Consequências



11. Consequências


 


“O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos.”


 


Luís Fernando Veríssimo


 


                                                      No último capítulo:


                                                                     


Ela andou mais uns passos para trás sentindo o seu coração bater loucamente no seu peito. Ela estava numa situação perigosa e até mesmo ela corria risco ali.


CRACK.


Ela olhou em volta pensando que eram os reforços dos encapuzados mas surpreendeu-se ao ouvir mais CRACKs e, de repente, a rodear os encapuzados estavam cerca de trinta homens e mulheres que começaram a lançar feitiços na direcção deles que surpreendidos mal se defenderam.


- OS AURORES CHEGARAM! PARA O QUARTEL-GENERAL JÁ! – Gritou o encapuzado de olhos azuis Desaparecendo juntamente com os outros.


 


Os encapuzados desapareceram e só ficaram os aurors que numa última tentativa tentaram prender os restantes encapuzados mas foram mal sucedidos tendo os seus feitiços cortado o ar sem atingir ninguém. Ela suspirou em alívio, eles estavam finalmente salvos!


- A menina está bem?


A Sarah olhou em volta até encontrar dois olhos frios a observarem-na com preocupação.


- Sim, -  disse olhando em volta e sorrindo com sinceridade ao só se ver a si e aos aurores que amarravam os encapuzados que estavam desacordados – agora estou óptima! Os outros sobreviventes estão lá dentro. – Disse com uma alegria que já não sentia à muito tempo saindo do caminho e encostando-se ao prédio verdadeiramente aliviada. Eles estavam SALVOS!


- Obrigado. Se precisar de alguma coisa pode-se dirigir ali. – Disse o auror apontando para uma tenda que tinha aparecido e que tinha medibruxos que estavam a tratar os encapuzados, que já não eram encapuzados uma vez que lhe tinham tirado as máscaras, que tinham sofrido o retorno dos seus feitiços quando tentaram entrar no restaurante.


- Obrigada, mas eu estou mesmo a sentir-me bem. – Disse dando-lhe um sorriso e sentando-se no chão.


Ela viu-o assentir mais uma vez na sua direcção e ir em direcção à porta mas o que aconteceu a seguir deixo-a bastante confusa. Mal ele tocou a porta, ele, um homem corpulento, foi violentamente arrebatado para trás caindo com bastante estrondo no chão fazendo todos os aurores perto ficarem em alerta e dirigirem-se para a porta.


 Um auror baixo, deu um passo em frente e abriu cautelosamente a porta pronto para qualquer ameaça mas estranhamente ela abriu-se tendo como única reacção uma luz branca banhá-lo por segundos.


- Estranho. – Murmurou a Sarah confusa não acreditando nas suas próprias conclusões.


- Desculpa, mas sabes o que é que se passou? Por acaso foi alguma tentativa de vingança de algum sobrevivente que nós não vimos?


- E-eu acho que foi um feitiço protector que puseram no prédio... a-as pessoas que não tenham boas intenções não entram... – disse perplexa. – Mas não se preocupe eu retiro-o já. – Disse erguendo a varinha e fazendo com que o restaurante fosse banhado uma última vez pela luz branca. – Já está. Podem entrar, agora também não ia ser necessário, vocês são de confiança. – Disse com um sorriso para ele mas olhando de esguelha desconfiada para o auror que se levantava completamente mal-humorado.


 


*****


 


Uma hora depois...


 


O Albus bufou pela centésima vez naquela hora. Eles estavam sentados numa mesa do restaurante à espera que os seus amigos fossem curados e tratados lá fora. Ao seu lado, estavam alguns Muggles com os olhos nublados visto que os aurores estavam a mudar-lhes a memória.


- Eles não se despacham.


- Eles estão a ser tratados, Al.


- A falar disso, Sarah como é que tu não te aleijaste? Nem um arranhão?


Eles foram os primeiros a serem tratados e agora estavam no restaurante à espera dos outros que ainda estavam à espera para serem tratados.


- Tive sorte... – Disse dando de ombros.


- Não acredito. – Disse desconfiado. – E aqueles feitiços todos?


- Eu gosto de aprender coisas novas, o que é que queres que te diga?


- Hum... não acredito.


Ela riu sincera e disse:


- Se tu não acreditas porque é que perguntas?


- Ah, não sejas chata!


- Não sou eu que estou a fazer perguntas. – Cantarolou.


Ele bufou mais uma vez e cruzou os braços.


- Mas porque é que estás tão impaciente?


- O meu pai ainda não veio...


- Tem calma, ele está longe... lembra-te disso.


- Sim, mas já cá estamos à uma hora!


- O teu pai fez com que fossemos salvos pelos aurores e isso é que é importante.


Ele olhou indignado para ela.


- É o que interessa?! É o que interressa? Ele é o meu pai Sarah, imagina que ele veio para aqui e aconteceu-lhe o mesmo que ao pai do David? Eu preciso de saber se ele está bem! – Disse indignado levantando-se.


Ela fechou os olhos e inspirou fundo antes de lhe responder:


- Eu só disse que ele nos salvou e agora ele tem a burocracia toda pela frente. Não te preocupes que ele está bem.


- Mas ele devia de dizer alguma coisa. – Resmungou outra vez o Albus sentando-se.


- Eu já disse. Tem calma. – Disse pousando uma mão em cima da dele que repousava em cima da mesa.


Ele sorriu e disse:


- Tens razão... como sempre. Eu só estou nervoso por causa da batalha. Podíamos ter morrido todos e... e o pai do David...


Ela para seu espanto fechou os olhos com dor.


- Eu sei Al. Mas nós não morremos e o pai do David... foi um acidente. Ele pelo menos morreu a lutar por aquilo que acreditava...


- Al, Sarah!


Eles foram chamados por uma voz infantil e sorriram ao ver o Hugo e a Lily.


- Foram expulsos?


- É! – Exclamou emburrado o Hugo cruzando os braços. – Só estávamos a ver para aprender. Queremos ser aurores!


Eles riram ao ver a verdadeira indignação deles.


- Vocês foram com um objectivo muito nobre, mas eles estão a trabalhar e só foram atrapalhar. Nós...


- ... avisamos. – Cortou-o a Lily. – Não sejas chato. – Disse se sentando ao lado deles na mesa e sendo seguida pelo Hugo.


Eles ficaram um minuto em silêncio com a Sarah e o Albus a evitarem-se rir da indignação deles.


- Vocês namoram? – Cortou o silêncio a Lily.


- Hã? Que tolice Lily! – Disse revirando os olhos a Sarah.


- Então porque é que estão de mãos dadas? – Pergunto ela sorrindo abertamente.


O Albus corou ao ouvir a resposta dela mas a Sarah simplesmente disse:


- Porque eu estava a dar conforto ao teu irmão. – Disse retirando a mão.


- Porquê?


- Porque ele precisava.


- Porquê?


- Mas estás outra vez com seis anos? Porquê? Porquê?


- Ainda não me respondeste... – Cantarolou ela.


- Sarah, ela é teimosa como a mãe. Desiste. – Disse o James que vinha a chegar e trazia um curativo na bochecha.


- Estás bem?


- Sim, só uns arranhões como tu Al. – Disse lhe dando uma palmada nas costas e sentando-se ao lado dele.


- O John não passou já pelo exame?


- Passar, passou, mas ele ameaçou qualquer um que o quisesse tirar do pé da Susan.


- Hum... – ponderou a Sarah, - e os pais dela? A culpa dela ter partido o braço foi minha.


- Sarah, eles estão com ela e o John. Eles querem falar contigo.


- Eu percebo. Eu fui burra. Eu podia ter conjurado uma estátua ou...


- Eles querem te agradecer. Tu salvaste a vida da filha deles.


- ... não me lembrei! – Resmungou ela não ouvindo o James. – Eu sou tão... tão...


- ... tão boa amiga! – Disse a Susan chegando com um dos seus habituais sorrisos. Ela não trazia nenhuma ligadura, nem nenhum curativo, parecia normal. Ela abraçou a Sarah e continuou: - Eu devo-te a minha vida. Muito obrigado.


A Sarah correspondeu ao abraço, feliz por vê-la ali viva e bem, deixando uma lágrima escorrer pela sua face.


- Desculpa, eu quando te vi prestes a morrer, eu não pensei, eu agi por impulso.


-E agiste muito bem. Salvaste a minha vida. Obrigado e não te preocupes com o braço, ele está bom.


- Mas como? – Perguntou separando-se dela e observando atentamente o braço.


- Até parece que a nascida Muggle és tu... – brincou ela. – Deram-me uma poção e ele voltou ao normal. Ele só estava um pouco deslocado. A única coisa que doeu foi o sabor da poção. – Disse fazendo uma careta.


- Fico feliz por saber. – Sorriu ela mas perdeu o sorriso ao olhar em volta. – O John? Pensei que estivesse contigo?


- E estava, mas depois de estar curada ele quis ficar sozinho. Ele parecia à beira de um ataque de nervos. Não sei o que se passou com ele.


- Mas devias... – Disse a Rose que chegou junto com o Scorpius. Eles também traziam curativos na face e o Scorpius tinha um no braço, mas fora o cansaço evidente pareciam normal.


- Porquê Rose?


- Nada não. – Disse tentando desviar a conversa.


- O que se passa Scorpius? – perguntou a Sarah percebendo a tentativa dela.


- O meu braço foi atingido por um feitiço e ele não parava de sangrar mas já está bom agora. – Disse sorrindo encorajador mas perdendo o sorriso ao ver quem acabava de entrar. O David vinha abatido juntamente com a mãe que tinha os olhos vermelhos, Atrás deles vinham os dois homens que como eles, estavam abatidos e a dor era bem presente. Eles viram-nos em silêncio sentarem-se numa mesa afastada e ficarem em silêncio.


- Eu vou falar com o John. – Disse a Sarah se levantando não aguentando ver a dor deles.


- Queres que eu...


- Não é preciso Susan. Olha, vêm ai os teus pais. Fica com eles.


Os pais dela como a Sarah disse tinham acabado de entrar mas estavam a falar com alguém que vinha atrás. Quando os outros dois casais também passaram pela porta ouviu-se um grito da Lily e do Hugo “ MÃE! PAI!” e foram correr até eles abraçando-os bem fortes. O alívio dos pais  era evidente ao abraçarem-nos bem fortes.


 O Scorpius segredou à Sarah:


- Importaste que eu vá também? É um momento de família.


- Claro que não. – Disse sorrindo.


Eles saíram do edifício conseguindo passar despercebidos com a confusão que se instaurou com os recém-chegados.


Quando chegaram à rua viram os aurores no centro a tratarem dos adultos, a reconstruírem os edifícios e a falarem com testemunhas. Viam-se ao longe alguns flashes, eram os jornalistas que tinham chegado. Ela olhou em volta tentando encontrar o John no meio daquela confusão mas não o encontrou.


- Ele não está aqui Sarah.


- Pois não Scorpius, mas... – disse tendo uma ideia -... eu acho que sei onde é que ele está.


Ela dirigiu-se às árvores que tapavam a vista para o mar e ultrapassando-as vi-o sentado na areia a fazer desenhos na areia com um pau perdido de alguma árvore.


- Como é que sabias que ele está aqui?


- Fácil, Scorpius, ele queria pensar para pôr as ideias no lugar e nisso somos parecidos. Tanto ele como eu quando queremos pensar queremos ir para algum lugar sossegado onde ninguém nos encontre. – Segredou-lhe. – Então John? – Perguntou sentando-se ao lado dele. – Senta-te Scorpius. – Disse vendo que ele se preparava para ir embora despercebido vendo que aquele era um momento íntimo.


- Eu...


- Anda lá Scorpius.


- Mas...


- Podes te sentar Scorpius. – Disse o John olhando para ele com um sorriso fraco. – Eu não te vou morder. A não ser, é claro, que tivesses vindo para aqui para ter privacidade com a Sarah. Nesse caso a história é outra. – Brincou.


- JOHN!


- Vá, senta-te lá. Antes que a Sarah me mande um cruciatus.


- Certo. – Riu ele sentando-se ao seu lado.


Eles ficaram um minuto em silêncio até a Sarah perguntar vendo que o olhar do irmão se perdeu outra vez no mar.


- John, o que é tens?


Ele não lhe respondeu, continuando a olhar para o mar.


- Não é por me ignorares que vais resolver o teu problema. O que é que se passa?


- Eu estou óptimo Sarah. Não tens com o que te preocupar. – Disse sem olhar para ela.


- John, - suspirou ela – olha para mim! – Disse agarrando-lhe o queixo e obrigando-o a olhá-la nos olhos e sentindo o coração apertar-se dolorosamente ao ver os olhos escuros dele com uma tristeza infinita. – O que é tens? – Repetiu agora, verdadeiramente preocupada.


- Nada! – Respondeu seco tirando-lhe a mão da cara com um gesto brusco e preparando-se para virar a cara outra vez mas ela impediu-o.


- John! O que se passa? – Ele abriu a boca para responder mas ela impediu-o. – E não digas que não é nada porque eu conheço-te!


- Não é nada Sarah. – Disse olhando para ela. – É só... a adrenalina e essas coisas depois da batalha.


- John, se eu não te conhecesse até podia acreditar mas eu conheço-te. O que é que se passa? E Scorpius não te vás embora. Podes ficar. – Disse vendo pelo canto do olho ele preparar-se para ir embora.


- Eu não tenho nada Sarah.


- Ok, não queres admitir. Então, só pode ser por causa da Susan. Tens medo da minha reacção é isso? – Ao vê-lo olhar confuso, ela continuou. – Sim, eu sei que estás apaixonado por ela. – Disse revirando os olhos. – Na verdade, só um cego não vê isso.


- Q-que parvoíce Sarah. – Gaguejou. – Eu apaixonado? Essa é boa...


- Não é boa, é verdade! Ah, John, eu sei, podes contar-me.


Ele observou-a em silêncio por alguns segundos até que suspirou e baixou os olhos envergonhado.


- Tu não percebes Sarah. Eu vi-a morrer... eu pensei que ela fosse morrer... era um déja-vu... mais uma pessoa importante da minha vida morrer à minha frente sem eu puder fazer nada. Eu jurei da outra vez que iria me tornar forte para proteger todos que eu amava e eu vi que eu falhei miseravelmente na minha promessa. Eu por muito poderoso que seja não consigo proteger todos que eu amo e isso fez-me ver que tinhas razão.


- O quê? – Perguntou chocada, não sabendo se pela sua confissão ou por ele estar a chorar à sua frente.


- Sim, Sarah tu tens razão. Afastas-te de tudo e de todos quando ela morreu e tu é que agiste certo. Nós nunca poderemos proteger todos e a única solução é mesmo nos afastarmos de todos. Eu pensei que o amor é que fosse a salvação porque foi isso que ela nos ensinou mas ela estava errada... miseravelmente errada e tu é que tinhas razão. – Disse olhando para os olhos dela directamente deixando as lágrimas caírem soltas. – Amar é sofrer e eu não vou aguentar mais uma perda... Amar é ser fraco! Desculpa-me Sarah, só agora vi o quanto tens razão. Estes sentimentos não nos dão força nem nos fazem fortes, eles só nos fazem sofrer e ser imprudentes.


- JOHN! – Gritou horrorizada. – Não digas isso. – Ela viu-o olhar culpado para o Scorpius que estava a olhá-lo estupefacto e com custo não revirou os olhos. – Não é por isso! É pelo que disseste. Tu não estavas enganado, eu é que estava! – Disse abraçando-o forte. – Se hoje eu sou uma pessoa é graças a ti. O caminho que eu estava a trilhar não é solução para ninguém John e eu só vi isso tarde de mais, mas pelo menos vi. Ela tinha razão como sempre. O amor foi a única coisa que me salvou John... é verdade que ele nos faz fracos às vezes mas é uma fraqueza boa, John... é a prova de que somos humanos e que temos sentimentos. Nunca digas que amar as pessoas é mau. Imagina o que tinha sido de mim sem ti e sem ela? Eu hoje não seria uma pessoa e foste tu que me fizeste ver isso John, foi graças a ti que eu os conheci, – disse olhando para o Scorpius – foi graças a ti que eu sou humana! – Disse juntando-se a ele e chorando. - Se tens algum orgulho do que eu sou hoje nunca culpes o facto de amares pelos teus problemas.


- Eu tenho muito orgulho em ti, Sarah. – Disse se afastando dela e olhando-a com um sorriso.


- Então, por favor, nunca repitas isso!


Ele deu um sorriso fraco e limpou as lágrimas do seu rosto.


- Eu prometo! Obrigado pela lição.


Ela riu limpando os olhos.


- Tive bons professores. O Scorpius é que deve de nos estar a achar loucos.


- Eu?


- Por mim pode achar o que quiser. – Disse o John piscando-lhe um olho. – Desde que não goste de mulheres loucas. – Disse tentando fazer cara de mau mas não aguentando-se começou a rir.


- John. – Disse a Sarah revirando os olhos. – Quando é que vais parar de dares uma de irmão mais velho.


- Nunca maninha! Afinal és a minha irmã mais nova. – Disse a abraçando e sorrindo.


- Ah, está bem... Mas falando de coisas mais sérias. Quando é que te vais declarar à Susan? Para ela ser oficialmente minha irmã. – Disse lhe piscando um olho.


- Eu não vou. – Disse perdendo o sorriso e olhando para a areia.


- Porquê?


- Porque não!


- John... – disse, evitando-se rir. – Tu não estás com medo, pois não? – Ao ver a não-resposta dele não conseguiu evitar e começou-se a rir. – Por esta não esperava, a pessoa mais corajosa que eu conheço ter medo de se declarar.


- Pessoa mais corajosa? – Disse voltando a olhar para ela com um pequeno sorriso.


Ela suspirou irritada mas continuou:


- Sim, a pessoa mais corajosa, mas também a mais criança, ah espera, a segunda mais criança, em primeiro fica o James. – Ao vê-lo rir não evitou sorrir. – É verdade John, tu és a prova viva de que somos nós que ditamos o nosso destino e não o contrário. Sempre que eu te vejo a opores-te aos nossos pais eu vejo que nós temos uma hipótese, afinal tu lutas contra tudo e contra todos.


- Ah, que bonita maneira de me chamares revoltado.


Ela revirou os olhos.


- John, tu não és revoltado! Tu és corajoso, leal, foi graças a ti que eu voltei a ser minimamente humana. – Ela viu o olhar surpreendido dele que a fez dar um sorriso torto. – É! Por muito que me custe a admitir é a verdade. Foste tu que me fizeste ir para os Gryffindor ou pensas que foi porquê? Se eu hoje os ajudei foi graças a ti tu fizeste-me parar de me fixar na vingança. Tu de certa forma me salvaste. Não era isso que querias?


- Era e é mas eu sei que não vais mudar... tu continuas a...


- Eu vou cumprir a minha promessa John... depois. – Disse dando um pequeno sorriso. – Mas o que interessa é que se tu tiveste coragem para isso também vais ter coragem para te declarares à rapariga de quem gostas e que gosta de ti.


