Pedindo Desculpas



No dia seguinte acordou cedo, como já decidira na noite anterior, ia pedir desculpas a todos, afinal, se todos dividiam a mesma opinião sobre a mudança em seu comportamento, provavelmente quem estava errada era ela.

Depois do banho ficou se encarando no espelho “Será que eu mudei tanto assim?” – perguntou-se. Sabia que sim, entre os trouxas ela não era nada demais, não era a garota grifinória, a namorada de Harry Potter, a sangue-ruim inteligente... Era apenas uma garota normal que se destacava em uma ou duas matérias na escola e tinha algumas dificuldades em fazer amigos. Ela precisou ter muita personalidade para poder ser alguém importante, teve que perder seu lado meiguinho e amigo (aquele que ajudava Neville nas matérias difíceis e que se empenhava para ajudar Harry a vencer Voldemort) para assumir o lado competitiva, o lado que pode passar por cima dos que são mais fracos facilmente. “Não foi minha culpa, se eu não tivesse feito isso tudo não chegaria ao cargo que ocupo” – pensou a voz justificativa, mas ela logo percebeu que se culpava e muito por tudo isso, preferia não ter precisado mudar de personalidade para vencer na vida. “Então eu nunca devia ter ido embora” – concluiu para si mesma, antes de completar, “Tarde demais, agora”.

Trocou de roupa, notou que em sua mala não havia nenhuma roupa tipicamente bruxa, então se vestiu com a que chegava mais perto disso, uma saia comprida estampada de flores coloridas, uma blusa branca estilo bata e sandálias sem salto. “Estou mais hippie do que bruxa, mas deixa pra lá”. Foi tomar café da manhã, mas quando se aproximou da porta de seu quarto parou por uns instantes por ter sua atenção voltada a um papel no chão. Era isso mesmo? Era seu diploma caído no chão? Era! Harry jogara-o por baixo da porta junto com um bilhete:

“Ta aí seu precioso diploma. Feliz? Agora você pode voltar pra sua querida vida. Ah, e desculpa por qualquer coisa, senhorita Granger!”.

“Sou eu quem deve desculpas” – disse ao ler aquilo, então foi ao café decidida a falar com o autor da nota, infelizmente não o encontrou. “Mas eu não acordei tarde dessa vez!”. Foi até a recepção perguntar sobre ele, disseram que ele saiu cedo e não avisou para onde. Então Hermione decidiu falar com ele por ultimo. Ia começar pelo outro melhor amigo, foi até o ministério.

Entrar naquele lugar a fez reviver muitas memórias, primeiro perguntou onde poderia encontrar Ronald Weasley, informada de que seria no sexto andar, pegou o elevador. Lá dentro notou a existência de uma placa que indicava os principais serviços de cada andar, um deles chamou-lhe a atenção. 4ºandar: renovação do direito de aparatar. E foi isso mesmo que ela fez, e não desistiu ao visualizar a fila imensa.

Ao pegar a autorização, duas horas de fila depois, notou que não havia denúncia sobre a aparatação ilegal que fizera no dia anterior. “Será que eles estão menos severos agora?” – pensou sem dar grande importância. Então foi finalmente falar com Rony.

Ficou mais uma hora a espera dele, que estava em reunião, mas mesmo assim nem pensou em desistir. Quando a secretária finalmente a anunciou, entrou na sala do ruivo reparando na cara de espanto dele, lembrava-se dessa cara dele muito bem. “Oi Rony”.

“Oi” – ele disse sem mudar a expressão, ela perguntou se ele tinha tempo para uma conversa, ele disse que sim. Ela começou a falar depois que se certificou que não estava o atrapalhando.

“Bom Rony, eu vim pra pedir desculpas”.

“Desculpas?” – ele estava bem surpreso, a cara dele era tão engraçada que Hermione sentiu vontade de dar risadas, mas controlou-se, o momento era sério.

“É, por eu ter sido tão fria com todos vocês. Esse é um problema que eu desenvolvi nos últimos anos, acho que vocês não estavam acostumados com esse meu lado. Bom, mas que eu seja fria com todos os outros é um problema menos grave do que ser fria com você, afinal, a gente costumava ser melhores amigos”. – despejou tudo de uma vez sem desviar o olhar, queria provar que estava sendo sincera.

“É verdade Mione. Bom, talvez eu esperasse mais de você nesse reencontro, eu também devo desculpas pelo que eu te falei ontem. Mas eu só fiz isso porque eu realmente nunca deixei de te considerar minha amiga, e você não tava agindo como uma”.

