Primeira carta de Hermione



Meu  amor,


Escrever esta carta é para mim como uma traição. Porque tu não deverias ser mais o “meu amor”. Agora o meu amor é o Ron. Ou por menos eu desejava que fosse.


Ao receber a tua carta ponderei muito em lê-la. Ver chegar aquela coruja que eu já conhecia e ler o teu nome no envelope, eu sobressaltei-me. Perguntei-me o que quererias tu depois destes anos? E quando eu li eu nem acreditei… Porque tudo isto parece um sonho ao qual eu ainda não decidi se devo chamar pesadelo ou não.


Nós fomos tanto Draco. Eu suportei tudo por ti. Lembras-te de quando tudo começou? Estávamos no 3ºano. Tudo começou com um toque, um olhar e um beijo. Ficámos tão confusos que não conseguimos olhar um para o outro durante semanas. E quando começou a ser inevitável confrontar-te custou tanto. Custou admitir que gostava de ti. Um Malfoy, um Slytherin… e a ti custou-te admitir que gostavas de mim. Uma Gryffindor e acima de tudo uma sangue-de-lama. Eu recusava-me simplesmente a acreditar no nosso amor. Porque tu não eras boa pessoa e eu sabia-o. Mas tu insistias e dizias que valia a pena. Logo tu… porquê tu? Não eras tu que me odiavas? Não percebias que eu não podia… eu era uma Gryffindor e tu… tu eras o pseudo-inimigo e do meu melhor amigo. Era proibido e iria obrigar-me a por contra todos os meus ideias. Então tu chamaste-me cobarde e isso eu não admito. Não admito mesmo. Então percebi que de uma maneira ou de outra eu iria contra tudo aquilo em que a minha equipa e eu acreditávamos. Se eu ficasse contigo isso seria como um crime. Porque nós éramos incompatíveis em todas as formas. Porque um sangue-puro e uma sangue-de-lama nunca poderiam namorar! Um Gryffindor e um Slytherin não podiam ter qualquer tipo de relação! Mas de outra forma se eu te rejeitasse, se desistisse do que eu amava apenas por medo dos outros então eu estaria a ser cobarde, cobarde como um Gyffindor não é. E quando eu te disse que sim… oh Draco… tu parecias tão feliz. Sincero como nunca tinha visto um Slytherin ser. Então eu pus-me contra tudo e nós namorámos. Ás escondidas é certo mas foi mágico. Foram 3 anos que foram os melhores da minha vida. Três anos de encontros furtivos em cantos escondidos de Hogwarts. Três anos em que eu acreditei que tu tinhas mudado. Mas depois Draco… depois chegou o 6ºano. E houve a batalha. Tu não imaginas como eu me sentia. Tinha tanto medo. Não sabia onde estavas nem se estavas bem. Então eu vi-te… A correr da torre com o Snape e os Devoradores… Eu pensei que eles te tinham raptado mesmo que o meu coração no fundo já soubesse a verdade. E quando eu vi o corpo de Dumbledore… oh Draco eu odiei-te tanto. Odiei mesmo. Porque tu tinhas acabado com tudo. Talvez não directamente mas a culpa foi tua porque se tu não o tivesses feito poderia ter sido diferente. Tu tinhas acabado com Dumbledore, tinhas acabado com Hogwarts, acabado com a esperança de muitos… mas sobretudo tu tinhas acabado comigo. Naquele ano eu parti com o Harry e o Ron em busca dos Horcruxes. Não tive noticias tuas mas não o queria também. Quer dizer é claro que queria mas queria não querer… E depois tu voltaste. Na forma de um monstro na última batalha. Lembras-te de quando em puxaste para um canto. Eu bati-te, gritei contigo e pedi socorro. Tu tentaste-te desculpar mas era tarde de mais. Era demasiado tarde. Porque tu não tinhas só traído o mundo mágico, tinhas-me traído a mim. E eu já não te conhecia. A guerra acabou e o Harry venceu. E tu… tu perdeste. Foste perdoado no final nem sei como. E durante estes dois anos eu não te vi, eu não falei contigo e tu não me tentaste procurar. E eu com o tempo aprendi a odiar-te mesmo que fosse um ódio falso. Porque eu ainda me lembro… sim eu ainda me lembro. Ainda recordo todos os nossos encontros, os beijos furtivos, o cheiro suave do teu cabelo, o teu perfume que depois destes anos parece ainda impregnado em mim sobre o cheiro da morte daqueles que vi falecer ao meu lado. Aqueles que me banharam com o seu sangue… e foi tua culpa. Porque isso não teria acontecido se Dumbledore tivesse vivo. E ele só não ficou vivo por tua culpa. Ele poderia ter ajudado e a guerra teria acabado. Nós poderíamos ter ficado juntos… mas não ficámos. Podíamos ter sido mais do que esta dor… mas não fomos. E tu não és mais o homem que se deita ao meu lado, assim como os teus lábios não são os mais os que me beijam nem os teus braços os que me tocam. E eu um dia sonhei que o meu nome fosse Malfoy mas hoje eu sei que o meu nome será Weasley. Se te culpo? Sim eu culpo-te. Culpo-te porque hoje eu sei que nunca serei completamente feliz. Culpo-te por cada amigo perdido depois da morte de Dumbledore. Culpo-te por seres cobarde. E acima de tudo eu culpo-te porque tu me fazes amar-te acima de tudo isso. Mas isto é errado assim como esta carta o é. Porque o Ron está lá em baixo e estou a ouvi-lo chamar por mim. Vamos jantar… com o Harry. Porque por mais que durante anos eu me tivesse convencido do contrário nós somos mundos opostos. Eu serei sempre a Granger (em breve Weasley) e tu serás sempre o Malfoy. Eu serei sempre Gryffindor e tu Slytherin. E eu serei para toda a eternidade aquela que te vai amar apesar de o destino e a tua cobardia não o terem deixado.


Despeço-me dividida entre o que sinto e o que tem de ser porque o meu apelido continua a ser Granger e continuo a amar-te tanto como te odeio.


Adeus (apesar de tudo) meu amor,


Hermione Granger

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