Lily ergueu os olhos em tempo de ver Hilary, a secretária se aproximando. Uma mulher de aproximadamente trinta e cinco anos que odiava aparentar a real idade e por isso era muito amiga de todos os alunos mais populares. Hilary sempre livrava os alunos preferidos quando podia. E o diretor nunca descobria o que sua secretária fazia.

- Hilary... - Sirius gemeu quando Mandy afastou-se dele - Você sabe que, no momento em que você sumir de vista, todo o mundo vai se agarrar outra vez.

- Sei, sim. - Hilary observou num tom de quem lamenta - Mas eu preciso ao menos fingir que acredito que você obedecem. Caso contrário seria preciso uma detenção pra cada um. Mas eu estava procurando você, Lily. Sua mãe está aqui.

- Minha... Mãe!? - Lily perguntou, chocada.

- Sim. Acho que você vai conhecer a sua sogra, James. - Ela piscou para o garoto, ao mesmo tempo em que Lily levantava como se James a tivesse eletrocutado.

Hilary saiu andando e Lily a seguiu, preocupada. O que havia feito sua mãe sair de Sheffield e ir até Londres para falar com ela, já que as férias estavam tão próximas? Lily estaria em casa em uma semana! Será que acontecera algo com Petúnia? Hilary abriu a porta da sala de visitas, sorriu para Lily e se retirou.

Quando Lily entrou, encontrou lá dentro uma moça loira de grandes olhos azuis e um ar cavalar e também a sua versão mais velha de cabelos loiros. Sua mãe sorriu para ela e Lily devolveu com um sorriso cintilante ao ver que estava tudo bem com sua família. Lily correu para abraçar a mãe.A senhora Evans sentiu uma expressão de choque no rosto. A quanto tempo não via Lily sorrir?

- Mamãe! O que a senhora faz aqui? - Lily sorriu ainda mais, feliz.

- Ah, eu... Eu quis falar com você pessoalmente, amor. Precisava mesmo vir a Londres para acertar uns detalhes da sua transferência, meu bem.

- Minha... Minha o que? - Lily sentou-se atordoada.

- Sua tranferência, meu bem. - a senhora Evans repetiu, docemente - Petúnia vai entrar na faculdade, Lily. E a faculdade é muito cara. Eu não posso mais pagar esta escola. No começo fiquei muito preocupada, mas eu conversei com o diretor da melhor escola de Sheffield. Escola st. James. Ele ficaram encantados com as suas notas e ofereceram uma bolsa integral, Lily! Integral! Na melhor escola da cidade! Petúnia, infelizmente não conseguiu a bolsa da faculdade.

Petúnia fez um som irritado. A mãe olhou para ela, com uma expressão de alerta.

- Não que a nota dela não tenha sido alta! - apressou-se em diz a senhora Evans, visivelmente temendo um acesso de raiva da filha. - Mas é que alguns tiraram notas mais altas e com certeza rolou dinheiro.

- E... A senhora quer que eu... Que eu vá morar em Shefield? - Lily perguntou. Ela não podia respirar, não tinha pulmões.

- Bom, eu... Eu... Se você não quiser, Lily... Eu posso abrir mão de alguns luxos. Eu posso fazer alguns sacrifícios pequenos e mantenho você aqui.

Lily ergueu os olhos para a mãe. Uma mulher dedicada e amorosa. Lily não podia pedir a ela que sacrificasse nada, por que não havia nada que pudesse ser sacrificado. Sua mãe vivia só com essencial em Sheffield e só a mandara para Hogwarts por que a ruiva recebera meia bolsa.

Lily respirou fundo, apesar de seu ar entrar e não chegar aos pulmões. Ela manteve a expressão fria e indiferenta, recorrendo a anos de experiência em reprimir emoções. E o nome de sua nova escola era St. James. Como se ela precisasse de mais um lembrete do que ia perder.

- Mamãe, é uma notícia maravilhosa! - Lily fingiu-se de animada, sabendo que se mantinha ainda fria. - Já ouvi falar do St. James. É um ótimo colégio. Claro que eu quero ir.

A senhora Evans sorriu para a filha.

- Só que eu tenho que estudar, mãe... Sabe como é, hoje é sábado e eu tenho prova na segunda.

- Nerd... - murmurou Petúnia

Bateram levemente na porta. James colocou a cabeça pra dentro da sala timidamente.

- Lils... - James murmurou - Patrícia e Mandy acharam que você podia demorar um pouco com a sua mãe e me pediram pra avisar a você que elas já foram para casa. E elas foram brigando, por que queriam que você passasse o fim de semana com elas.

James. Lily sentiu os olhos arderem. Tentou se controlar. Mandy e Patrícia foram pra casa. Ela não tinha mais um fim de semana com as amigas.

- Certo, Jay... - Lily murmurou.

