CAPÍTULO XX – Caça ao Tesouro
CAPÍTULO XX – Caça ao Tesouro
Era difícil distinguir a tinta desbotada no papel amarelado, dentro da carruagem.
Ainda assim, não havia dúvida de que era um trabalho da mesma pessoa que fizera o mapa encontrado em Chesilworth. Hermione ficou trêmula de entusiasmo. Por mais que houvesse acreditado no tesouro e desejado encontrá-lo, sempre guardara o receio de jamais conseguir juntar as duas partes do mapa e, portanto, nunca encontrar o dote.
- Não faz mais sentido que o outro, – Harry concluiu – mas talvez, quando pusermos os dois juntos, tudo se esclareça.
O plano de estudar os dois mapas teve de ser adiado, pois assim que entraram em casa, Ardis foi ao seu encontro.
- Ah Hermione, sir Harry, aí estão vocês. Temos um visitante.
Hermione franziu o cenho. Não via a hora de comparar os mapas, mas como a tia anunciara o visitante da porta da sala de estar, seria impossível esquivar-se, sem ser grosseira. Assim, forçando um sorriso, foi até lá, seguida por Harry.
Parou de maneira tão abrupta, que Harry quase deu de encontro com ela. Incrédula, viu o homem sentado ao lado de Joanna levantar-se, com um largo sorriso nos lábios.
- Veja quem veio nos visitar! – Joanna anunciou, com um brilho maldoso no olhar. – Seu primo americano.
Hermione tratou de recuperar-se depressa.
- Sr. Miller, que surpresa. Pensei que havia retornado à América.
- Este é Miller? – Harry inquiriu em tom rude, lançando um olhar significativo para Hermione, antes de encarar o homem.
Miller pareceu confuso, mas respondeu:
- Sim, David Miller, ao seu dispor.
Hermione apresentou-os e, embora Harry o cumprimentasse com cortesia, continuou a fitá-lo com ar desconfiado.
- Também pensei que estaria em casa, a esta altura, Srta. Granger. – Miller falou, respondendo ao comentário feito antes por Hermione. – Porém, quando retornei a Londres, depois de minha visita a vocês, descobri que um grande atraso ocorrera em uma das encomendas que eu havia feito. Demorei dias para resolver a questão, mas, agora, creio está tudo certo. Devo partir na próxima semana.
- Lamento saber que teve problemas. – Hermione disse. – O que fez, para ocupar o seu tempo?
David pôs-se a descrever suas diversas visitas a museus e outros lugares interessantes.
- O senhor não saiu de Londres, para conhecer o interior inglês? – Harry perguntou.
- Não, exceto por minha visita aos Granger e, claro, a ida a Manchester, para conversar pessoalmente com o fabricante atrasado. Para ser honesto, já não tinha mais o que fazer aqui. Foi por isso que, ontem, voltei à livraria do Sr. Simons. Quando ele me disse que a Srta. Granger encontrava-se em Londres, fiquei muito feliz.
- Pobre Sr. Miller, sentiu muito a sua falta. – Joanna disse a Hermione, lançando um olhar rápido para Harry, a fim de medir-lhe a reação. – Seu primo parece gostar tanto de você...
Hermione sabia que Joanna acalentava a esperança de que a presença de David Miller fosse causar algum conflito entre Harry e ela o que a prima não sabia era que aquela visita fora uma verdadeira bomba. Ao que parecia, Harry tinha razão: Miller era o homem que havia invadido suas casas, à procura dos mapas. Era difícil conciliar o sorriso claro e as maneiras gentis, com a alma de um criminoso.
David corou ao ouvir as palavras de Joanna, e ela continuou:
- Quando eu disse a ele que você havia saído, para visitar o tal de Sr. Bigby, para ver uns livros, ele decidiu esperar.
- Foi muita gentileza sua. – Hermione dirigiu-se a David. Ele ficou lá por algum tempo, conversando sobre amenidades, até Hermione começar a encontrar dificuldade em manter o sorriso nos lábios. Afinal, não era fácil ser gentil com alguém, ao mesmo tempo em que tentava determinar se ele tinha a mesma altura do ladrão que invadira seu quarto, na véspera.
Quando David finalmente partiu, Hermione e Harry, com os dois mapas em mãos, fecharam-se no escritório.
- Isto não faz o menor sentido! – Harry concluiu, irritado, depois de haverem tentado juntar os mapas em todas as posições possíveis. – São apenas nomes e símbolos, sem qualquer ligação entre si. Não há semelhanças, ou ponto de encontro.
