode ser que não. Protego. Se não acho que fico de castigo até ao final do ano.


- E é bem feito!


- Ah, sempre simpática, não é priminha?


 


*****


 


- Viste o que o teu amiginho fez? – Resmungou o Mike enquanto andava pelos corredores.


- Foi confundido. – Defende-o olhando atentamente para o corredor e tentando ao máximo não olhar para o Mike para não se rir.


- Desculpas. – Murmurou e ela quase jurou que ele deitava fumo pelo nariz mas preferiu não olhar para conferir. – E tu ainda o defendes. Ah, vocês vão pagar.


A Sarah parou de andar ao ouvir a ameaça escondida no tom de voz dele e nas palavras e esticou o braço de forma a que ele batesse nele e não andasse mais. Ao ver isso acontecer, olhou atentamente para ele perdendo qualquer vontade de rir da aparência estúpida dele.


- O que é que disseste?


- Nada. – Murmurou dando um passo em frente mas foi agarrado pela Sarah. – Eu estou irritado, só isso! E vamos que eu quero ir para a enfermaria para mais ninguém me ver assim.


A Sarah largou-o e viu os ombros deles descerem aliviados mas ainda continuou a olhar desconfiado para ele. Se ele fizesse alguma coisa iria se arrepender amargamente...


 


*****


 


Nessa noite...


 


- Boa, Al. – Gritou o James saltando para cima do sofá da sala comum. – Assim, já não tenho vergonha de ser teu irmão.


O Albus ergueu as sobrancelhas surpreendido.


- É bom saber. – Murmurou desanimado enquanto se sentava na poltrona. – É necessário ganhar duas detenções seguidas para teres orgulho de mim.


- Não! – Disse o James que ria. – É pores alguém com aquela aparência. – Disse rindo ainda mais enquanto observava o Mike que apesar de ter aquela aparência, que fazia todos rirem-se dele, ainda continuava com um porte altivo e o seu círculo de amigos que influenciados pelo seu dinheiro continuavam ao lado dele mandando olhares zangados para quem se ria dele. – Até a enfermeira não soube o contra-feitiço. É preciso coragem aceitar ficar dois dias assim e não fazer o que a enfermeira recomendou de ficar na ala hospitalar. Ah, - disse estranhamento triste – é pena é hoje ser sexta, se fosse de semana gostava de o ver assim nas aulas.


- Mas tu nunca lançaste antes este feitiço?


O James olhou incrédulo para o irmão.


- EU? É claro que não! Para o Fred nos dar este feitiço quer dizer que ainda está em fase de experimentação. – Da última vez que eu lancei um feitiço dele ganhei uma cauda. – Disse fazendo uma careta ao lembrar-se. – Ah, mas felizmente agora foi muito, mas muito mais divertido. – Disse rindo-se quando viu o Mike se levantar para ir para o dormitório claramente farto dos risos na direcção dele.


- Ah, - resmungou o Albus ao ver que o irmão não o tinha avisado – obrigado por teres avisado não é James? – Ao ver o sorriso dele para si levantou-se. – Eu vou chamar a Sarah para jantar.


Eles estavam naquele intervalo de tempo entre o final de aulas e o começo do jantar. Estavam todos ali com ele, menos a Sarah e a Rose que estavam na biblioteca e todos assentiram quando o viram levantar sabendo perfeitamente que se ninguém as chamasse elas perdiam as horas na biblioteca.


O Albus levantou-se e sorriu simpático para os alunos que lhe davam algumas palmadinhas nas costas como apoio pelo que ele fez. O feito dele percorreu todo o castelo fazendo-o com medo de que amanhã a manchete do jornal fosse falar sobre ele. Ele, apesar da reclusa do seu pai em esconder-lhe os jornais, sabia perfeitamente que estava constantemente nos jornais. Ele e os seus irmãos. O James, o rebelde, era como chamavam o James pelo seu lado maroto, a Lily, a princesinha por ser a mais nova da família e a ele, o Harry Potter júnior, pelas parecenças que tinha com o seu pai. E é claro, como descobriu nestes últimos quatros anos, a impressa pagava muito por qualquer informação sobre ele. E, por isso, graças aos jornais pedidos pelo John em nome dele, dos seus irmãos e dos seus primos que os pais também proibiram de comprar jornais, sabiam tudo o que saia sobre eles. E com a fama e o interesse dos estudantes do que ele fez ao Mike não duvidava de que saísse amanhã nos jornais. O que iria fazer o seu pai descobrir... o que lhe iria causar dores de cabeça...


 


*****


 


A Rose olhou mais uma vez para a Sarah não acreditando na mentira que ela lhe tinha acabado de dizer e, mais uma vez, ela estava a olhar com interesse para um pequeno livro escrito à mão que dizia os livros pedidos de há muito tempo atrás.


Era claro que ao ver a Sarah pedir aquele livro à bibliotecária e sentar-se logo numa mesa sem esperar por ela despertou-lhe o interesse, que aumentou ainda mais quando ao perguntar o porquê de ela estar a ler aquele livro ela respondeu-lhe que estava a fazer uma pesquisa sobre os livros mais pedidos para ver o quanto o ensino mudou.


Claro, que ela não acreditou mas preferiu não responder em prol de observar o que ela estava a fazer com aquele livro. Quando a Sarah levantou finalmente o olhar do livro para ela com uma expressão que dizia claramente “ Não tens mais nada do que fazer do que me espiar?”, ela decidiu voltar à sua tarefa só podendo concluir que ela estava a ver os livros pedidos por um aluno.


Bocejou quando virou o livro de contra-feitiços que pediu na biblioteca. Estava à procura do contra-feitiço de Rictusempra que o Scorpius lhe tinha mandado durante o duelo. Era claro que ela se defendeu com um “Protego” mas ela sabia que existia um contra-feitiço que fazia ele retornar ao dono ainda mais forte. Só que não o encontrava...


- Hum-hum. – Ouviu um pigarrear e olhou aborrecida para o dono. Quem é que as ia chatear agora? Sobressaltou-se ao ver o Richard com os seus brilhantes olhos azuis presos na Sarah, que ainda nem tinha olhado para ver quem os tinha interrompido, entretida no livro como estava.


Instintivamente, fez um gesto para agarrar a varinha por baixo das vestes mas foi impedida pelo braço da Sarah que segurou com força a sua mão por debaixo da mesa e que finalmente se dignava a olhar para o Richard.


- Ah... Sarah, eu preciso de falar contigo.


- Podes falar! – Exigiu a Rose quando finalmente se conseguiu ver livre do aperto da Sarah e olhava ameaçadoramente para o Richard o que só fez a Sarah revirar os olhos.


- Pois! – Disse o Richard fechando os olhos aparentemente dolorido. – Eu não te quis atacar. Aliás, eu queria me desculpar. – Disse finalmente olhando para a Sarah com os olhos azuis a brilhar.


- Recado dado. Podes voltar.


- Rose! – Exclamou chocada a Sarah com a atitude da amiga. – Não lhe ligues que ela está mal disposta. – Disse justificando-a.


- Eu não...


- Rose, cala-te! Fala Richard.


O Richard ainda olhou temeroso para a Rose antes de continuar. Se havia coisa que não queria enfrentar era a fúria de uma Weasley.


- E-eu... eu quero pedir desculpas por causa de... do que aconteceu ontem. Eu acho que me puseram alguma coisa na bebida e eu fiquei completamente descontrolado. Deve de ter sido alguma coisa que punha as nossas emoções ao extremo e isso fez-me atacar-te porque... – ele teve que inspirar fundo antes de continuar para ganhar coragem – porque eu gosto de ti... como deves de saber desde que somos crianças. – Disse desviando olhar envergonhado.


A Rose pela primeira vez demonstrou alguma emoção sem ser fúria. Mostrava constrangimento que ficou bem claro quando as bochechas ficaram da cor dos seus cabelos e desviou o olhar, ao contrário da Sarah que continuava sem mostrar emoção nenhuma.


- Se não acreditas em mim podes falar com a enfermeira. – Disse se justificando quando viu a Sarah só o analisar sem dizer nada. – Ela e a professora Stella desconfiam que foi algum engraçadinho que me quis por a fazer figuras impróprias de um Monitor chefe. Se quiseres podes falar com a professora Stella.


A Sarah continuou a observá-lo querendo ver alguma quebra no comportamento dele mas não via. Primeiro, ela sabia que as pessoas que se justificassem muito ou o estavam a fazer porque tinham alguma coisa a perder, o que acontecia normalmente em pessoas com falta de confiança, ou porque estavam a mentir, e queriam fazer a outra pessoa acreditar, o que acontecia normalmente com pessoas cheias de confiança ou boas mentirosas. Suspirou ao ver que enquanto ele falava não cortava o olhar de si, observando-a como se a sua vida dependesse disso, o que acontecia normalmente em pessoas que mentiam. Viu-o parar de falar e olhar para si à espera de resposta o que a fez ter que dizer:


- Não é preciso. – Ela disse acreditando na primeira opção devido a conhece-lo desde a infância. – Mas o que eu te disse ontem continua verdade. Eu não correspondo. – Disse olhando para o livro que tinha à sua frente para não ter que ver a sua reacção.


O Richard só olhou desiludido para o chão.


- Compreendo. – Murmurou continuando a não olhar para ela. – Eu aceito. – Disse finalmente levantando o olhar e vendo-a a observa-lo curiosa. – Só espero que não seja pelas minhas acções de ontem. – Disse dando um sorriso triste. – E Rose...  – chamou-a fazendo-a olhar para si e corar. – Diz ao Malfoy e Potter que eu peço desculpas por ontem. Eu ainda tentei convencer a professora Stella mas nada a fez mudar de opinião. – Ao vê-la assentir sorriu fraco. – Bem, boa noite e desculpem.


Ele virou-se para se ir embora batendo ruidosamente contra o Albus que tinha acabado de chegar e foi logo ter com elas aflito, sem nem responder ao Richard que o tinha cumprimentado.


- O que é que ele fez? – Perguntou apressado e assustado.


