Capítulo Dez




Where Roses Grow Wild
Capítulo Dez


O anúncio, feito pelo Sr. Parks, de que Hermione estava bem o suficiente para deixar o quarto, depois de uma semana de repouso absoluto, fez que muitos rostos sorrissem com satisfação. Mas ninguém ficou mais feliz do que a própria Hermione, que pulou da cama que tinha se tornado a sua prisão. A cabeça estava curada, junto com a garganta, e, apesar de a voz ainda estar rouca, ela se sentia melhor do que se sentira havia muito tempo - sem dúvida pelo fato de a mudança para Potter ter melhorado significativamente o seu estado mental. Já não tinha mais que se preocupar com o pagamento da conta do carvão ou de onde iria tirar o dinheiro para o próximo par de sapatos de Jeremy.
O médico se recusou a ir embora sem antes a fazer prometer que não sairia da casa por mais uma semana, o que significava que não poderia participar da caçada daquele fim de semana. Hermione exultou com isso, já que tinha a desculpa para não montar a égua que Lord Harry havia comprado para ela em um ataque de generosidade equivocada.
Ela, porém estava bem o suficiente para assumir os seus autodesignados deveres de anfitriã e ficou encantada quando a Sra. Praehurst lhe disse, pouco depois do almoço de codorna assada que as duas tiveram juntas diante da lareira no Quarto Rosa: “Sei que a senhorita ainda está se sentindo cansada, Srta. Hermione, mas pensei que talvez quisesse conhecer a casa. A senhorita sabe que, nos meses de verão, o Solar Potter fica aberto à visitação pública. Decerto não mostramos todos os cômodos, apenas o Grande Saguão e a estufa que a falecida duquesa tinha tanto orgulho, com rosas o ano todo, além da sala de jantar e, bem, alguns outros cômodos, quando Lord Harry está fora, em Londres, como normalmente acontece nessa época. Se a senhorita preferir descansar, eu compreendo.”
Hermione prontamente aceitou o convite. Mas Lucy, que parecia determinada a provar que, apesar de não ser francesa, não ficava atrás de nenhuma camareira de madame no quesito de saber como criar rebuliço, não queria nem ouvir falar em Hermione pôr os pés para fora do Quarto Rosa sem antes se deleitar com um banho quente e perfumado. Daí, mais uma vez por insistência de Lucy, o longo cabelo de Hermione teve de ser escovado e arrumado e foi preciso ajudar Hermione a vestir um dos vestidos elegantes e de cintura fina desenhados para ela pelo Sr. Worth.
Quando Hermione finalmente estava vestida, com uma confecção de seda cor de framboesa de mangas compridas, Lucy deu um passo atrás e olhou a sua patroa como se ela fosse um sonho. “Oh, senhorita”, suspirou a camareira. “Nunca vi ninguém tão bonita e este é apenas um dos seus vestidos para usar de dia.” Em seguida, as sobrancelhas ruivas se inclinaram para baixo, em sinal de concentração. “A senhorita precisa de brincos.”
Os dedos de Hermione subiram até suas orelhas. “Oh”, disse ela. “Eu não tenho nenhum.”
“Não tem brincos?” A voz de Lucy era estridente. “O que está dizendo, senhorita? Lord Harry não lhe comprou nenhum brinco, quero dizer, em Londres?”
“Não, claro que não. Por que ele deveria…?” Hermione interrompeu o que ia dizer, chocada com aquela idéia. Só de pensar em um homem comprando-lhe jóias a deixava ruborizada. Lord Harry tinha pago todo o guarda-roupa dela, mas isso tinha sido parte do acordo. Ninguém tinha falado nada sobre brincos.
Hermione olhou o seu reflexo no espelho oval de moldura dourada que enfeitava uma das paredes revestida de lambris do quarto. Não se reconheceu. A mulher que retribuía ao seu olhar fixo, com a minúscula cintura, os enormes olhos cor de âmbar e o pescoço de cisne, parecia uma dama da moda e não uma solteira escocesa sem um tostão. O efeito foi tão surpreendente que Hermione soltou uma risada nervosa.
