Uma nova dimensão.



Harry foi para o quarto muito depois de Hermione, ficara na varanda por um tempo com a intenção de esfriar a cabeça. Sentia-se um idiota por tê-la perdoado tão facilmente, por ter revivido as esperanças de um romance e principalmente por não ter conseguido esquecê-la nesses seis anos... E também lamentava porque, na verdade, o principal motivo de sua tristeza era saber que perderia Hermione de vez, ela ia se casar.

Por outro lado sentia-se feliz com aquele beijo. Ele tinha certeza que ela quisera, ela correspondera, também tinha certeza que ela tinha gostado. Será que ela ainda sentia qualquer coisa por ele? Decidiu tentar deixar esse assunto de lado. No dia seguinte mesmo voltaria ao trabalho, apesar de ainda estar de férias. Ia apenas passar o dia por lá, assim não teria que pensar nela e nem vê-la.

Foi para o quarto decidido a dormir e esquecer tudo, coisa que obviamente não conseguiu, afinal, não conseguira nos últimos seis anos então também não conseguiria em uma noite...

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No dia seguinte Harry acordou bem cedo, vestiu seu “uniforme de trabalho” e foi para Gringotes trocar seu dinheiro bruxo por euros. Ao chegar lá notou que um homem de vestes trouxas estava tendo uma certa dificuldade em manter um diálogo com um dos duendes do banco, que parecia estar realmente irritado com o visitante.

“Ei você!” – chamou-lhe o homem – “Desculpe, mas é que o senhor é o único aqui vestido decentemente, deve saber me ajudar. Que diabos é um sicle? E quanto vale isso?”. – perguntou. Harry o respondeu, acalmando-o. O homem estava pensando que seria lesado ao trocar suas moedas. - “Muito obrigado... Senhor?”.

“Potter. Harry Potter”.

“Hum, prazer” – cumprimentou-o – “Shaw. John Shaw”. – eles deram as mãos.

“Prazer” – disse Harry.

“O senhor é a primeira pessoa que vejo vestido decentemente por aqui, sabe, quando minha noiva disse que morara numa cidadezinha muito distante eu não imaginei o quanto, até o sistema monetário aqui é diferente, pelo que vejo. Sem contar os bancários que trabalham fantasiados, uma piada!”. – disse ele que parecia bem surpreso com tudo o que via a sua volta.

“Hum, o senhor vem de onde?”. – perguntou Harry.

“Londres”. – Harry já tinha notado que ele era trouxa, mas agora viu que ele desconhecia totalmente o uso de magia, entre outros porque ele continuava em Londres e não tinha dado conta disso.

“Hum, interessante” – Harry decidiu não contradizê-lo – “Eu trabalho lá, mas venho para cá sempre que possível”.

“Minha noiva não vinha para cá há anos, desde o tempo da escola”.

“E qual é o nome da sua noiva? Talvez eu a conheça”.

“Ah, é Granger. Hermione Granger”.

Harry não soube o porque, mas não se surpreendeu com aquilo, de certa forma desconfiara desde o começo que o tal John tinha algo a ver com Hermione. Só se surpreendeu com o fato de Hermione esconder de seu próprio noivo um fato tão sério quanto ser uma bruxa.

“Então, o senhor a conhece?”.

“É, um pouco” – disse Harry fingindo indiferença.

“Se não for muito abuso de minha parte, o senhor saberia onde eu posso encontrá-la?” – Harry pensou que ele já tava querendo demais... Mas que mal faria? E ele adoraria ver a cara de Hermione ao vê-los juntos...

“Sim, ela estava no mesmo hotel em que eu estava hospedado. Se quiser posso levá-lo até lá, hoje estou sem pressa”. – ele não precisava realmente ir trabalhar...

“Ah, muito obrigado!”.

“Não há de quê!” – disse Harry se preparando emocionalmente pra ver a cara de Hermione assim que os visse juntos, certamente seria muito engraçado – “Aliás, sua noiva não lhe avisou em que hotel estaria?”.

“Não. Na verdade ela nem sabe que eu venho, o celular dela não tem sinal aqui e eu não consegui avisá-la. Foi a mãe dela que me disse como chegar aqui”.

“Hum” – limitou-se a dizer Harry.

