Capítulo 1



M i o s ó t i s


Como Harry Potter conseguiu destruir, com um só gesto, a “quase-vida-amorosa” de seus dois melhores amigos.


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Sinopse: Você sabe o que é “miosótis”? Miosótis é uma florzinha azul, graciosa e singela.
Quem diria que uma coisinha daquela poderia causar tanto problema?


Sinopse²: Veja, era para ser apenas um gesto doce. Como outro qualquer. Da parte dele. Mas nada – nada – pode ser tão simples para ele. Em especial.




N/a: Essa é daquelas idéias que surgem do nada... Quando você está falando de uma coisa quase que distinta e todo um esboço surge; e você o segue.
Eu pretendia fazer uma shortfic. Mas... a coisa toda foi tomando proporções maiores. Ainda que eu pretenda fazer uma fic curta, talvez três capítulos. Vamos ver.


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Aclarações:


Itálico – ‘esclarecimentos’ de Harry. Pensamentos dele. POV’s Harry. Ou ênfase em alguma palavra, ou frase.


Sublinhado – ‘esclarecimentos’ de Hermione. Pensamentos dela. POV’s Hermione.


AVISO: Fanfiction pré-epílogo. Pode conter Spoilers do sétimo livro.


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Um amor tão puro que


‘inda nem sabe a força que tem...


É seu e de mais ninguém


(Um amor puro - Djavan)


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Capítulo 1


Mito – Os bruxos têm muitas superstições


Superstições idiotas... permita-me acrescentar.


As superstições bruxas não são tolas. Bem... Não em sua maioria.
Isto - toda esta... confusão, por assim dizer - não teria acontecido, obviamente, se Harry houvesse lido ao menos um livro de estória da magia (contos). Me pergunto agora: seria pedir demais?
Meu Deus, ele entrara num mundo novo, será que nunca se preocupara em aprender sua cultura? Obviamente que não.


A coisa toda começou a desandar, em verdade, por culpa do Ron. Ou de suas prosaicas brigas com a sua... a sua... bem, com Hermione – a indefinição do relacionamento daqueles dois começava a dar nos nervos de Harry.


Enfim, Harry só tentara elevar o animo de uma amiga. Em nome de Merlin, era sua melhor amiga! Ele tinha de fazer algo, não é mesmo? – seu senso de herói não o havia posto em perigos suficientes, ele decidiu mais tarde, com ironia. Não que aquela... situação fosse perigosa. Não de todo, ele supôs.


O problema realmente era só o grande – colossal – mal-entendido. Ele não tinha culpa se os bruxos tinham uma conotação diferente para cada coisa que aprendera – não por incentivo de seus parentes – com os trouxas.
Mas era quase uma burla consigo mesmo que, depois de quase oito anos convivendo com magia, ainda pudesse ser surpreendido pelos costumes - bizarros - bruxos.


Ele, apesar de tudo, teria feito a mesma coisa, dezenas de vezes, se sentisse certo. Como sentia que tinha sido da primeira vez, mesmo que nela (na primeira vez), tenha sido uma ação não mais que inocente de sua parte.


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Eu realmente não queria conversar naquele momento. Precisava estar só, para colocar os pensamentos em ordem. Mas Harry não é bom em ser dispensando como herói...
E eu não estou me queixando. Não de todo. Ele foi a melhor coisa que me aconteceu àquele momento. Eu não agüentava mais repassar o que acontecera mais cedo.


Eu só pretendia levantar o astral dela...
Como eu podia imaginar que um presente que parecia bobo, inocente, poderia ser tão... raro? E uma escolha infeliz?


Sentou-se silenciosamente ao seu lado. E esperou. Tranqüilamente, somente observando o lago, como ela.


Uma espera que valeu a pena.


Hermione suspirou. – O que foi? – ela ainda não havia se voltado para lhe encarar, no entanto. Ela não precisava se voltar para saber de quem se tratava.


Harry riu entre dentes – Acho que tive a mesma idéia da maioria dos estudantes de folga... É um dia agradável demais para estar preso no castelo – comentou observando o céu.


-Eu não sou uma boa companhia, hoje.