“Eu sei. Bem, agora eu sei. Na verdade foi bom vocês terem falado aquilo comigo ontem, porque só então eu consegui perceber o quão idiota eu tava sendo. Sabe, quando eu vivi aqui eu fui muito feliz e vocês foram os melhores amigos que eu tive em toda a minha vida, alias, os únicos com exceção da Haley”.

“E eu tenho que confessar que você sempre será a melhor amiga que eu poderei ter” – disse Rony bem mais feliz do que nos outros encontros deles.

“Sério mesmo? Mesmo com todas as nossas brigas?” – perguntou Hermione contente com o que o amigo dissera, ele fez que sim – “Eu também tenho que confessar que nunca tive um amigo como você, Rony”.

Então os dois se abraçaram como há muito tempo não faziam, desde o dia em que Hermione partira, mais exatamente. Foi um abraço demorado e sentimental, um abraço que voltou a selar a paz entre os dois, tanto que depois que se separaram voltaram a conversar da mesma forma que costumavam, como se os seis anos de separação nem tivessem existido.

“Mione, eu vou ter que sair pra almoçar, por que você não vem comigo?” – convidou Rony – “Isso se você não tiver outros planos, é claro”.

“Não tenho não Rony. Eu adoraria almoçar com você”.

“Ótimo, porque nós ainda temos mais coisas para conversar” – disse Rony – “Você já se desculpou com mais alguém?”.

“Na verdade você foi o primeiro, o Harry sumiu... E eu ainda quero falar com seus pais e sua irmã. Com o resto do pessoal eu não acho que tenha sido tão deselegante”.

“Deselegante você não foi com ninguém, no máximo, fria”.

Então, os dois foram até o restaurante em que já haviam se encontrado uma vez, sentaram-se numa mesa de dois lugares, e continuaram a conversa:

“Rony, eu também queria me desculpar por sumir desse jeito sem dar notícia e reaparecer do nada”.

“Ah chega de desculpas, Mione, guarde-as pro Harry”.

“Por falar em Harry, ele me devolveu o diploma”.

“Jura? Você deve estar feliz por isso”.

“Feliz eu to, mas também to preocupada, é como se ele quisesse que eu vá embora logo”.

“Duvido, ele deve estar querendo que você ache isso, afinal, desde que você chegou você vem demonstrando uma pressa enorme pra ir embora. Ele desistiu de te segurar aqui mais tempo”.

“Por que ele quereria me segurar aqui por mais tempo?”.

“Hermione, eu não pensei que algum dia eu fosse reparar coisas que você, a aconselhadora amorosa numero um de Hogwarts, não reparou”.

“Acho que eu perdi a prática” – disse a garota não entendendo muito bem.

“Deixa isso pra lá, então”. – desviou Rony – “Mas e então, quando é o casamento?”.

“Casamento?” – disse como se não se lembrasse de nenhum casamento, justamente porque não se lembrara, pelo menos naquele segundo – “Ah, o casamento com o John!” – disse mais para si mesma do que para o amigo – “Bem, ainda não marcamos uma data, mas assim que marcarmos eu mando os convites!”.

“Então você vai nos convidar?” – disse Rony com um jeito quase infantil.

“Por que não?” – respondeu Hermione sorridente.

Os dois continuaram conversando até que o horário de almoço de Rony acabou, então, Hermione decidiu ir até a Toca para se desculpar com o resto da família Weasley. Chegando lá, foi logo convidada a entrar pela senhora Weasley que estava na cozinha fazendo um bolo, o senhor Weasley estava junto com ela, ainda estava em seu horário de almoço.

“Com licença senhora Weasley” – disse Hermione assim que entrou na cozinha – “Eu vim aqui porque preciso conversar com os senhores” – Molly provavelmente se assustou com o tom de seriedade da garota, porém mandou-a prosseguir. Arthur também ficou sério, coisa que era bem rara. Hermione notou o clima e deu um sorriso antes de começar – “Bem, eu só gostaria de pedir desculpas pelo modo como estou me comportando ultimamente, enfim, sei que eu estou muito diferente do que eu era e isso é um erro, porque eu acho que mudei minha personalidade involuntariamente e não queria que nenhum de vocês achasse que eu estou os tratando dessa forma por não gostar de vocês, porque não é isso” – Só então Hermione percebeu que falava demais, ficou quieta para encarar a senhora Weasley, que estava com os olhos lacrimejantes – “Nossa, eu fui tão dramática assim?” – perguntou-se só em pensamento.

“Continue Mione, não se importe com essa manteiga derretida aqui!” – disse ela, Arthur acenando para que ela fizesse o mesmo.

