CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO CINCO
Não. Harry queria ter dito não. Ele deveria evitar essa mulher. Apenas tinha se oferecido para levá-la em casa por causa de Luna. Ha, ha. De quem ele estaria tentando zombar? Sua cabeça podia estar querendo evitá-la, mas seu coração ardia por saber o que faria Gina balançar.
Estavam em frente a um prédio no estilo eduardiano, em Camden. Nada a ver com a sua novíssima cobertura cintilante em Clerkenwell.
Ela quase caiu na escada.
- Deixe-me levar essas caixas para você. - ofereceu Harry.
Ela relutou:
- Normalmente faço esse caminho carregando minhas coisas.
Independente, também. E era óbvio que não reconhecia seus limites.
- Vai precisar ao menos de uma mão livre para destrancar a porta.
Sem mais argumentos, ele simplesmente tirou as caixas dela.
Gina comprimiu os lábios. Obviamente estava aborrecida com o modo como ele havia assumido o controle. Mas o guiou até o segundo andar. Abriu a porta e acendeu a luz.
- Entre e sente-se.
Ele largou as caixas e olhou em volta. Aquele lugar combinava perfeitamente com Gina. Uma profusão de texturas e cores fortes por toda a parte. Janelas amplas e envidraçadas, com cortinas em tecido creme e musselina rendada. As paredes eram pintadas de dourado envelhecido. Sobre o assoalho de tacos, estavam dispostos, aqui e ali, diversos tapetes, os matizes de pedras preciosas contrastavam com o sofá estofado de vermelho-rubi e as almofadas de veludo azul-escuro.
A sala estava imaculadamente arrumada. Uma pequena mesa no canto sustentava um laptop; sob a mesa, uma caixa de plástico transparente sobre a qual ele teve a intuição de que estaria cheia de pastas de arquivo esmeradamente rotuladas e em ordem alfabética. Ao lado, outra caixa de plástico transparente que parecia estar cheia de brinquedos. Provavelmente para Daisy. No outro canto, uma televisão e um DVD player; atrás do sofá, uma parede cheia de estantes.
- Sinta-se à vontade.
Gina acendeu dois abajures e apagou a luz de cima. Depois desapareceu por uma porta para um cômodo que ele presumira ser a cozinha.
Ele passou os olhos pelas prateleiras. Algumas comédias em brochura, livros sobre a história da moda e dos tecidos, vários dramas em DVD. Pequenos objetos de vidro pintado e curiosas caixinhas esmaltadas aqui e ali. Ele não pôde evitar pegar uma e examinar. Devia ser uma espécie de coleção.
Na parede, um pano com amostras de bordado estava emoldurado, datado de 1862. Gina Smith. Seria uma parenta distante ou apenas uma coincidência de nomes? Também havia alguns lindos desenhos a lápis com assinaturas ilegíveis. Seriam trabalhos de Gina? Não. Gina Weasley devia ter uma linda assinatura.
Sobre a lareira, algumas fotografias em molduras laqueadas: um casal, que devia ser os pais dela. Gina herdará de seu pai os olhos azuis e os cabelos vermelhos, e de sua mãe, os cachos espiralados. Um retrato de Gina com dois homens que pareciam ser irmãos dela. E outro retrato de Gina, Daisy e Luna fazendo um piquenique. Não encontrou foto alguma de alguém que pudesse entrar na categoria de "namorado". E ficou chocado ao perceber que havia gostado muito disso.
Olhou mais de perto um croqui a lápis emoldurado - o desenho era de Daisy e, ao chegar mais perto, reconheceu a assinatura de sua irmã.
- Sim, foi Luna quem fez. - disse Gina, reaparecendo com duas canecas. Estendeu uma a ele e sentou-se na cadeira mais distante que havia.
Correndo de pavor? Humm. Não parecia que Gina tivesse medo de homens. Ela devia lidar com eles a todo instante na barraca. Então, por que evitava contato? Será que ela sentia a mesma estranha tensão entre eles?
- É uma sala muito simpática.
- Obrigada.
- Parece muito com você.
- Não é o que esperava?
- Bem, não. - admitiu ele. - Esperava roupas espalhadas por toda parte. Incensos e coisas assim.
Ela sorriu.
- Tenho um guarda-louça e um cabide para guardar meu estoque. Preciso guardar tudo muito bem porque os clientes não querem comprar roupas amarrotadas. Querem algo que possam usar, não uma roupa que terão de mandar para a lavanderia e passar a ferro primeiro. Especialmente porque os tecidos antigos precisam ser lavados à mão.