Ela o olhou de soslaio quando ele não respondeu ou se afastou, como ela pretendia. Harry continuou ali, observando – como se distraído – as coisas a sua volta: o lago, o céu de algumas nuvens e sol brilhante, as pessoas se divertindo ao redor.


Só um segundo mais tarde, sentindo o olhar dela sobre si, o moreno se voltou e sorriu o sorriso que era dela. Só oferecido a ela, ou ela esperava que sim. Não era justo ter aquele sorriso iluminando apenas o seu dia, mas ela nunca dissera que não era egoísta...


–Mesmo? E por que não?


Ainda que não quisesse, a morena não podia evitar se voltar completamente para ele, pateticamente, só para observar melhor e detidamente o sorriso que Harry lhe oferecia.


Era só... bom. Como se pudesse absorver o sorriso dele, a alegria, melhor dito; como se as sensações ruins pudessem se afastar sob o sorriso dele, temerosas.


Ela não queria conversar, só queria deixar o sorriso dele fazer seu pequeno milagre. E por esse motivo forçou sua vista ao encontro do lago novamente; era mais fácil. Que a dor continuasse, então.


Mas Harry não era do tipo que desistia fácil, ela sabia. Só tinha esperanças que ele pudesse, dessa vez, ver que não queria falar, ou ser forçada a isso.


Contrariando-a, ele continuava a fitando, esperando uma resposta. E ela sabia que daria qualquer coisa quando ele fazia assim...


-Rony – ela expirou.


O moreno riu. – Oh, desculpe – o olhar dela não era divertido. - O que houve?


-Ele está me enlouquecendo.


-Hm, parece que o caso é mesmo grave – ela tornou a encará-lo, franzindo o cenho. – Você. Eu digo. Levando a sério o que Ron diz, me parece perigoso – ele zombou. -, talvez seja até mesmo contagioso – disse ainda em mofa, afastando-se um pouco.


Hermione virou os olhos. – oh, por que você não morre, Potter?


-Quem mais agüentaria você depois de uma briga homérica com Ron? Você não pode desejar minha morte de verdade... - a risada dele foi alta dessa vez, ainda mais zombeteira.


-Pretensioso.


Ele assentiu. - Porque eu posso – murmurou, os olhos reluzentes sob os óculos. Então se voltaram sérios, ela não gostava de vê-los sérios, faziam-na se lembrar da guerra. – O que houve dessa vez? Eu pensei, eu juro por Merlin que eu pensei, que finalmente haviam se entendido.


Hermione sorriu sem emoção. – Entendido? Ron e eu? Você é mesmo um romântico, Potter.


O moreno ergueu a sobrancelha para a amargura dela. – Pensei que quisesse.


-Você tem pensado demais – ela comentou ironicamente.


-Hei, não desconte seu humor negro em mim.


-Lhe disse que não era uma boa companhia...


Ele a ignorou novamente. – Vamos, não pode ter sido tão mal assim.


-Ele perguntou o que eu realmente queria – ela fitou o chão, flexionando os joelhos e abraçando-os.


-Como um ultimato? – ele perguntou estreitando a vista.


-É o que parece– ela murmurou.


-Você não deveria estar feliz?


-Eu pareço feliz?


Harry expirou, decidido a, por mais estranho e falho que fosse (pudesse ser), bancar o conselheiro (ou perto disto) amoroso. – Qual é o problema?


-Eu só não posso pensar, não agora, em algo tão definitivo – Harry franziu o cenho, ela lhe dispensou o olhar.


-Você está brincando, não é? Você quer dizer...


-Casamento – ela disse sem emoção, apesar de apertar mais os braços ao redor das pernas.


Se Hermione me dissesse, naquele momento, que Ron queria largar Hogwarts e se juntar aos centauros para fazer adivinhação, na floresta proibida, não teria me surpreendido tanto.


-oh... Oh – ele assobiou baixo. – O que você acha de tentar dissuadi-lo a um namoro longo? Tenho plena confiança na sua capacidade de argumentação – sugeriu.


Hermione riu sem humor. – Ele parece resoluto. Fascinado com a experiência de quase-morte que teve há meses atrás – ela virou os olhos. Não é que estivesse menosprezando o que acontecera ao “amigo” (por não ter algo que melhor encaixe), só achava muito extraordinária a mudança de Ron. Em nome de Merlim, ele só a beijara umas quantas vezes!


-Ele diz que, agora que está restabelecido e depois de pensar bastante, tem certeza do que quer. Só que eu acredito que ele não pode ter pensado tanto assim – continuou baixinho.


-Bom... Deve ter sido bem traumático pro Ron ter quase morrido ao tentar destruir uma das almas – Harry começou incerto.


-E ele está irritado por eu não ter dito ou, mais bem, gritado “sim” imediatamente e ter caído em seus braços.


Eles se entreolharam e riram sob o mesmo pensamento: quem poderia imaginar Hermione Granger executando tal cena?


O riso da morena tornando-se aos poucos risadas nervosas, até morrer enquanto ela tornava a observar seus pés.


Eu não estava levando bem a história de pular a fase do namoro e ir direto para o casamento. Francamente, sou muito jovem. E eu nem tinha me acertado realmente com Ron pra que ele exigisse uma resposta para o seu bizarro:


“É ‘sim’ ou ‘não’, Herms. Casa comigo: Sim ou não?” Eu juro que esperei ele acrescentar “você tem três segundos”, depois de rir e pensar que ele estava participando de mais um jogo estúpido que saíra no “Seminário das bruxas”, não que o Ron leia essa revista. Não que ele leia qualquer coisa.


Além do que, nós ainda não temos sequer empregos (ainda nem nos formamos). Onde íamos morar? N’A toca – dividindo o minúsculo quarto dele com aquela adorável cor laranja berrante -? Seríamos sustentados por seus pais ou pelos meus (como se meu pai não fosse ter um enfarte quando soubesse que aceitei uma proposta estando ainda no colégio...)? – Não estou sendo irônica, apenas realista.


Talvez ele pudesse convencer Ron... Claro, e seu amigo acataria, assim, sem discussão, seu conselho. Harry suspirou e sorriu com pesar.


Era melhor fazer algo que estivesse a seu alcance e que, certamente, tinha chances de sucesso superiores a zero por cento.


Harry estendeu uma das mãos a frente dos olhos da amiga, e estalou os dedos para chamar sua atenção. Arregaçou as mangas da blusa até os cotovelos.


-Nada nessa mão... – ele virou a palma para que ela pudesse ver. Então aproximou a outra. – Nada nesta aqui também – fez o mesmo movimento e Hermione riu suavemente. Ele juntou as palmas e as chacoalhou – Por favor, milady, assopre – aproximou as mãos, ainda justas do rosto dela.


Hermione ergueu a vista com o humor e aproximou os lábios para assoprar levemente o pequeno vão que ele fizera com as mãos, ainda encarando a Harry com diversão.


-Com mais vontade, milady...! – o moreno falou como numa repressão gentil. A morena riu virando os olhos, mas tornou a soprar. – Hum, acho que isso basta – tornou a chacoalhar as mãos juntas. E então as separou...


Não havia nada ali.


-Oh, Harry, você é um mágico de araque – a morena disse, fingindo pena, ao mesmo tempo em que observava com decepção falsamente exagerada as mãos vazias dele.


Harry a olhou com superioridade. – Eu ainda não disse as palavras mágicas – ele fechou em punho uma das mãos e moveu a outra sobre ela. - Abra Kadabra – murmurou fingindo concentração, o riso cristalino de Hermione lhe atingindo em cheio enquanto ela o empurrava levemente.


Harry lhe ofereceu um olhar reprovador ao repetir mais enérgico as palavras, como se buscasse mesmo concentração. Um sorriso torto contradizendo todos os seus atos.


Então, num floreio da mão que fechara fez surgir uma pequena flor entre os dedos.


Oferecendo-a, entre exibido – por ter feito parecer que não se utilizara magia de verdade - e expectante para ver a reação dela quanto a sua “mágica” – desejando que ela se distraísse especulando como ele fizera aquilo.


Mas Hermione não parecia curiosa ou com inveja de seu truque. Não, ela parecia estarrecida. E ele tinha a ligeira impressão de que não a impressionara a tal ponto com aquele truque para deixá-la assim.


Bem, ao menos a distraíra...


E por que todo mundo o encarava?


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Eu deveria ter percebido que as coisas estavam estranhas assim que notei o olhar de Hermione. Estranho, confuso. E se isso não fosse o suficiente, o sinistro sinal das pessoas a minha volta – que me encaravam mais tempo do que normalmente o faziam - poderia me dar uma dica.


Mas – o quê? - eu não sou conhecido por ser o cara mais rápido de pensamento do mundo... Absolutamente.


A sensação de ter vários olhos sobre você não é definitivamente agradável. Ainda mais quando parte destes olhos parecem horrorizados com o que vêem.


Fiquei desconcertada por alguns segundos. Vários. Parada, sem ação. Observando a florzinha que Harry me oferecia. Singela, porém a razão de todos os problemas citados a partir de agora.


E Harry, eu notei, não entendia o que estava acontecendo. Bem, não seria eu quem iria explicar que, com este gesto, ele estava me prometendo algo que certamente não pode me dar...


Silêncio. Um abrasador, anormal.


Era como se todo o jardim de Hogwarts tivesse prendido a respiração. Ninguém se atrevia a mover e Harry nunca esteve tão ciente de que não fazia parte de alguma coisa – de um lugar – como naquele momento.


Era como se fosse um estrangeiro em terras onde os nativos eram desconfiados e curiosos – fitando-o com acusação, espanto e indiscrição – a sensação era horrível.


O que havia feito agora?


Era evidente que a intenção dele não era essa: fazer com que todos os olhares se postassem sobre si, estupefatos - qual era o problema daquela gente, afinal? O que havia de errado com elas? -, mas fora exatamente o que acontecera, como se estivessem particularmente chocados com suas ações. Ora, ele não estava fazendo nada demais!


Ele lançou um outro olhar para Hermione, observando uma centelha do mesmo choque que as pessoas a volta não escondiam. Mas passou bem rápido, e, depois de um momento, ela aceitou com um sorriso fraco seu oferecimento.


-Obrigada, Harry – ela disse baixinho. - É muito gentil de sua parte.


E o que eu ia fazer?! Pelo amor de Merlim! Era meu melhor amigo. Num gesto amigável. Inocente. Não é como se ele soubesse o que está fazendo. O que, provavelmente, anula toda essa estória do ‘gesto ser irrevogável’ para ambos os lados, certo?


De toda forma, eu não pretendia – tão cedo – contar para Harry que, segundo os costumes bruxos, ele estava ligado a mim pra sempre de uma forma... bem, eu só não ia contar.


E daí que a quebra do ‘contrato selado’ leva ao infortúnio do par e seus respectivos descendentes? É uma superstição estúpida.


As respirações ao redor deles estavam ofegantes agora, as bochechas de Hermione pareciam os cabelos dos Weasley enquanto ela segurava entre as mãos, com firmeza, a florzinha que lhe dera e observava, cheia de atenção, o lago a sua frente; e ele só não entendia por quê.


Estava começando a ficar aterrorizado. O que fizera de errado dessa vez? E Hermione estaria zangada com ele? Por quê? Ela não o fitava nos olhos, seu rosto ainda ruborizado – como quando Ron estava prestes a dar um ataque.


Ele abriu a boca para se desculpa pelo que quer que tivesse feito, mas uma mão de sua amiga pousou sobre a sua e a apertou. Harry fechou os lábios quase imediatamente, ela não podia estar zangada. Não com ele.


Então ele ficou lá, fitando o lago ao seu lado, a palma de sua mão voltando-se para cima para se entrelaçar nas dela.


Parecia certo. Estava tudo bem, então.


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E então o Ron pirou... E eu nem sabia por que estava sendo insultado. Bom, pelo visto, eu era o único. Só pra variar...


(Quando dizem que as notícias em Hogwarts não são correm, voam... não estão brincando. A rede “de fofocas” nessa escola é mais intrincada que a própria grade curricular oferecida).


E Harry estava lá, completamente inocente em seus atos, observando chocado a colocação anormal de Ron (mais vermelho, de ódios, suponho, a cada momento), assim como recebendo sua animosidade com confusão.


Agora, me diga, como eu podia ter saído dessa sem constranger Harry? Ou esfolar Ron...