- Nada Al. E para a próxima não vás contra ele, sim? – Perguntou a Sarah, não se conseguindo conter, revirando os olhos para a infantilidade dele.


- Ah Sarah, eu pensei que...


- Por favor... – Disse cansada da super protecção dele. – Ele veio só se desculpar não foi Rose?


- Sim. – Disse a Rose abanando a cabeça como que para aliviar os pensamentos. – E ele pareceu convincente. Acho que o devemos de desculpar.


- Vão desculpá-lo? – Perguntou não se acreditando o Albus. – Ah, façam o que quiserem eu só vos vim chamar para jantar. – Disse saindo emburrado.


- Ele está a exagerar. – Murmurou a Rose.


- Ele hoje só não está num bom dia Rose.


- Ah, Sarah? – Chamou enquanto arrumava as coisas na mala e ao vê-la olhar para si, corou mas perguntou a dúvida que teve desde que conheceu o Richard. – O Richard é relacionada com Veelas ou assim?


- Não... pelo menos acho que não. – Respondeu confusa com a pergunta da amiga. – Porquê?


- É só porque... – Ela sentiu as bochechas corarem mas obrigou-se a continuar. – ... se eu olhar durante muito tempo para ele sinto como se algo me compelisse a segui-lo cegamente. Principalmente, quando olha para mim também. Hoje só não fez efeito porque estava demasiado irritada.


A Sarah riu, fazendo a Rose acrescentar, já mostrando sinais de se estar a chatear.


- É verdade! A Susan diz que sente o mesmo, porque, tudo bem, acho-o bonito mas não estou apaixonada por ele nem nada, para sempre que ele olhar para mim eu ter que lutar contra mim para ter a minha própria opinião. Isso aconteceu no inicio também contigo mas a ti era mais subtil... tanto que no inicio pensei que eras Veela porque definitivamente não estava apaixonada por ti.


A Sarah franziu a testa enquanto pensava. Aquilo era claramente estranho e ela nunca teve vontade de fazer as pessoas seguirem a sua opinião.


- Isso aconteceu muito? Comigo, digo?


- Não, foi só mesmo no inicio e depois descobri que as veelas só agem também nos homens então não podia ser disso...


- Rose, odeia-me! – Ordenou a Sarah estranhamente séria.


- Sarah! – Resmungou, chocada com a reacção da Sarah. – Porque raio é que te vou odiar?


A Sarah sorriu aliviada para ela. Tinha ficado com medo de que tivesse compelido a Rose e os outros a serem seus amigos.


- Por nada. Esquece. – Disse piscando-lhe um olho enquanto se levantava para sair. – Vamos jantar? E não te preocupes com isso deve de ser só da nossa beleza. – Disse mostrando a língua à Rose enquanto se adiantava para entregar o livro à bibliotecária.


 


*****


 


Uma semana depois na sala comum dos Gryffindor....


 


- Eu.realmente.odeio.a.professora.Stella. – Disse o Albus entre dentes sentando-se na poltrona enquanto os outros o observavam tentando conter o riso ao ver a raiva incontida dele.


- Junta-te para o fã clube. – Disse o Scorpius sentando-se no sofá ao lado da Sarah e abrindo um jornal.


- Ah, não exagerem. – Disse a Sarah tentando conte-los. – Só falta uma semana.


- Para vocês. – Respondeu logo o Albus cruzando os braços o que lhe fez aumentar a vontade de rir.


- Também, - disse o Scorpius não parando de olhar para o jornal – quem te mandou amaldiçoar o Risson?


Como resposta só teve um olhar mal-humorado e um som muito parecido com um rosnado.


Desde aquele dia que eles todos os dias tinham castigo, o que causava este mau humor no Albus, que aumentava substancialmente quando se lembrava que tinha acordado às oito da manhã para ter a detenção e só agora, às 17 horas, é que estava livre para ir ter um treino de Quiddich. Já estava cansado de limpar aquela maldita sala mas pensar que ainda tinha que ir treinar deixava-o completamente mal-humorado. Olhou para a Sarah que estava descontraída encostada no sofá, enquanto que com um gesto relaxado com a varinha, acendeu uma fogueira na lareira. O sorriso satisfeito dela impossibilitou-o de não revirar os olhos com um sorriso divertido, enquanto que fez o Scorpius com um resmungo se levantar da poltrona onde estava, mesmo ao lado da lareira, e ir buscar uma cadeira e se sentar o mais longe possível da lareira resmungando algo parecido com “ nunca vi coisa mais friorenta... vê lá se te mata um pouco de frio” enquanto voltava a abrir o jornal.


- Mas olha que o meu castigo até foi interessante. – Murmurou a Sarah que tinha ido para a poltrona onde estava antes o Scorpius, o que só fez este revirar os olhos e perguntar-se baixinho “mas será que ela não percebe que nem frio está?”. – Estive a organizar os jornais antigos. – Murmurou mais para si do que para eles.


- E porque é que isso é interessante?


Ela olhou para o Albus como se só agora se desse conta de que ele estava ali.