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Hermione também acordara cedo, mas não teve coragem de levantar da cama, a cabeça dela estava a mil. Agora que tinha aceitado que amava Harry, parte de sua mente (muito provavelmente, a mesma responsável por aquela segunda voz) a obrigava a tomar uma atitude, mas ela preferiu ignorar essa parte. - “Ah, quem se importa com isso? Metade dos casamentos do mundo não acontece por amor! E eu não posso simplesmente deixar o John...”. – pensou, com relação a abandoná-lo bem quando ele decidiu ficar noivo. – “É, isso mesmo! Eu não vou cancelar o casamento, mesmo porque que futuro eu ia ter com o Harry?”. Ela ignorou a segunda voz que falava dentro dela que casar por amor sempre fora um de seus objetivos na vida.

“Bom, então, eu vou levantar daqui, arrumar minhas malas, tomar café e voltar ao mundo trouxa de onde eu nem devia ter saído”. – decidiu.

Assim que acabou de arrumar as malas, coisa bastante rápida, “Algumas horas a magia é realmente útil!”, desceu para o café da manhã, lá tentou ignorar o fato de estar procurando por Harry pelas mesas, ainda que discretamente. Antes ainda ocupava-se inventando desculpas do tipo “É só pra ver que roupa ele está usando” ou “O que tem de mal procurar um conhecido?”, mas agora preferia apenas ignorar esses instintos, afinal esquecê-lo era o que ela mais queria no momento. Em seguida foi até a recepção fechar a conta para depois ir embora, porém, lá, encontrou alguém que definitivamente não esperava encontrar!

“Hermione!” – disse John que foi correndo e a abraçou – “Que saudades meu amor!” – ela ficou tão surpresa com o aparecimento repentino que só disse um oi seco.

“Ah, que é isso? Não ta feliz em me ver amorzinho?”.

“Claro que eu to” – ela abriu um sorriso – falso – “Por que eu não estaria?”.

“Eu to só brincando com você, amor!”.

“Ah, claro que está” – disse Hermione que mal se recuperara do susto teve outro – “Harry!” – o homem acabara de entrar.

“Vejo que você a encontrou” – disse Harry com aquele sorrisinho cínico.

“Ah, encontrei, muito obrigado senhor Potter”. – agradeceu John, Hermione olhou para os dois perplexa, Harry queria gargalhar...

“Não precisa me chamar de senhor”. – disse Harry amigável.

“Vocês dois se conhecem?” – Hermione estava aflita.

“Há alguns minutos. Harry me ajudou a encontrar você, porque se eu fosse depender desse seu celular estava perdido até agora!” – disse John, Hermione estava com uma cara sem expressão, mostrando o quão assustada estava com aquela situação chata. Harry estava com um sorrisinho tão cínico que se ela tivesse em condições de tê-lo percebido teria, muito provavelmente, o estapeado.

“Desculpe a objetividade, mas o que diabos você faz aqui?”. – perguntou Hermione friamente a John, ele nem estranhou o tom, pois era assim mesmo que ela costumava falar com ele. Harry, porém achou inadmissível que um noivo aceitasse esse tipo de tratamento, ainda mais de Hermione, que ele sempre lembrara ser tão carinhosa. “Talvez ela só fosse carinhosa comigo” – pensou Harry que ficou bastante feliz com sua conclusão.

“Estava com saudades, supus que você fosse passar as férias todas aqui e vim pra cá. Ainda temos quatro dias, eu consegui licença da empresa pra poder ficar com você. Meu pai disse que esse foi nosso presente de casamento, mas aposto que até o nosso casamento ele já terá esquecido isso e comprará alguma coisa mais cara” – explicou John.

“Ah” – disse simplesmente Hermione – “Mas eu estava pensando em ir embora hoje mesmo, até arrumei as malas, olha”. – ela apontou as duas malas ao chão.

“Desarrume-as! Eu espero ansiosamente para conhecer um pouco mais sobre o seu passado, quero conhecer todos os seus amigos!”. – disse John, estava cada vez mais empolgado, então ele se dirigiu à recepcionista – “Gostaria de um quarto, por favor”.

“Lamento informar, mas estamos lotados” – Hermione suspirou aliviada com aquela resposta. “Finalmente as coisas estão começando a dar certo” – pensou.