Ainda estavam observando o lago quando uma sombra surgiu sobre eles; eles se voltaram ao ouvir a voz do amigo.


-Então era por isso que você não aceitou minha proposta – Ron murmurou amargamente. - Sua predileção por Harry deveria ter me alertado. Você só estava esperando ele se dar conta, não é?


Mas de que merda ele está falando?” Eu pensei.


“Como ele pode ser tão... idiota?” Eu pensei.


-Do que você está falando? – Harry indagou assombrando.


-Não se faça de idiota!


Hermione apertou a mão do moreno, fazendo que o olhar de Harry recaísse sobre ela. E sob a visão, Ron se indignou ainda mais. – Não importa – ela disse baixinho, desejando tranqüilizá-lo. – Realmente não é nada – ela fuzilou Ron com o olhar, como se quisesse obliterar sua existência dali, de Hogwarts, da Terra.


-Nada? – Ron parecia ultrajado.


-Ron... – Harry tentou mais uma vez, sendo prontamente ignorado.


-Você-aceitou-aquela-coisa das mãos dele – apontou para a mão dela, que ainda mantinha a florzinha firmemente segura. - Como pôde?


Harry ergueu a sobrancelha, a palavra “dele” soava bem ofensiva nos lábios do ruivo. E de que ele falava, afinal de contas?


Então, para o choque de Harry, Hermione corava. – Ron, cale-se! Eu posso explicar tudo e...


Nunca comece uma frase com “Eu posso explicar tudo” ou a variante: “Não é nada do que você está pensando”, é como se estivesse admitindo sua culpa. Mesmo que você não tenha realmente culpa. O que não é o caso, a culpa é toda minha. Que aceitei o simplesgesto de Harry... – Quanto ao “simples gesto”, estou zombando.


A culpa deve ser minha, suponho; que, entre os dois – Harry e eu mesma -, era a única ciente da antiga tradição. Antiga tradição sem cabimento e parva.


-O que você tem para explicar?


A morena suspirou sob o tom irônico de Ron. – Pode se acalmar, por favor?


-Estou calmo – retrucou o ruivo, entre dentes.


Não está não...


Acho que deveria ter dito que não era da conta dele e me fingir de ofendida...


-Ron, Harry não sabe o que seu gesto significa...


-Então... Então você sabia do significado?


A morena assentiu, ofendida. – obviamente que sabia!


Resposta errada...


A vermelhidão do rosto de meu amigo – se ainda amigo – estava mais que anormal.


Ron, ao contrário das minhas expectativas, ficou ainda mais furioso! Percebi com um segundo de atraso que não deveria ter sido tão enérgica ao demonstrar meu conhecimento. Mas meu orgulho ferido não deixou que eu pensasse com coerência...


-E VOCÊ ACEITOU? – Ron gritou zangado.


Hermione perdeu a compostura, fitando-o com escárnio. - O que você queria que eu dissesse? “Não Harry, não vou aceitar seu gesto AMIGÁVEL por causa da patética superstição dos puro-sangue, estes que acreditam que você está oferecendo seu amor eterno a minha pessoa, e somente a ela. Então, se eu pegar a flor oferecida estarei além de aceitando seu amor, oferecendo o meu para sempre”?!


Oops!


Oops!


-SIM – Ron urrava agora. – SIM, EU QUERIA.


Basta dizer, Harry ficou bestificado. Mas nem Ron nem eu estávamos prestando, naquele momento, atenção nele.


Foi naquele momento que eu senti como se estivesse sendo realmente excluído de alguma coisa. Alguma coisa certamente importante para Ron.


-Ron, por Morgana, não seja tolo! É uma superstição. Apenas mais uma superstição.


-Não importa se é ou não uma superstição, Hermione. É o que significa. Acontece que você sabia e, ainda assim, aceitou o gesto.


-Eu já disse que--


-Você poderia ter recusado! – a cortou, ferido. – Poderia ter explicado o que significava, tenho certeza que ele retiraria a oferta!


-Mas eu não queria recusar! – Hermione exclamou veemente.


Oh-ou.


Foi como se Ron tivesse levado um tapa. E a morena ofegou, horrorizada.


-E-eu... Eu não quis dizer isso – ela disse rapidamente, tropeçando nas palavras.