- Ah, bem, reparei que os jornais antigos têm informações sobre ex-alunos.


O Albus estreitou os olhos desconfiado.


- E para que é que isso te interessa?


Ela abriu a boca mas voltou a fecha-la com a mesma rapidez. Só depois de pensar uns segundos é que respondeu finalmente:


- Na verdade nada. Mas acho estranho terem acabado com aquilo. Era um sucesso na altura. – Respondeu perdendo-se outra vez em pensamentos.


- Olá. – Murmurou uma sorridente Rose acompanhada do James que só lhes deu um aceno com a cabeça. – Já acabaram a detenção?


- Já. – Murmurou o Albus voltando a sua atenção para a Sarah que sorria para eles. – Mas Sarah como é que sabes isso tudo?


Ele viu a Sarah perder o sorriso por um milésimo de segundo mas quando olhou para ele já tinha aquele ar animado que tinha antes.


- Bem, estava lá escrito... acho eu. – Completou baixando o nível da voz. - Bem, como eu estou cansada – ela fingiu não reparar no Albus que fez uma cara de descrença – eu vou subir para descansar. Ainda temos treino mais tarde. Até logo. – Disse saindo tão rápido dali que eles nem puderam dizer mais nada.


A Rose viu de boca aberta ela sair dali e perguntou curiosa ao Albus.


- Do que é que estavam a falar para ela sair daqui tão rápido?


- Jornais antigos. – Murmurou pensativo.


- Mas então... – Ela calou-se ao ouvir o barulho familiar de alguém entrar na sala e muito assustado perguntar às pessoas “ Viram a Susan?”. Quando olhou para o dono da voz, viu um John com as bochechas coradas e ofegante olhar triste para os alunos que negaram com a cabeça e dirigir-se logo a eles e fazer a mesma pergunta.


- Mas por acaso nós temos que saber da tua namorada? – Perguntou o James não se dignando a abrir os olhos para ver o John, relaxado como estava na poltrona onde se tinha sentado. Se ele não tivesse falado, os outros pensariam que ele estava a dormir. – Não me digas que a pediste em casamento e ela fugiu? Ou então declaraste o teu profundo amor e ela ficou assustada como é lógico? Ou...


- James! – Repreendeu a Rose que viu a cara aflita do John. – O que se passa John?


- Eu... – ele começou mas calou-se ao ouvir um barulho do dormitório feminino e uma aterrorizada Sarah sair de lá. Ele viu pela face já normalmente pálida dela estar agora ainda mais pálida o que constatava com os longos cabelos negros que caiam em cascatas pelas costas dela que alguma coisa estava mal. Terrivelmente mal...


- Maldição. – Dizia enquanto descia as escadas e, ele viu assustando-se, com a varinha numa mão e um papel amassado agarrado com força na outra mão. Ia passar directo por ele e dirigir-se à saída se ele, para sobressalto dela, não a tivesse agarrado pelo braço.


- Sarah...


- John! – Ela disse arregalando os olhos. Abriu a boca para dizer alguma coisa mas, ao ver o James se levantar sobressaltado, calou-se. Olhou para o papel que estava firmemente agarrado na sua mão esquerdo e só depois voltou a olhar para ele com os olhos tão negros como ele já não se lembrava de ver à muito tempo... o que era sempre um mau sinal. – Deixa-me ir. Por favor...


- O que se passa, Sarah?


Ela abriu a boca mas depois olhou outra vez para os quatro adolescentes que escutavam a conversa atentamente e calou-se.


- Sarah, ela é minha namorada! – Murmurou em desgosto.


Ela baixou os olhos o que fez com que ele agarrasse os ombros dela com força e a abanasse.


- Sarah, diz-me! – Ele viu-a olhar outra vez para eles. – Eles são de confiança. – Ao ver o olhar descrente dela continuou. – E eles vão estar mais em segurança se tu os avisares, do que se eles não esperarem nada.


Ela suspirou e finalmente falou olhando directamente para os olhou dele.


- A Susan... ela foi raptada.


Ele mordeu a bochecha tentando conter as suas emoções. Então aquele mau pressentimento que ele teve sempre tinha razão. A Susan... a sua Susan...


- Sarah, como assim? – Perguntou o Albus chocado. – Como é que...


Ela livrou-se do irmão, que ainda agarrava os seus ombros, embora agora fosse mais para amparo do que para qualquer coisa e olhou para o Albus e para os outros três que estavam tão chocados que não conseguiam dizer nada.


- Não se preocupem. Eu resolvo isto num instante. Tenham calma e falem com os professores. – Disse dizendo a última frase olhando para o irmão.


-Não... – Ele disse negando com a cabeça mais para si do que para qualquer um dos outros. – Eles não podiam? – Disse olhando para a irmã e ao vê-la baixar os olhos foi com desespero que continuou. – Eles... eles... ah, eu vou mata-los. – Ele murmurou com um ódio tão grande que fez a Rose voltar do sobressalto em que estava e por a sua mente racional a funcionar.


- Espera! – Exclamou quando viu que a Sarah se preparava para sair. – Como sabes que ela foi raptada e não é só uma partida?


