CAPITULO QUATRO



CAPITULO QUATRO

Precisamente às quinze para as nove, Harry apareceu. De novo usava roupas simples. Jeans desbotados e camiseta de Marinheiro. A barba estava por fazer. Embora Gina detestasse barba por fazer, em Harry parecia ressaltar sua beleza trigueira. Além de deixá-lo sensual à beca. Ela imaginou como ele devia ficar de manhã bem cedo, com olheiras por ter feito amor a noite toda. Sua libido se recusava a se acalmar, saltava por todo o seu corpo clamando por ser acariciada. Pare com isso, disse a si mesma, ele está aqui por Daisy. Não por você.
- Olá, princesa. - Ele levantou sua sobrinha no colo e a beijou. - Está pronta?
Oh, sim, estou mais do que pronta. Gina rechaçou esse pensamento. Sua experiência lhe dizia que homens bonitos significavam problema. E dos grandes. Harry Potter era o último homem com quem queria se envolver. Seria muito complicado. Ela não queria conviver no mundo dele. E sabia que ele desprezava o mundo dela. De qualquer modo, ele era o irmão mais velho de Luna. Logicamente que eles não poderiam ter um caso. Quando tudo acabasse, a amizade com Luna também estaria despedaçada. E isso significaria que ela não poderia mais estar com Daisy. Isso, Gina não estava preparada para arriscar.
- Tia Gina disse que iremos fazer uma exploração.
- Vamos pegar um barco no Big Ben e descer até os jardins em Kew. Vamos achar lindas flores em um jardim muito especial.
- Vamos ver fadas?
- É possível. Vamos ter de olhar com muito cuidado. - Harry colocou a sobrinha no chão e olhou para Gina.
Céus, como os olhos dele eram bonitos. Sensuais. Ela podia imaginar como eles ficavam aquecidos quando apaixonados. Então ele sorriria. Um sorriso lento e sensual que a prometia levar-lhe a mundos diferentes. Para um universo onde o tempo não existiria; somente as mãos e a boca de Harry movimentando-se por todo o corpo dela. Tudo o mais seria esquecido.
- Até mais tarde então.
As palavras dele cortaram sua fértil imaginação, e ela pôde sentir o rubor aquecendo suas faces. Só esperava que ele não tivesse a capacidade de ler pensamentos.
- Certamente. - disse friamente. E sufocou seu desapontamento por ele não ter lhe dado um beijo de despedida.
Tola, tola, tola. Claro que ele não lhe daria um beijo de despedida. Ela não significava nada para ele, a não ser a amiga de sua irmãzinha. E, com certeza, uma das que ele não gostava muito.
O dia correu igual ao anterior. Não conseguia tirar Harry de seu pensamento. Um desejo secreto que ele a tivesse pedido para largar a barraca e ter ido passear com ele e Daisy. Para o inferno com o dinheiro. Se ele a tivesse convidado, ela teria ido.
- Está tudo bem? - perguntou Janey.
- Tudo. - mentiu Gina.
- Aquele irmão de Luna está lhe arranjando alguma confusão?
- Não. - Pelo menos não intencionalmente. E ela lutaria com todas as forças para recolocar sua libido sob controle. Tudo o que tinha a fazer era pensar em Draco e no estrago feito em sua vida. E recordar a promessa que fizera a si mesma de nunca mais entrar numa fria parecida. Tudo bem, Harry não era Draco. Mas ela sabia que o estrago emocional que Harry poderia deixar seria muito mais doloroso. Ela não queria pagar para ver.
- Humm. - resmungou Janey. Mas, para alívio de Gina, a conversa não foi adiante. Alguns clientes se aproximavam.