Eu definitivamente - em absoluto - não queria ter dito aquilo, assim.


É certo que eu não queria recusar, era um ato inocente. E era para mim. Para me animar...


Eu queria sim aquele regalo – bobo, brincalhão - que era doce.


O ruivo não esperou comentário ou justificativa qualquer. - Satisfeito por destruir pra sempre a minha vida? – Ron perguntou com sarcasmo para o moreno, antes de lhes dar as costas e passar andar para longe em passadas largas.


-O quê? O que quer dizer? – Harry perguntou mortificado, voltando-se para Hermione.


-Ron, espere... Volte aqui, nós não acabamos ainda. Ron!


Obviamente que não tínhamos acabado, eu ainda não sabia concretamente o que estava acontecendo!


Eu não me forcei a ir ao encontro de Ron. “Ele deve estar muito contrariado, deixe que se acalme um pouco” lembro ter pensado. Então me voltei para Harry.


-O que foi isso? - Hermione suspirou pesadamente ao encontrar o olhar atordoado de Harry. – Mione?


-Harry, você conhece esta flor que me deu? – ergueu a mão. Harry negou com a cabeça e Hermione, cansada, tornou a suspirar. – Chama-se “miosótis”, e significa “amor verdadeiro” – Harry a fitou esperando por mais informações, Hermione não o decepcionou:


– Bom, presentear essa florzinha tem um significado muito especial no mundo bruxo, o que supostamente, nos dias atuais, é apenas mais uma das inúmeras lendas bruxas. Pelo jeito, ainda é levada a sério – acrescentou com um pouquinho de amargura. - Essa lenda bruxa diz que antigamente os enamorados presenteavam as suas amadas com esta flor, mas que era um costume pouco usado, mesmo naquela época, porque era muito mais que dar e receber flores. Era um privilégio e ao mesmo tempo uma espécie de contrato. Era, ainda é - e por isso tão raro agora -, a maior declaração que um homem poderia oferecer a uma mulher, Harry... – ela acrescentou.


-Então Ron achou...?


Eu realmente deveria ter continuado com o “não é nada”.


Harry se encontrava tão espantado... Até, eu diria, sem jeito. Provavelmente culpando-se pelo que causara a minha relação com Ron. Relação... Veja só.


A morena assentiu. – Ron acha que você me jurou amor eterno. Oferecendo-o a mim. Assim como declarando que eu era seu amor verdadeiro. E único. E que, se eu aceitasse esta florzinha, como o fiz, eu estava recebendo seu amor. Para sempre. Sem direito a retorno. Ele acredita que estamos fadados a um amor eterno. Poético. E sinistramente adorável, convenhamos...


E como assim ‘sem direito a retorno’?! Todos têm direito a segundas chances!


Eu não tinha uma fala certa para isso. O que eu poderia dizer? Ao olhar a minha volta, me dava conta de que não era apenas Ron quem acreditava que tinha dado, junto à flor, meu amor para Hermione e que, ao receber a flor, a própria Hermione me oferecia o dela...


-Eu... eu sinto muito, Hermione – o moreno disse, quando tornou a encontrar sua fala. – Eu não teria feito se--


Hermione o interrompeu ao erguer uma das mãos. – Obviamente que não faria, Harry. Eu sei. Não tem problema. Verdade.


O moreno a fitou duvidoso.


Ela o tomou pelo braço, o puxando para longe dos olhos curiosos, refazendo o caminho para o castelo, onde estariam supostamente protegidos.


Logo irão esquecer tudo isso – cochichou, por conta do silêncio que se fazia (que as pessoas faziam) enquanto passavam. – Seremos notícia antiga – acrescentou confiante, quase em mofa.


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(continua)


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N/a²: Espero que se divirtam com mais essa minha divagação! rs.


PS: Não, não desisti das fics já postadas que estão em andamento. Estou caminhando com elas também, mas lentamente é verdade, mas estou.


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Comentários (2)

  • Brunizinha

    Você não tem noção do quanto eu ri, e me deliciei só com esse primeiro cápitulo! :)

    2013-05-15
  • Isis Brito

    E ele doou o amor eterno que ainda nem sabe que tem... *-*

    2011-12-04
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