Ele olhou para ela e ela viu-os brilharem esperançosos.


- Ela... ela disse que gostava de mim?


Ela riu, ao ver a cara dele que parecia uma criança a pedir um doce.


- Não. – Ele viu-a baixar os olhos. – Mas eu conheço-a como te conheço a ti. Não tenhas medo não é Scorpius?


Ele surpreendeu-se de o terem metido na conversa mas deu um pequeno sorriso e assentiu:


- Claro. Está na cara que vocês gostam um do outro.


- Vocês acham mesmo que...


- Não, não achamos... – Disse o Scorpius risonho ao vê-lo baixar a cabeça. – Temos a certeza!


O John suspirou e voltou a olhar o oceano.


- E então? – Perguntou a Sarah impaciente vendo que ele não falava, só observava o oceano.


- O quê?


- O que vais fazer?


- Não... não sei.


- Não sabes como?


- Não sei!


Ela assustou-se ao ouvir o tom dele e percebeu que ele estava mesmo desesperado.


- John...


- Como é que eu lhe digo, heim? – Perguntou furioso, olhando para ela. – Olá Susan, sabes uma coisa? Eu gosto de ti... – Disse descrente.


A Sarah não conseguiu evitar rir-se.


- É uma hipótese.


O olhar irritado que ele lhe mandou fê-la parar de se rir.


- John, acredita em ti. Tu saberás como agir na hora certa.


- Acredita em ti, tu és forte... Tens a certeza de que não queres ser psicóloga, Sarah?


- Absoluta. – Disse se levantando vendo que ele tinha voltado ao normal. – Eu provavelmente iria começar a mandar cruciatus aos pacientes para eles verem que há coisas bem piores que os problemas deles quando me fartasse... o que devia de ser um segundo depois de eles começarem a falarem... – Ela abanou a cabeça para dispersar os pensamentos. – Bem, eu vou dar uma volta. Vocês os dois podem discutir na minha ausência os métodos que vão utilizar para se declararem à rapariga de quem gostam. Boa sorte para os dois.


- Hey, eu não gosto...


- Eu sou uma boa observadora Scorpius. E tenho um conselho para ti, não desistas por causa dos vossos pais. Bem vou indo. Boa sorte. – Disse indo se embora sem esperar resposta deixando os dois a olhar para ela.


 


*****


- Eu vi quantas pessoas vocês derrotaram. Vocês realmente me surpreenderam... pela positiva. – Acrescentou ao ver os olhares constrangidos deles.


- Mas pai não foi bem assim...


- Oh, querido, nós sabemos que os adultos ajudaram-vos, mas mesmo assim pela quantidade de pessoas que vocês conseguiram prender foi surpreendente. Vocês estão num nível muito elevado. Acho que o vosso pai subestimou-vos. Ele quase teve um ataque cardíaco enquanto mandava os aurores agirem.


- Pois... a Ginny tem razão. Pelos vistos vocês davam conta do recado. – Brincou o Ron abraçando os dois filhos que estavam entre ele e a mulher.


Eles estavam dentro do restaurante agora quase vazio. Só se encontravam eles, o chefe dos aurores de lá que falava com a família do homem que tinha morrido e outros aurores que discutiam o que era melhor a ser feito.


Eles, passado o reencontro e a aflição inicial dos pais, estavam agora a conversar sobre alguns pontos que os pais não compreenderam da breve explicação deles.


- O Al tem razão pai. Nós não fomos assim tão bons.


- Não sejas modesta querida. Vocês foram excepcionais.


- Mas morreu uma pessoa mãe!


- Eu sei Rose – disse desviando o olhar – e se nós pudéssemos tínhamos estado aqui e feito tudo ao nosso alcance para mudar isso, mas dentro das vossas capacidades, vocês excederam-se. É só isso que nós queríamos dizer.


A Rose suspirou e desviou o olhar para a Lily que parecia querer dizer alguma coisa mas continha-se.


- Podes dizer Lily. – Disse vendo o receio dela.