Hermione manteve os olhos fixos nos pedaços de papel, ocupada demais em conter as lágrimas. Seria terrível demais terem chegado até ali, para não serem capazes de solucionar o mistério.
Estendeu a mão e tocou o mapa retirado do livro de orações.
- Por que o papel é tão diferente? O mapa que encontramos em Chesilworth foi desenhado em papel grosso e resistente. Este é fino demais, poderia se rasgar facilmente.
- Sendo fino, seria mais fácil de esconder na capa do livro. – Harry respondeu.
- Tem razão, mas um papel tão pequeno, não chegaria a fazer volume.
Hermione olhou para a cópia que fizera. Decidira usar um papel bem fino, para facilitar o seu trabalho. Bastara colocá-lo sobre o original e passar o lápis por cima dos traços. Então, seu coração disparou.
- Ah, meu Deus!
- O que foi? – Harry inquiriu, sobressaltado. - Ocorreu-lhe alguma idéia?
- Não tenho certeza. Este papel fino... é igual ao que usei para copiar o outro mapa.
Com dedos trêmulos, colocou um sobre o outro e foi girando-o de cima, devagar, até que tudo se encaixou. Traços se complementaram e palavras se juntaram. “Riacho” apareceu ao lado de “Littlejohn”. Logo abaixo do conjunto de linhas curvas e confusas, apareceu a palavra “bosque”. Além disso, o que parecia um edifício quadrado, agora, apresentava uma torre e a legenda “Saint Swithin”.
- Conheço esse lugar! – Harry anunciou. – A igreja fica a menos de dois quilômetros da Mansão Haverly.
- E quanto a este chalé? E o muro de pedras?
Hermione apontou a inscrição “quinze passos”, junto ao desenho identificado como “muro de pedras”. Do outro lado do muro, havia uma seta, indicando cinco passos, até o desenho de um pequeno baú, junto à palavra “dote”.
- Não conheço nada disso, mas precisamos lembrar de que o mapa foi feito há quase duzentos anos. O chalé, certamente, não existe mais. Por outro lado, não será difícil encontrar sinais de sua existência. O mesmo pode ter acontecido ao muro. – Olhou para Hermione com um largo sorriso. – Agora, poderemos encontrá-lo, Hermione. O tesouro está em nossas mãos.
Partiram para Haverly na manhã seguinte. Ardis protestou contra a viagem apressada que haviam feito, para ficarem apenas três ou quatro dias em Londres. Mesmo assim, permitiu que as criadas preparassem sua bagagem, sem criar maiores problemas. Aparentemente, decidiu seguir o conselho de Hermione, a fim de não perder a ligação valiosa com a família Potter. Hermione ouvira a tia sussurrar para a filha que “ainda restavam muitos peixes no mar”, na tentativa de acalmar Joanna, durante um de seus ataques de fúria.
Os criados haviam acabado de acomodar a bagagem na carruagem e os viajantes já se dirigiam para a porta, quando um visitante chegou e entrou, assim que o mordomo abriu a porta.
- Sir Harry! Se pensa que eu aceitaria isso, estava redondamente enganado!
- Sr. Bigby? – Hermione fitou o homem, surpresa e confusa.
As maneiras gentis da véspera haviam dado lugar a um nervosismo descontrolado.
- O senhor me parece nervoso. – Harry comentou. – Gostaria de conversar em meu escritório?
- Vou falar aqui mesmo! O senhor pode ser baronete, ou qualquer outra coisa, mas não permitirei que leve a minha jóia... o meu precioso... – parou de falar, como se estivesse prestes a ter um verdadeiro ataque.
- Acalme-se. – Harry ordenou e, ao perceber que sua postura aristocrática surtira o efeito desejado, falou: – Assim é melhor. Agora, por favor, explique do que está falando.
- Do livro de orações de Elizabeth, claro!
- O que tem o livro?
Bigby estreitou os olhos.
- Sabe muito bem! Não tente me enganar, com suas maneiras elegantes! O livro desapareceu!
Hermione arregalou os olhos e Bigby virou-se para ela.
- Isso mesmo. Desapareceu. Foi roubado. Bem debaixo do meu nariz!
- E o senhor acha que fui eu? – Harry inquiriu, incrédulo e divertido, ao mesmo tempo.