A Sarah parou, suspirou e só depois é que se virou, não para a Rose, mas para o irmão que ainda estava em choque.


- Toma. – Disse lhe entregando o papel amassado que tinha na mão. Eles viram-no ler e as face pálida dele virar vermelha de ódio.


- Vamos. – Foi a única palavra que escapou da boca dele enquanto agarrava a irmã pelo braço e encaminhava-a para a saída, não ouvindo os protestos dos outros três. Ele tão furioso que saiu não reparou que tinha deixado cair o papel que o James agarrou logo e abriu a boca espantado, não acreditando no que lia.


- Deixa-me ver. – Exigiu a Rose pegando no papel e lendo alto.


“ Sarah, Sarah, até parece que os teus pais não te ensinaram que brincar com o fogo queima. Graças às tuas pequenas aventuras tu vais pagar. Nós nunca esquecemos e o que fizeste no Verão magoou muito, por isso, nada melhor do que te veres em situações que ocorreriam se não estivesses no lado certo. A tua amiga Sangue-ruim e namorada do teu irmão sangue puro está na floresta. Oh, não te preocupes, foi só uma pequena aventura, ela está bem... ou pelo menos a deixamos bem...


 Um conselho de amigo... apressa-te e lembra-te que isto foi só um aviso porque enquanto estiveres do lado certo, as pessoas que te interessam continuam inteiras. Então, toma isto como um aviso de amigo.


 


Boa corrida contra o tempo,


 


Os teus fiéis e amigos seguidores.


 


Ela olhou em choque para o papel mas o James que já se tinha recomposto do susto olhava agora para o mapa do maroto.


- Eles estão no sexto andar. Eu vou ver se os ajudo. Também vêm?


Ele viu os três piscarem atordoados e como se fossem um só assentirem.


- Então vamos. – Murmurou saindo correndo dali e passando por um aluno do primeiro ano que se afastou assustado.


Eles correram, tentando-os apanhar, mas só conseguiram no segundo andar onde ouviram uma voz conhecida gritar:


-TU TENS CONSCIÊNCIA DO QUE FIZESTE?


- Ena o Richard está mal-humorado. – Disse correndo, finalmente os apanhando.


- Deve ser do Quiddich. – Disse a Sarah não parando e só depois é que teve consciência de quem tinha falado, mas já tinham perdido demasiado tempo para pararem. – E o que é que estás a fazer aqui, James?


- Vocês não achavam mesmo que os íamos deixar ir sozinhos pois não?


Ela só trocou um olhar com o irmão e ao vê-lo tão preocupado deu de ombros e deixou-os seguirem-na. Não tinham tempo a perder.


 


*****


 


Suspirou quando se viu agora completamente subjugado pelas sombras. Tinham entrado tão dentro da floresta que tudo o que via era as sombras do que estava ao seu lado. O que não era amigável, quando não se conseguia ver nada e ouvia-se claramente o som de os animais a andarem à sua volta. Viu ao seu lado a sua irmã olhar atentamente para a pequena esfera azul que estava à sua frente. Aquilo era a sua esperança, a esperança de que conseguissem chegar até à Susan a tempo. Tinha certeza de que ela estava viva, afinal o feitiço que tinha produzido aquela esfera só funcionava se o ser vivo que procurasse estivesse vivo, e a esfera ainda continuava à frente da Sarah a brilhar. Mas ele sabia que aquele estado podia mudar e não dizia se ela estava bem ou mal... ela até podia estar completamente torturada mas, desde que o coração ainda continuasse a bater, o feitiço funcionaria... Fechou os olhos com dor ao pensar no que a Susan podia estar a passar... Se ela... Ah, se ela tivesse um cabelo fora, ele iria caçar os seus pais por onde quer que eles estivessem, por onde fosse necessário. Primeiro a Kate e agora a Susan? Não, ele tinha aguentado a Kate pelo simples facto que tinha-lhe prometido cuidar da Sarah, e tinha estado este tempo todo à espera que ela percebesse que os verdadeiros culpados eram os seus pais, mas a Susan... Não, ele não deixaria... Mesmo que a sua irmã estivesse do lado dos seus pais ele iria se vingar e apesar de aquilo ser um aviso mais para a Sarah do que para si, ele percebeu o recado que lhe dirigiam... Namorar uma sangue-ruim? Isso não é próprio de um Franklin... e por isso ela pagaria... Fechou o maxilar com força tentando conter a raiva. Se os seus pais estivessem ali... ah, ele amaria os encontrar... nem iam saber o que os atingia... e pela cara da Sarah, completamente em branco, ele sabia que ela estava a conter a raiva e não o ia impedir de fazer o que mais queria com eles.


