Cap. único.




Retira uma mecha de seu rosto. É delicado, mas a deseja fervorosamente. Outro dia, um novo dia. Dias novos nunca fazem muito sentido...

Ele a traz pra perto de si, e a toma. Não sorri. Não é sua intenção. Precisa mostrar que é forte e que jamais a amaria de verdade. Sua intenção era feri-la, apenas pra manter seu ego intacto. Mas ela nunca chora, nunca implora, nunca o faz prometer, sequer se ilude.

“Eu ainda te odeio” Assegura-lhe, a voz áspera.

Ela assente, num murmúrio silencioso. Sabendo que suas fibras gritavam, seus olhos ardiam e sua garganta engatava algo sem definição. Seus olhos cinzas analisam o auto-controle da garota pra não sofrer: ELE SABE QUE VENCEU DESSA VEZ.

Não profere outra palavra, apenas vai embora.



Solta a respiração. Certo, não foi tão ruim assim. Parecia insuportável. Estivera prestes a sufocar. Quando sua respiração se pacífica, um soluço entrecortado é ouvido.

Quentes, líquidas, frágeis. Odeia chorar, mas nenhuma dor parece suficientemente triste. A não ser quando ele a toca, afirma e parte sem dizer adeus.

Não que isso fosse de todo ruim: dizer adeus a faria chorar mais ainda. A dor não cessa. No máximo ameniza, até que esteja lá, mantido sob suas farsas. Chora até seus olhos pesarem e adormece.



Contorna seus lábios, fazendo com que seu coração derreta. Beijam-se agora, de novo e de novo. Ela queria poder abraçá-lo, pelo menos assim se sentiria segura. Contudo sabe que não pode. Não faz parte das regras.

O pacto implícito de desapego e indiferença. Faziam semanas, e era só. Não entendia porque ainda contava os dias, afinal não se confere o número de pecados. Pra sempre não existia. Entre eles havia apenas ