O Convite



Em uma grande casa na Rua dos Alfeneiros, 4, no menor quarto da casa, ­ encontrava-se um rapaz de 17 anos deitando em uma cama ligeiramente menor que ele mesmo, encarando o teto enquanto lágrimas passeavam pelo seu rosto quase sem vida. Todas as perdas que havia tido eram demais pra ele. Seus pais, Moody, Sirius, Alvo, Edwiges, Fred Weasley... Era mais que ele podia aguentar. E, como se não fosse o suficiente, agora, com o sétimo ano concluído na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, fora forçado a continuar morando na casa dos tios, como acontecera desde seu primeiro ano até o décimo primeiro.
Foi ali, pensando em um dos assuntos que ele pensara que jamais se permitira filosofar, que ouviu um berro afeminado quebrar o silêncio que se instalava na casa, exceto pelo barulho da tevê vindo do andar de baixo. Era um berro bastante conhecido - senão, diria que fora tia Petúnia - que Dudiquinho dava quando coisas-que-não-deviam-ser-nomeadas - ou mágicas - aconteciam. Harry enxugou as lágrimas rapidamente com as costas da mão, que estavam cobertas pelo suéter que um dia fora de Duda, saindo do quarto tentando parecer normal, não tão esperançoso como realmente estava.
Chegando ao penúltimo degrau da escada, seu rosto se iluminou - bem pouco, quase imperceptível - ao ver a cena: Duda, apesar dos 17 anos, estava enterrado no braço da mãe, que o abraçava firmemente no sofá enquanto Válter tentava abater uma coruja negra com uma vassoura. Harry riu um pouco daquela cena, e em seguida disparou para a sala e, com um movimento rápido, tirou a carta das patas da coruja, que agradeceu, pousando em seu ombro e dando uma bicada de leve na orelha de Harry, como Edwiges costumava fazer. De repente, uma dor invadiu-o por completo ao lembrar-se de seu ex-bicho de estimação.


Tio Válter já estava de uma cor púrpura, quando gritou ao sobrinho, apontando um dedo gordo como uma salsicha em sua direção:


- EU JÁ DISSE QUE NÃO QUERO ESSAS PORCARIAS DENTRO DA MINHA CASA! NÃO QUERO QUE NADA DE GENTE DA SUA LAIA ENTRE MAIS AQUI! AINDA TEM SORTE DE TE ABRIGARMOS! - Esbravejou o tio, falando mais baixo, porém, alto suficiente para as casas vizinhas ouvirem.


- Válter! - Chamou tia Petúnia. - Os vizinhos!
- Certo, certo. - Concordou Válter, ainda irritado. - Escuta aqui, moleque. A próxima carta que chegar aqui, pode ser até do velho gagá que acha que manda na sua escola, pelo meio de vocês... - Ele apertou os olhos, fazendo-os parecer dois besourinhos em uma tigela de suco de groselha - Nem queira saber do que sou capaz. - Brandiu, em tom de ameaça.
- NUNCA MAIS FALE ASSIM DE DUMBLEDORE! - Válter tocara na ferida de Harry. Um nó em sua garganta havia se formado e ele lutava com todas as suas forças para não chorar diante dos tios e do primo. - ELE FOI UM DOS MAIORES BRUXOS QUE JÁ EXISTIU! - Continuou, sem deixar que um pingo de sua tristeza afetasse o que dizia.
Ao ouvir a palavra bruxos, Petúnia arregalou os olhos e levou as mãos à boca como se acabasse de presenciar uma das piores catástrofes já ocorridas; Duda, que se tornara um adolescente obeso, tampou os ouvidos com as mãos gordas em um gesto muito infantil para os seus 17 anos e Válter deixou seu rosto ficar totalmente vermelho, onde Harry via uma veia pulando em sua testa.
- PRO QUARTO! JÁ! - Berrou.
Harry subiu as escadas correndo, não ia continuar a discussão. Nem percebera que a coruja que havia se aninhado em seu ombro não estava mais ali. Com as cartas em mãos, nunca esteve tão ansioso em toda a sua vida. Já havia terminado o colégio, então, infeliz, descartava a possibilidade de ser uma carta de Hogwarts. Porém, ainda tinha amigos como Harry e Hermione que talvez ainda se lembrassem da existência da única pessoa que derrotou Lord Vordelmort, marcado com uma cicatriz na testa e perdendo muitos queridos para tentar derrotá-lo de vez ao longo dos anos.


Foi ao finalmente avaliar a carta recebida que ele notou que no centro havia um grande escudo, onde uma cobra, um leão, uma águia e um texugo circulavam uma grande letra H. Nela, havia endereçado:


 



Sr. H. Potter


Terceiro Quarto - Segundo Andar


Rua dos Alfeneiros 4


Little Whinging


Surrey.


 


O envelope era grosso e pesado, feito de pergaminho amarelado e endereçado com tinta verde-esmeralda; sem selo algum. O coração de Harry batia forte contra o pomo-de-adão, apesar de ele saber que a carta não poderia tratar-se de uma expulsão, pois ele já concluíra o último ano letivo e podia usar a varinha - inclusive já passara no teste de aparatação.


Ele abriu-o lentamente; obviamente não era um berrador, mas ele estava tão nervoso que a evidência de não ser um não passava pela sua cabeça. Ele finalmente puxou a carta de dentro do envolepe e leu:


 



Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts


Diretora: Minerva McGonagall


Prezado Sr. Potter,


Temos o prazer de informar que V.Sa. está sendo convidado para vir passar conosco mais um ano letivo, que iniciará dia 1º de setembro deste mesmo ano, como convidado especial e de honra, afim de presentear um evento muito importante realizado na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, em homenagem ao nosso querido ex-diretor Alvo Dumbledore, assim como outros ente queridos perdidos na batalha de maio 1997. Agredecemos se der a honra de sua presença.


 


Atenciosamente,


                          Minerva McGonagall


                              Diretora


 


O choque fora tão grande que Harry deixara a carta cair, com um baque surdo. Seria verdade? Bom, claro que tinha de ser, ele conhecia mais que ninguém a letra caprichosa da Sra. McGonagall, mas realmente parecia um sonho - ou pesadelo.


Se tivesse autorização para usar o telefone, talvez ligasse pra Hermione, de quem ele tinha o número, pra perguntar se ela também havia sido convidado; assim como era sua dúvida quanto os irmãos Weasley, Jorge e Rony. Se tivesse uma coruja, certamente ela estaria levando pergaminhos aos amigos - que falta fazia Edwiges.


Harry abriu o armário. Um grande malão estava jogado ali dentro, com uma vassoura por cima. Talvez sobrevoasse a cidade para chegar em Hogwarts, mas se lembrou do quão longe era e de que poderia ser visto. Com outro baque surdo, ele fechara a porta brutalmente.


Voltou e sentou-se na cama outra vez. Ali do lado, em um pequeno criado-mudo, três fotos em molduras diferentes ocupavam-o por completo. A primeira era de Lílian e Tiago Potter, onde eles acenavam e rodopiavam juntos, pais de Harry, que haviam sido mortos quando ele ainda era um bebê; a segunda era de Harry, Rony e Hermione, bem mais novos, sorrindo e acenando enquanto Rony fazia uma careta; a terceira era de Alvo Dumbledore, ex-diretor de Hogwarts. Ainda no criado-mudo, na pequena gaveta, um recorte da família Weasley em uma viagem ao Egito estava plastificada; um cartão com a foto de Dumbledore que Harry conseguira em um sapo de chocolate estava ali também; e mais um recorte de jornal, dessa vez de Sirius Black, ex-padrinho de Harry, enquanto gritava e parecia um louco.


Foi enquanto avaliava a foto do primeiro recorte, fixando os olhos em Fred - agora falecido - e Jorge Weasley que Harry se lembrara de algo: podiam aparatar, sem problema algum. Já era maior de idade e havia passado no teste. Então, decidiu: quando o ano letivo iniciasse, iria para Hogwarts aparatando, mas antes, é claro, passaria na casa de Rony, torcendo pra Mione estar lá – coisa que ainda não havia feito por medo de ser visto, já que não era muito especializado nessa técnica.

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