- Ah, não, Petúnia e eu já temos que ir. Só vim conversar com o diretor e já vou pegar um ônibus de volta hoje. Mas quem é esse jovem encantador, Lily?

- Esse é o Jay, mãe. James Potter. - Lily falou, encarando os próprios pés.

James não compreendeu a reação dela. Será que tinha vergonha de dizer a mãe que ele era seu namorado? Mesmo assim, James adiantou-se e apertou a mão da senhora Evans.

- É um prazer conhecê-la, senhora Evans.

- Igualmente, James. Bom, eu tenho que ir falar com o diretor. Até logo, meu amor. - A senhora Evans beijou o rosto da filha e saiu da sala, Petúnia seguindo-a como uma sombra muito brava. James voltou-e para Lily. A ruiva ainda estava sentada no confortável sofá branco da sala de visitas, o rosto baixo, o olhar fixo nos sapatos. Ela parecia estar respirando com dificuldade.

- Lily? Você está bem?

- Estou ótima. - Lily sussurou para que sua voz não quebrasse, mas foi um sussurro tão trêmulo que ela não esperou realmente que James acreditasse - Você vai pra casa também, não é? Vai acabar ficando aqui no colégio se não for esperar seu motorista.

- Lily, olhe para mim. - pediu James sentando ao lado dela.

Lily ergueu o rosto para encará-lo. Tentando desesperadamente manter o rosto vazio de emoções. Seus olhos ardiam. Ela não queria chorar. Não queria chorar sozinha e tampouco na frente dele. Mas a expressão de James a informou que fracassara miseravelmente na tentativa de parecer normal.

- O que é?

- Eu vou embora, Jay. - A voz de Lily embargou ao falar o apelido dele - Minha mãe veio aqui pra acertar os últimos detalhes da minha tranferência para uma escola de Sheffield. Eu... Eu não vou mais ficar em Londres. N-nunca ma-ais.

James arregalou os olhos. Não entendia o que aquelas palavras queriam dizer. Lily ia estudar em outra escola. Lily ia embora. Mas isso não era possível. Não era lógico. Lily estaria sempre ali, em Hogwarts. Separar-se delas nas férias era sem dúvida algo ruim. Não ver Lily por um mês era incômodo. A idéia de não voltar a vê-la era impensável, simplesmente por que doeria demais pensar. Ele nem imaginava então como se sentiria na prática.

**

James foi forçado por Lily a ir embora. Ela precisava desabar um pouco. Precisava ficar sozinha. Lily entrou no quarto, trancou a porta e atirou-se na sua cama, abrindo o berreiro. Soluçou com força, as lágrimas escorrendo sem parar. Ela agarrou o travesseiro mais próximo e apertou junto ao corpo, como se aquele gesto fosse fazê-la continuar unida. Por que agora, mais que nunca, Lily Evans estava aos pedaços.

Achava que nenhuma dor superaria a dor de perder o pai. Lily havia encontrado consolo nos amigos e principalmente em James. Agora que perdia esse consolo, a dor da perda voltava com força total. E também a dor de perder os amigos. De perder junto o amor da sua vida. Por que só agora que estava prestes a perder James pra muitas outras garotas que viriam, Lily percebeu que precisava dele.

Estava completamente viciada em James. Respirava James vinte e cinco horas por dia. Lily percebeu então que sempre estava com James. Não que ela procurasse ele. Era sempre ele. Sempre atencioso, sempre ao seu lado. E se ele estivesse tão irremediávelmente viciado? O pensamento que ocorreu a Lily a seguir a fez soluçar mais forte: Era assim que ela queria que fosse. Ela queria que James a amasse. Ele era o único na sua vida. Ela sempre seria a Lily do James. Mas James jamais seria seu James. Muito em breve, ele seria o James de outra.

Lily tentou relaxar tomando um banho. As lágrimas misturavam com a água. Lily disse a si mesma que devia parar de chorar, enquanto vestia sua camisola lilás, que ganhara de presente de Patrícia. Primeiro por que, caso continuasse, ela desidrataria.

Segundo por que tinha algo importante a fazer. A ruiva parou, admirada com esse segundo pensamento. Era como se ela tivesse um compromisso importante com alguém e não conseguia lembrar. Lily tentou lembrar de que compromisso teria, já que estava quase completamente sozinha no colégio. Lily sentou na cama outra vez e abraçou o ursinho de pelúcia, sentindo-se terrivelmente frágil.

Sozinha.

A lágrimas vieram outra vez. Lily deixou-as correr. Por que não tinha sentido impedí-las. Por que ela não podia impedí-las. Soluçou, sentindo a mente estranhamente vazia de pensamentos. Não havia nada além da dor. Lily chorou alto até que o sono veio em sua ajuda. Dormir a tarde inteira era a melhor opção naquele momento. Mesmo que isso significasse uma noite insone mais tarde.