CAPITULO UM



CAPITULO UM

- Você parece uma princesa. - murmurou uma voz sonolenta.
E parecia mesmo. Uma princesa cigana. Descalça, vestido de seda branca, enfeitado com rendas, agasalho de plumas vermelhas, tiara brilhante nos cabelos cujos cachos vermelhos espiralados desciam pelas costas, ela estava engraçada. Como uma criança brincando de ser adulta arrumada para sair.
Mas, ao invés disso, parecia boa o bastante para um caso rápido. E ele a imaginou vestida somente com o agasalho de plumas...
Harry Potter ficou furioso consigo mesmo por pensar assim sobre a melhor amiga de sua irmã caçula e, sob o seu ponto de vista, a pior coisa que poderia ter acontecido a Luna. Gina significava encrenca, e das grandes. E agora, Luna viajara, não se sabe para onde, por alguns dias e deixara Gina, uma de suas amigas nada confiáveis, para cuidar de Daisy.
Inacreditável.
Seria querer demais achar que a maternidade deixaria Hermione mais sossegada e responsável. Ela ainda abrigava a criança selvagem que fora sua marca desde a adolescência. E de forma alguma Harry deixaria sua sobrinha de quatro anos por conta de Gina Weasley. Mesmo que, naquele momento, Gina estivesse abraçando Daisy e lendo uma história para ela. Daisy já deveria estar na cama há tempos. O apartamento estava uma bagunça. A sala de estar parecia ter sorrido um assalto, coisas espalhadas por toda parte e uma pilha de roupas para lavar amontoadas sobre uma cadeira. Ele tremeu só de pensar em como estaria a cozinha. Como uma mulher podia fazer tanta bagunça no espaço de meio dia?
Gina levantou os olhos, viu que ele se inclinava sobre o batente da porta e gritou.
- Está tudo bem, tia Gina, não é um assaltante. É o tio Harry. - disse Daisy. E ofereceu a Harry um daqueles sorrisos que lhe derretiam o coração. - Oi, tio Harry.
Ele também sorriu.
- Olá, princesa.
Gina afagou os cabelos da menina.
- Desculpe, meu bem, se assustei você. Fiquei um pouco surpresa porque não esperava ver ninguém. - E, olhando diretamente para Harry, acrescentou: - Não escutei você bater à porta.
Ele, porém, não tinha se dado a esse trabalho. Recebera notícias da situação por sua mãe: o telefone de Luna estava na secretária eletrônica e o celular, desligado. Então, resolveu descobrir o que estava acontecendo e verificar se sua sobrinha estava bem.
Naquele momento, constatava, seus piores receios se concretizavam.
Percebeu que Gina esperava uma resposta. Por que ele não batera à porta?
- Tenho a chave reserva de Luna.
- E normalmente é assim que você entra?
Óbvio que não. Ele tinha aquela chave para casos de emergência. E, sob o ponto de vista dele, aquilo era uma emergência. Será que Gina estava tentando fazê-lo sentir-se culpado por cuidar de sua irmã mais nova e de sua sobrinha?
- Essa não é uma situação normal. - ele declarou. Gina o olhou com uma expressão de censura.
- Pas devant l'enfant.
Ele piscou. Estaria imaginando ou ela acabara de falar em francês? E com uma pronúncia perfeita. Ele não tinha idéia que ela soubesse falar francês. Não na frente da criança. Ela estava certa. Não deviam incluir Daisy nisso. Ficou aborrecido com o fato de ter sido Gina a responsável o suficiente para pensar nisso e não ele.
- Vá até a cozinha e faça um café para você. Estou lendo uma história para Daisy. E depois disso você vai dormir, não é, doçura? Enquanto tio Harry e eu batemos um papinho na cozinha.
- Sim, tia Gina. - A garotinha sorriu confiante.
Ele se irritou por ter sido Gina a assumir o controle, mas não havia muito que fazer naquele momento. Não sem fazer uma cena e assustar Daisy na hora de dormir, o que ele não desejava. Não era culpa de sua pequena sobrinha. Ele deveria protegê-la, e não colocar mais desordem em sua vida.
- Boa-noite princesa, durma bem. - disse Harry. Precisou atravessar a sala e inclinar-se sobre Gina para dar um beijo de boa-noite em sua sobrinha. Péssima idéia. O perfume de Gina foi o cheiro mais excitante que ele havia sentido nas últimas semanas. Era uma tentação virar-se e beijá-la também.
