Mudanças, não!
- O QUE!?!?!?!?!?!!? – Exclamaram Harry, Gina, Hermione e Neville ao mesmo tempo.
Hermione empalideceu e desmaiou, sendo acudida por Gina que estava mais próxima. Rony respirava fundo, apoiando a mão na parte de madeira da porta. A blusa empapada de sangue misturava-se com o suor, pingando no chão. Harry avançou sobre Rony, sacudindo-lhe pelos ombros. Mr. Avada observava com a sobrancelha semi-arqueada, crispando levemente o lábio inferior.
- Quem, Rony!? – Perguntou Harry, uma gota de suor desceu da testa até o queixo. – Quem está morto?
Rony ainda não conseguia falar, os olhos arregalados de medo. Parecia que iria entrar em colapso e desmaiar, porém começou a rir. Ria descontroladamente, encostando-se na parede da cabine e deslizando até o chão.
- Eles! Eles estão mortos! – Repetiu o ruivo, o nervosismo era eminente.
Harry não entendia o que o amigo dizia, por isso o agarrou pela gola da blusa e levantou-o no ar, prensando contra a parede.
- Quem Rony!? QUEM? – Falou mais alto dessa vez.
- Ora quem, que dúvida, vampiro-mirim. – Comentou Mr. Avada, lixando as unhas, entediado.
O vampiro-bruxo queria saltar sobre o desgraçado e matar-lhe de tanta porrada, mas conteve-se.
- Os vampiros. – Disse Rony, abraçando Harry com força. – A ajuda chegou a tempo! Eu estava, eu estava quase morrendo! O vampiro iria me cortar ao meio se não fosse a ajuda...
Harry não sabia se chorava, ria ou batia em Rony por ter lhe dado um susto tão grande. Hermione acordava do desmaio no momento, e Gina respirava alivia por saber que estavam finalmente salvos.
- O que você esperava? – Mr. Avada passava entre eles agora, seguindo para a frente do expresso. – Não acredito que você é o bruxo que sobreviveu ao Voldemort. Se não fosse por mim, teria virado jantar de sanguessuga. Deveria me agradecer, vampiro de meia tigela. Ou melhor, você não é diferente desses que acabaram de ser mortos. Tenha um bom dia, madames e... Cuide-se, Mr. Potter, ou será vítima da própria espécie.
Mr. Avada levou a mão até o interior do sobretudo e retirou uma rosa vermelha e cheirosa, e atirou no chão. A flor penetrou o chão metálico e deixou que uma pétala caísse silenciosa. Harry rosnava baixinho, apertando o braço de Rony, que protestava de volta e era ignorado. O “salvador” passou pela porta de onde viera Rony e sumiu de vista.
- Quem é esse homem idiota? – Indignou-se Harry, focando Mione e Gina.
- Não importa! Pelo menos ele salvou a sua vida. Nem você foi capaz de se defender! – Ralhou Hermione, levantando com a ajuda de Gina e dando-lhe as costas. – Vamos Gina, Rony, Neville. Temos que falar com os professores. Precisamos saber como ficou as coisas lá na frente.
- A culpa não é minha! – Disse Harry, finalmente largando o braço de Rony e ficando diante da amiga. – Isso é novo para mim...
- Então deveria começar a se preocupar em modificar as coisas. Ou estaremos com muitos problemas. – Respondeu a garota, secamente. Deu-lhe as costas e saiu.
Gina deu uma olhadela para trás e deu de ombros. Rony o olhou com pena, suspirou e tentou falar, mas Harry pediu que ficasse quieto com a mão. Percebendo que o amigo precisava ficar só, o Weasley acompanhou a dupla de garotas.
- Você foi severa demais com ele, Hermione! – Falou Gina, passando pelo corredor do penúltimo vagão.
Os materiais jaziam jogados no chão junto com roupas e algumas gotas de sangue. Os cacos de vidro reluziam a luz piscante das lâmpadas mágicas. Hermione abaixou levemente o olhar, mais adiante já apareciam os primeiros alunos apinhados para saírem do vagão.
- É o melhor para ele, Gina. Ele não é mais um bruxo por completo e precisa adaptar-se com a mudança. Se não fosse pela chegada de Mr. Avada, Harry estaria morto.