- Quem mais poderia ser? O senhor queria comprá-lo e eu não queria vendê-lo. Conheço muito bem os aristocratas, habituados a conseguir o que querem, a qualquer preço. Quando informei que não venderia, o senhor foi até lá para examiná-lo e saber onde estava.
- Não, Sr. Bigby. – Hermione falou. – Garanto que sir Harry não roubou o seu livro.
- E claro que não! Ele contratou um ladrão e explicou-lhe onde encontrar o livro.
O homem continuou com sua explosão de fúria, por mais algum tempo, proporcionando a Ardis e Joanna um espetáculo muito interessante. Porém, as afirmações de Harry e Hermione finalmente começaram a convencê-lo.
- Dou-lhe minha palavra, Sr. Bigby, que jamais roubaria aquele, ou qualquer outro livro. Nós também fomos vítimas de assaltos em nossas casas, tanto em Londres, quanto no campo. Foram três invasões.
- Três, o que levaram?
- Nada, mas acreditamos que estavam procurando justamente por esse livro. O ladrão foi surpreendido na biblioteca da Mansão Haverly. Foi quando nos interessamos pelo livro de orações. Não sei quem é esse homem, mas tenho um suspeito. Prometo que, se durante a investigação que mandei fazer sobre o homem, seu livro for encontrado, cuidarei para que seja devolvido ao senhor.
- Está dizendo que contratou alguém para investigar David? – Hermione perguntou, chocada.
- Sim. Hoje, pela manhã, contratei um homem para segui-lo. Deveria ter cuidado disso ontem, à noite. Assim, ele teria sido apanhado, na tentativa de roubar o livro do Sr. Bigby.
- O que há de tão especial nesse tal livro? – Ardis perguntou.
- Estão dizendo que David Miller roubou um livro? – Joanna indagou, de olhos arregalados.
- São apenas suspeitas. – Hermione respondeu.
- Minha noiva tem o Sr. Miller em alta conta. – Harry murmurou com ironia, dirigindo-se ao Sr. Bigby.
- Não é verdade. – ela protestou. – Só gostaria de lembrar que David não saberia que o livro pertence ao Sr. Bigby, agora. Só nós sabíamos.
- Está se esquecendo, minha querida, de que a Srta. Moulton disse a ele que havíamos saído para visitar o Sr. Bigby, “para ver uns livros”. Não creio que tenha sido difícil para ele somar dois mais dois.
- Ah, você tem razão. – Hermione concordou com um suspiro. – Acho que não há mais como escapar. O Sr. Miller dever ser o ladrão.
- Receio que sim, querida. Sei que detesta pensar assim, mas está muito claro.
Mais calmo e, aparentemente convencido de que era apenas mais uma vítima do mesmo homem, o Sr. Bigby se foi.
Ardis e Joanna não falaram de outra coisa, a manhã inteira, enquanto a carruagem se afastava de Londres.
Para Hermione, a viagem de volta foi bem menos tediosa do que a ida para Londres. Harry viajou a maior parte do tempo na carruagem, suportando as duas Moulton, para poder ficar junto de Hermione.
Ele não voltara a visitar o quarto dela, alegando não querer colocar em risco a reputação dela. Hermione tinha dificuldade para dormir, pois não conseguia afastar as lembranças das noites que haviam passado juntos. Acabou admitindo para si mesma que sua maior esperança era de que Harry não demorasse a superar os impulsos nobres e voltasse a partilhar sua cama.
Quando chegaram na Mansão Haverly, as crianças correram para recebê-los. As duas ladies Potter apareceram em seguida, acompanhadas por Sarah Yorke.
- Ora Harry, eu não esperava vê-lo de volta tão cedo. – Lílian foi dizendo. – Acabei de dizer à Srta. Yorke que, provavelmente, você não voltaria em menos de duas semanas. Agora, vou passar por mentirosa.
Harry beijou a mãe e a avó.
- Simplesmente, – explicou – resolvemos nossos assuntos bem antes do que esperávamos. – Então, virou-se para Sarah. – Como vai, srta. Yorke?
- Estou muito bem, sir Harry, assim como os meninos. Eles ficarão exultantes quando souberem que o senhor já voltou. Agora, devo ir embora. Tenho certeza de que o senhor deseja ficar na companhia de sua família. Vim apenas para copiar a receita de manjar branco de lady Potter.
- Não, espere, Srta. Yorke. – Harry pediu. – A senhorita é praticamente da família e tenho um comunicado importante a fazer.
Todos viraram para fitá-lo com curiosidade. Hermione adivinhou o que ele ia dizer e empalideceu. Não deveria ter permitido que a história de noivado fosse tão longe. Assumira uma atitude egoísta, deixando que ele continuasse a pensar em casamento. Tinha certeza de que lady Lílian ficaria horrorizada e nem podia imaginar qual seria a reação da velha lady Potter.
Harry passou um braço em torno de seus ombros.
- Harry, não! Espere! – ela sussurrou, desesperada, mas ele se limitou a sorrir.
- Não seja tola. Este é o momento perfeito. – Harry virou-se para a assistência interessada e, ainda sorrindo, declarou: – Pedi a Srta. Granger em casamento e ela me deu a honra de aceitar.
Por um momento, o silêncio foi total. Hermione desejou que um buraco se abrisse no chão e a engolisse. Então, lady Lílian abriu os braços para o filho, com um sorriso de pura alegria.
- Harry, meu filho! Há tanto tempo espero por este dia! Você não pode imaginar como estou feliz!
Depois de Lílian abraçá-lo, foi a vez de Georgette que, como sempre, esqueceu-se da compostura e atirou-se sobre o irmão.
- Eu sabia! Por que demorou tanto para se decidir? Eu disse a Olívia, dois dias depois de vocês terem chegado, que nunca havia visto você tão apaixonado!
O restante da família cercou-os, oferecendo os parabéns. A mãe de Harry abraçou Hermione, dizendo-lhe que era bem vinda à família. Até mesmo lady Potter ofereceu o rosto para a futura neta beijar, comentando que o neto tinha muito bom gosto.
Hermione hesitou por um instante, mas chegou à conclusão de que não poderia dizer à mãe e à avó de Harry que não pretendia exigir que ele cumprisse com sua palavra. Não poderia contar-lhes que, na verdade, não existira pedido de casamento. Haviam, apenas, sido surpreendidos em situação comprometedora. Bem, pensou, teria de cuidar disso em outra ocasião. Então, sorriu.
- Temi que as senhoras não fossem aprovar.
- Por que não? – lady Potter inquiriu. – Granger sempre foi um bom nome. E, ainda, sendo irmã de lorde Chesilworth, você é uma das melhores escolhas que meu neto poderia ter feito.
- Obrigada.
Georgette abraçou Hermione.
- Eu sempre sonhei em ter uma irmã e, agora, tenho duas! Além de mais dois irmãos... – Olhou para os gêmeos com um sorriso maroto -... que serão irmãos maravilhosos, sendo as pestinhas que são!
Como seria de esperar, os meninos aproveitaram a deixa para desamarrar o cinto do vestido de Georgette. Então, as quatro crianças desapareceram, em uma brincadeira barulhenta de pega-pega.
- Srta. Granger. – Sarah Yorke aproximou-se de Hermione. – Desejo-lhe muitas felicidades. Tenho certeza de que será uma linda noiva.
Embora Sarah sorrisse, Hermione reconheceu uma sombra de tristeza nos olhos dela. Então, pensou que acertara em suas suspeitas de que Sarah nutria sentimentos mais profundos por Harry. Teve pena dela.
- Espero que possamos ser boas amigas, agora, que passarei a viver aqui.
- Eu também. – Sarah falou, antes de virar para Harry, a fim de cumprimentá-lo pelo casamento.
Quando ela se foi, Harry voltou a abraçar Hermione.
- Acho que todos receberam a notícia muito bem. – comentou satisfeito.
- Harry, sinto-me culpada por enganar sua mãe...
- Enganar? Do que está falando? Estamos noivos.
- Não exatamente. Você não me pediu em casamento. Disse aquilo apenas para acalmar tia Ardis.
- Hermione, pensei que já havíamos esclarecido isso. Decidi me casar com você na noite em que a levei ao terraço, à margem do lago.
- Verdade?
- Claro! Eu sabia perfeitamente o que estava fazendo, o que aconteceria à sua reputação se eu, simplesmente, me aproveitasse de você. Estava consciente das possíveis conseqüências, também. Quando deixamos o jardim, minha decisão de pedi-la em casamento já estava tomada.
Hermione queria ouvir que Harry a amava, mas jamais perguntaria. Afinal, não poderia pressioná-lo para obter uma coisa que só teria valor, se dada espontaneamente.
- Mas não é necessário. – insistiu. – Eu também sabia o que estava fazendo. Fui com você para o lago de livre e espontânea vontade.
