CAPITULO DOIS
CAPITULO DOIS
Harry achou que não deveria ter ido embora. Mas Daisy estava dormindo e Gina desejava o bem da menina, portanto não faria algo estúpido como sair e levar Daisy junto. Sua sobrinha estaria em segurança até o dia seguinte pela manhã. Ele poderia então retornar e verificar se Gina estaria cuidando bem da menina. O melhor jeito de fazer isso era supervisionar.
Quando chegou ao próprio apartamento, já tivera tempo suficiente de pensar em tudo o que Gina dissera. Estava aflito por se dar conta de que ela o via como um monstro controlador que nunca se importara em conhecer sua sobrinha. Será que Daisy realmente achava que ele era um bicho-papão, que não fazia mais nada além de brigar com sua mãe? Mas a garotinha ficava sempre feliz ao vê-lo nos sábados especiais. Alguma coisa não se encaixava.
Talvez fosse o fato de Luna dizer isso a Gina, não Daisy. Talvez a própria Daisy não tivesse falado sobre ele com Gina. Na verdade, Daisy também não havia falado muito sobre Gina para ele, apenas que ela era cheirosa e tinha vestidos bonitos. Ele nunca havia tentado descobrir o quanto Gina influenciava sua sobrinha.
Gina Weasley era instável e indigna de confiança. Uma vendedora de roupas usadas que tivera problemas com a justiça. Mas com que decisão vociferara contra ele... humm. Parecia que ela cuidava bem de Luna e ainda tinha uma estratégia para manter sua irmã nos trilhos financeiramente. Portanto, em vez de ser ainda mais desenfreada do que Luna, Gina era mais amadurecida. Poderia até mesmo ser uma boa influência para Luna.
"Poderia" era o tempo exato do verbo nesse assunto.
Havia a questão das mercadorias roubadas... mas talvez Gina fosse verdadeiramente inocente. Talvez tivesse sido injusto. Duplamente injusto, porque também estava lutando contra a sua atração e usando qualquer desculpa para antipatizar com ela. Ele não queria se envolver com uma garota leviana, especialmente agora, que não tinha tempo para a vida social. Para conseguir o que desejava, ele precisava fazer muitas horas extras. Não podia permitir que qualquer pessoa o distraísse.
Então por que não conseguia tirar Gina Weasley do pensamento?
Na manhã seguinte, Harry ainda não tinha a resposta a essa pergunta. Entretanto, quando chegou ao apartamento de Luna e ninguém respondeu à campainha, ele usou sua chave para entrar. Chamou por Daisy. Chamou por Gina.
Nenhuma resposta.
O apartamento estava em ordem, porém vazio. Foi tomado por um ataque de pânico. Onde elas estariam? Gina teria desaparecido com sua sobrinha? Ele não sabia o número do celular de Gina. Na noite anterior, Gina não dissera nada sobre sair com Daisy. Ele achava que ela fosse o tipo de pessoa que dormia até o meio-dia e estaria mal acordada quando ele chegasse.
Estava redondamente enganado. Desse modo, onde ela se metera?
Então, veio o estalo. Gina vendia roupas em uma feira. O que significava que tinha uma barraca. O mais provável era que estivesse lá, mesmo que supostamente devesse estar tomando conta de Daisy. Os finais de semana eram os dias mais lotados no Mercado de Camden; milhares de turistas invadiam o lugar em busca de uma pechincha. Eram muitos os lugares para procurar: Stables, Camden Lock, o Canal e Buck Street, mas ele tinha o pressentimento de que todo mundo conhecia Gina Weasley. Tudo o que teria a fazer era perguntar...
- Alerta para uma divindade do sexo. - Janey saiu do fundo de sua barraca para os fundos da barraca de Gina. - Olha ali!
Gina sorriu. Janey vivia dizendo que seria bom para Gina sair com alguém e superar o que havia acontecido com Draco. Gina pensava de outra forma. O julgamento que fazia dos homens era absolutamente ruim - Draco já o provara de uma vez por todas - e de modo algum ela se arriscaria a ser magoada novamente. Estava feliz na condição de solteira, graças a Deus. Tinha um trabalho que a entusiasmava, bons amigos, uma família que a amava e uma afilhada que adorava. Definitivamente não queria a complicação de um amor em sua vida.
- Oh, que homem! Se eu tivesse um balde de água, atiraria em cima. Pode imaginar aquela camiseta molhada? Oh, que músculos! - Janey abanou-se. - Com certeza eu não o colocaria para fora da minha cama.
Gina gargalhou.
- Parece que é você quem está precisando de um balde de água fria, Janey!
