Reforço



A atenção do salão era voltada apenas e unicamente para o imponente Alvo Dumbledore. Seus olhos antes tão furtivos e poderosos esbanjavam agora um luto silencioso. Os dedos velhos repousavam sobre o “palanque” que muitas vezes usara para discursara para os novos alunos e trazer boas novas, porém, naquele instante, nem mesmo aquelas lembranças serviam de consolo.

- Caros alunos de Hogwarts... – Começou em alto e bom tom. Seus olhos miravam todas as mesas, amargo. – Creio que os jornais desta manhã carregam a noticia que desejo abordar, entretanto, antes de começar, gostaria de pedir calma e paciência de todos. Não fiquem em pânico, porque Hogwarts é um lugar seguro, tão quanto o próprio ministério pode vir a ser. Meu intuito não é preocupá-los, e sim, desejar que vocês estejam cientes da situação que envolve o mundo bruxo e vampírico.
“Durante muito tempo, a sociedade dos vampiros se manteve silenciosa. Não existem relatos de ataques fatais de vampiros aos humanos desde 12 de janeiro de 1567, quando um trio de vampiros torturou e assassinou um homem chamado Freiner Barbman. Desde então, o ministério proibiu terminantemente qualquer ataque que pudesse levar alguém a morte... Os vampiros foram então excluídos da sociedade, porque eram perigosos e assassinos.”

Dumbledore fez uma pausa e lançou um olhar particular para Harry. O vampiro-bruxo sentiu um frio na barriga. Seria possível que o diretor tivesse algum preconceito contra vampiros, mesmo que pequeno? Até o momento ele não demonstrara nenhum problema quanto à nova condição de Harry. “O que ele está falando é errado... Eu e Ângela matam-... Digo, caçamos aqueles bandidos!” Refletiu Harry. “Porque Dumbledore está mentindo? Sem contar que muitos outros vampiros deveriam ter matado humanos com o decorrer do tempo. A menos que exista algum tratado que permita atacar apenas algum tipo de pessoa... Mas ainda sim é errado.”

- É possível que muitos conhecessem existência deles apenas agora, quando as manchetes começaram a passar as noticias pelo jornal. Porque, devido às rígidas leis, raros foram os vampiros que se alimentaram de sangue humano. Levando a espécie a um isolamento. Até pouco tempo, esse isolamento funcionou e o controle se manteve forte. Mas isso está mudando... E a prova principal foi o incidente de ontem à noite. Londres foi atacada durante um show de bandas trouxas. Muitos inocentes foram mortos indevidamente pela irresponsabilidade do ministério. Não podemos negar que a culpa disso tenha sido dos vampiros por se rebelarem de forma tão violenta, mas o ministério também burlou as próprias leis ao negligenciar com as vidas inocentes.
“Não temos um tempo determinado para o final deste impasse, portanto irei repetir: Os alunos de Hogwarts estarão terminantemente proibidos de sair da escola. Não haverá visitas a Hogsmead e as idas para a casa no natal também serão canceladas. Os alunos que desejarem ir para a casa deverão enviar uma carta ao ministério pedindo escolta e proteção.”

Murmúrios e exclamações infestaram rapidamente todo o salão. Medo e receio estampavam-se nas faces dos alunos. Dumbledore levantou a mão direita espalmada e todos se calaram relutantes.

- Acalmem-se, eu ainda não terminei. Diante deste problema, resolvi tomar as devidas precauções. Haverá uma inclusão de duas aulas de DCAV por dia durante a semana e o sábado será preenchido com treinos ordenados pelos professores. – Murmúrios de reclamação foram calados muito antes de começarem. – Para manter o rígido horário, pedi o auxílio de mais quatro professores. No momento eles não estão, mas vocês os conhecerão no decorrer das aulas noturnas.

Um aluno de cabelos negros e tipo magro da corvinal ergueu a mão bem alto. Dumbledore contemplou-o prolongadamente.

- Sim?

- O ministério aprova o que o senhor está fazendo? – Indagou o garoto, constrangido com as centenas de olhares que fixavam em si.

- Acho que o ministério está preocupado com outras coisas nesse momento, Sr. Smith, que não incluem a sua segurança. – A resposta do diretor fora mais do que suficiente.

Três alunos, da grifinória, lufa-lufa e sonserina ergueram as mãos. Dumbledore ajustou os óculos com a ponta do dedo indicador velho.

- Antes que prossigam com as perguntas, eu gostaria de deixar claro que o campeonato de Quadribol também continuará cancelado. Minha idéia quanto a isso não mudou. – Os alunos que ergueram as mãos, respectivos atacantes de suas casas, fizeram cara descontente. Outras mãos, talvez umas vinte, ergueram-se instantaneamente. – Qualquer outra dúvida vocês poderão retirar com os professores de DCAV. Para finalizar, eu gostaria de alertar que após as aulas noturnas, qualquer aluno que seja pego vagando pelos corredores terá a devida punição elaborada pelo Sr. Finch.

Alguns olhares encontraram com a expressão satisfeita de Finch, encostado na porta do salão principal com os braços cruzados. Sua temida e odiada gata retribuía os olhares desafiadoramente.

- Agora, prossigam com seus cafés. Já tomei muito tempo precioso...

E antes que pudessem falar qualquer coisa, o diretor deu as costas e rumou para a saída, ao invés de sentar-se com os outros professores para o café. Harry achou o diretor muito cansado e abatido. A conversa alta iniciou-se em seguida. Harry, Rony e Hermione trocaram um olhar significativo.

- Dumbledore endoidou... Ele acha que vamos comer depois de ouvir isso!

- Os vampiros foram longe demais. – Disse Mione, por fim. Sua voz fora quase abafada pela conversa alta.

- Eu não estou ouvindo... – Ponderou Rony apontando para os ouvidos.

Harry olhou para a comida sobre a mesa e o pão que deixara pela metade. A vontade de comer morria lentamente... Não desejava mais os deliciosos pratos feitos pelos elfos domésticos. Sua única e maior vontade se voltava para o sangue delicioso, morno e fresco. Antes que pudesse mergulhar naqueles pensamentos mórbidos, apanhou um sonho de amora-do-penhasco, que tinha a cor azul, e enfiou na boca. Mastigou sem muita vontade enquanto processava os acontecimentos dos últimos dias e também as novas informações. Estava na hora do jogo virar... Precisava fazer alguma coisa para ajudar os trouxas e os bruxos. Mesmo que muitos não merecessem a ajuda, como Rufus, ainda tinha gente que prestava.

Repentinamente uma idéia veio-lhe a mente. Largou o sonho azul e levantou.

- Aonde você vai? – Perguntou Hermione bebericando o suco de abóbora. Uma preocupação profunda assolava seu semblante.

- Venham comigo.

- Mas... Harry! O que você... Ei! – Rony fitou o amigo se afastar.

Juntou dois sonhos de amora-do-penhasco e uma fatia de bolo de aveia-marinha. Não sentia muita fome, mas sabia que se ficasse sem comer, não suportaria passar o dia inteiro normalmente. Mione acompanhou-o com um pouco de dificuldade. Outra hora, os alunos teriam notado o trio saindo do salão, mas agora, quando a suas vidas e as de suas famílias estavam em risco, nada mais importava.


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O corujal não era o melhor lugar para se conversar, ainda mais quando se estava cheio de corujas. Hermione e Rony fitavam o amigo vampiro após ouvirem a história do que acontecera na noite em que Harry fora levado para seu “treinamento”. Após ansiarem por tanto tempo saber o que se sucedera, eles não sabiam o que dizer ao certo. Hermione estava pasma e irritada, Já Rony parecia um pouco mais animado, apesar da noticia da morte de Firenze ainda lhes trazerem algum pesar.

- Essa Ângela é louca! – Exclamou a Granger, furiosa. – Como ela pode colocar você na floresta proibida? E sozinho?

- Então você venceu eles? Você acabou com todos eles? – Questionou Rony incrédulo. – Você é incrível, Harry!

- Eu teria morrido se não fosse por Firenze... Não sou tão incrível assim. – Resmungou o vampiro entristecido. – De qualquer jeito, não é somente sobre isso que pedi que viessem aqui.

- Foi porque então?

- Falar sobre o que Dumbledore disse hoje. – Harry analisou um apinhado de corujas que dormiam lado-alado. – Eu sou um vampiro agora! Mesmo que transformado e não-puro. Eu prezo a minha “nova espécie”, mas não podemos deixar que isso continue. Os vampiros não podem matar inocentes quando quem deveriam estar atacando é o ministério!

- Você está certo... Mas pretende fazer o que? – Rony arreganhou o cenho, coçando a cabeça.

- Espere, Harry... Pense bem no que está dizendo! Você pode ser um vampiro forte, mas ainda é Harry Potter, o bruxo! Está bem que você venceu Voldemort, mas nós estamos tratando de alguém muito mais forte do que ele! – Ponderou Hermione preocupada. – E além do mais... Você não pode fazer nada sozinho.

- Eu sei que não, por isso chamei vocês aqui. – Disse Harry encarando os amigos. – Anteriormente eu estaria pedindo para vocês não se envolverem... Mas agora vejo que juntos conseguiremos chegar mais longe. Não quero que vocês tomem a responsabilidade dessa luta, apenas que me ajudem. Eu irei tratar de acabar com isso.

- Certo, certo... A idéia está ótima até a parte em que ajudamos você. – Concordou o Wesley. – Mas... Tem certeza de que é isso mesmo que quer?

- Você não é responsável pela humanidade, Harry... – Tachou Hermione com a boca entreaberta. – Deixe que os outros façam isso...

- Sim, Rony. Acha que alguém mais vai ajudar? Rufus, o ministro da magia, está mais preocupado com aparências do que a segurança dos bruxos! Dumbledore é forte, mas não pode contra aquele que até mesmo Voldemort teme! Aquele tal de Mr. Avada está mais para o lado dos vampiros do que o nosso... Nem querendo ele teria capacidade para ajudar. – Defendeu-se Harry. A irritação e a raiva cintilavam em seus olhos verdes. – Se esperarmos por algo, iremos morrer... Todos irão morrer.

- Mas, Harry...

- Entenda, Mione... Harry vai fazer isso com a nossa ajuda ou sem a nossa. – Concluiu o Wesley. – Nós somos amigos dele... E é nosso dever ajuda-lo. Eu estou com Harry. E você?

Harry lançou um olhar agradecido para Rony. Hermione fitou a dupla de amigos incrédula. Tinha perdido o irmão para vampiros... E agora perderia os amigos também? Não, não iria aceitar. Abriu a boca duas, três vezes, mas não conseguiu falar. Então, deu-lhes as costas e saiu do corujal batendo pé. Rony pôs a mão sobre o ombro do amigo.

- Não se preocupe... Ela voltará. Sabe que precisamos dela... E ela precisa de nós.

- Não sei se colocar vocês nisso foi certo... – Murmurou Harry baixando levemente o rosto e comprimindo o rosto nas mãos.

- Foi mais do que certo. Nós estamos contigo. – Rony sorriu de canto. Estava com medo, mas não queria deixar transparecer. – Já sabe o que fazer?

Uma coruja piou sonoramente quando viu outra chegar com um rato na boca. Houve uma pausa em que ambos os amigos aproveitaram o silêncio. Eram suas vidas que estavam em jogo... As suas e a de todos.

- Sim, estive pensando a respeito disso por bastante tempo. E a primeira coisa que faremos será falar com Alberon.

- O vampiro... O vampiro vampirão? – Questionou Rony pasmo, afastando alguns passos.

- Sim, o vampiro que está tramando isso.

- Sabe aonde ele está? Porque o ministério ainda não encontrou a localização do covil...

- Sim. – Assentiu o vampiro-bruxo. – Eu já estive lá uma vez. Me lembraria facilmente do caminho... Você não precisa ir se não quiser.

Rony gaguejou um pouco, mas se manteve firme no final.

- Clã-Claro que eu vou! Você não ouviu o que eu acabei de dizer? Só estou com um pouco de medo... É perigoso...

- Sim, infelizmente é. Mas se Alberon se diz tão forte, também tem seus princípios. – Harry cruzou os braços. Estava com um ar mais maduro, diferente. Até um pouco mais ousado. – Preciso conversar com ele.. Saber o que realmente quer. Há de existir alguma forma de fazermos algo sem derramar mais sangue. Se não...

- Se não o que? – Rony sabia a resposta, mas temia dize-la ou sequer pensar nela.

- Teremos que aderir a guerra e lutar pelo bem. Nesse caso, saberemos que Alberon quer vingança e é ruim, tão ruim quando Voldemort. Não é possível que o mal continue ganhando dessa forma...

Rony assentiu positivamente.

- Quando faremos isso?

- Amanhã à noite. Iremos só eu e você... Melhor Hermione ficar em Hogwarts e não saber a respeito disso. – Harry ficou satisfeito ao ver que Rony concordava. – Usaremos a rede de pó de Flú que a Ângela está usando. Antes de vir para o Salão, passei por sua sala e vi que a lareira ainda tinha os resquícios do pó... É assim que ela está saindo de Hogwarts e voltando para o covil de Alberon. Eu te aviso quando estivermos nos períodos noturnos sobre o horário.

Apesar do receio, Rony queria demonstrar a mesma coragem e bravura de Harry. Os dois saíram do corujal em silêncio, guardando as palavras para os próprios pensamentos. Ir ao encontro de Alberon era perigoso... E Gina estava disposta a ir junto. Quando os dois sumiram de vista, ela saiu de trás da estatua de um cavalo e seu cavalheiro, cuja lâmina da espada roçava no teto. “Eu vou com vocês... Não posso deixar Harry sozinho nessa.” Pensou tomada por uma injeção de bravura. Seja o monstro que Alberon for, ele não será capaz de segurar a astúcia e força da pequena Wesley apaixonada.

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