“É melhor a senhora falar com Lord Harry”, disse Lucy confidencialmente. “Ele tem todas as jóias da mãe trancadas em algum lugar e é uma pena não usá-las. Os diamantes foram feitos para serem usados e não para ficar fechados em um cofre na sala de contabilidade.”
Hermione riu novamente, esquecida do nervosismo. Dirigindo-se a uma janela, ela disse: “Ora, não preciso de diamantes, Lucy. Sou uma filha de vigário, lembre-se, e não uma princesa.”
De lado de fora, a neve intacta cobria a relva como um tapete. Além de um grupo de árvores pouco depois do fim do relvado, Hermione via a ponta da torre de uma igreja como que arranhando as nuvens baixas e cinzentas. Então havia uma aldeia. Ela estava certa ao supor que se poderia vê-la das janelas do andar de cima.
A batida tímida da Sra. Praehurst interrompeu a insistência de Lucy em que Lord Harry fosse inquirido sobre a falta de brincos da Srta. Granger, e o prazer da governanta ao ver a ótima aparência de Hermione foi muito genuíno. A Sra. Praehurst trouxe notícias de várias das pessoas da casa. Jeremy queria que Hermione descesse até os aposentos dele logo que estivesse em condições. A outra mensagem era um convite: Lord Harry teria muito prazer na companhia da Srta. Granger para o jantar daquela noite, em que também estaria presente o Sr. Draco Malfoy. Isso agradou muito Hermione, mas ela tentou não demonstrar. Era a primeira oportunidade para mostrar a Lord Harry que era muito capaz de se divertir!
A primeira escala da turnê da casa foi, como não poderia deixar de ser, no aposento onde Jeremy tinha aulas ou brincava. O menino ficou extasiado ao ver Hermione e mostrou-lhe, levando-a de um lado a outro pela mão, todo o cômodo claro e colorido, como se tivesse vivido ali a vida toda. Exibiu com orgulho o seu recém-construído forte e os soldados de chumbo que o habitavam, e a apresentou a Ellen, sua quarta babá, uma moça só um pouco mais velha que Lucy e que aparentava ter muitos outros talentos além de ajudar a construir fortes de madeira. Jeremy tagarelou sobre o cavalo que Lord Harry tinha comprado para ele, como prometido; perguntou, cheio de expectativa, se o Sr. Parks tinha ou não feito sangria nela e deu de ombros filosoficamente diante da resposta negativa.
Apesar de detestar estragar a euforia do menino, Hermione pediu que a Sra. Praehurst e Ellen a deixassem a sós com Jeremy por alguns minutos e, logo que elas saíram, começou a fazer o sermão preparado havia uma semana, quando a garganta inchada não permitia que ela falasse.
Jeremy ouviu a repreensão valentemente, com a cabeça abaixada, mas sem que os ombros ficassem caídos. A voz de Hermione ainda não havia recuperado totalmente a sua força normal, mas ela conseguiu muito bem transmitir o seu desprazer com o recente comportamento de Jeremy. Era só ficar sabendo que ele tinha cometido qualquer nova agressão, que ela arrumaria as malas dos dois e o arrastaria de volta para Applesby.
“Você não faria isso”, declarou Jeremy com voz fraca.
“Faria sim”, ela o informou com severidade. “Porque, se você vai se comportar como um moleque de rua, o seu lugar é lá. Por outro lado, se você tiver intenção de se comportar como um duque, nós ficaremos aqui, onde é o lugar dos duques. Veja bem, se você que manter o seu lindo cavalo novo e as bonitas roupas novas…” Jeremy fez uma careta e deu um puxão expressivo em seu colarinho de renda, “e brinquedos novos e tudo isso, você simplesmente tem que se comportar. Você está entendendo o que estou dizendo, Jeremy?”
Jeremy fez que sim com a cabeça, em silêncio. Ele então lhe perguntou, muito educado, se não havia a menor chance de o Sr. Parks ter, em algum momento durante a doença dela, empregado sanguessuga.
Sentindo-se segura ao constatar que Jeremy estava bem de saúde e, pelo menos naquele momento, feliz, Hermione o deixou nas mãos capazes de Ellen e continuou a turnê com a Sra. Paehurst, mas não antes de o novo duque ter obtido dela a promessa de que voltaria depois do jantar para ler uma história antes de ele dormir.
