O Embarque
“Como era possível uma mulher matar com tanta facilidade? Tamanha crueldade não poderia ser normal. Nos tempos de glória do Lorde das Trevas, fora sua fiel seguidora e parecia ser até hoje. Voldemort estava morto, mas ainda havia devoção por ele percorrendo suas veias. Seu olhar era repugnante, assim como a cela onde se encontrava. Havia outros bruxos e bruxas a sua volta. Ninguém chegava muito perto dela por medo. Todos sabiam do que ela era capaz. Já havia liquidado muitos: homens, mulheres, idosos, crianças. Não importava se eram bruxos ou trouxas, a única coisa que importava era a sua sede de usar sua varinha para o mal. Hermione observava de longe a bruxa e sentia pena e ódio dela ao mesmo tempo. No fundo, aquela deveria ser uma mulher realmente infeliz, porém seus crimes faziam com que ela não tivesse mais volta nem salvação. Estava condenada. Ela e sua alma, perdidas para sempre, e não havia nada que Hermione pudesse fazer.”
O dia amanhecera magnificamente e enquanto Hermione ia lentamente acordando e se espreguiçando, a Sra. Granger abria graciosamente as cortinas para deixar a luz da manhã penetrar no quarto.
- Bom dia querida!
- Bom dia mamãe, que horas são? – perguntou, sonolenta.
- Hora de acordar! O café está na mesa, suas malas na sala e o trem a sua espera. Garanto que deve estar ansiosa em retornar.
- É, estou. - respondeu.
- Tenho certeza que sim. – Marta Granger deu um sorriso cauteloso para a filha e sentou-se na cama ao lado dela – Nós sentiremos sua falta.
- Eu também, mamãe.
- Olha Hermione, eu preciso te perguntar uma coisa. - disse hesitante - Você por acaso estava escutando eu e seu pai conversando ontem à noite?
Hermione pensou que não haveria melhor momento para questionar sua mãe sobre o que, de fato, era a conversa de ontem. Ela estava prestes a começar quando Marta Granger a interrompeu.
- Sabe, eu e seu pai sempre respeitamos a sua privacidade. Não gostamos de forçá-la a dizer mais do que gostaria sobre este novo mundo que está vivendo. Nós entendemos. Eu sinceramente odiaria ter que começar a fechar a porta para conversar a sós com seu pai, porque a minha filha de 14 pode estar nos escutando. Nós lhe damos todo o respeito do mundo e queremos o mesmo em troca. Agora minha filha, me diga a verdade. Você estava nos escutando ontem a noite?
Hermione estava com todas as suas perguntas na ponta da língua, mas teve que guardá-las para si novamente. Sua mãe estava certa e por mais que a garota estivesse desconfiada, confusa e angustiada com o que escutara, decepcionar seus pais não valeria a pena por nada nesse mundo. Era melhor fingir que nada acontecera.
- Não sei do que você está falando, mamãe. - respondeu enfim.
- Mesmo?
- Sim, não se preocupe.
- Está bem então, - disse Marta Granger, aliviada - estamos te esperando lá em baixo.
Ela deu um beijo na testa da filha e então foi embora. Hermione ficou alguns minutos na cama, refletindo. Ela havia tido um sonho estranho naquela noite, o qual a deixara um tanto intrigada, já que não costumava sonhar muito. Era como se durante o dia o seu cérebro trabalhasse sempre a máxima potência para a noite descarregar por completo. O resultado era noites sempre tranquilas e relaxantes. No entanto, aquela havia sido bem diferente. Uma mulher perversa invadira os seus sonhos e tomara seu coração de tristezas e inseguranças. Hermione percebeu que não levaria a nada ficar pensando em sonhos estranhos. Ela havia acabado de mentir para sua mãe e isso não estava lhe agradando nem um pouco, por mais que não tivesse opção.
O café da manhã fora muito agradável. Embora Hermione fosse mais inteligente do que o normal e seus pais muitas vezes não conseguissem acompanhar seus raciocínios durante as conversas, ela gostava muito de estar com eles. A garota sabia que os dois sentiam a sua falta durante a sua estadia em Hogwarts e isso a culpava, de modo que toda a atenção que pudesse dar a eles era pouca, mas já era algo.