Engoliu em seco e lembrou-se das consequências do seu gesto. A Susan só estava ali por sua causa. Só escolheram a Susan porque era a sua namorada e porque ele tinha sido estúpido e egoísta o suficiente para não aguentar as suas emoções e declarar-se a ela. O que os tinha posto ali... Fechou os punhos irado. Ela não o perdoaria quando soubesse que a culpa era dele. Porque a culpa era dele, afinal ele sabia perfeitamente que os seus pais acabariam por descobrir o namoro deles. Ele nem se tinha dado ao trabalho de esconder... Ah, ele tinha sido tão idiota... um idiota apaixonado como dizia o James quando o queria provocar mas quando voltasse ele iria corrigir as coisas. A Susan merecia melhor mas para isso ela necessitava de estar viva, para ele poder fazer o que era justo e que devia de ter feito desde o inicio.


- Vocês são mesmo umas abóboras. – Ouviu o James dizer mais alto fazendo-o prestar atenção à discussão que ocorria.


- Ah, até parece que também não és culpado James. – Disse o Albus.


- Mas eu sou o mais velho. Algum de vocês é que devia de ter avisado os professores. Não eu!


O Scorpius bufou.


- Até parece que discutir de quem é a culpa, de ninguém se ter lembrado de avisar os professores, é.


- Pois e ainda por cima quando eu e o John não precisávamos de vocês. Nós conseguíamos resolver isto. – Disse a Sarah não parando de olhar para a esfera como se a sua vida dependesse disso.


- Vê-se. – Disse o James cruzando os braços chateado. – Até agora não encontraram nada.


O John fechou os olhos para se conter e preferiu olhar para a sua irmã que não respondeu.


- Não se vê nada ali à frente. – Murmurou o Albus dando uns passos em frente da Sarah, o que a fez, finalmente, tirar os olhos da esfera e olhar para ele, alarmada. – Lumus. Ah, melhor. Eu vou ver o que está ali à frente. Para ver se estamos em segurança. – Disse dando um sorriso orgulhoso para a Sarah que revirou os olhos.


- Se fosse a ti não fazia isso. – Ela avisou. – Podem aparecer vários bichos ai à frente.


- Ah, eu derroto-os para ti. – Ele disse não perdendo aquele sorriso orgulho.


- Al...


- Não acreditas que consigo? – Murmurou começando a perder o sorriso o que fez a Sarah revirar os olhos.


- Claro que acredita maninho. – Disse o James se pondo ao lado da Sarah, com um sorriso maroto, o que o fez ter certeza de que coisa boa não viria dali. – Então prometes que vais derrotar o primeiro bicho que vires à tua frente?


O Albus franziu a testa enquanto observava o irmão sabendo que coisa boa não vinha dali.


- James...


- Estás com medo é isso? – Disse rindo. – Vá lá...


O Albus inchou o peito ofendido com a acusação e respondeu logo:


- Não. Vais ver. – E saiu à frente da Sarah abrindo caminho pela vegetação que se começava a pôr.


- Boa James. – Murmurou a Sarah contrariada, vendo o Albus que estava só uns passos à sua frente, entre ela e a esfera, olhando constantemente para trás para ver se a esfera tinha mudado de direcção. – A Susan a precisar de nós e tu com esses joguinhos...


Ele corou e olhou de esguelha para o John que continuava com o maxilar cerrado, a olhar em frente.


- Mas tu ainda não nos explicaste porque recebeste aquela carta? – Perguntou a Rose desconfiada fazendo a Sarah suspirar.


- Depois... agora a prioridade é a Susan.


Ela calou-se e sorriu quando o Scorpius passou um braço no seu ombro como apoio. Ela encostou a cabeça no seu ombro e suspirou enquanto olhava para a Sarah que olhava para a esfera outra vez. Ela agora tinha certeza de que ela e o John estavam a esconder alguma coisa muito grave e que ela só pedia tempo para pensar na melhor desculpa. Mas de uma coisa ela tinha razão. A Susan precisava deles.


- Está ali um bicho. – Disse o Albus, o que fez a Sarah olhar alarmada para ele, que só sorriu e piscou-lhe um olho. – Vais ver agora James.


O James olhou para o irmão e levantou a varinha preparando-se para ajudar o irmão, mas mal o Albus tinha dado uns passos em frente, com a varinha erguida e um sorriso corajoso, voltou atrás a correr e a gritar até parar ao lado da Sarah que só revirou os olhos ao ver que graças aos gritos ele só tinha chamado mais atenção para eles. Olhou para o animal que tinha assustado tanto o Albus e revirou os olhos quando ouviu o medo dele na sua voz.


- Ah não… - disse andando para trás. – Eu  nunca gostei de aranhas e sempre mostrei isso. PORQUE É QUE EU TENHO QUE LUTAR COM ESSE BICHO GIGANTE E HORROROSO?


- Porque tu prometeste maninho. – Disse o James que apesar do sorriso maroto que tinha, apontava a varinha ameaçadoramente para a Acromântula, que apareceu à frente deles e viu sobressaltado que apareceu outra atrás dela.


A Sarah suspirou cansada e murmurou só:


- O que eu tenho que aturar. – E com um gesto simples de varinha fez a primeira cair morta e com outro gesto fez desaparecer a outra.


- O que é que fizeste?


Ela revirou os olhos andando em frente para seguir a luz da esfera. – Matei a primeira.


- E a segunda?


Ele assustou-se quando a viu parar e com um gesto simples por uma mão à sua frente.