“Ah, não acredito! Que azar!” – lamentou ele, Hermione mal conseguia esconder a satisfação, mesmo assim disse um “Que pena” que soou extremamente falso. Foi quando Harry decidiu ser “bonzinho”:

“Bem, se você não se importar de dividir um quarto, pode ficar lá no meu. Ele é bem amplo e possui duas camas, acredito que dê pra quebrar um galho pelo menos por enquanto”. – assim que terminou de falar lançou um olhar provocativo a Hermione que o fitou com olhos malignos. John nem notou nada, estava ocupado agradecendo Harry pela gentileza. Ele levou as próprias malas para o quarto, Hermione também levou as próprias malas de volta para o quarto em que estivera, já que ficaria por mais tempo.

“Hermione, até agora só conheci um de seus amigos, mas se todos forem legais como ele vou achar que você é muito sortuda!”.

Hermione deu um sorriso amarelo enquanto continuava fitando Harry com o olhar maligno, Harry, por sua vez parecia se divertir muito com a situação. Então, os três foram até o quarto que seria dividido pelos dois rapazes.

“Mas que beleza de quarto” – disse John assim que entrou.

“Não precisa mentir” – disse Hermione desanimada.

“Ta certo que eu já estive em suítes maiores, mas não consideraria esse um quarto ruim, amor”. – disse John com um tom de voz tão paciente que deixou Harry levemente irritado.

“Odeio quando você finge que tudo está perfeito só para me agradar” – disse Hermione que agora nem mais disfarçava o mau humor – “Mas dessa vez não cola, um cara como você que só se hospeda em hotéis cinco estrelas não pode ter gostado dessa espelunca”.

“Talvez as circunstancias tenham me levado a gostar do hotel, Hermione. Talvez o fato de estar com você e poder matar toda a saudades que eu sentia sejam suficientes para me fazer dar uma importância mínima para o lugar onde eu estou hospedado”. – Harry estava surpreso com o quão amável ele era com ela “Vai ser cachorrinho assim na p...” – pensou estressado.

“Desculpa John, você é perfeito sabia?! Eu sou uma insensível e mau humorada!”. – “que bom que ela reconheceu” – pensou Harry – “Agora ele vai pedir desculpas por ser tão pentelho!”.

“É, você é. Mas eu te amo mesmo assim”. – ele disse a agarrando pela cintura, ela sorriu para ele e beijou-lhe.

“Cof Cof” – era Harry, que ficara um tanto quanto sem graça ao notar aquela cena, Hermione adorou notar isso – “Talvez eu deva deixá-los a sós”. – a voz dele também não era das melhores, toda a diversão daquele diálogo tinha acabado!

“Na verdade, eu tenho malas a desarrumar no quarto ao lado, também estou saindo” – a moça deixou o quarto mas antes lançou um olhar de “desculpas” para Harry antes mesmo que se desse conta do que estava fazendo.

Harry deixou John e toda a sua alegria no quarto arrumando a cama “Quando ele descobrir que magia existe vai detestar ter perdido tempo arrumando coisas” – pensou. Saiu do quarto com a intenção de falar com Hermione, ele bateu na porta do quarto dela e ela abriu de repente, e como se soubesse que era ele quem batia, começou a falar instantaneamente.

“Como você encontrou ele? Por que diabos decidiu ajudá-lo? Qual é o seu problema?”.

“Gringotes. Minhas roupas trouxas aspiraram confiança nele. E você sabe, eu sou muito cordial. Quanto ao problema, por que você não me diz?”.

“Necessidade de me irritar talvez!” – ela gritou.

“Fala baixo, não é pra te irritar não. Se o que eu quisesse fosse te irritar usaria de outros meios!” – ele deu uma piscadinha para ela, que descontrolada bateu nele que deu risada, aquele tapinha que ela deu no braço dele nem foi sentido pelo forte rapaz. Ela estava irritadíssima e a risada estúpida dele estava a irritando ainda mais, foi quando um grito vindo do outro quarto foi ouvido por ambos que correram até lá para ver um John completamente branco, Harry não pode deixar de pensar no quão covarde era o noivo de Hermione.

“Vocês não vão acreditar! Mas os móveis desse quarto se mechem! Eu to achando que esse lugar é mal assombrado!”.

“Não é não, John” – disse Harry calmo. – “É só uma realidade que você desconhece”.

“Ahn? Do que ele ta falando amor? Ele é louco?”. – Hermione sentiu vontade de rir da cara de apavorado do noivo, tão diferente de Harry...