- Boa observação.
Ele apontou para a caneca dela.
- Não está tomando café?
- Desisti do café há algum tempo. Ficava com dor de cabeça. Então optei por chá de laranja com canela. Tenho sempre um pouco de café para os amigos e para as visitas.
Ele observou a distinção. Sabia que, aos olhos dela, estava na última categoria. Embora, para ser sincero, ele devesse estar numa categoria completamente diferente. A de amante. Um título que daria a ele o direito de largar o café, ir até onde ela estava sentada, tomá-la em seus braços e derrubá-la no sofá. E beijá-la até que a tensão na sala se dissolvesse.
Droga! Quanto mais tempo passava com ela, mais a desejava. Isso era uma loucura. Luxúria.
Gina ligou o aparelho de som.
Tudo bem. Então agora ele teria de escutar música new-age. Aquele tipo de música que Luna tocava quando queria irritá-lo.
Mas o CD que Gina colocou não era new-age. Um saxofone encheu o ar e uma bateria mexeu com ele.
- O que é isso?
Ela estendeu a capa do CD.
- É um cântico bretão. Fico imaginando como trilha sonora de um filme.
O rosto de Gina guardava uma expressão sonhadora.
- Um filme sobre pesquisa, com as pessoas andando em uma floresta sombria no meio do inverno.
Ele também podia imaginar.
- Isso é muito bom... uau.
- Você esperava ouvir música de baleia, não é verdade? - Os olhos dela faiscavam divertidos.
- Bem... sim. - admitiu ele. - Aquele tipo de coisa que Luna escuta.
- O tipo de música que ela coloca quando quer se livrar de alguém. Na maior parte das vezes, ela ouve música popular.
Por que ele nunca se dera conta disso?
- Entendo.
Ele não havia olhado os CDs de Gina, portanto, não sabia que tipo de música ela gostava de ouvir. Será que colocava aquele tipo de música quando queria se livrar das pessoas? Seus pensamentos deveriam estar transparecendo, pois ela sorriu.
- Na maior parte do tempo, escuto baladas dos anos 50. Nat King Cole, Mie London, esse gênero. Mas um amigo apresentou esse outro dia. Eu gostei e comprei.
Impulsiva. Sim, assim era Gina. Fazia as coisas por capricho. Ela não iria planejar, como ele. Ela sairia para comprar pão e voltaria com uma braçada de flores. Isso o enlouqueceria. Sem chance de as coisas darem certo entre eles. Ele nem deveria estar pensando nisso. Ele iria embora. Naquele momento.
Então, por que não se levantava e partia? Por que ainda estava sentado lá, desejando aproximar-se dela?
Harry era um homem em guerra consigo mesmo. Gina estava certa de que, sob aquela aparência rígida, havia um homem mais interessante tentado a sair. Alguém que talvez perdoasse a estranha imperfeição. Embora tudo o que havia visto de Harry até então a fizesse crer que ele queria ser perfeito. Então especulou como ele seria beijando. Fazendo amor. Seria tão concentrado e empenhado na perfeição? Percebeu que ele havia falado alguma coisa.
- Desculpe, não ouvi. - admitiu ela.
- Estava dizendo que você parece cansada. - Ela aproveitou a oportunidade.
- Sim, um pouco.
- Então, vou embora.
Ele sorveu o último gole de café.
- Obrigado por me convidar.
- Obrigada a você por ter me trazido em casa.
E era assim que tudo iria terminar. Mostrando-se educados, estranhos e distantes. Ela se levantou, apanhou a caneca das mãos dele e preparou-se para acompanhá-lo até a porta.
Então ele disse algo completamente inesperado.
- Gina, quero sair com você.
- O quê?
- Gostaria de sair com você. - repetiu. - Vamos jantar juntos amanhã?
Harry a estava convidando para sair? Ou ela estava tendo alucinações?
- Obrigada, mas não.
- Por quê?
Harry não iria se conformar tão facilmente. Ele já não a tinha avisado que sempre fazia as coisas do seu jeito?
- Porque não marco encontros para namorar.
- Nem eu.
- Mas você acabou de me convidar para jantar. Isso parece um encontro.
- Poderíamos fingir que não é.
- Isso é surreal.
- Por quê?
- Você e eu... nós nem gostamos um do outro.
- Talvez gostemos sim. Talvez a gente só não se conheça... ainda.
Ela balançou a cabeça. Quando se tem um péssimo julgamento sobre homens, a melhor providência a tomar é não marcar encontros. Nunca.