Aparentemente, a tradição em Potter era que as crianças jantassem nos seus aposentos, prática que Hermione pretendia abolir. Como Jeremy poderia aprender modos de adulto se não lhe permitiam observá-los na prática? Ela fez uma nota mental para falar com Lord Harry sobre isso.
A Sra. Praehurst obviamente gostava tanto do emprego como do patrão e falava sem parar sobre Potter - a casa, a mobília, a manutenção, o seu lugar na história. Hermione a acompanhava, deleitando-se com o monólogo entusiasmada, particularmente quando ela fazia referencias a Lord Harry, o que acontecia com freqüência. Todo o cômodo da asa parecia inspirar uma história envolvendo-o. Ele fora a criança mais tranqüila que a Sra. Praehurst já conhecera. Sempre muito educado e gentil com os empregados e os animais. Hermione já conhecia a história de quando Lord Harry resgatou um dos cachorros de caça da família de um buraco de escoamento de água, apesar de isso tê-lo feito perder o seu lugar na caçada? Não? Bem, Lord Harry tinha carregado a pobre criatura para casa ele mesmo e dito que não se importava que fosse o seu irmão mais velho quem matasse a raposa no final.
Hermione ouvia, divertida. Era evidente que a Sra. Praehurst adorava o patrão. Parecia que Lord Harry conseguia cativar toda a mulher com que tinha contato. Nisso, supunha, ele era como o pai. O duque tivera, segundo rumores, muito jeito com as damas. Hermione entendeu o porque logo que entraram na longa galeria de retratos.
De pé diante do retrato do falecido duque, Hermione percebeu de imediato que a semelhança entre pai e filho era perigosa. Como Harry, o pai era moreno, tinha ombros largos e olhar penetrante. Mas o hábil artista que tão bem revelara a semelhança não conseguiu disfarçar os sinais rosados da libertinagem no rosto do falecido duque e o brilho sarcástico no olhar pensativo. Hermione sentiu pena do artista que pintou aquele retrato. Como deve ter sido difícil apresentar uma pessoa tão pouco simpática de uma maneira que lhe agradasse! E como parecia com o falecido duque o pai de Jeremy! Era uma pena que não houvesse um retrato do filho mais velho do duque. John, a Sra. Praehurst lhe informou, nunca conseguiu sentar-se quieto por mais de um minuto.
A Sra. Praehurst levantou os olhos apertados para o retrato de seu ex-patrão sem dizer nada, o que surpreendeu Hermione. Era a primeira vez que ela via faltarem palavras àquela mulher. Isso em si mesmo era muito revelador e Hermione deu um passo para o lado, parando diante do retrato da mulher do falecido duque, a mãe de Harry. A falecida duquesa fora uma beldade, tão clara quanto seu marido era moreno. Hermione reconheceu aqueles grandes olhos verdes, tão parecidos com os de Jeremy e com os do tio dele. Mas os olhos de Harry, apesar de muitas vezes terem um brilho intenso e sardônico, eram mais inteligentes que os de sua mãe, de alguma forma, mais suaves.
A Sra. Praehurst foi adiante para o próximo retrato e soltou um suspiro satisfeito. “Este é o meu favorito”, disse a governanta, olhando afetuosamente para a pintura. “Sabe, Lord Harry não queria nem um pouco sentar-se para posar. O duque o obrigou. Lembro-me do dia em que o retrato foi exibido pela primeira vez e do quanto Lord Harry ficou constrangido. Ele me disse: ‘Sra. Praehurst, a senhora não pode fingir um desmaio ou algo assim para que possamos todos ir cuidar de outras coisas?’. Mas é igualzinho a ele. Lord Harry não tem paciência para vaidade ou pretensões, não ele.”
Hermione engoliu em seco involuntariamente. Olhando para o retrato do tio de Jeremy, ela sentiu quase como se estivesse diante do próprio homem. Nunca conseguira olhar por tanto tempo para o rosto de Harry, porem, sem correr o risco de ser pega. Agora que não havia esse perigo, ela o olhou demoradamente e com cuidado.
A pintura era belamente apresentada e muito precisa. Ela poderia contar cada partícula de esmeralda naqueles olhos verdes. A comparação entre o retrato do filho e os dois pais era inevitável - e surpreendente. Apesar de Harry ter herdado a bela figura do pai e os olhos da mãe, a semelhança não passava disso. Havia calor e bom humor no rosto de Harry e consideração no seu olhar. E, no entanto, o pintor também tinha conseguido capturar a curva levemente sarcástica de seus lábios, a força potencialmente perigosa das suas mãos grandes e bronzeadas, a inteligência sagaz dos seus olhos. A Sra. Praehurst tinha dito a Hermione, no começo do passeio pela casa, que não entendia nada de arte, mas, ao escolher o retrato de Harry como o seu favorito, ela tinha provado que, na verdade, tinha um bom olho para o belo - e o bom senso de ver que o seu patrão tinha mais do que apenas um perfil bem cinzelado e o gosto por cachorros.
Mas, antes de poder dizer uma palavra de admiração pela pintura, Hermione ouviu o som de botas no corredor e se virou a tempo de ver o objeto do retrato andando em direção as duas a passos largos. Harry parecia ter acabado de chegar de uma cavalgada - ainda usava o seu longo manto preto e tinha nas mãos as luvas e o chicote de montaria. O seu rosto mostrava a irritação causada pelo vento e os cabelos estavam despenteados, curvando-se em cacho escuros pela testa larga. Hermione, olhando da pintura para o seu tema, chegou à conclusão de que o retrato ficava aquém em um aspecto: Harry era mais intimidante em pessoa do que o artista dava a entender.
“Sra. Praehurst”, chamou Harry.
A governanta ficou radiante de prazer. “Ora, se não é o próprio Lord Harry! Estávamos exatamente admirando o seu retrato, my lord.”
“É mesmo?” Harry se aproximou a passos largos e Hermione percebeu que ele cheirava a ar livre - couro e ar frio de inverno. Ele sorria com aquele seu jeito estranho e assimétrico, como se estivesse pensando em alguma piada que só ele conhecia.
Envergonhada por ter sido apanhada olhando atentamente o retrato dele e ainda mais constrangida pelo fato de que, na última vez em que o havia visto, Harry estava com as mãos em suas nádegas, Hermione manteve os olhos nos próprios sapatos, tentando fazer com que suas faces parassem de queimar. “Boa tarde, Srta. Granger”, disse Harry e, com a cortesia de sempre, bateu os calcanhares e fez uma pequena mesura. Um sorriso largo tinha irrompido de um lado ao outro do seu bonito rosto. “O Sr. Parks me disse que a senhorita está se sentindo melhor. Parece excepcionalmente bem. Recuperou-se completamente da doença?”
Ela o olhou, tentando dar a impressão de que vê-lo não fazia o seu coração disparar.
“Estou muito bem, obrigada, my lord”, disse ela com calma. O fato de que a voz dela ainda estava algumas oitavas abaixo do normal tirava a força da afirmação, mas pelo menos ela tinha conseguido falar sem tossir.
“Excelente. E a sua cabeça? Está melhor?”
“Está tolerável.”
A Sra. Praehust, diante da falta de entusiasmo de Hermione com esse encontro casual, apressou-se a dizer: “Estou escoltando a Srta. Granger em uma turnê pela casa, my lord”.
“Ah”, disse Harry, arqueando as sobrancelhas escuras. “E o que a Srta. Granger está achando do Solar Potter?” Hermione puxou com ar indiferente o punho de renda da sua manga. “Acho o Solar Potter muito encantador.”
As sobrancelhas se aproximaram ainda mais da linha de cabelo preto azeviche. “O que disse?”
“É uma casa encantadora”, disse Hermione novamente. Ela percebeu que a resposta o surpreendeu, por ter vendo logo depois do sermão que ela fez sobre os seus gastos. Mas ela de forma alguma poderia lhe dizer a verdade, não na frente da Sra. Praehust. A verdade, de fato, era que estava muito chocada com o fato de que, enquanto famílias inteiras morriam de fome em Londres, existissem casas como o Solar Potter.