- O quê? - Perguntou olhando para a mão que estava mesmo à frente do seu nariz.


- Oh, ela está aqui. – Disse abrindo a mão, e para seu horror, uma aranha estava lá, fazendo-o correr e só parar quando ouviu o riso do James.


- Sarah... – Murmurou angustiado.


- Eu pensei que fosse uma boa altura para tu perderes esse medo estúpido de aranhas mas... pronto. – Disse assoprando a aranha e saindo.


- Ela não vai voltar ao tamanho normal? – Perguntou o Albus olhando com a varinha quase no chão o caminho, para ver se não apanhava nenhuma aranha no caminho.


- Vai.


- Então mata-a!


Ela revirou os olhos não acreditando nele.


- Não és tu que defendes os direitos de todos os animais? Ela também é um.


- Mas...


-Al, tens que respeitar tanto uma coruja quanto uma Acromântula.


- Mas elas são perigosas...


- Porque tens medo?


- Não, porque...


- Calem-se, por Merlim. – Ordenou o Scorpius que olhava para a silhueta do John, que estava ao lado do James, e que ouvia a discussão como se fosse uma partida de ténis. – Temos prioridades. – Disse vendo que o John não reagia completamente alheio a tudo.


O Albus calou-se automaticamente e a Sarah suspirou, olhando outra vez para a esfera.


Só passados dez minutos de crescente tensão é que eles viram a esfera mudar de cor ficando ligeiramente esverdeada e foi com um sorriso que a Sarah avisou:


- Já estamos perto.


O John instantaneamente ergueu a varinha e seguiu com atenção a irmã. Oh, se ele apanhasse ali os culpados... mas não, não poderia... ele sabia perfeitamente que eles já estavam em segurança. Observou tudo com atenção como tinha sido ensinado, apesar de sentir o seu coração bater loucamente, e a sua aflição aumentar. Mas ele sabia que a Susan estava bem, tinha que estar... ou então... então a parte boa dele morreria ali e a sua vida seria a vingança pelo que lhe fizeram.


Viu a Sarah parar à sua frente e viu com espanto aparecer uma gruta à frente deles. No meio daquelas árvores gigantes estava um grande buraco na rocha e viu com prazer que vinha uma luz fraca de lá dentro. Não se conteve e correu ultrapassando a irmã e os outros que exclamaram em surpresa. Correu pelo caminho cheio de pedras, até ao sítio onde acabava a gruta, com uma pequena fogueira no meio e ao lado, sobre uma capa, estava a Susan desacordada. Sentiu o pânico querer domá-lo mas correu até à Susan e foi com alegria, que ao chegar ao pé dela para ver a sua pulsação, viu que o coração estava fraco mas estava viva. Riu de alegria e alivio e abraçou o corpo dela.


- Susan... – Dizia a voz do Albus atrás de si, mas parou ao vê-lo rir e sorriu automaticamente de alívio. – Ela está bem. – Disse mais para si, do que para os outros que os seguiam.


 


*****


 


A Sarah viu o seu irmão correr para a gruta e suspirou, pensando nos perigos que podiam estar lá dentro. No entanto, quando viu os outros três segui-lo, correu também, não os querendo deixar para enfrentar os perigos sozinhos.


Quando viu o John abraçar uma desacordada Susan, esqueceu-se completamente da cautela e correu com tudo para lá. Soltou um palavrão quando se desequilibrou e caiu para cima daquelas pedras. Devido à raiva e nervosismo agarrou na pedra mais perto mandou-a ao ar três vezes e estava pronta para lança-la outra vez contra a gruta, quando ouviu uma voz que a fez congelar.


- Sarah...


Ela olhou congelada para a figura prateada que estava à sua frente com o seu tão característico sorriso bondoso.


- Sarah! – Ela repetiu com alívio.


A Sarah abanou a cabeça não acreditando no que os seus olhos estavam a ver. À sua frente não podia estar uma mulher alta, com uns cabelos até aos ombros, que se fosse como na vida, seriam de um loiro brilhante. E muito menos com aquele sorriso que fazia a mulher ser muito apreciada pelo sexo masculino. Não, não podia... mesmo que ela estivesse prateada... ela nunca se iria tornar num fantasma e se se tornasse nunca apareceria só agora...


- Esta pedra deve de ter um feitiço. – Disse baixando os olhos recusando-se a voltar a olhar para aquela figura que lhe só causava dor. – Ou então bati com a cabeça...


Ela ouviu o riso cristalino dela e tapou os ouvidos com força, pouco se importando que a pedra na sua mão esquerda, machucasse a sua orelha. Não podia, não conseguia aguentar ouvir aquilo... era demasiado doloroso...


- Sarah, por favor ouve-me. – Ela engoliu em seco, ao ver que ouvia à mesma aquela voz, e fechou os olhos com força. Só podia estar a sonhar... só podia estar a sonhar... – Sarah, eu estou mesmo aqui. Essa pedra como tu deves de estar a pensar que é, é uma das relíquias da morte. – Disse rindo. – Eu sou mesmo a Kate.