Então, seu sorriso se desmanchou ao olhar para onde Janey havia apontado. Todos os olhos femininos do local se dirigiam a ele. Mesmo com o mercado lotado, Harry Potter se sobressaía na multidão. Usava calça jeans desbotada - tão apertada que ressaltava seus músculos glúteos - uma camiseta simples branca e óculos escuros. Roupas completamente ordinárias em um homem extraordinário.
Era a primeira vez que Gina via Harry em roupas informais. De terno escuro e camisa social branca, ele era formidável, mas distante. Com roupas informais, era algo mais... Tocável.
Uh! Alguém havia colocado cola em sua boca. Devia ser esse o motivo de sua língua ter empacado no céu da boca.
- Eu lhe disse. - Janey falou rindo. - Até mesmo você não pode dizer não a isso tudo!
Então foi a vez de Janey emudecer. Harry se dirigiu à barraca de Gina e sorriu. Um sorriso verdadeiramente estonteante.
- Olá, Gina.
Ela devia estar sonhando. Harry nunca havia pronunciado seu nome - era um ponto de honra para ele. Se não proferisse o nome dela, poderia prosseguir considerando-a indigna de sua atenção. E jamais lhe havia dirigido um sorriso. Ela teria se lembrado de um sorriso como aquele. O tipo de sorriso que iluminava o mundo inteiro.
Ela cruzou os braços e beliscou a pele de seu cotovelo.
- Ui!
Então, ela não estava sonhando.
- Você está bem? - perguntou, parecendo genuinamente preocupado.
- Oh, sim. - Sem chance de admitir a Harry Potter o que acaba de fazer. Seria por demais embaraçoso.
- Onde está Daisy?
Oh, esse era o motivo. Ela apontou uma pequena área nos fundos da barraca.
- Aqui. Fazendo uns desenhos lindos.
- Veio brigar com tia Gina? - perguntou Daisy, Harry sorriu.
- Não. Advogados não brigam o tempo todo com as pessoas.
- Advogado? - Janey empertigou-se no alto de seu um metro e meio, cruzou os braços e empinou o queixo: - Se veio incomodar Gina, está no lugar errado. Todos aqui sabem que Gina Weasley é completamente correta.
- Não estou aqui a trabalho. - Harry sorriu e estendeu a mão. – Harry Potter. Prazer em conhecê-la.
- Potter? Como a...? - Janey olhou para Daisy. Harry concordou com a cabeça.
- Irmão de Luna. Tio de Daisy.
- Humm. - resmungou Janey, sem estender propositalmente a mão. - Caso precise de mim, estou logo ali, Gina.
Harry franziu o cenho e perguntou:
- O que foi?
Como ela poderia explicar?
- É uma longa história. - respondeu.
Harry não aceitaria facilmente o fato de sua irmã ter falado sobre ele e sua família aos comerciantes locais em termos nada animadores.
- Não vim brigar.
- Não?
A dúvida devia estar escrita na face de Gina, pois ele suspirou.
- Olha, admito que queria verificar se Daisy estava bem. Mas não vim brigar. Pensei no que disse ontem à noite. Talvez tenhamos nos confundido.
Estaria escutando coisas? Estaria Harry admitindo que tinha errado?
- Gina?
Ela estava tendo problemas em focar sua atenção.
- Você acabou de admitir que estava errado sobre mim?
Ele teve a graça de ruborizar. E, oh, céus, aquele débil ar de vulnerabilidade. Foi somente um momento, mas mostrou que havia outro homem atrás daquela fachada de advogado severo.
- Ambos nos equivocamos. - acrescentou ele. - Para a sua informação, eu telefono para Luna três vezes por semana e levo Daisy para passear um sábado por mês. Poderia até ser mais presente, caso Luna não me chamasse de monstro controlador.
- É a primeira vez que escuto isso. - falou Gina.
- Luna exagera um pouco em ser a pobre menina rica cuja família não a entende. Pergunte a Daisy se não acredite em mim.
- Ela diz que você ralha com Luna.
- Provavelmente sim. É um hábito. Ela é minha irmãzinha e estou acostumado a arranjar as coisas quando ela arruma confusão. O que acontece com bastante freqüência.
Gina não sabia o que dizer.
- Eu amo minha irmã caçula, mas também a vejo como ela é. E ela é a rainha do drama e um ímã para o caos. Isso costuma me deixar maluco. Agora aceito isso e não temos brigado muito.
Algo estava errado. Todos os Potter reprovavam Luna e seu estilo de vida. Gina até mesmo escutara uma vez a voz de Harry na secretária eletrônica, exasperado e crítico. Mas ele estava ali, dizendo que Luna exagerava...
Gina sabia que ele estava certo. Luna era divertida, mas também era a rainha do drama. E um ímã para o caos. Harry a resumira corretamente.
E dissera que amava sua irmãzinha. E que levava Daisy para passear.