Ficaram ali, de pé, em um silêncio incômodo por um momento, Hermione olhando para a parte de cima das botas enlameadas de Harry, penosamente consciente de que ele, por sua vez, olhava para ela, até que a Sra. Praehust perguntou: “O senhor queria alguma coisa?”
“Oh, sim, Sra. Praehust.” Harry tirou o olhar de Hermione e disse, alto: “Gostaria que a senhora dissesse à cozinheira que haverá mais uma pessoa para a ceia. A viscondessa pretende juntar-se a nós”.
“A viscondessa!”, exclamou a Sra. Praehust, genuinamente alarmada. Deu uma olhada rápida para Hermione, daí se recompôs e gaguejou: “Naturalmente, naturalmente, a viscondessa. Direi à cozinheira. Ela… devemos supor que vai passar a noite aqui, senhor?”.
“Acredito que sim.”
“Perdoe-me, my lord, mas eu não esperava a viscondessa antes de amanhã, junto com o resto dos convidados de Londres…”
“Nem eu”, disse Harry, e Hermione não soube dizer se a mudança de planos lhe agradava ou não - ou se tinha acontecido por instigação dele. “Mas ela manifestou o desejo de conhecê-la, Srta. Granger.” O olhar verde colou no rosto de Hermione. “A senhorita se tornou objeto de muito curiosidade na vizinhança, foi o que descobri, madame.”
“Não vejo como”, respondeu Hermione suavemente. “A não ser que alguém tenha saído por aí a cavalo espalhando histórias escabrosas sobre mim.” Ela olhou com determinação para as botas enlameadas dele.
Harry seguiu o seu olhar e Hermione ficou infinitamente gratificada ao ver que ele começava a parecer um pouco desconfortável. Porém, Harry Potter não iria deixar aquele fiapo de moça sair-se melhor que ele. Sorriu para ela.
“Acho que os nobres da redondeza estão compreensivelmente pouco a vontade ao saber que há uma liberal no meio deles. Acredito que estejam examinando os seus livros de contabilidade doméstica, verificando se há alguma fonte de champanhe que revele como são seus gastos.”
Surpreendida pela menção da discussão do dia anterior, Hermione respondeu, com o queixo erguido: “Talvez seja melhor assim. Tenho certeza de que existem muitas causas sociais neste condado que podem se beneficiar da culpa deles”.
“A senhorita tem uma habilidade incomum com números”, observou Harry. “Pergunto-me se não achou que o meu pai pagou demais para o sujeito que pintou isso.” Indicou com a cabeça seu próprio retrato. “A senhorita acha que ficou parecido comigo?”
Voltando-se em direção à pintura, ela levantou os olhos. Ainda estava inquieta com o olhar direto tanto do retrato quanto do original e um pouco aborrecida com a referencia dele à fonte de champanhe. Foi por essa razão que respondeu, torcendo o nariz: “Não, temo que não.”
Harry, assim como a governanta, parecia surpreso. “Não está parecido?” Harry deu uma olhada do retrato para o rosto de Hermione. “O que quer dizer com isso? Todos me dizem que é de uma semelhança assombrosa.”
“Ora, tenho certeza de que estão apenas sendo delicados”, foi à resposta áspera de Hermione . “Acho que o pintor fez o senhor parecer muito mais…” ela o olhou rapidamente, pensando no que poderia dizer para irritá-lo ao máximo. Para ela, Harry era um homem com muitos defeitos, mas, para a sociedade em geral, era tudo o que um membro da alta sociedade deveria ser - bonito, com título de nobreza e, o mais importante de tudo, rico.
“Muito mais… masculino do que o senhor é na realidade”, terminou ela com alguma satisfação.
“Muito mais masculino?” Harry de um passo a frente e ficou olhando fixamente para o retrato. “Temo não ver…”
“Não vê? O senhor realmente tem um quê notavelmente feminino, my lord.” Hermione sorriu com doçura diante de seu rosto atônito. “O seu irmão sempre disse que o senhor tinha alguma coisa de maricas.”
“Um maricas!” O espanto de Harry era total. “John disse isso? Maldito seja ele, eu…”
“Ora, admito que o senhor não parece almofadinha agora.” Hermione deu um passo ousado na direção dele e estendeu as mãos para arrumar a gravata de Harry, que estava torta devido à cavalgada. Ela ficou perto o suficiente para que a ponta de seus seios roçassem o peito dele. “Na verdade, o senhor parece mais… sujo neste momento.”
“Malfoy e eu estávamos cavalgando”, disse ele de maneira pouco convincente. Hermione viu as narinas de Harry se mexerem e sabia que ele estava cheirando o perfume dela. Sorriu, vitoriosa, e deu um tapinha na gravata.
“Pronto”, disse ela dando um passo para trás. “Assim está um pouco melhor.” Mas disse de um jeito que sugeria que não estava nada melhor. “Ora, Sra. Praehurst, é melhor nos apressarmos se quisermos terminar a nossa turnê antes da ceia”
“Oh, uh, s-sim”, gaguejou a governanta. “Sim, se o senhor nos der licença, my lord, vou dizer à cozinheira sobre Lady Ashbury…”
Harry se recuperou o suficiente para fazer uma mesura, mas a inclinação das suas sobrancelhas indicava que estava muito perturbado com alguma coisa. Afastou-se a passos largos, os saltos das botas fazendo barulho sobre o chão de pedra. Hermione exultou por dentro. Sem dúvida não tinha agido como a virgem ruborizada. Com um pouco de sorte, ele ficaria remoendo a farpa que ela tinha lançado sobre a sua masculinidade até o jantar.
A Sra. Praehurst, porém, estava perturbada e era preciso acalmá-la. Hermione virou-se para ela, os olhos muito abertos, como se estivesse inocentemente magoada. “Nossa, será que eu disse alguma coisa que não deveria?”, perguntou. “Ele parecia muito mal-humorado…”
A governanta balançou a cabeça, olhando o patrão, que se afastava. “Oh, Srta. Granger, temo que a senhorita talvez o tenha irritado. Lord Harry é a pessoa mais gentil que existe, a na ser quando está irritado. O único defeito dele é ter herdado o temperamento do pai. Bem, a sua irmã deve ter lhe falado sobre isso. Lord John também herdou isso.”
Hermione fez que sim. Ela também se lembrava dos acessos de raiva de John. Um deles levou-o à morte. “Sim”, suspirou ela.
“Juro, senhorita, que quando Lord Harry e o seu irmão brigavam, dava para ouvir a quilômetros de distância. E eles brigavam o tempo todo, imagine! Não posso dizer que me surpreende que Lord John tenha lhe dito que o irmão era um maricas.” A Sra. Praehurst deu uma risadinha. “Ele sabia que isso iria deixar o irmão muito furioso! Lord Harry está mais longe de ser um maricas do que qualquer homem que conheci na vida. Ele tem muito jeito com as senhoras, assim como Lord John.”
Hermione apertou os lábios. “É o que eu concluí, pelo que me disseram. Há quanto tempo a viscondessa é uma das… amigas de Lord Harry?”
A Sra. Praehurst olhou para Hermione, surpresa. Tentou rir diante da pergunta, mas Hermione viu no rosto da mulher que ela não estava à vontade. “Ora, benza Deus! Não acho que… Bem, acredito que Lady Arabella tem sido amiga de Lord Harry desde que o marido dela, o visconde de Ashbury, comprou uma propriedade a poucos quilômetros daqui.”
“Mas a viscondessa vem se hospedar aqui sem o marido?”, perguntou Hermione.
“Bem…”, disse a Sra. Praehurst, pouco à vontade. “Vem.” De repente, sua voz assumiu um tom conspiratório. “Entre nós duas, senhorita, a viscondessa é uma grande beldade e o marido é… bem, o visconde é consideravelmente mais velho que a esposa. Eles não puderam ter filhos, pobrezinho. E a viscondessa, bem, ela adora a vida social e o marido não compartilha desse gosto…”
A voz da governanta foi perdendo o volume, já que a Sra. Praehurst não tinha o menor desejo de ser desleal para com o patrão. Mas, lendo nas entrelinhas, Hermione logo percebeu qual era a situação: uma esposa bonita e enfadada, um marido mais velho e negligente e um homem como Harry Potter, tudo na mesma vizinhança. É claro que eles estavam tendo um caso! Hermione sentiu um pouco de decepção, mas isso era facilmente explicável: ela tivera muito pouco tempo para aproveitar o ressentimento de Harry e logo a viscondessa estaria ali para lisonjeá-lo, deixando-o de novo todo satisfeito consigo mesmo. Ora bolas!
A agitação da Sra. Praehurst com o acréscimo da viscondessa no jantar não era suficiente para adiar o resto da turnê. Ela zelosamente - e bem satisfeita, segundo parecia a Hermione - a levou para as salas da manhã, de jantar e de estar, biblioteca e salões, tagarelando sobre os padrões da prataria e as tela bordadas das lareiras, até chegarem ao corredor que levava à estufa. A voz da Sra. Praehurst assumiu um tom de ostentação e havia um nítido orgulho nos olhos dela enquanto começava a contar mais uma história sobre a sua ex-patroa.
“A senhora, a falecida duquesa, adorava as flores”, disse a governanta, conduzindo Hermione pelo longo e mal iluminado corredor. “Ela adorava tanto que ficava bastante deprimida durante os longos invernos de Yorkchire, quando não havia nenhuma cor pântano. O duque, portanto, mandou construir este lugar ao abrigo do vento, onde o sol poderia aquecê-lo, e importou as mais lindas plantas e flores que eu já vi, pagando uma quantia muito extravagante para que o lugar fosse aquecido de novembro a março. Mas, quando a duquesa morreu, o falecido duque, talvez compreensivelmente, deixou a sala deteriorar. Foi trancada e nunca mais foi usada… até que o próprio duque faleceu. Lord Harry então mandou um homem de Londres recuperar a estufa. As flores que ele trouxe, plantas e até mesmo pequenas árvores e uma fonte… Bem, a senhorita pode ver por si mesmo. Agora a estufa é um tributo ao afeto de Lord Harry por sua mãe…”
Com o talento dramático de uma atriz nata, a Sra. Praehurst abriu com um empurrão um par de pesadas portas de madeira no fim do corredor pelo qual caminhavam. Ao passar pelas portas, Hermione mal conseguia respirar, de tanto prazer, primeiro diante da onda quente e úmida de ar que a atingiu, em seguida diante do cheiro intenso de solo que atacou seus sentidos e, finalmente, diante das cores brilhantes que lhe encheram os olhos.
A estufa deixou Hermione sem fôlego. Nunca antes em sua vida tinha visto algo tão parecido. Era tão estranho ver flores vicejando no meio do inverno, ver tanto verde contra um panorama de branco. O cômodo revestido de vidro era muito maior do que a expectativa de Hermione, grande o suficiente para abrigar uma festa. De fato, havia mesas e bancos de ferro forjado espalhados pelo chão de pedra, alguns ao redor de fontes borbulhantes de água - não de champanhe. Rosas, lilases, lírios… Hermione nunca tinha visto tantas flores, mesmo em seu próprio jardim, que tinha sido a inveja de muitos jardineiros amadores em Applesby. Era impressionante quanto tempo e cuidado tinham sido investidos para manter tantas plantas vivas em uma estação tão adversa. Tempo, cuidado… e muito dinheiro.
Mas, admitiu Hermione com relutância para si mesma enquanto caminhava pelos caminhos cheirosos entre as floreiras, era dinheiro bem gasto. Que Harry tivesse se dado ao trabalho e a tanto gasto para corrigir um erro do seu pai parecia, estranhamente, típico dele. Não fizera o mesmo ao trazer Jeremy para Potter? Por mais que detestasse admiti-lo, não era sempre que os gastos de Harry eram frívolos. Algumas das suas despesas eram muito justificáveis. Essa, em particular, apesar da enorme quantia que deve ter investido, ela não podia deixar de aprovar. A estufa logo se tornou o seu lugar preferido na casa. Foi preciso muita persuasão por parte da Sra. Praehurst para que saísse de lá a fim de se vestir para o jantar.

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Obrigada pelo comentário de Danielle Granger Potter . Eu to tentando ler o capitulo quatro da sua fic, mas toda vez que eu vou ler alguma coisa me interrompe e eu não consigo terminar.
Onze páginas! Então, até amanhã e espero que tenham gostado do capítulo – comentem!
Jeh

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