- Gosto da minha vida assim, sem complicação.
- Apenas seu trabalho, seus amigos e sua família. Eu também.
- Então por que está me convidando?
- Por causa... - ele suspirou. - Por causa... disso. - Antes que ela pudesse prever, ele tomou o rosto dela entre as mãos e roçou-lhe os lábios. Um toque suave, gentil, nada ameaçador. Nem mesmo um arranhão de sua barba por fazer.
Então ele roçou seus lábios novamente e os lábios de Gina formigaram. Nesse momento, seu corpo parou de dar atenção à sua mente, e ela entreabriu os lábios convidando a outro beijo.
- Desde sexta à noite, quando vi você com aquele agasalho de plumas, estava querendo fazer isso. Mas só pude imaginar...
Os olhos de Harry haviam escurecido, exatamente como ela imaginara. E sua boca... Mas como não havia reparado antes que ele tinha uma boca tão bonita? Um sorriso sensual que prometia todos os tipos de prazer.
- Gina. - disse Harry com a voz plena de desejo. E foi como se um encantamento a dominasse, pois ela não pôde pensar em mais nada, a não ser nele. Como ele tinha os cílios longos. Teve vontade de erguer a mão e tocá-los. Quis também tocar sua pele. Sentir a curva do lábio dele. E sentir seu dedo ser sugado.
Ainda bem que ela estava segurando as canecas e não podia agir assim. Mas foi como se ele pudesse ler seu pensamento, pois ouviu um tinido e percebeu que ele estava retirando as canecas de sua mão e colocando na prateleira.
Ele passou os dedos entre os cabelos dela.
- Sabia que eram macios. - E brincou com os cachos. - Você parece uma fada celta que veio me enfeitiçar.
- Elas têm olhos verdes. - corrigiu ela. - Não azuis.
- Não necessariamente. E quanto a Etain? "Olhos tão azuis como os jacintos escuros. Lábios tão vermelhos como os frutos da sorveira brava."
- Etain?
- Da mitologia céltica. Os romances irlandeses bardos. Ela era a deusa do sol. Agora me lembro que ela possuía cabelos dourados. Embora os seus cabelos sejam lindos. - Ele deixou que os cabelos escorressem por entre seus dedos e então passou o polegar sobre o lábio dela. - Ela era casada com o deus Midir.
Mas... Harry, um advogado. Uma pessoa compulsiva por trabalho e mergulhada no mundo da lei. Como poderia saber sobre mitologia céltica?
Ele lançou-lhe um sorriso estonteante.
- Costumava ler muito quando era adolescente.
- Oh...
Bem, talvez ele também falasse uma dúzia de idiomas fluentemente e fosse capaz de solucionar aqueles quebra-cabeças japoneses em trinta segundos. Harry era um homem do período renascentista. Bom em tudo. E, oh, deveria ser um mestre na arte de fazer amor.
- Gina. Eu preciso beijar você. - Ela devia dizer que não. Sabia disso. Mas, então, por que seus braços rodearam o pescoço dele e ela enfiou a mão entre seus cabelos? E como sua boca podia estar aberta, sob a dele? Como seus seios já estavam intumescidos, e os bicos mais sensíveis do que nunca, ansiando por serem tocados?
Para um homem que não marcava encontros, Harry beijava muito bem. Mordiscadas minúsculas e leves prometiam e exigiam mais, ao mesmo tempo. Harry escorregou sua língua para dentro da boca de Gina. E explorou todo o espaço, incitando-a a corresponder.
Ele estava com uma das mãos em concha sob as suas nádegas e a outra a pressionava pela base da coluna, para junto dele. Os músculos duros de seu peito contra a maciez dos seios dela. O abdome achatado dele contra a curva de sua barriga. Ela também pôde sentir a ereção de seu membro; ele estava tão excitado quanto ela. Esperando sexo. Necessitando de sexo.
De algum modo, ele a levantou. Com as mãos em concha sob o seu bumbum. Então, ele a girou de modo que as costas dela se apoiaram contra a porta. As pernas dela engancharam-se em volta dele... o sexo dele pressionado contra o dela. Ele ajustou seus quadris, mais uma vez, de modo que ela pôde ver o quão excitado estava. Se ele não a estivesse beijando, ela teria se queixado em voz alta. Mas o som se perdeu no beijo que, a cada momento, ficava mais exigente. Sugando e mordiscando. Provando e explorando. Levando-a a um ponto no qual ela mandaria tudo às favas e diria sim. Quando ela o levaria para a sua cama, sem se preocupar com o dia seguinte.