“Bem, é só que eu queria me desculpar, e também falar que vocês são como uma segunda família para mim. Todas as vezes que eu vinha passar as férias aqui, ou até mesmo quando nos encontrávamos nos eventos escolares, ou quando lutávamos pela Ordem... Sempre os considerei como meus segundos pais. Se eu fui fria antes foi só porque eu fui uma idiota em esquecer dos melhores momentos que eu passei aqui”. – ela os encarou, por pouco tempo pois a senhora Weasley logo tratou de abraçá-la mais apertado do que ela esperava.

“Ah Hermione, você também é como nossa filha! Você e o Harry, acho que já te dissemos isso. E não pense que só porque você foi morar com os trouxas deixamos de considerá-la!” – então foi a vez do senhor Weasley falar:

“Eu sabia que você ia acabar se dando conta que seu lugar é aqui, garanto que será o melhor para todos!”.

“Mas eu não vou voltar, senhor Weasley, não definitivamente, pelo menos”.

“Não?” – perguntou a senhora Weasley.

“Não, eu só não quero ir embora com vocês todos tendo uma má impressão minha, mesmo porque pretendo vir visitá-los mais vezes e não ficar mais seis anos sem dar notícia”. – esclareceu.

“Ah” – disse Arthur só então entendendo – “Espero que realmente venha nos visitar em breve!”.

“Podem apostar que sim!” – disse Hermione antes de lançar outra pergunta – “A Gina está aí?”.

“Está” – disse a senhora Weasley. – “Mas talvez não seja uma boa idéia ir falar com ela agora, ela está com a cabeça quente de ontem”.

“Eu imagino, mas eu quero me desculpar com ela” – insistiu Hermione embora não tivesse certeza daquilo.

“Então pode ir” – encorajou o senhor Weasley – “Gina ainda tem o mesmo quarto”.

“Certo, obrigada” – ela foi, receosa. Pois Gina estava, também, bem diferente do que ela se lembrava, ela estava bem mais madura e auto-confiante, mas não a ponto de assumir o que sente por Harry. “Opa, como se essa descrição não se aplicasse a você!” – disse aquela segunda voz que ela tanto repudiava. Ignorou-a e foi até o quarto da amiga, se é que ainda a podia considerar uma. Bateu na porta e ela mandou-a entrar.

“Oi Gina, desculpa, mas é que você pediu pra entrar” – disse Hermione um pouco nervosa, esperava que Gina a expulsasse aos berros, mas não:

“Hermione? Nossa, nem imaginei que fosse você!” – disse largando um pouco o livro – estivera estudando – e a encarando. “Você queria falar comigo?”.

“Na verdade sim, eu vim aqui me desculpar pelo que eu falei ontem, eu estava nervosa com todos e acabei descontando em você que era a que menos merecia”.

“A gente também deu mancada né, demos motivo pra você se irritar e a culpa também foi minha” – confessou.

“É, mas isso acabou trazendo boas conseqüências, eu entendi o que vocês queriam dizer e percebi que a errada era eu” – confessou mais uma vez – “Eu mudei pra caramba e tenho noção disso bem como tenho noção que nem todas as mudanças foram positivas, mas uma coisa eu não queria que mudasse nunca: a minha relação com vocês bruxos”.

“Eu também não queria que nada tivesse mudado, Mione. Mas a partir do momento que você foi embora, tudo mudou, tanto para você quanto para nós, a verdade é que sentimos até uma certa raiva por você ter abandonado o Harry daquela forma” – confessou Gina, que tinha se tornado muito sincera. O que ela disse fez Hermione se sentir ainda pior.

“Eu não queria que tivesse sido assim” – disse tristemente. – “Eu sei que eu dei mancadas sem tamanho, mas eu não queria que ninguém sofresse com isso”. – completou para si mesma: “principalmente o Harry”.

“Agora que você entendeu isso deve ter percebido o porquê de termos te tratado mal ontem, tipo, você reapareceu do nada, super diferente, cobrando coisas sem nem ao menos se desculpar pela sua fuga repentina seis anos atrás” – explicou Gina.

“Eu sei, eu entendi isso, e por isso quero me desculpar”.

“Por mim, pode se considerar desculpada” – disse Gina sorrindo, estava feliz por ver que a amiga se tocara, então levantou-se e a abraçou como nos velhos tempos, quando elas eram colegas de quarto que dividiam todo o tipo de segredinho. – “Mas vê se não some mais viu” – avisou a garota em tom de brincadeira.

“Ah, agora vocês não vão mais se livrar de mim!” – prometeu Hermione, que foi interrompida pelo seu celular que começou a tocar. – “Ah, deixa eu atender, esse é o único lugar em que ele tem sinal”. Hermione atendeu a ligação, que vinha de sua mãe, teve uma conversa que foi ouvida por Gina, pois a mãe de Hermione falava muito alto.

