Tente ser Eu



O pior Natal de sua vida. Ele não tinha outra maneira de descrever o que acontecera naquela semana que passara na mansão Malfoy. Os Malfoy tinham 6 elfos domésticos. Um deles fora Dobby, que morrera ano passado. Assassinado. Outros dois, só eram fiéis a Lúcio que uma vez preso, não tinham por que seguir servindo à Draco e sua mãe. E outro deles, um mais “saidinho”, se julgou superior o suficiente para não ter que trabalhar para comensais da morte. Um dos remanescentes era velho demais, e mesmo se fossem jovens, dois elfos domésticos são muito pouco para cuidar de uma mansão. A casa estava em ruínas, e Narcisa Malfoy também. Ela trocou pelo menos cinco palavras com Draco, e duas dela foram “Feliz Natal”.

Foi perturbador. Quando ouvia que Harry Potter ficaria em Hogwarts para não ter de passar o Natal com seus tios, Draco não hesitava em chamá-lo de fracassado, órfão. Mas era assim que ele se sentia. Órfão.Seus pais estavam irreconhecíveis, e o Draco de antigamente, combinado com o novo Draco sentiam-se na obrigação de despezá-los. Agora ele era o único Malfoy vivo.

-Não, Draco! – Sussurrou para si mesmo, riscando uma frase de sua redação. – Os gnomos não foram participantes diretos na revolta das vassouras em 1932 e nem usavam vestidos verdes na época. – Ele bufou e afundou o rosto nas mãos. Ele estava sentado – isolado – numa mesa do salão comunal da Slytherin com uma pilha de dever para o dia seguinte. Mas ele não conseguia se concentrar. Tinha muita coisa na cabeça, e uma penseira lhe caberia bem no momento. Mexeu despretensiosamente no cabelo e saiu para as masmorras.

O que ele estava procurando, exatamente, ele bem sabia. E atendia o nome de Hermione Granger, por mais que o velho Draco relutasse em assentir.

-O que você quer com ela, Draco...? – Perguntou, receoso para si mesmo.

Fato era que Draco tinha uma sorte desgraçada. Ele vagou por algum tempo pelo castelo, até que ao dobrar o corredor do terceiro andar, na frente da sala de troféus, atingiu em cheio Hermione.

Ela caiu para trás derrubando sua pilha costumeira de livros, e Draco prontificou a ajudá-la.

-Seu estúpido! – Disse Hermione, irritada.

-Desculpa, Granger. – Disse, rapidamente. – Como se eu estivesse te rastreando até você passar por aqui para esbarrar em você.

-É, você não ia encostar em uma sangue ruim por vontade própria. – Disse Hermione, começando a andar.

- Talvez você tenha razão. Mas o que foi, Granger? O seu natal naquele lixo de casa foi ruim? – Disse, a seguindo. Talvez você tenha razão. Mas o

-Como se te interessasse, Malfoy.

-Mas eu estou interessado! – Disse.

-Olha, Malfoy, eu tenho tanta coisa pra estudar, tanta matéria pra repassar, ao contrário do resto do colégio eu estou sofrendo a pressão dos N.I.E.M.s, e não quero perder tempo!

-Você voltou... Hostil da casa dos Weasley, hein?

-E caso você não queira receber umas hostilidades bem no meio da sua cara sugiro que...

-Fica comigo, Hermione? – Disse Draco. Seu coração parou e seu estômago deu um solavanco. Ele de repente tirou o sorriso zombeteiro do rosto, e começou a avaliar as dimensões do que acabara de dizer por impulso. Ele falara totalmente sem pensar – mas sua promessa de não desistir dela, ou seu sentimento não eram menos verídicos apesar disso, e ao contrário, talvez fossem até mais.

-O... Que?

Ele suspirou e repetiu claramente, como se falando com uma criança. –Eu disse: Fi-ca-Co-mi-go-Her-mi-o-ne?

-Ora, eu entendi o que você disse, eu só não entendi o que você quis dizer... Aliás...

-O que há de tão complicado nisso?

-Por que isso agora, Malfoy?

Sua resposta foi infantil, mas a melhor que encontrou. – Me... deu vontade?

-Ah, obrigado. Agora eu sei que você me quer como objeto para te satisfazer quando não tem nada pra fazer.

-Não foi bem isso que eu quis dizer!

-Foi, Malfoy.

-Eu... – Ele começou a frase, mas não conseguiu terminar. Ele olhou pra ela, suplicante como se pedisse ajuda, e ela riu e baixou a cabeça.

-Olha só, vamos fazer assim: Você volta pro seu cantinho e eu pro meu, e seremos felizes para sempre. À parte. Entendido? – Disse Hermione, determinada.

-Hermione...

Mas Hermione já estava andando decidida e resoluta.



Chegando na biblioteca, Hermione largou pesadamente seus livros numa mesa empoeirada, que cedeu e quebrou, levantando nuvens ocre.

-Garota! – Disse Madame Pince, chegando quase a ter um infarto. – Que barulheira... Depredando patrimônio da escola?! Receio ter de tirar alguns pon...