Ele se dominou e foi para a cozinha. Lá, encontrou tudo impecavelmente limpo. Bem, a louça do jantar secava no escorredor, mas, fora isso, tudo estava perfeitamente em ordem. Talvez houvesse reagido além do normal sobre a sala de estar. Preparou uma xícara de café e sentou-se à mesa da cozinha.
Qualquer coisa a respeito de Gina Weasley mexia com seus nervos. Desde a aparência não-convencional de seu vestido, ao seu estilo caótico de vida, passando pelo doce perfume de baunilha. Tal como um saboroso chocolate, o perfume provocava em Harry um desejo de prová-la, quando, na verdade, ele queria mesmo era estrangulá-la. Gina definitivamente não era uma boa influência para Luna. Havia encorajado a irmã a deixar a faculdade quando Luna ficou grávida; e pior, ele sabia que Gina fora a julgamento sob a acusação de negociar mercadorias roubadas. Ele esperava que Luna abandonasse essa amizade... mas já aprendera que Luna fazia o oposto de qualquer sugestão dada pela família, portanto, não fizera desse assunto um problema crucial... mas parecia que Gina continuava perambulando em volta de sua irmã e a arrastando ladeira abaixo.
Fotografias estavam pregadas em um quadro de cortiça. Fotos de Daisy e Luna vestidas ao mesmo estilo não-convencional de Gina. Roupas de segunda mão. Em uma das fotos, Luna e Gina se abraçavam e riam como grandes amigas. Como irmãs.
Mas Luna não precisava de uma irmã. Tinha três irmãos mais velhos que a adoravam e mimavam como o bebê da família. Irmãos que sempre cuidaram dela. Embora Joe e Milo estivessem trabalhando em Bruxelas, ele, Harry, tinha a responsabilidade exclusiva de cuidar de Luna. Fazia malabarismos tentando conciliar um enlouquecido horário de trabalho com a supervisão de sua irmã, garantindo que ela não entrasse em confusões, pois era evidente que Luna atraía o caos. E uma das maiores responsáveis por esse caos aparecia na forma de Gina Weasley.
Então, Gina entrou e fechou a porta. Foi como se todo o ar tivesse sido sugado. A temperatura subiu alguns graus. Ela havia tirado a tiara e o agasalho, mas ainda estava descalça. E esbelta. Poderia facilmente atirá-la para fora do apartamento, se desejasse.
Imaginar levantá-la não foi uma boa idéia. A partir de então, só pensou em imprensá-la contra a parede e beijar a base de seu pescoço, antes de partirem para um sexo desenfreado. Envergonhado, achou que ela sabia o que se passava em sua mente.
- Então, - falou Gina calmamente - você decidiu honrar sua irmã com uma visita. Pena que ela não esteja.
Honrar Luna com uma visita? Ele se ressentiu. Gina falava de um jeito como se ele nunca tivesse se importado com sua irmã.
- Não que seja da sua conta, mas telefono para a minha irmã três vezes durante a semana.
Gina deu de ombros.
- Se diz assim...
Estaria ela sugerindo que ele mentia? Harry ficou tenso. E claro que telefonava para Luna três vezes na semana! Até havia colocado um alarme em seu laptop, de modo que, mesmo assoberbado, não esquecesse de ligar. E, um sábado a cada mês, levava Daisy a passear. Ele até poderia ligar e visitá-la mais vezes, mas sua irmã reclamaria de estar sendo controlada e fiscalizada.
Era evidente que Luna pensava de outra forma e andara reclamando dele. O que o aborreceu ainda mais. Cruzou os braços e retraiu-se em silêncio.
- A propósito obrigada por me fazer um café. - acrescentou Gina.
Essa ironia o afligiu. Ela o fazia parecer egoísta e rude.
- Ironia é a forma mais baixa de humor. Eu não sabia quanto tempo ainda iria demorar. Não há proveito algum em deixar uma xícara de café esfriar.
Ela ligou a chaleira. Embora o vestido de Gina chegasse aos tornozelos e fosse perfeitamente decente, Harry adivinhou as formas sensuais de suas pernas e imaginou o farfalhar do vestido caindo aos pés dela.
Ah, droga! Ele ganhava a vida argumentando com sutileza. Era bom nisso. Mas Gina o deixava com a língua presa. A libido simplesmente invadia seu cérebro e o abastecia com imagens suficientes para deixá-lo cauteloso ao falar. Essa era uma das razões pelas quais jamais dizia o nome dela. Receava que pudesse sair num tom de puro desejo. Como era possível detestar alguém e desejá-lo muitíssimo ao mesmo tempo?
- Quer mais café?
No exato momento em que ele se preparava para iniciar uma briga, Gina se mostrava gentil.
- Não, obrigado.
Ela não fez café para si. Em vez disso, usou uma espécie de saquinho de chá, algo que coloriu a água de um vermelho-rubi. Ele não iria perguntar, mesmo que exalasse um cheiro tentador, doce e forte, e que ele não soubesse identificar o tipo de fruta.
Ela se sentou do outro lado da mesa.
- Então, qual é o problema?
- Você.
Sentado assim tão perto, ele podia aspirar o perfume dela. Ela era agradável, sexy e fascinante. Tudo o que ele tinha a fazer era estender a mão e tocá-la. Descobrir se sua pele era mesmo tão macia. O quão sedosos eram aqueles cachos espiralados.
Ele readquiriu o autocontrole. Não estava ali por causa de Gina, mas por causa de Luna e Daisy.
- Está na hora de Luna começar a encarar suas responsabilidades.
- Mas ela já faz isso. - zombou Gina.
- É mesmo? Deixe-me ver. Ela chuta tudo para o alto para ir para a faculdade de arte, então, justamente quando meus pais começam a aceitar que talvez tenha feito a escolha certa, ela deixa de freqüentar o curso. Então, eles estavam certos o tempo inteiro. Era somente um capricho.
- E o que ela devia fazer? Encarar a maternidade e estudar ao mesmo tempo? Ora! Era óbvio que ela precisava tirar um ano de folga.
- Mas nunca retornou, e Daisy já está com quase cinco anos. Ela não tem um emprego adequado ou mesmo uma rotina; apenas fica zanzando entre uma atividade e outra. E, por capricho, agora desaparece por um final de semana e deixa Daisy com a primeira pessoa disponível.
Insuportável e presunçoso... Gina contou até dez, enquanto dava um jeito de manter sua voz calma.
- Talvez você devesse tentar apoiá-la, para variar.
- Como você faz? - A voz dele guardava uma certa aspereza. - Você fez um bom trabalho. Em primeiro lugar, você a apresentou a Paris Randall, se me lembro corretamente.
Pois fora o estudante de arte que desequilibrara Luna, a engravidara e sumira ao se dar conta de que a família dela não iria mantê-los no luxo pelo resto de suas vidas. Paris havia feito algumas das mesmas opções de curso na faculdade que Gina e estavam conversando numa lanchonete após uma palestra quando Luna chegou. Gina o apresentou, mas sem expectativa de que eles se apaixonassem. E que Paris - com cativantes olhos castanhos e adoráveis cabelos cacheados - pudesse ser tão sem moral a ponto de abandonar Luna e o bebê.
- Como você mesmo disse, ironia é a forma mais baixa de humor. Não acha que já me senti mal o suficiente a respeito de Paris? - perguntou Gina.
Harry deu de ombros, como se não se importasse muito com a forma como ela se sentia. Era um advogado frio e rígido. Exatamente o tipo de quem Gina havia fugido nos últimos anos. Ela não gostava do que Harry Potter representava, e essa era a razão pela qual ela o evitava ao máximo. Os outros irmãos de Luna, assim como os pais dela, eram igualmente cheios de deveres e obrigações. Por demais obtusos, não conseguiam ver como Luna era divertida. Tudo precisava vir embrulhado em responsabilidades.
- E depois, é claro, houve o caso do julgamento. - acrescentou Harry.
Ele tinha de trazer o assunto à baila.
- O veredicto confirmou minha inocência. - replicou Gina.
- Nós dois sabemos que pessoas culpadas vão a julgamento e conseguem se safar tecnicamente.
Não há fumaça sem fogo. Qualquer chavão utilizado daria na mesma. A reputação de Gina fora maculada. Ela quase perdeu seu emprego como curadora de museu, e somente o fato de trabalhar duro e ser boa no que fazia a salvou. De todo jeito, ela reunia poucas esperanças de conseguir o emprego de seus sonhos. Aquele maldito julgamento iria assombrá-la durante anos. A história da moda era um mundo pequeno e, embora ela fosse inocente, algumas pessoas iriam duvidar dela. Pessoas como Harry.
- Em primeiro lugar, eu não era culpada. - afirmou tranqüilamente. - E não me importo nem um pouco com o que pensa a meu respeito. - O que não era verdade, mas ela não iria se expor naquele momento. E levantando o queixo, acrescentou: - Eu sei a verdade e é isso o que importa. - Mesmo que a verdade por trás desse episódio fosse ainda mais indecente.