Nesse momento, uma mulher alta e esguia passou pelo trio. Rony e Neville impressionaram-se com a beleza da mulher, seguindo-a com o olhar. Hermione repreendera Rony com um tapa no braço, arrancando risinhos de Gina. A vampira sequer olhou para os bruxos que iam para frente. Ângela acabara de passar por Mr. Avada e este lhe fizera comentários sarcásticos sobre Harry. Desde o princípio havia embarcado no expresso, mas preferira não aparecer e também não chamar a atenção. Dumbledore pedira isso, mas acabara quebrando as regras de sua própria espécie para ajudar os alunos, atacando outros vampiros.
Havia demorado muito tempo para abater os vampiros, ao contrário dos que apareciam por trás, aqueles que vieram atacar eram bruxos-vampiros como Harry. Inexperientes, é claro, mas mesmo assim fatais. Empurrou a porta do último vagão com força, deparando-se com Harry sentado no chão. Este chorava baixinho, abraçado entre as pernas.
- Harry? – Perguntou ela, preocupando-se com o garoto. – Você está bem?
No mesmo momento Harry reconheceu a voz de Ângela. Virou o rosto em sua direção e secou as lágrimas por baixo dos óculos, estes não eram mais de grau, não necessitava mais daquilo, mas preferira usar apenas como disfarce para não atrair atenção. Mesmo abalado com o acontecimento, Harry sentiu o coração disparar. As bochechas ficaram levemente avermelhadas e uma sensação de aconchego invadiu seu peito.
- Ângela! – Harry queria abraça-la e dizer “que bom que está aqui”, mas preferiu ignorar o sentimento.
- Estive procurando você, fiquei preocupada. Depois do nosso último encontro estive com problemas e não pude lhe visitar. – A vampira aproximou-se dele, erguendo a mão ajuda-lo a levantar. – Vamos, temos problemas.
- Problemas? Que tipo de problemas? – Ele não aceitou a ajuda dela, preferindo levantar-se sozinho e provar que ainda tinha, pelo menos, um pingo de orgulho. Esfregou as vestes e parou diante dela. – Rony disse que todos os vampiros estavam mortos.
- E estão. – Ela seguia pelo corredor, guiando-o no meio da sujeira e restos de degradação. – Mas a ajuda não chegou a tempo e nós também não pudemos fazer nada. Três alunos foram mortos. – Nesse instante a barriga de Harry dera um embrulho. – E isso não teve haver com Alberon. Apesar dele ser insano, não seria a chegar a este ponto. Ele não ataca fracos, quem dirá um expresso cheio de crianças. Mr. Avada e cia mataram todos os vampiros e não temos condições de saber de onde vieram.
- A minha cicatriz. – Harry passou a mão na testa, sobre a cicatriz. – Ela doeu na hora do ataque. E toda a vez que isso acontece, Voldemort está metido no meio.
Ângela apertara o passo, abrindo outra porta de passagem. O vagão seguinte estava pior e mais destruído, repleto de queimaduras e sujeira. Lá fora Harry percebia a fileira de alunos apavorados que se formava. Voltou a atenção para a vampira que lhe salvara a vida. Ela tinha um andar elegante, os cabelos eram com movimento e brilho. Seus olhos azuis eram penetrantes e ávidos, enxergando até a alma do indivíduo.
- Esses vampiros eram inexperientes. Tenho a impressão de que foram contratados, alguém lhes daria a vida eterna se cumprissem a missão de exterminar os alunos. Dumbledore não se preocupou com o ataque de Alberon pois... – Ela calou-se um tempo, mudando completamente de assunto. – De qualquer forma, o problema maior agora é você.
Harry tanto percebeu a gafe de Ângela quando surpreendeu-se com o que ela falou.
- Eu?
- Sim. Você é fraco demais, qualquer vampiro com menor tamanho do que você conseguiria lhe matar, como foi o caso. Você, Harry, será a chave para a sobrevivência de nossa espécie.
Finalmente chegaram ao primeiro vagão, este estava totalmente destruído. O teto degradado e as janelas partidas. O chão estava com mescla de queimado, congelado e, principalmente, machado de sangue. Harry engoliu a seco, coçando a cabeça. Desceram pelo que restara das portas de entrada. Uma brisa fresca acertou o rosto de Harry, misturando-se com a fina garoa que descia do céu.
Os alunos amontoavam-se sobre um toldo preto invocado por McGonagall. Rony e Hermione não estavam a vista, no mínimo acalmavam os outros. A grama alta e úmida entrava por baixo da calça, tocando-lhe as pernas e causando-lhe um frio desconfortante. Harry via, no rosto dos alunos, medo, pavor e receio. Alguns estavam feridos e aguardavam a ajuda médica que em breve chegaria. Mais afastado dos alunos, um pequeno grupo de estranhos vestidos de roxo conversava animadamente. Eram cerca de sete aparentes bruxos.
- Antes que pergunte, por mais que não pareça, são o nosso reforço. – Disse Ângela, seguindo para a frente do expresso e afastando-se do movimento. – Vamos, você precisa ver isso. Dumbledore pode não gostar, mas é isso que começara a ver daqui em diante. – A voz de Ângela era mais fria, rude. – Muitas coisas mudaram.
A dupla passou pela parte frontal. Estava intacta até a vidraça, que estava partida e queimada. Uma fina fumaça era emanada do trem, misturando-se às baforadas de vento. O bruxo não tinha idéia do que lhe aguardara, e assim que chegara ao outro lado, caira de joelhos e vomitara. As mãos tremiam junto as pernas. Romulus estava lá também e conversava com um dos homens de roxo.
Preso a lataria do lado, havia três pessoas. Três alunos de Hogwarts: Um do primeiro ano, um do terceiro e uma do quinto. Estavam presos por bastões de metal azul com símbolos estranhos entalhados. O sangue manchava as roupas e escorria pelo canto das bocas. O bruxo do terceiro ano era o pior, com o rosto repleto de cortes e um pedaço das pernas queimadas. Os outros dois jaziam em posições em pé, com o bastão fincado nos estômagos.
- ÂNGELA! Não deveria trazer Harry aqui! – Repreendeu o Lupino, correndo até Harry.
- Calado, Romulus. – A frieza com que Ângela tratara Romulus o assustara. Esta desferiu um tapa em Romulus, afastando de Harry. – A partir de agora Harry não terá mais regalias. Essa é uma verdade e deve ser revalada. Ele não é aquele que sobreviveu? Não é o herói da pedra filosofal? Salvador de vidas?
- Como você ousa...
- Eu não terminei de falar. – Cortou-o Ângela, olhando ferinamente para Romulus. – Harry quase morreu hoje. Mostrou-se fraco demais. Dumbledore deixou-o a meus cuidados e eu vou ensina-lo como eu acho que deve ser.
Harry não parava de lembrar da cena dos três alunos, e olha que já vira de tudo na vida. Levantou cambaleante e secou o canto da boca com a manga das vestes pretas. A chuva tornou-se mais intensa, molhando o rosto. Fitou Ângela e Romulus discutindo. A visão turvava e os sentidos apagavam-se, quando deu por si, caia pesadamente no chão. Lentamente perdia os sentidos, desmaiando.
- Harry! – Exclamou Romulus, segurando o bruxo nos braços. – Olha o que você fez...
Ângela não gostava de ser paciente com lobisomens, mas aquele era um caso especial.
- Junte-o com os feridos. A ajuda está chegando, a luta está començando Romulus. Não temos tempo nem chance se continuarmos assim. Três alunos morreram hoje e muitos mais morrerão se permitirmos. Harry é a nossa solução e por mais difícil que seja para ele, esse é o destino que lhe foi reservado. Agora, vamos, temos alunos para acalmar.
Romulus tinha dificuldade em erguer o garoto. Diferente de Ângela que agarrou Harry e depositou no próprio ombro, carregando-o como se não passasse de um saco pequeno de batatas. Lá no alto, um grupo de bruxos vinha em suas vassouras. Outros aparatavam próximo ao expresso, carregando malas e utensílios médicos. Não demorou para que Dumbledore marcar presença. A noite seria inesquecível, e não chegava nem perto de terminar.
Mal sabia Harry que o destino lhe reservava muito mais do que isso. Preso nos sonhos, o pesadelo logo começaria. E você, vai querer estar na primeira fila para ver?
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