Será que durante todos aqueles anos ela também o interpretara mal? Será que falhara em ver através da lengalenga dramática de Luna e não percebera o quanto a família dela se importava?
- Eu não sabia que estaria trabalhando hoje. - disse Harry.
- Não tinha a intenção de trabalhar hoje. Mas a amiga com quem combinei de ficar em meu lugar teve uma intoxicação alimentar essa noite. Assim, de última hora, não consegui arranjar outra pessoa.
- Entendo.
- Hoje é o dia de maior movimento para mim, Harry. Preciso pagar taxas pelo local, estando aqui ou não.
E seu orçamento estava no limite. Graças a Draco, ainda tinha dívidas para pagar. Dívidas que jamais deveriam ser dela.
- Não é o ideal, eu sei, mas Daisy ficará bem. Está com um estoque de papel e canetas, e Janey poderá me substituir toda vez que eu precisar levar Daisy ao banheiro ou arranjar alguma coisa para ela comer. Não tenho intenção de negligenciá-la. Ela é filha da minha melhor amiga, e é minha afilhada. O que a faz praticamente da minha família.
Ela achou que ele iria discutir detalhes legais como o fato de ela não ser parente de Daisy. Mas ele parecia pensativo.
- Há outro jeito.
- Vai cuidar da minha barraca? Difícil.
- Acha que eu não consigo?
- A menos que se interesse por roupas antigas. Você não conhece o meu estoque. E duvido que saiba negociar.
- Negociar é o meu meio de vida. - observou ele.
- Como advogado, sim. Mas o tribunal não é igual ao mercado.
Ele parecia louco para provar que ela estava errada. Mas então sorriu novamente e isso foi o suficiente para que os joelhos de Gina ficassem trêmulos.
- Reconheço isso, e também que não estou acostumado a roupas antigas. O que quero dizer é que posso tomar conta de Daisy hoje. Você mesma disse que não é o ideal. E, como já lhe disse, eu sempre tomo conta de Daisy uma vez por mês. Então por que não pode ser hoje? Podemos fazer o que você já havia planejado.
A noite passada ele dissera que ela não era responsável o suficiente para tomar conta de sua sobrinha. Atacar não tinha dado certo. Será que ele estava arranjando um subterfúgio para tirar Daisy dela?
Ela cruzou os braços e balançou a cabeça.
- Luna deixou a criança sob meus cuidados.
- Olha Gina, sei que temos as nossas diferenças. Mas ambos desejamos o melhor para Daisy. Você sabe com quem a está deixando. E dificilmente irei raptar a minha própria sobrinha.
Gina estava insegura.
- Ela vai ficar bem comigo. Ela conhece o mercado, e todos aqui em volta a conhecem.
- Ela vem muitas vezes com você aqui?
Soava como uma pergunta maliciosa. Algo com que ele pudesse provar que Luna negligenciava a garotinha. Por força da profissão, Harry era perito em palavras e, por uma amarga experiência, ela sabia que os advogados distorcem o sentido das palavras para que sirvam aos seus objetivos. Portanto, deveria ser muito, muito cautelosa com o que dissesse.
- Quando Daisy era pequenina, Luna costumava ficar por aqui. Ela está em segurança neste lugar. Estamos em comunidade, onde cada um cuida do outro.
Harry afundou as mãos em seus bolsos, como se tentasse esconder sua irritação.
- A que horas você termina?
- Às cinco.
- Ok. Deixe colocar as coisas de outro modo. Daisy tem quatro anos. Ela não vai querer ficar sentada o dia inteiro desenhando. Precisa correr e gastar um pouco de energia.
Aquilo era surreal. Ela achava que Leo era o tipo de pessoa que acreditava que as crianças deveriam ser vistas, e não ouvidas. Que reprovava crianças correndo ou fazendo barulho. Será que havia se enganado tanto?
- Por que não posso levá-la para passear enquanto você trabalha? Vou deixar o número do meu celular e, se me der seu número, envio mensagens de texto dizendo onde estamos ou posso telefonar se acontecer algum imprevisto com o qual eu não possa lidar. E encontrarei você às seis horas no apartamento de Luna.
Tudo parecia bastante razoável.
- Vou verificar com Luna. - disse Gina puxando o celular da pochete.
- Ótimo. Mas pensei que tivesse dito que esse era um final de semana para Luna espairecer. Ela vai ficar preocupada e não irá relaxar.
Verdade. Esse fora o motivo pelo qual Gina não havia mencionado a visita de Harry quando Luna telefonara de manhã cedo e, felizmente, Daisy estava dormindo e também não pudera contar à sua mãe.
- Deixe que ela descanse no spa. Eu prometo, Daisy não sofrerá nenhum dano em minha companhia.
Gina parecia indecisa.