- Eu também. – Harry franziu o cenho. – Está dizendo que não quer se casar comigo?
- Não. – Hermione respondeu com sinceridade. - Não foi isso o que eu quis dizer.
- Bom. – Ele beijou-a na testa. – Quero lhe pedir um favor, querida. Não deixe mamãe persuadi-la a marcar uma data distante. Quero me casar com você o mais depressa possível.
Hermione fitou-o nos olhos e refletiu que talvez estivesse errada por insistir naquele casamento, sabendo que Harry não a amava. Por outro lado, sabia também que não seria capaz de resistir. Casaria com ele, na esperança de que Harry viesse a amá-la, um dia... e de que ele não se arrependesse.
Na manhã seguinte, Hermione e Harry saíram a pé, acompanhados das quatro crianças, e conduzindo uma pequena carroça, repleta de instrumentos e ferramentas de escavação. Todos vestiam suas roupas mais velhas. Hermione fizera uma cópia dos dois mapas combinados, que Harry levava no bolso da camisa.
- Lá está o riacho Littlejohn. – ele apontou, após alguns minutos de caminhada.
- No mapa, parece mais próximo. – Georgette comentou.
- Não creio que Margaret Granger tenha desenhado os mapas em escala, - Harry replicou – mas as distâncias indicadas deverão facilitar o nosso trabalho.
O bosque não se encontrava onde deveria estar e o grupo concluiu que, certamente, fora destruído. Continuaram seguindo pela estrada, mas, depois de haverem caminhado uma longa distância, ainda não haviam encontrado a grande pedra que seria a última referência, antes do chalé.
- Acha que a pedra também foi retirada? – Hermione perguntou, preocupada.
- Não sei. Não me lembro de nada parecido, ao lado da estrada. – Harry protegeu os olhos com uma das mãos, contra a luz do sol, para olhar à distância. – Também não vejo sinal do chalé.
- Imagino que deveria haver, ao menos, uma das duas coisas, assim como do muro de pedras. Por que não nos afastamos quinze passos da estrada e tentamos novamente?
- Vamos tentar. Não creio que o local possa ser ainda mais distante. Se fosse, Margaret teria desenhado outros pontos de referência, como aquele imenso carvalho. – apontou à direita. – Vamos seguir a sugestão de Hermione, mas vamos formar uma linha. Assim, um de nós poderá encontrar alguma coisa.
Assim fizeram. Caminhando separados, formando uma linha reta e mantendo poucos metros de distância entre eles, seguiram na direção da qual haviam vindo, pelo terreno irregular ao lado da estrada.
A caminhada pareceu interminável. Hermione sentia-se cansada e faminta. Também sentia fortes dores no pescoço, por andar olhando para baixo, além de muita sede. Calculou que as crianças estivessem sofrendo ainda mais.
- Vamos parar para descansar e comer o lanche que Henri preparou para nós. – sugeriu.
Harry concordou e todos se sentaram à sombra de uma árvore. Devoraram o almoço e, então, acomodaram-se para um descanso.
Revigorados, recomeçaram a busca tediosa. Hart encontrou um círculo de pedras e todos se animaram. Porém, acabaram concluindo que se tratava dos restos da fogueira de um acampamento. Continuaram caminhando, até que a torre da Igreja Saint Swithin apareceu acima das copas das árvores.
- Estamos de volta à igreja! – Olívia anunciou, desolada.
- Receio termos perdido alguma pista. – Harry comentou.
Os quatro se sentaram e tentaram compreender o que havia acontecido.
- Como um lugar pode, simplesmente, desaparecer? – Olívia inquiriu.
- Já faz muito tempo. – Hermione lembrou-a. - Se o chalé era de madeira e sapê, pode ter apodrecido.
- Não vamos encontrar o tesouro? – Crispin perguntou, lutando para conter as lágrimas.
- Tentaremos novamente. – Harry prometeu. - É possível que estejamos interpretando o mapa de maneira errada. Hermione e eu voltaremos a examiná-lo, esta noite. Amanhã, conversarei com Jack Everson. A família dele vive na casa que vimos, do outro lado da estrada, há muito tempo. Perguntarei se ele já ouviu falar do tal chalé.
- Se não encontrarmos as referências marcadas no mapa, não teremos chance de encontrar o dote, não é? – Crispin insistiu..
- Receio que não. – Harry admitiu.
O grupo que retornou à Mansão Haverly era muito, muito triste.