- O que foi Lily?


- Eu e o Hugo estivemos a ver tudo do andar superior e se há um culpado de termos saído daqui vivos foi a Sarah e o John.


- A Sarah e o John? – Perguntou surpreendido o Harry.


- Sim, pai. Eu só os via a derrubar homens sem preocupações.


- Verdade? – Perguntou perplexo para o James que se mantinha calado e que continuou assim fazendo a Susan que também estava no meio dos pais falasse.


- Por acaso foi verdade. Nós só começamos a ter alguma esperança quando a Sarah passou do estado de choque que estava e começou a lutar.


- Estado de choque?


- Sim. Ela, por acidente, pelo que eu percebi atingiu uns homens com um “Bombarda” e depois ficou em choque ao vê-los e até se recuperar nós ficamos em clara desvantagem.


- Mas depois ela e as suas magias maravilhosas salvaram-nos. – Disse o Albus a brincar.


O Harry trocou com o Ron um olhar desconfiado até que disse a contra-gosto.


- Eu tenho que vos pedir um favor. Vocês depois se puderem podem-me mostrar as memórias do ataque? É que pode ter passado algum pormenor e eu quero ver se apanho o responsável para ter a certeza que ele não mata mais ninguém. Se não fosse essencial eu não vos pedia, mas há alguns pormenores em branco que podem ser essencial.


Eles assentiram em silêncio observando de longe a mulher que agarrava o filho com força e chorava num canto depois de ter acabado de falar com o auror.


- Eu já venho. – Disse o Harry levantando-se vendo aquilo e dirigindo-se ao auror.


 


*****


 


Ela sentou-se encostada à parede do restaurante e seguia atentamente todos os passos do auror corpulento que não tinha conseguido entrar no restaurante. Ela só queria um pequeno sinal, uma pequena pista de que as conclusões que tinha tirado estavam correctas mas até aquele momento nada... Simplesmente fazia o que os chefes dele mandavam sem protestar, nem perguntar. Mas uma coisa ela notou... notou que ele tinha percebido toda a sua curiosidade pelo que ele estava a fazer o que a levou a concluir que ele estava a fingir.


A porta ao seu lado rangeu e uma sombra estreita bateu-lhe na cara fazendo-a levantar o olhar para o recém-chegado que olhava para ela com um sorriso amável no rosto.


- Sarah, posso falar contigo por um instante?


Ela olhou mais uma vez para o chefe dos aurores de Inglaterra e assentiu fingindo um sorriso.


- Claro, Sr. Potter. – Disse se levantando.


Eles entraram dentro do restaurante outra vez e sentaram-se numa mesa mais afastada. Ela suspirou e sentiu o coração partir-se ao ver a mulher agarrada ao filho num canto enquanto falava com os Weasley, os Scout e a restante família Potter.


- Foi uma tragédia o que aconteceu. – Disse o Harry vendo a direcção do olhar dela.


Ela suspirou antes de falar.


- Ele não merecia morrer. Foi uma morte injusta.


- Eu sei, mas tu não podes salvar todos.


Ela olhou para ele e ele quase que jurava ver os olhos escuros dela mandarem-lhe um olhar cheio de ódio mas no segundo seguinte estavam os normais olhos, castanhos-escuros, a olharem com pesar para ele.


- Sabe, o engraçado é que há quem jure que sim.


- Isso é impossível Sarah. Ninguém consegue controlar o destino das outras pessoas. Cada pessoa toma um rumo para a vida e tu não podes estar em todos os lugares e controlares tudo para que ninguém morra de tragédias.


- Então está a dizer que devemos deixar ir? Sem fazer nada para mudar isso? Está a dizer que se alguém morrer, morreu... não é nada de mais?


- Sarah, eu não disse isso e nunca irei dizer. Cada vida humana é especial e todos deviam de poder viver livremente.


- Mas não disse que não podíamos salvar todos?