Ela não conseguiu encará-lo. Como deveria ser a boca de Harry quando estivesse quente de paixão, em vez de fria e cheia de cinismo? Ela nunca o vira sorrir. Mas, se fosse algo parecido com a irmã, seria absolutamente atordoante.
Ele tossiu, e ela se deu conta de que ele estivera falando. Ela havia perdido suas palavras, fantasiando beijá-lo.
- Desculpe. O que você estava dizendo?
- Minha mãe recebeu uma mensagem de texto de Luna dizendo que ela estaria fora no final de semana, em algum lugar.
Da forma como Harry dissera aquilo, parecia que Luna havia abandonado suas responsabilidades sem pensar um segundo sequer e estava perambulando em algum lugar.
Gina havia planejado ser civilizada, mas essa atitude fez com que seus planos se desfizessem.
- Você é intolerante, não é? Para a sua informação, ela foi para um spa no final de semana. E, antes que comece a reclamar do quão caro custa e como Luna esbanja dinheiro, é um presente de aniversário. Fui eu quem deu.
- E quanto a Daisy?
- Estou cuidando dela. Isso foi planejado no momento em que reservei o spa. É parte do presente. - Gina resistiu ao ímpeto de atirar seu chá em Harry. - Já lhe ocorreu o que é ser mãe solteira? Dia sim, outro também é você quem tem todas as responsabilidades. Não há ninguém para compartilhar a carga. Mas Luna nunca se queixa. Achei que ela merecia algo especial nesse aniversário. São vinte e cinco anos. Um quarto de século. Merece uma celebração, não acha? Um pouco de tempo para si mesma irá lhe fazer bem.
- Ela não pode abandonar as responsabilidades na hora que bem entende. E ela tem uma família que a apóia.
Ele chamou o que ofereciam de apoio? Gina balançou a cabeça negativamente.
- Fazer as coisas ao seu modo, ou brigar até que ela faça? Se não fosse pela semelhança física diria, que Luna foi substituída ao nascer, ela é bem diferente de vocês. Já está na hora de vocês entenderem que dinheiro não é tudo.
A hesitação de Harry mostrou a ela que acertara no alvo. Ótimo. Gina já sabia que a família de Luna a ajudava financeiramente. Mas isso era somente dinheiro. Luna era apenas a irmã caçula que saíra dos trilhos e todos a iriam desaprovar enquanto ela não agisse como eles queriam. Luna já havia desabafado a respeito e fora Gina quem enxugara suas lágrimas.
- Então o que sugere? - perguntou Harry.
- Tente se colocar no lugar dela, ou ver o modo como ela realmente é. Luna é uma ótima mãe. E trabalha duro. E ela é uma excelente designer de bijouterias.
Luna também havia se inscrito num curso de meio período, de modo a conseguir seu diploma, mas escondera isso de sua família e não seria Gina a revelar.
- Vai doer se você vier brincar com Daisy de vez em quando? Pode acabar descobrindo que ela é uma simpática menininha que não irá sujar o seu caro terno italiano. - Gina já havia notado o tecido e ardia de vontade de tocá-lo. Teria tocado, se o terno pertencesse a qualquer outra pessoa. Com aquela expressão de desagrado na face de Harry, ela achou mais prudente não se aproximar. Escamoteou a idéia de que não era somente o tecido que desejava tocar. O problema era que Harry Potter era deslumbrante. Moreno, alto e belo; coloração e estrutura óssea formidáveis. Adoraria vesti-lo. E depois despi-lo. Acariciá-lo até que ambos estivessem tremendo de desejo.
Mas ele também era o homem mais formal e distante que ela já conhecera. Podia ser belo, mas tudo o mais nele dizia "não me toque". Irritada, soltou a língua:
- Sabe o que é o mais triste em tudo isso? Quando eu era criança, lembro que meus tios me rodopiavam até eu ficar tonta, me contavam piadas, faziam cócegas e me levavam ao zoológico.
Ele a olhou friamente.
- E você acha que eu não faço nada disso?
- Não sei. - disse Gina. - Daisy vê você como o homem que chega e ralha com a mãe dela. E sequer menciona Joe e Milo.
Ele a encarou com seu olhar gélido.
- Eles trabalham com direito internacional. Não ficam muito tempo no país.
- E, quando estão aqui, eles não têm tempo para Luna. Vocês todos a tratam de "irmãzinha", mas a vêem como uma propriedade, não como uma pessoa. Uma propriedade sobre a qual vocês decidem. E todos já decidiram o lugar dela na família. Se ela não se ajustar, vocês a irão castigar.