-Calma, calma, não vai ser necessário. Não foi por gosto, eu acho que eu descontei minha tensão... – Ela recolheu seus livros e sussurrou, tirando a varinha do bolso e apontando diretamente para a mesa tombada: - Reparo. – A mesa levantou-se outra vez, e ela pousou delicadamente os livros na mesa, sorrindo amarelo para a Madame Pince.

-E não faça mais nenhum estrago.

-Pode deixar. – Disse Hermione, sentando-se calma e centrada. Ela desenrolou três rolos de pergaminho e molhou sua pena de águia no tinteiro. Em dois minutos ela escrevera três parágrafos sobre o emprego de sangue de barrete vermelho em poções de qualquer efeito em manipulação psíquica, e as riscou furiosamente. Ela pela primeira vez na vida sentia-se inapta para estudar, e não podia fugir dos fatos: Draco usara uma investida direta e ela o rejeitara.

O quanto uma pessoa podia sentir-se abalada por ter dispensado um Malfoy? E agora ela questionava seus motivos.

Não, obviamente não era Ron. Seu beijo estático mostrou o quanto ela não sentia por ele, mas não o quanto sentia por Draco. Ela estava confusa, e isso a destruía. Não era da natureza de Hermione ser incerta, mas ela não podia ser tão fácil, a ponto de poder se arrepender.

Certo, ela não estava no espírito para estudar. Se bem que faltavam, ali em fevereiro, três meses para as provas que aconteceriam no meio de maio. “Que perspectiva... apavorante!”. Pensou Hermione, pronta para um colapso nervoso. Ela bufou e bateu as duas mãos na mesa, derrubando-a mais uma vez.



-Alguém?! – Bradou Harry, suplicante.

-Desencana, Harry. Sem a Hermione, a gente ta frito!

-Onde ela anda, por falar nis... – Antes de terminar a frase, Hermione passou por ele rapidamente.

-Hermione! Por fav... – Começou Ron.

Hermione parou, retrocedeu e disse – Fui expulsa da biblioteca, não consegui estudar, estou nervosa e confusa, e não quero ajudar NINGUÉM a fazer o que em eu estou em estado propício a fazer.

-Ah... Tá.- Disse Ron, temendo outro ataque histérico. Hermione o encarou ameaçadora por alguns instantes e seguiu para o dormitório feminino.

-Tá bom, afinal. Quem foi Espiridião o Guloso? – Perguntou Harry, repassando.

-Sei lá, eu lembro que ele comeu alguma coisa...

-Não diga, gênio? E em grande quantidade?!

-Cara, eu to tentando! Só que isso não entra na minha cabeça!

-O que a gente ainda tem que fazer pra amanhã?

-Dominar o feitiço de transformar gatos em tigres, e conseguir metamorfosear nossa própria mão em uma pata de corvo. Pra DCAT temos que dominar o feitiço que dá vida à objetos inanimados e precisamos de uma amostra de uma poção para modelar metal para poções.

-Sem contar essa redação sobre o Espiridião e a Revolta das Vassouras, certo? – Repetiu Harry.

-É.

-Estamos ferrados. Cara, eu vou ir pior nos meus N.I.E.M.s do que eu fui nos meus N.O.M.s.

-Isso é meio óbvio. Eu terei sorte se eu atingir quatro N.I.E.M.s. E eu preciso de um bocado de N.I.E.M.s se eu quiser ser auror.

-Estou pensando nisso também. – Disse Ron. – Mas eu nunca vou conseguir atingir em Poções. E duvido que em transfiguração.

-Tenha fé na força, ela age de maneiras diversas, e as vezes incompreendidas. – Sussurrou Harry.

=Espiridião não comeu tronquilhos fritos até que foi preso por atacar dois dos três mais famosos fabricantes de varinha de 1892? – Perguntou Ron, em um surto de inspiração.

-Não sei, mas talvez o Binns também não saiba. – Disse Harry, transcrevendo o que Ron dissera.

-E Córmaco, o Perdedor?

-Ele apostou todos os seus Galeões em uma corrida de Pégasus e perdeu quando o Pégaso dele foi abatido em pleno ar por um hipogrifo na Grécia antiga.

-Pode ser. Mesmo que o hipogrifo seja muito raro nas ilhas gregas, isso só mostra o quão perdedor este cara era. – Disse Harry. Ele escreveu rapidamente, e olhou sério para Ron. – História da Magia é dispensável, mas as outras matérias?

Ron ainda não tinha pensado sério sobre aquilo até agora. Seu futuro era uma questão... Meio importante. E agora que sua família semi-superara a crise, ele tinha que se preocupar com Luna, e a incrível má-interpretação de seu pai.

Ron estava a beira de um ataque de nervos. E Harry notou isso, então começou a falar baixo e calmamente.

-Bem, então terminamos essa redação... E vamos treinar agora o feitiço. – Ele apontou a varinha para uma agulha e começou a sussurrar Biomobilis, sem nenhum efeito.

Ron ignorou totalmente o mundo a sua volta, sentindo um aperto desconhecido no seu peito. Impotência e frustração, talvez. Bufou e tentou prestar atenção na agulha que fincava as mãos de Harry.

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