- Disse e digo-te por experiência. – Ele viu-a bufar irritada fazendo-o suspirar. – Mas isso não quer dizer que não podemos tentar salvar todos. Eu sou um auror para tentar evitar que vidas acabem assim tão drasticamente como houve hoje e prometo-te que vou fazer todos os possíveis para acabar com isto. O que eu estava a tentar dizer é que não é tua a culpa dele morrer. Os únicos culpados foram os que ajudaram o homem que o matou e o homem que o matou, não tu. Por isso, não te culpes. Até porque – disse abrindo um pequeno sorriso – pelo que me disseram tu hoje foste uma heroína.


- Eu não fiz nada de especial, só fiz o que achei melhor. – Disse desviando o olhar não conseguindo fitar aqueles olhos verdes que a faziam lembrar do filho dele.


- Não, não fizeste. Pelo que os meus filhos me disseram demonstraste um grande poder e foste a causa de eles estarem vivos. Por isso, agradeço-te.


- Quem nos salvou foi o senhor, não fui eu.


- O que serviria a minha ajuda se todos estivessem mortos? – Perguntou triste.


- Eles são sobreviventes, mesmo sem a minha ajuda eles sobreviveriam.


Ele observou-a por uns segundo até se decidir mudar o assunto. Ela nunca lhe diria o que ele queria saber e além do mais ela sempre tinha sido evasiva consigo, apesar de nunca lhe ter faltado ao respeito, o que a faria mudar agora?


- Ah, Sarah, devido a estes ataques e à falta de segurança, vocês vão para a Inglaterra agora. Algum problema?


- Não, nenhum problema.


- Nós já mandamos uma coruja aos teus pais mas eles não responderam. – Informou.


Pela primeira vez, ela deu-lhe um sorriso que chegava aos olhos.


- Lógico. – Disse estranhamente divertida.


- O quê?


- Nada. Mas já agora e o iate? Vão transportá-lo como?


- Os senhores Scout vão dizer aos tripulantes que tiveram um imprevisto e que vão voltar de avião e que é para eles levarem o iate de volta a Inglaterra. Vão ter protecção 24 horas é claro.


- Inteligente da sua parte.


- Sarah, se os teus pais não tiverem em Inglaterra ou simplesmente não quiseres ir para casa, podes ficar em nossa casa, o James, o Albus e a Lily iriam adorar.


Ele poderia apostar outra vez, que ela por um milésimo de segundo deu um pequeno sorriso mas quando voltou a olhar ela estava como antes... sem demonstrar emoção nenhuma, nem amor, nem raiva... nada!


- Não é preciso, se o senhor já falou com o John, ele deve-lhe ter dito que mesmo que eles não estejam em casa há sempre pessoas que tomam conta de nós.


- Mas, – insistiu – mesmo que seja só para estares com os teus amigos podes ir. O Ron vive mesmo ao lado e a Susan e os pais dela vão passar o resto das férias connosco.


Ela olhou para ele outra vez e deu um pequeno sorriso.


- Eu agradeço sinceramente a sua disposição e preocupação com o nosso bem-estar mas não é necessário. No entanto, obrigado à mesma.


Ele franziu a testa, pensativo até que perguntou:


- Tens a certeza?


- Absoluta. – Disse se levantando. – Agora se me permite vou até lá fora. – E saiu deixando-o sozinho e pensativo na mesa.


Quando ela finalmente chegou ao sítio onde estava antes de ser interrompida murmurou para só ela ouvir:


- Maldito Harry Potter! 


 


N.A. Ah, um capitulo novinho... bem, ele está meio estranho eu admito, mas lembrem-se que eles acabaram por passar de uma prova de vida ou de morte e por isso eles não estão muito bem emocionalmente. Como começaram a ver neste capítulo o ataque teve consequências nas personagens e isso ainda se vai notar mais no próximo capítulo que se vai chamar Consequências II e é a continuação deste como o nome indica. Em principio devo-o por amanhã.

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