Hermione sentou-se diante do espelho da penteadeira, escovando os cabelos com movimentos desanimados. Sentia-se exausta. Nem mesmo o longo banho que tomara ao chegar, dissipara o cansaço de seu corpo. Porém, muito pior que os músculos doloridos, era o cansaço de sua mente, e de sua própria alma. Havia anos que tentava descobrir o paradeiro do dote espanhol. Desde que lera os diários de Margaret, não pensara em outra coisa. Não só restabeleceria as finanças da família, mas também realizaria o sonho de seu pai e, também, de Margaret.
Cruzou os braços sobre a penteadeira e apoiou neles a testa, dando vazão às lágrimas. O que sua família faria, agora? Era verdade que não precisariam mais viver na casa de tia Ardis. Harry assumiria o sustento de seus irmãos e Hermione não tinha dúvida de que ele seria muito generoso. Mesmo assim, eles sempre se sentiriam constrangidos, pois estariam vivendo de caridade, como antes. Além disso, não poderiam esperar que Harry arcasse com a imensa despesa de reformar Chesilworth.
Sentiu algo afastar os cabelos de sua nuca. Então, lábios quentes pousaram em seu pescoço. Um arrepio percorreu o corpo de Hermione.
- Harry... – murmurou, erguendo a cabeça e fitando-o através do espelho. – Como conseguiu entrar?
- Da maneira usual: pela porta. Está triste?
- Um pouco.
- Não se preocupe tanto. Faremos o possível para encontrar o tesouro, mas se não conseguirmos, quero que saiba que cuidarei de seus irmãos. Olívia terá o seu debut, além de um bom dote. Os meninos estudarão em Eton e Chesilworth será restaurada. Este será o meu projeto especial.
Os olhos de Hermione voltaram a se encher de lágrimas.
- Você é muito generoso, mas não quero que minha família se torne um fardo para você.
- Não é um fardo. E não quero que se preocupe com isso. De agora em diante, deve se preocupar apenas com os preparativos do casamento.
Hermione sorriu.
- Sua mãe quer organizar uma grande festa.
- Eu sei. Disse a ela que pode fazer a festa que quiser, desde que seja marcada para daqui um mês, no máximo.
- Um mês! Harry, é impossível planejar um casamento em apenas um mês. Mal teremos tempo de enviar os convites.
- Acredite. Mamãe já usou todos os argumentos. Ela disse que seria absurdo pensar em fazer qualquer coisa, em menos de seis meses. Disse também que se marcarmos uma data antes disso, boatos maldosos serão espalhados. Então, eu disse a ela que boatos muito piores serão provocados pela chegada de um bebê, apenas três ou quatro meses depois do casamento.
- Harry! Você não fez isso!
- Fiz. Não há a menor possibilidade de eu esperar seis meses para ter você em minha cama de novo. Aliás, três noites depois da minha promessa de não voltar ao seu quarto, aqui estou eu!
Segurou-a pelos ombros e forçou-a a levantar-se, apertando-a contra si.
- Você é tão linda. – murmurou. – Não consigo ficar longe de você, assim como não consigo pensar em outra coisa. Passo o dia inteiro olhando para você e imaginando-a nua.
Beijaram-se longamente, acariciando-se com ternura, sem pressa. Foram se aproximando da cama e tirando as roupas pelo caminho, sem jamais interromperem os beijos e as carícias. Fizeram amor com paixão, como se houvesse passado três anos, e não três noites, separados. Então, abraçados e satisfeitos, adormeceram nos braços um do outro.
Algumas horas depois, Harry acordou sobressaltado. Estivera sonhando que corria de um moinho para outro, à procura de Hermione. Apertou-a contra si, aliviado por senti-la segura em seus braços. Então, sua mente clareou e ele se sentou na cama.
- Meu Deus! Hermione, acorde. Acho que acabo de solucionar o mistério!
Agradecimentos especiais:
alylyzinha: que bom que curtiu o capitulo anterior, no final tudo vai dar certo, mas antes disso eles vão encontrar os bandidos, que serão duas pessoas completamente diferentes e inesperadas. Espere para ver. Beijos.
Lúh. C. P.: Que bom que gostou dos últimos capitulos... no próximo capitulo eles vão encontrar o tesouro e vão descobrir os bandidos, que serão pessoas que ninguém esperava, isso eu aposto. Beijos.
Almofadinhas Marota Potter: os mistérios se resolvem no próximo capitulo, então até segunda que vem quando eu vou postar o próximo capitulo. Beijos.
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