Os olhos acinzentados de Harry se estreitaram. Frios e brilhantes. Como uma espada afiada.
- Quem é você para me julgar?
- A melhor amiga dela. A pessoa que está aqui.
- Então, agora se mudou para cá?
Gina compreendeu a insinuação. Achava por acaso que ela era uma aproveitadora?
- Não seja ridículo. Tenho meu próprio lugar para morar. Mas estou passando, sim, o final de semana aqui. Será menos confuso para Daisy do que levá-la até o meu apartamento.
- Isso não será necessário. Sou o tio. Eu cuido dela. - Gina ridicularizou.
- Não saberá nem como começar. Você não faz idéia da rotina dela, não sabe o que ela come, do que gosta de brincar.
- Claro que sei.
- Não. Você tem uma idéia preestabelecida de como as crianças deveriam ser, e de como Luna deveria ser.
- Luna é um ímã que atrai o caos. - disse Harry.
- Admito que ela não viva em ordem regularmente. Ninguém consegue quando tem uma criança. Mas eu levarei apenas dez minutos para guardar os brinquedos de Daisy, então este apartamento ficará parecendo bem-arrumado.
- E toda essa roupa para lavar, espalhada? - Gina correu os olhos pela sala.
- Isso não é roupa para lavar. É o meu trabalho. Pretendo trabalhar nessas roupas enquanto Daisy dorme.
Não havia nada que ele pudesse dizer, ela sabia; e exatamente como esperava, ele mudou de conduta.
- Não é somente o apartamento e o fato de ela ser desorganizada. Ela é incompetente com o dinheiro. Pior: ela é um alvo fácil para artistas vigaristas.
Isso era verdade, Gina sabia.
- Ela está melhorando. Mas se ficarem resmungando o tempo todo, isso só a tornará mais obstinada. Queixe-se de que ela desperdiça dinheiro e ela irá esbanjar o que tem, apenas para ser do contra. Ao passo que, se deixar que resolva o caso sozinha, então ela poderá ver quais são suas prioridades, onde terá que apertar o orçamento se tiver um ataque consumista, e onde irá arranjar dinheiro para desperdiçar se essa for a vontade dela. Tente capacitá-la, em vez de tratá-la como uma criança.
Harry sacudia a cabeça em aparente descrença.
- Isso é estranho.
- O quê?
- Sou um advogado. Estou acostumado a avaliar rapidamente as pessoas, e faço isso bem. E você vem me dar uma aula de psicologia e do modo como acha que eu interpreto mal a minha irmã?
- Você a interpreta mal.
- E você é especialista no comportamento das pessoas, certo?
- Sou negociante em barraca de mercado. Encontro pessoas de todos os tipos e posições. - Isso para não mencionar a terapia que havia feito quando tinha vinte anos. - Portanto, eu diria que conheço um bocado sobre pessoas. E não vou deixar Daisy com você. Luna a confiou a mim.
- Eu sou o irmão mais velho de Luna. Daisy estará perfeitamente segura comigo.
- Segura, sim. Feliz, eu duvido.
- E como vou saber se ela estará segura com você? - contrapôs ele.
- Ela estará. Não vou provocar a infelicidade de uma criança só porque você está cismado com alguma coisa. Você não gosta de mim. Tudo bem. Mas também não me conhece. Sem conhecer bem os fatos, não está em posição de fazer um julgamento válido.
- Qualquer um pensaria que você é uma advogada. - Harry a olhava, mal dissimulando sua antipatia.
Quase fui, pensou Gina. E isso acabou por me destruir.
- Acho que não temos mais nada a dizer. Tenho certeza de que tem coisas a fazer, eu com certeza tenho. Então, talvez queira usar a sua chave da porta, ao sair.
- Está me expulsando?
- Não. Estou sugerindo que não temos mais nada a discutir. E, como nenhum de nós dois gostaria de passar tempo socialmente com o outro, estou certa de que você pode passar o seu tempo de forma mais lucrativa.
- Isso ainda não terminou. - avisou Harry.
Ela não pôde resistir:
- Então me processe!
Harry simplesmente saiu. Sem bater a porta, sem gestos grosseiros. Apenas saiu. Gina escutou o barulho do trinco da porta da frente. E foi só.
Trinta segundos depois, ela deu duas voltas na fechadura e colocou a corrente. Foi olhar Daisy, que dormia agarrada ao ursinho. Recolheu os brinquedos e pegou sua caixa de costura. Tinha bainhas para fazer e botões para costurar. Não iria pensar em Harry Potter e em sua linda boca. Nenhuma vez.




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