E então ele parou. Encarou-a.
- Gina. - sussurrou.
Seus lábios estavam vermelhos e intumescidos, como se tivessem ficado horas se beijando. Sem dúvida, os dela deveriam estar também.
Ela nem fazia idéia de quanto tempo haviam ficado se beijando. Minutos? Horas? O tempo havia parado.
- Vai acontecer.
A voz dele transmitiu firmeza. Ele a deixou escorregar até que seus pés tocassem novamente o chão, mas certificou-se de que o corpo dela continuava mantendo contato com o dele.
- Não essa noite, mas irá acontecer.
Ela abriu a boca com a intenção de dizer "nem em um milhão de anos", mas não saiu nenhum som.
- Gina, há uma faísca entre nós.
- Não, não há.
Faísca? Estava mais para inferno feroz. Não era o que precisava para a vida dela, não naquele momento, nem nunca.
No momento em que se preparava para uma batalha, ele afofou seus cachos, num gesto de extrema gentileza, acalmando-a. Minando suas defesas.
- Qual o problema? - perguntou ele.
Para começar, seu julgamento sobre os homens era o pior possível. Não que ela pudesse conversar isso com Harry. Ele era advogado, ganhava a vida argumentando em detalhes. Se tentasse discutir com ele, perderia. Ela não poderia mais se permitir perder. De modo algum se colocaria nessa posição novamente. Ficar envolvida, atar sua vida à de outra pessoa, ver tudo ruir e começar do zero novamente. Absolutamente não. Fora muito difícil da última vez. Não teria forças para encarar uma próxima vez.
Disse então, sem olhá-lo:
- Somos de mundos diferentes. E, como disse antes, nós nem mesmo gostamos um do outro.
- Eu não gostava da pessoa que eu pensava que você fosse. Mas você não é essa pessoa. E sou homem o suficiente para admitir que estava errado. E você é mulher suficiente para admitir que talvez esteja errada a meu respeito?
- Eu... - Oh, Deus do céu! Justamente quando ela pensava estar sabendo o que fazer, ele a fazia pensar novamente.
Suficientemente homem.
Ele não estava sendo deliberadamente indecente, ela sabia. Ele era um homem. Excessivamente homem. Sensual e provocante. Ela precisava colocar espaço entre eles. Rapidamente. Mas, naquele momento, ela não podia. Estava com o corpo encostado na porta e o dele a milímetros. Não a tocava, não a ameaçava. Prometia, tentava, incitava-a a fechar o próprio vazio.
- Pense nisso. - E roçou novamente os lábios nos dela. - Ou talvez... não pense. Escute o que seu corpo tem a lhe dizer.
A blusa que Gina vestia era de um tecido fino e os bicos de seus seios estavam tesos. Portanto, sua excitação era bem óbvia. Seu corpo dizia algo completamente diferente do que sua mente gritava.
- Isso é luxúria... apenas luxúria. - Luxúria numa escala que ela nunca havia experimentado antes. - É passageiro. - ela acrescentou, enquanto ainda podia dizer qualquer coisa coerente. Se ele se movesse um milímetro que fosse, se cruzasse a última barreira de distância entre eles, seus seios iriam se esfregar no peito dele e ela iria gemer. Pior, teve a sensação de que poderia rasgar as roupas dele e implorar que a possuísse.
- Passageiro? Não, não será passageiro, Gina. Vai durar muito mais tempo do que imagina.
As imagens piscavam em sua mente e Gina sentia que arderia em combustão espontânea.
- A noite toda. - murmurou ele, olhando diretamente em seus olhos.
Ela ficou feliz por estar encostada na porta, de outro modo já teria escorregado para o chão, completamente derretida.
- E em breve. Vou partir agora. Enquanto ainda consigo. Mas vou telefonar para você.
Ele deu uma mordiscada no canto do lábio dela.
- Ou você pode me ligar.
Outra mordiscada, e Harry a retirou do caminho suavemente, indo embora.
Agradecimentos especiais:
*Ginny M. W. Potter*: Que bom que está gostando, eu também sou fa de HG, leio qualquer fic com esse shipper. Beijos.
issis: as coisas estão esquentando agora, quanto a resposta do comentário, na verdade eu sempre tendo responder todos eles, acho que os leitores merecem. Beijos.
Bianca: o Harry é muito esperto, e agora as coisas esquentam de verdade. Beijos.
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