Harry, sentado no barco, dispensava à sua sobrinha apenas parte de sua atenção. Não conseguia tirar Gina da cabeça. Uma estupidez. Eles mal se toleravam. Além do mais, ela não fazia o seu tipo. Gostava de mulheres sofisticadas com roupas elegantes e salto alto. Mulheres de cabelos penteados e cérebros afiados. Os cabelos de Gina davam a impressão de que ela acabara de se levantar da cama; e ela se vestia como uma hippie com vestidos que pareciam combinações, enfeitados com rendas e veludo; e definitivamente ela estava mais para andar descalça do que com saltos altos.
Cérebro... Humm. Era nesse ponto que Gina o intrigava. A olhadela que tinha dado em seus livros de contabilidade mostrara-lhe que era esmerada e eficiente. Prometia! O que era esquisito, pois sempre a considerara como uma das amigas de Luna mais desleixada. Ela se mostrara um pouco evasiva sobre o seu trabalho...
- Tio Harry!
- Desculpe querida, o que foi?
- Podemos ir ao museu da tia Gina?
- Museu da tia Gina? - Do que ela estaria falando?
- Fica perto dos dinossauros. Tem montes e montes de roupas bonitas lá.
Dinossauros. O Museu de História Natural em Kensington? Se o museu fosse perto de lá... poderia ser o museu de trajes antigos?
- Por que museu da tia Gina?
- Porque ela trabalha lá. Mamãe e eu vamos lá encontrar com ela, algumas vezes.
Humm. Gina dissera alguma coisa sobre empregos de curadoras em museus não serem tão abundantes. Não lhe dissera nada que trabalhava em um museu. Nem mesmo quando a perguntara diretamente. Por quê?
- Ela trabalha muito lá?
- Só às segundas-feiras. Mamãe e eu vamos lá depois da creche. A tia Gina compra, na lanchonete, um lanche especial que vem numa caixinha. Algumas vezes, tem pirulito de chocolate dentro.
Pois sim, ele poderia apostar que Gina a faria comer muitos legumes e verduras antes de dar a ela um chocolate. Ainda bem, pois Luna era do tipo que comia o pudim primeiro. Mas agora sua curiosidade fora atiçada.
- O que tia Gina faz no museu?
- Costura especial. E ela coloca roupas nas pessoas que ficam nas vitrines.
Estava parecendo que Gina trabalhava como restauradora em expediente parcial. Por que o havia deixado pensar que não utilizava seu diploma? Que tinha apenas uma barraquinha no mercado e que isso era o suficiente?
- Vamos, tio Harry?
- Se tivermos tempo. Não é longe de Kew.
- Que bom! Eu vou lhe mostrar as vitrines especiais da tia Gina.
Daisy não conseguiu encontrar nenhuma fada em Kew. Então Harry prometeu-lhe o lanche especial das segundas-feiras e eles foram ao museu em Kensington.
- Olha só a vitrine da tia Gina. - Daisy puxava o tio pela mão.
Era uma vitrine de roupas de 1820. Tinha um texto próximo. Ele curvou-se e leu apressadamente. O texto explicava sobre o figurino, sobre os tecidos e contava o modo como as roupas eram produzidas na época. Quem quer que tivesse escrito aquele texto sabia do que estava falando e ainda fazia o visitante ficar interessado. O mais interessante, contudo, era o nome no final do texto. Uma certa G. Weasley.
Durante o restante da tarde, ele tentou se concentrar em sua sobrinha, mas não conseguiu tirar Gina do pensamento. Ela era inteligente. Ele sempre se interessara por mulheres inteligentes, que podiam argumentar em condições de igualdade com ele.
Que inferno! Há apenas dois dias ele considerava Gina Weasley uma desmiolada. Agora... Ele ainda pensava que ela era um pouco cabeça-de-vento. Não era do seu mundo. Mas era organizada, esperta e extremamente sexy. Perigosa. O tipo de mulher que poderia fazer com que ele se desviasse de seus objetivos. Alguém que deveria evitar. Mas que tolice! Eles nem mesmo gostavam um do outro. Será que ela sentia a mesma atração? Será que gostaria de beijá-lo? Esquecer o mundo lá fora e construir com ele um mundinho todo especial... numa cama de quatro colunas e cortinas cerradas?
- Tio Harry, você está com uma cara engraçada.
- Estou pensando, querida.
Entregue à luxúria. E precisava parar com isso imediatamente.
- Vamos, princesa, é hora de irmos para casa. - Como Daisy se mostrava muito cansada, ele a pegou no colo e, ao sair do museu, reparou no olhar das mulheres. Um homem carregando uma criancinha. Deviam tomá-lo por um pai solteiro passeando com sua filha. Se quisesse, poderia ter marcado uma dúzia de encontros desde a saída do museu até a estação do metrô. Mas naquele momento apenas um rosto lhe entusiasmava. Pelo bem de sua saúde mental, precisava esquecer aquele rosto. Um relacionamento com Gina seria um desastre. Ela o distrairia dos objetivos de sua carreira e isso ele não poderia se permitir. Como o filho mais velho dos Potter, recebera o nome de seu avô. E esperavam que ele quebrasse o recorde do avô e fosse o mais novo Potter a entrar para o Conselho de Advogados da Rainha. Ele mesmo esperava conseguir isso. Estava se esforçando e quase conseguindo. Portanto, não tinha tempo para relacionamentos.