“Acho que a gente precisa conversar” – disse Hermione encarando o chão – “Não dá mais para adiar isso”.

“Eu particularmente acho que essa conversa já devia ter acontecido faz tempo!” – intrometeu-se Harry – “vou deixar vocês dois a sós, dessa vez eu realmente vou” – Harry saiu do seu quarto para que os dois conversassem em paz e Hermione contasse a John seu grande segredo, ele torcia para que John não a perdoasse depois daquela conversa.

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A conversa vinha durando cerca de duas horas, Hermione começara pelo dia em que recebeu uma carta vinda de uma coruja, passou pela parte da escola (Hogwarts), por Voldemort, a guerra, Harry, o abandono da vida para voltar a ser trouxa... E John simplesmente não aceitava a verdade!

“Você ta querendo que eu acredite que magia existe?”. – ele disse com um sorriso de descrença.

“Basicamente sim, e também estou tentando te contar um pouco sobre a minha vida”.

“Ta” – ele ri – “E papai Noel também existe?”.

“John, aceita logo as coisas por favor!”.

“Você tem provas de que magia existe?”. – ele riu.

Hermione usou um vingadium leviosa para levantar a cama. John achou estranho, mas não se convenceu, disse a ela que aquilo era algum tipo de truque. Então, ela fechou a porta e fez um Alorromorra para abrir, mas ele só acreditou mesmo quando ela aparatou de um canto a outro do quarto. Nesse ponto, ele estava absurdamente branco e não conseguia falar nada. Hermione ficou com medo da reação posterior dele. “Por que ele sempre fica branco quando ta com medo? Por Deus, que saudades de namorar alguém corajoso” – pensou.

“John, fala alguma coisa!”.

“Por que você nunca me falou isso tudo?”.

“Acho que você poderia viver feliz sem saber de nada disso, mas eu meio que fui obrigada a te contar agora que você me seguiu, mas se você quiser eu posso apagar sua memória, a gente volta para casa e você nunca saberá que magia existe”.

“Como você pode sugerir isso?” – ele disse surpreso – “Você não tem noção de como eu estou curioso pra saber tudo sobre magia! É como se meus sonhos de infância se realizassem! Eu quero saber mais!”.

“Que?”.

“Eu achei demais tudo isso”.

“Ah não Jonh” – Hermione sentou-se desanimada ao lado dele – “Eu não quero mais ser bruxa, já abandonei esse lugar... Por que a gente não volta simplesmente para casa?”.

“Eu é que não to entendendo! Você não disse que já mataram o tal do Voldemort?! Então não vejo o porque de não achar essa vida perfeita!”.

“É complicado” – mas é claro que ele não entendia o que era complicado, afinal ela não falara para ele a parte complicada, que era o seu relacionamento mal resolvido com Harry Potter.

“Não é complicado. É demais! Como você pode abandonar essa vida?” – disse ele empolgadíssimo com o mundo que descobrira existir – “Ta certo que se você não tivesse abandonado isso aqui nunca teria me conhecido...”.

“É”.

“Mas o que nós estamos fazendo trancados aqui nesse quarto? Você tem uma dimensão inteira para me mostrar!”.

“Dimensão?”.

“É, esse mundo de magia é algo como outra dimensão, não é?!”. – Hermione estava começando a se assustar com toda a empolgação de John – “Vamos! Vamos! Eu quero conhecer tudo!” – ele a puxou pela mão e saiu do quarto. No caminho para a saída do hotel, ele parou para analisar umas cadeiras que se moviam sozinhas, admirando-as.

“Parece que ele aceitou bem” – disse Harry que surgiu do nada por trás de Hermione.

“Bem? Ele aceitou maravilhosamente bem! Ele está mais empolgado do que nunca! É como se todo o mundo imaginário dos vídeo games dele realmente existissem” – Harry deu risada – “Não se empolgue muito, você é o herói dos vídeo games, eu contei sobre suas batalhas com Voldemort. Creio que você ganhou um novo tiete”. – e ela mal terminou a frase e John chegou:

“Harry, cara! Hermione me contou tudo! Você é demais! Depois poderia me dar autógrafos?” – Harry explicou que não gostava muito de dar autógrafos, ele entendeu e puxou Hermione para fora do hotel, pois ele tinha muita coisa para descobrir. E ela, muita coisa para explicar.
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