Segredos
Quando o trem chegou ao seu destino, Hermione olhou através da janela embaçada e viu que ao lado de fora, próximo a entrada de Hogwarts, havia inúmeras carruagens a espera dos alunos.
- Oi pessoal, - disse Gina aparecendo de repente – vamos descer?
- Sim! – respondeu Harry levantando-se agilmente e postando-se ao lado da garota.
- É, vamos lá então... – concordou Rony.
- Mas e aquilo que você tinha perdido na cabine, Rony? – perguntou Harry – Melhor procurar agora!
- O que? – retrucou Rony, confuso – Não me lembro de ter perdido nada, Harry.
A verdade era que Rony não havia perdido nada, só que Harry, que começara a gostar de Gina desde antes do feriado de Natal, queria ficar um pouco a sós com ela, sem, principalmente, a presença do irmão. Hermione, que era mais esperta do que os dois, logo percebera o que estava acontecendo e resolvera ajudar o amigo.
- Eu te ajudo a procurar, Rony. - disse Hermione - Podem ir vocês dois, a gente se encontra depois.
- Ótimo! – respondeu Harry satisfeito. Ele lançou um olhar de agradecimento à amiga e então foi embora com Gina.
- Hermione, eu juro que não me lembro de ter perdido nada, então eu não sei o que temos que procurar. E agora?
A garota não conteve o riso. Rony olhou interrogativamente para ela e então os dois começaram a procurar algo que simplesmente não existia. Era tão fácil enrolar aquele ruivo!
Passaram-se poucas horas e todos já estavam acomodados em suas mesas, aguardando pelas palavras de Dumbledore e pelo jantar de abertura do ano letivo. Na mesa da Grifinória, Fred e Jorge faziam comentários engraçados, causando risadas por boa parte dos alunos. Quando Dumbledore pediu a atenção por alguns instantes, todos cessaram o riso no mesmo segundo. O diretor deu as boas vindas a todos e comentou sobre algumas mudanças em relação aos horários e aulas no geral. Apresentou Olho-Tonto Moody, o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas e também respeitado e temido auror. Após dar o seu habitual discurso de início de ano, Dumbledore fitou misteriosamente os alunos por alguns segundos e então disse que tinha um comunicado muito importante a dar. Todos ficaram no mais completo silêncio, e, quando o diretor pronunciou a palavra Dementadores, o medo se alastrou pelo ar. Tentando amenizar a situação, ele explicou que naquele ano, a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts seria protegida por Dementadores devido a questões de segurança. Como todos sabiam, o assassino Sirius Black estava a solta e Hogwarts precisava se precaver para o caso de uma possível visita. O diretor não entrara em detalhes, mas Rony havia contado a Hermione sobre a conversa de Harry e o Sr. Weasley, de modo que ela sabia muito bem que todos corriam perigo, já que o que o Sirius Black realmente queria era por as mãos em Harry. Rony disse que não sabia o porquê de o assassino querer Harry, mas Hermione já estava decidida a descobrir.
- Está tudo bem, Harry? – perguntou ela, preocupada com o amigo.
Ele não respondeu. A apreensão estava perdida em seu olhar vazio e Hermione e Rony se entreolharam preocupados.
No salão comunal da Grifinória, Hermione estava um tanto inquieta. Não conseguia esquecer a última frase de sua mãe durante a estranha conversa daquela noite: “Já fazem doze anos, quem dirá se a tal mulher ainda quer conhecê-la.” Que mulher? Ela se perguntava confusa. Apesar do quebra-cabeça que estava sua cabeça, a garota se mantinha a mesma de sempre em frente a seus amigos. Harry decididamente não estava em uma condição melhor do que a dela. Como deveria ser dormir sabendo que há um assassino atrás de você? Ela não conseguia imaginar. Rony se esforçava para tentar animar o amigo e fazê-lo esquecer um pouco dessa história, mas não era fácil. Já Hermione tentava deixar de lado suas angústias, pois sabia que elas não iriam mudar nada. A garota só possuía as perguntas e não havia jeito de se obter as respostas. Só seus pais tinham o que ela queria e questioná-los não era uma opção. Ela não iria colocar em risco o respeito que existia entre eles, por mais que aquela conversa dizesse respeito a ela.
- E aí dona Hermione? – disse Gina, afundando no sofá ao seu lado.
- Oi Gina, - respondeu – como estão as coisas?
- Estão na mesma e você? Parece um pouco abatida, amiga.
- É só impressão, estou bem.
- Olha só, eu queria te perguntar uma coisa... – confidenciou a ruiva.
- Pode falar!
- Bem, você não acha que o Harry está agindo, sei lá, diferente?
- Diferente como?
- Eu não sei explicar direito! Tipo, volta e meia ele tenta vir puxar assunto comigo... Ele não era assim antes, sabe?
- E isso é ruim?
- Não, pelo contrário! É por isso que eu estou estranhando.
- Bom, eu acho que você não deveria se preocupar muito com isso e só aproveitar esse novo Harry.
- É, quem sabe... Mas é que eu fico me perguntando se ele não está escondendo algo de mim, quem sabe um segredo. Será que eu não deveria perguntar pra ele?
Segredo. Parecia que por mais que Hermione tentasse fugir, a conversa daquela noite continuava a retornar para ela. Segredos, segredos, segredos. Será que ela conseguiria conviver com essa história mal acabada? E se fosse algo importante sobre o seu passado? E se fosse algo que vá afetar diretamente o seu futuro? Ela era uma bruxa filha de trouxas, poderia ter muito mistério por aí. Hermione já estava começando a enlouquecer. Seus pais nunca esconderiam algo que fosse prejudicá-la, algo que fosse muito importante. Ou será que esconderiam? Havia medo na voz de sua mãe naquela noite. Medo do que? De quem?
- Hermione? – a voz de Gina ecoou em sua cabeça.
- O que? – retrucou, confusa.
- Você ficou olhando para o nada igual a um fantasma por uns cinco segundos. Está tudo bem?
- Sim.
- Eu vou perguntar de novo, está mesmo tudo bem? - A amiga parecia sinceramente preocupada e Hermione não estava mais conseguindo guardar tudo aquilo para ela.
- Gina, - ela hesitou – isso está me matando!
- O que está te matando? Você sabe que pode me falar qualquer coisa!
- Eu... Eu ouvi uma conversa entre os meus pais que eu não deveria ter ouvido e era algo sobre mim! – começou – Eu não entendi absolutamente nada, mas preciso saber do que se trata. Não sei o que fazer!
- Sem chance de perguntar aos seus pais sobre o que eles estavam falando?
- Não, eu não posso fazer isso.
- Mas você ouviu toda a conversa e mesmo assim não se familiarizou com nada? Quer dizer, tudo que eles falaram é um completo desconhecido para você?
- Eu ouvi só o final da conversa, na verdade.
Gina pensou por um momento e então disse:
- Olha Hermione, eu queria mesmo poder ajudar, mas eu mal consigo descobrir o que Harry está escondendo de mim, acho que eu não vou conseguir ajudar a descobrir o que seus pais estão escondendo de você. Se pelo menos você tivesse escutado toda a conversa, quem sabe eles não estavam falando de nada tão sério como você está pensando.
E foi então que Hermione soube o que precisava fazer. Ela iria acordar cedo no dia seguinte, e, por mais que fosse desagradável, teria que subir até o topo da torre do norte e ir conversar com Sibila Trelawney. Gina havia sido útil no final das contas.
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