Ela abriu os olhos ao ouvir aquilo e foi com um sorriso que voltou a olhar para a figura. Levantou-se querendo abraçar a figura mas ao ver que passou por ela sentou-se no chão triste e desnorteada.


- Mas claro... estás morta.


- Mas sou eu, a Kate... – Disse com uma voz tão bondosa, tão sua que ela se viu obrigada a olhar para ela outra vez e, desta vez, não conteve as lágrimas.


- Kate... és mesmo tu? – Ela assentiu e agora as lágrimas corriam soltas pela sua face. – Mas estás morta... por minha causa. – Disse escondendo a face nos seus braços que estavam sobre os joelhos. – Por favor, Kate perdoa-me... eu... eu... oh, Kate eu arrependo-me tanto. Eu devia de ter lutado, mas não... preferi a segurança... A culpa é minha, só minha!


- Sarah, olha para mim.


A Sarah engoliu em seco e, pouco se importando com a sua face encharcada, voltou a olhar para a Kate que lhe sorria triste.


- Eu... ah, Kate, pelo menos vou cumprir a minha promessa. Eu vou lutar! Eu vou vingar a tua morte!


- Mesmo que para isso mates os pais dos teus amigos? – Perguntou e apesar da pergunta dura continuava com a voz suave. Contudo, perdeu completamente o seu sorriso, substituindo-o por uma cara séria.


-


*****


 


- Ela está bem? – Perguntou a Rose tendo que ter a confirmação apesar dos sorrisos aliviados dos outros.


- Está. – Disse o John rindo para ela. – Parece que eles cumpriram a promessa de não a magoar, apesar de que é melhor confirmar. – Disse olhando com carinho para a Susan desacordada, completamente alheia à comemoração à volta dela.


- Bem, pelo menos isso. – Disse o James vendo o alívio na cara do seu amigo.


- Sim. – Disse ele não conseguindo conter o sorriso de alívio ao vê-la bem. – Ela está bem... – Disse mais para ele do que para os outros. – Oh, ela está bem...


- Não... os pais contaram-me. E eu vou cumprir a minha promessa. E-eles traíram-te apesar de estarem do lado deles... O lado da luz como dizem... – Ouviu-se a voz da Sarah com desprezo. – O lado da luz que traiu uma aliada... ah, eles vão pagar. Eu vou fazer por isso Kate. Eu não vou descansar até vingar a tua morte!


- Sarah? – Perguntou o Scorpius quando ouviu a voz dela ao longe. – Onde é que ela está?


 Eles olharam para trás de onde vinha a voz e assustaram-se ao ver uma Sarah sentada no chão a falar para o que parecia... a parede da gruta?


- Ah, Sarah. – Murmurou o John entre cansado e preocupado pegando na Susan ao colo. – É melhor ver o que se passa. – Disse dando alguns passos com a Susan bem agarrada nos seus braços mas congelando, ao ouvir o que vinha a seguir.


À sua frente estava a sua irmã que já não a via chorar há muitos anos, a chorar completamente descontrolada e a gritar para a parede da gruta.


- EU MEREÇO! EU CAI NA ARMADILHA DELES. ELES ENGANARAM-ME KATE. SÓ PARA QUE EU FIZESSE O QUE ELES QUERIAM!


O Albus ficou completamente branco ao ver o estado da Sarah e virou-se para o John já farto de os dois irmãos não lhe dizerem nada. Lembrando-se claramente do dia em que a Sarah desmaiou no cemitério e murmurou um “Kate” exigiu uma explicação:


- John, quem é a Kate? E eu agora não vou esperar um “ não te posso dizer”. Nós merecemos uma resposta!


Viu o John perder o resto da cor e olhar com dor, para a sua irmã, que chorava completamente alheia a eles.


- A Kate é... – Ele parou inspirando para ganhar coragem. – A Kate é a nossa irmã mais velha... que morreu...


 


*Alarte Ascendare- Faz o alvo ascender e depois cair no chão com um estrondo.


 


N.A. Ah, olá xD Eu sei que demorei, ok, eu demorei muito. Hum faz o quê, 3 meses? Ok, eu prometo tentar que isto não se repita mas pensem que têm agora aqui este capítulo com o triplo do tamanho normal. Ou seja, se pensarem que neste tempo eu pus 3 capítulos até não fica assim tão atrasado, pois não?


Agora sobre o capítulo, tem algumas revelações e, na verdade, só não o pus no tempo previsto porque decidi que ele ia acabar aqui e a partir do mês de Maio não tive tempo para nada. Bem, finalmente sabem quem é a Kate. Acho que já desconfiavam. Sobre a Sarah, acho que preciso de esclarecer uma coisa. A Sarah teve uma infância difícil e, por isso, ela não está, nem consegue de momento, se apaixonar por ninguém. Ou seja, ela não gosta do Richard mas ele é uma pessoa que conhece desde a infância e, por isso, respeita-o como tal. Se este capítulo causar alguma dúvida já sabem, é só comentar. Criticas, sugestões, é só clicar no botão verde aqui em baixo.


Bem, até ao próximo capítulo.


 

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