Quando chegaram à estação em Londres, Hermione se despediu carinhosamente de seus dois pais e foi em direção a sua verdadeira estação de embarque. Como de costume, havia uma grande quantidade de pequenos bruxos e bruxas se despedindo de suas famílias. Ela sabia que não era nada comum um casal de trouxas ter um filho com sangue mágico, porém também não era impossível. A garota deveria sentir-se privilegiada, afinal de contas, ela própria era uma raridade e não uma sangue-ruim como Malfoy não a cansava de lembrar. Ao entrar no trem, foi passando de cabine em cabine até finalmente achar Harry e Rony sentados em uma delas.
- Que bom que já estão aqui, – disse - chegaram cedo!
- Não fomos nós que chegamos cedo, foi você quem se atrasou... – comentou Rony com o seu humor de sempre.
- Bom dia pra você também Ronald!
Harry lhe deu um abraço e disse que era bom revê-la, enquanto o ruivo sorriu amigavelmente. Ela sentou no banco em frente a eles e logo já começaram a conversar animadamente.
- Com licença, - disse a Sra. Vendedora de Doces – alguém gostaria de alguma coisa?
- Não, obrigada. – agradeceu Hermione.
- Diga por você! Nós gostaríamos sim, obrigado. – respondeu Rony, gulosamente. Ele e Harry saíram da cabine e foram escolher as guloseimas enquanto Hermione, sabendo que aquilo iria demorar, foi retirando o seu livro da bolsa.
- Saiam da minha frente! – bradava Malfoy aos alunos do primeiro ano que tentavam chegar ao carrinho de doces – Eu acho que a senhora está demorando muito aqui. Já estamos esperando há um século! – disse ele para a vendedora quando conseguiu chegar até ela empurrando a fileira de alunos.
- Acalme-se Sr. Malfoy, - retrucou – não adianta me apressar. Volte para a sua cabine e logo estarei por lá.
- Ouviu Malfoy, - concordou Harry – aprenda a esperar.
- Não se meta Potter, – respondeu Malfoy irritado – ninguém falou com você!
- Você não pode tratar as pessoas assim, - disse Rony – mas acho que isso você não aprende em casa, não é?
- Parem com isso vocês três! – interviu Hermione, a qual largara o seu livro para por um fim àquela discussão idiota. – Ninguém aqui é mais criança.
- A sangue-ruim tem razão, é perda de tempo discutir com vocês dois. – concluiu Malfoy – Mas não se preocupem. Logo vocês terão o que merecem, esperem só para ver!
- Isso foi algum tipo de ameaça? – gritou Rony enquanto Malfoy se esvaía pelas cabines não muito bem iluminadas do trem.
- Obrigada meninos, - agradeceu a Sra. Vendedora de Doces – mas parece que esse Malfoy não tem jeito mesmo. Ele é uma cópia idêntica de seu pai e eu nem quero ver no que isso vai dar.
- Não tem problema, foi um prazer. – disse Harry. Ele e Rony terminaram de escolher seus doces e logo voltaram para a cabine com Hermione.
- Eu particularmente acredito que Malfoy tenha sim, alguma salvação, - comentou a garota – todo mundo sempre tem! Além disso, ele é só mais um filhinho de papai e mamãe. Algum dia vai crescer.
- Você ouviu o que a vendedora disse: ele é igual ao pai. É muito provável que acabe seguindo os mesmos passos de Lúcio Malfoy. - disse Rony - De qualquer forma, eu não me importo se ele tem salvação ou não. O que eu sei é que algum dia eu ainda vou quebrar a cara daquele otário ou pelo menos enfeitiçá-lo, sei lá!
- Isso seria contra os meus princípios, mas eu bem que gostaria de assistir à cena. – Rony e Hermione sorriram. Harry estava absorto em seus pensamentos, de modo que nem prestou muita atenção ao que estava acontecendo a sua volta.
Durante o resto da viagem, Rony e Hermione ficaram conversando sobre meios de aprontar com Malfoy e feitiços que poderiam ser úteis. Harry dava alguma ideia vez ou outra, mas não estava de fato participando da conversa. O garoto havia descoberto a pouco que o assassino Sirius Black estava solto e de que corria perigo. O Sr. Weasley não entrara em detalhes a respeito do assunto, mas tudo o que dissera fora o suficiente para deixá-lo um tanto introspectivo. Harry não tinha medo por ele, mas sim por seus amigos. Não entendia exatamente o porquê de o bruxo querê-lo tanto, mas sabia que ele usaria de tudo para conseguir realizar o seu objetivo.
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