- Você nunca admitiu que estava errado. Ou qualquer outra fraqueza. Você é um Potter.
- Na verdade, eu sempre admito quando estou errado. O que não acontece com muita freqüência. Essa pode ser a primeira vez. E retiro tudo o que disse sobre você não ser responsável. Quer que eu lhe deixe alguma garantia como as chaves do meu carro para ter certeza de que não vou fugir com Daisy e pedir como resgate que Luna concorde em voltar a viver com meus pais? - Por um instante, Gina ficou tentada a concordar. A fisionomia severa de Harry iluminou-se com um sorriso. -Você acha mesmo que eu seria capaz de fazer isso?
- Eu não sei. - disse Harry honestamente.
- Pense bem. Sou advogado. Se roubasse minha sobrinha e você procurasse a imprensa, o que aconteceria com a minha carreira?
Estaria arruinada. Assim como a imprensa havia arruinado a carreira dela. É claro que ele não correria um risco como esse. Ela suspirou:
- Ok. Vou confiar em você. Desde que Daisy fique feliz em ir com você. Mas, de hora em hora, quero ter notícias e falar com minha afilhada para ter certeza absoluta de que ela está bem.
- De acordo. E eu te telefono se além disso tivermos algum problema que não possa ser resolvido por algo cor-de-rosa e brilhante. - Harry tirou o celular do bolso e o estendeu a ela. - Anote você mesma o meu número, de modo a ter certeza de que é o número correto. E, por favor, coloque seu número nele.
Os dedos de Gina tocaram os de Harry pela primeira vez. Ela não estava preparada para a súbita onda de energia a percorrer seu corpo. Como um simples toque podia fazer com que ela se sentisse sentada no topo de um vulcão em atividade?
Ela respirou fundo e entregou seu número. Para parecer mais profissional, anotou sob o nome de G. Weasley. Afinal, só estavam em contato por causa de Daisy. Não havia nada pessoal entre eles. Ela mudou a tela para copiar o número dele e colocar em seu próprio celular.
- Obrigado. - disse ele calmamente.
- Daisy, gostaria de passear hoje com o tio Harry? - perguntou Gina.
A garotinha largou o desenho e arregalou os olhos:
- Como em nossos sábados especiais?
Oh! Então Harry dizia a verdade. Por que Luna calou-se a esse respeito? O jeito como sempre falava de sua família... será que ela carregava nas tintas somente para ter uma boa história para contar?
- Tia Gina terá de ficar o dia todo na barraca. – disse Harry. - Talvez você e eu possamos ir aonde sua tia Gina havia programado.
- Ver os tubarões no aquário? - perguntou Daisy. Ele a olhou com indulgência.
- De novo? Mas, se é isso o que quer, iremos ver os tubarões.
- Podemos tomar sorvete?
- Somente se comer todo o seu almoço.
Gina e Harry falaram ambos ao mesmo tempo, e então se encararam. Ele não esperava que ela fosse tão rigorosa quanto ele nessa questão. Por sua vez, ela também ficou surpresa ao ver que ele impunha uma condição, ao invés de bancar o tio favorito que diz sim a tudo.
- Podemos almoçar espaguete? - perguntou Daisy.
- Um bom espaguete de verdade, não aquela coisa instantânea. - acrescentou prontamente Gina.
Harry olhou parecendo divertido.
- Eu sei. Poderemos comer espaguete, Daisy, naquele pequeno restaurante italiano que você gosta, em Covent Garden.
- Aquele onde me deram um pirulito de chocolate? Posso ir, por favor, tia Gina?
Gina afagou os cabelos da menina.
- Lembra-se das regras?
- Ficar perto do tio Harry e fazer tudo o que ele disser. Sempre faço.
- Garota esperta. - Gina abraçou sua afilhada. - Que você tenha um dia adorável! - Ela olhou para Harry e disse: - Espero que me ligue de hora em hora.
- Pode ficar tranqüila. - disse Gina: - E... Rose...
- Sim?
- Você está certa, eu não negocio tão bem quanto você. - Olhava fixamente a boca de Gina. - Talvez seja algo que eu precise exercitar.
Estaria Harry flertando com ela agora? Aquele olhar e aquelas palavras deixaram em seu cérebro uma imagem completamente diferente. A imagem da boca de Harry exercitando-se na dela: Daqueles lindos lábios a provocando. Seduzindo-a a abrir a boca. Da língua dele procurando a dela.
Achou melhor ficar calada. Limitou-se a observar Harry se afastar de mãos dadas com Daisy. E rezou para que estivesse fazendo a coisa certa.
Agradecimentos especiais:
Bianca: Segundo capitulo postado, espero que goste. Beijos.
Thamis No mundo ........: Com certeza, segundo capitulo no ar, espero que tenha gostado. Beijos.
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