Mas uma voz soprava em seu ouvido. Sua vida é um vazio só, e você está tentando preencher com trabalho. Está perdendo uma coisa muito importante. E ela é a mulher que pode ajudá-lo a encontrar.
Seu bom senso era mais prudente. Pelo amor de Deus! Ele tinha um bom exemplo! Sirius, seu padrinho e melhor amigo de seu pai, se apaixonara por uma mulher que não combinava com o ambiente jurídico. E, no mundo jurídico, quem quiser chegar ao topo da carreira tem de se casar com a mulher certa. Embora Harry fosse muito ligado à sua madrinha, algumas vezes se perguntava se Sirius não havia se arrependido de nunca ter alcançado seu potencial pleno. Depois de seu casamento com Natasha, Sirius havia desistido de qualquer promoção.
Bem, isso acontecera há trinta e cinco anos. Mas no ambiente jurídico tudo se movia de modo extremamente lento. A situação não havia mudado tanto. Um pretendente a conselheiro da Rainha e uma vendedora de barraca de mercado não combinavam. Se Harry quisesse de fato chegar ao topo de sua carreira, Gina seria a pior namorada que poderia arranjar. Esse foi o motivo de ele ter sido um pouco áspero com ela ao chegar no apartamento de Luna. O motivo de ter concentrado suas energias em Daisy. E o motivo de apenas ter lambiscado o macarrão ao alho e óleo que Gina preparara para todos naquela noite.
Ele de fato deveria ir para casa. Mas não conseguia se levantar do sofá. Droga! Desejava estar perto de Gina e, ao mesmo tempo, a quilômetros de distância. Sua cabeça ia para um lado e o coração, para outro. Não tinha muita certeza de qual lado deveria seguir. Era óbvio que ela havia percebido seu estado de ânimo. Nem tentara conversar. Fizera a contabilidade e guardara os livros, pegando uma peça de roupa para consertar. Harry estava em um bom posto de observação, sentado no sofá com o jornal à frente. Observava o modo como aqueles dedos ágeis e habilidosos trabalhavam. Talvez fosse melhor pensar em algum processo judicial. Alguma coisa insípida que fizesse seu corpo voltar ao normal. Olhar Gina o fazia imaginar aqueles mesmos dedos percorrendo sua pele, acariciando-a. O que o estava deixando cada vez mais excitado. Por que não conseguia deixar de olhá-la?
Ela estava concentrada e os lábios encontravam-se ligeiramente abertos. O lábio inferior era cheio, sensual. Oh, céus, ele queria beijá-la. Queria sentir as mãos dela em seus cabelos, melhor ainda, sobre a sua pele nua. Melhor ainda, guiando-o para dentro do corpo dela. Não deveria ter imaginado ficar nu com Gina Weasley. Melhor seria ir embora. Quando ele dobrou o jornal, a porta da frente se abriu e Luna lançou-se dentro da sala.
- Oi, oi, oi, tive um final de semana fabuloso, Gina Weasley, e você é a melhor amiga do mundo inteiro... - ela parou abruptamente ao ver seu irmão. - Oh, não sabia que você estava aqui. – Harry sorriu ironicamente.
- Como não? Você enviou à mamãe a mais lacônica das mensagens. Sabia que ela entraria em pânico e me ligaria.
- E você veio me controlar.
Luna estremeceu exageradamente e abraçou sua amiga.
- Lamento Gina, não deveria tê-lo deixado aterrissar sobre você.
- Está tudo bem. Não foi nenhum problema. - disse Gina calmamente.
- Daisy ainda está acordada? - Luna perguntou.
- Já está na cama, dormindo. - informou Harry.
- Eu preciso vê-la. Foram dois dias, cinqüenta horas. Senti tanta falta dela! Só quero ver seu rostinho lindo.
Luna sorriu para Gina.
- Amei cada segundo que passei no spa, mas não ter Daisy comigo foi como se estivesse perdendo algo. Meu bebê.
Ela abandonou a sala. Harry e Gina trocaram um olhar.
- Não estrague a alegria dela - Gina procurou falar com suavidade.
- Não faria isso. - respondeu Harry estreitando os olhos. Ela teve a impressão de que ele estava retrocedendo ao antigo estilo, à sua posição na família, de irmão mais velho.
- Vou colocar água para ferver. - e Gina foi direto para a cozinha.
Quando voltou, Luna e Harry se fuzilavam com os olhos.
- Bem, posso ver que vocês dois têm muita coisa para acertar. Vou embora.
- Obrigada por cuidar de Daisy para mim. E pelo meu presente de aniversário. Eu estava completamente relaxada. - disse Luna, aludindo ao olhar ao irmão.
- Na verdade, não fiz muita coisa. Lizzy teve uma intoxicação alimentar e eu precisei ficar na barraca. Harry cuidou de Daisy para mim durante o dia. - Quando viu o rosto de Luna se fechar, Gina acrescentou rapidamente: - Eles se divertiram muito.
- Não me diga que ele fez com que você ficasse do lado dele também! Agora vai começar a me chatear.
- Não. Mas talvez vocês dois precisem conversar. Sem brigas. - E abraçou Luna. - Nós nos vemos depois. Até mais, Harry.
Ele acenou brevemente. Gina reuniu suas coisas e partiu. O plano era ir direto para casa. Mas seu carro se recusou a pegar.
- Não faça isso comigo agora. Preciso ir para casa. - ela falou com o carro.
Talvez tivesse afogado a máquina. Esperou dois minutos e nada.
Ela teria de chamar o serviço de socorro. Mas o celular estava descarregado. Não tinha alternativa. Precisava voltar ao apartamento de Luna e usar o telefone. Tomara que ela e Harry não estivessem no meio de uma discussão...
Luna abriu a porta parecendo enfurecida, mas sorriu quando viu Gina.
- Opa, esqueceu alguma coisa?
- O carro não quer pegar. E meu celular está descarregado. Posso chamar o serviço de socorro mecânico?
- Claro que pode. Amenos que meu irmão sabe-tudo possa consertar seu carro.
- Eu não sou sabe-tudo, mas entendo um pouco de carros. Qual o problema?
- Não quer pegar. - Gina observou que Harry retornara ao velho estilo. Obtuso e crítico, talvez estivesse pensando que ela havia esquecido de colocar gasolina ou algo do gênero. - Sei verificar o óleo e a água, o tanque está cheio e verifiquei os pneus. A oficina pode fazer o resto.
- Vou dar uma olhada. - disse Harry.
- Não precisa, vai lhe dar trabalho. Obrigada. Vou chamar o pessoal do socorro.
- Vou olhar primeiro. Pode ser alguma coisa que eu possa consertar e isso lhe poupará tempo. - Ele estendeu a mão. - As chaves?
Ele havia assumido o controle. Do mesmo modo como fizera com Daisy. Ela achou que ele tivesse abrandado um pouco, mas que nada... fora apenas temporário.
- As chaves. – Harry pediu novamente, dessa vez parecendo irritado.
Fora mesmo um sonho. Um pouco atrasada, estendeu as chaves.
- Obrigado. - ele disse. - Luna, você tem uma lanterna?
- Não sou assim tão incompetente, Harry. Claro que tenho uma lanterna. - Mas levou cerca de dez minutos para achá-la. Foram dez minutos nos quais Gina não sabia o que dizer. E Harry não facilitou.
Engraçado como ele havia mudado. Na noite anterior, parecia relaxado, quase alegre. Já naquele momento, estava muito estranho. Formal e inacessível, como na sexta à noite.
Finalmente Luna apareceu com a lanterna e Gina desceu com Harry.
Ele tentou fazer o carro pegar e nada. Levantou o capo.
- Pode segurar a lanterna para mim?
- Claro. - respondeu Gina, direcionando o facho de luz sobre o motor. Ele remexeu em alguns fios e em várias outras coisas que ela não saberia dizer o nome.
- Ok, tente novamente. - Dessa vez, o carro pegou.
- Obrigada. - murmurou ela. - Vou para casa agora e levo até a oficina amanhã de manhã.
- É melhor que eu a acompanhe até a sua casa, no caso de falhar de novo. Não desligue o motor. Vou subir apenas para me despedir de Luna.
Logo depois estava de volta.
- Meu carro está estacionado não muito atrás do seu. Vou tirar o carro e deixá-la ir na frente.
- Olha, provavelmente serão quilômetros fora do seu caminho. Estarei bem.
- Não é uma boa idéia. Não faça bobagem. Vou seguir você.
Por um segundo, Gina se viu tentada a escapulir antes que ele pudesse ligar o próprio carro. Mas, pensando bem, se seu carro falhasse em um sinal, ou num entroncamento, ficaria complicado. Com o celular descarregado, ela não poderia chamar o socorro. Era mais prudente aceitar a proteção de Harry.
Ele piscou as luzes e ela se pôs em movimento. Para seu alívio, o carro foi bem até o prédio, onde ela o estacionou. Harry parou o dele logo atrás e saltou.
- Obrigada por me trazer em casa. - ela agradeceu.
- Por nada.
Gina achou que seria delicado oferecer um café.
- Gostaria de entrar para tomar um café?
Ele a olhou por um momento. Justamente como ela esperava, ele agradeceria educadamente e recusaria. Obrigado, estou ocupado.
- Obrigado.
E ele a chocou verdadeiramente ao acrescentar:
- E uma ótima idéia.





N/A: respondo aos comentários no próximo capitulo, to sem tempo agora. Abraços.

Agradecimentos especiais:

issis: que bom que gostou do anterior, espero que goste desse. Abraços.

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