“Eu to na residência da família Weasley, a senhora deve se lembrar”.

“A casa que você ia passar as férias?”.

“Isso, mãe! A casa do Rony”.

“Hum, e você já não devia estar de volta não? John está desesperado com a sua falta de notícias e suas promessas não cumpridas!”.

“Eu sei que eu prometi pra ele que ia voltar em dois dias, mas as coisas estão demorando mais que o previsto...”.

“Só espero que você não se esqueça que tem um limite de tempo pra ficar aí!”.

“Eu não vou me esquecer, mãe! Eu tenho uma semana aqui, e você sabe que eu sou responsável!”.

“Não é o que parece, você decidiu voltar pra esse lugar do nada e nem me avisou!”.

“Mãe, da um tempo eu não tenho mais quinze anos, não tenho que te dar satisfações o tempo todo...”.

“Como se aos quinze anos você me desse satisfações de alguma coisa, eu não me esqueço do tipo de encrenca em que você se meteu quando tinha essa idade, mocinha”.

“Ah não começa!”.

“Não começa você! Hermione você sabe o quão perigoso esse lugar é! E você nem é realmente um deles pra ficar querendo dar sua vida por uma causa que não é sua!”.

“É claro que eu sou um deles, eu não deixei de ser uma bruxa mãe! Mas não se preocupe, a guerra já acabou”.

“Ah, menos mal”.

“Agora eu preciso desligar. Tchau”.

“Hermione espera! Não vai ficar toda irritada comigo, você sabe que eu te amo demais filha, eu me preocupo com você...”.

“Eu sei disso mãe, também te amo, tchau”.

“Desculpe Gina, eu tive que atender a ligação da minha mãe” – disse Hermione, Gina respondeu:

“Eu não sabia que a sua mãe tinha a ver com a sua partida”. – disse a garota sem esconder que ouvira a conversa e nem que tirara as próprias conclusões a respeito do que ouvira.

“Acho que eu sou uma covarde em se tratando da minha mãe... Ela ficou super temerosa depois do quinto ano... Aí começou uma super campanha pra eu voltar até que eu acabei escutando ela”. – contou Hermione.

“Eu sei o quanto é difícil contrariar uma mãe”.

“Mas difícil que isso é contrariar a minha mãe!” – Hermione deu risada – “E o pior é que falam que eu me pareço com ela”.

“Talvez você pareça mesmo” – Gina deu risadas – “Pelo menos costumava parecer...”.

“Bom, mas me conte, o Harry... Você voltou a gostar dele depois que eu fui embora?”. – perguntou interessadíssima – e também porque queria mudar o rumo do assunto.

“Ah, de certa forma. Depois que você foi embora eu fiquei muito mal por ele, Mione. Você não tem noção de como ele ficou abatido. Aí depois teve a batalha dele com o Voldemort, ele quase morreu... Sei lá, de certa forma todas essas coisas fizeram com que eu me aproximasse bastante dele. Aí eu acabei me apaixonando de novo, mas durou pouco... Eu percebi que só estava querendo realizar um sonho de infância de ficar com o garoto que eu amava tanto. E ele...”.

“Ele o que????” – perguntou interessadíssima, sentiu que a segunda voz, pela primeira vez, deixara de ficar só na mente e se exteriorizara “Não posso deixar isso se repetir”. Gina deu uma risadinha por causa do grande interesse de Hermione. – “Curiosidade só” – a garota disse.

“Conheço essa sua curiosidade” – riu Gina, para depois continuar – “Bom, ele só queria namorar outra amiga pra ver se conseguia esquecer você”.

Hermione ficou feliz com aquilo. “Não eu não fiquei feliz, só estou lisonjeada” – justificou-se, mas a segunda voz também se pronunciou – “Ai, tomara que ele não tenha conseguido esquecer até hoje!”.

“Provavelmente não”.

“Eu falei isso alto?” – perguntou assustada. – “Quer dizer, eu não penso isso realmente, é só que...”. – dessa vez não tinha o que justificar, a sorte é que Gina não insistiu mais no assunto, ela se despediu da amiga com um forte abraço. Estava muito feliz por ter conseguido se desculpar com toda a família Weasley.

De volta ao hotel, sentia-se extremamente bem, como a tempos não se sentia. Aquela sensação de ter amigos era única e ela não sabia como pudera se privar disso por tanto tempo. “Agora falta o Harry” – bateu no quarto ao lado e ele não estava – “Só me falta ele ter voltado pro infeliz trabalho dele!” – pensou realmente torcendo para que não. Decidiu ler o livro sobre defesa contra as artes das trevas enquanto esperava por ele...

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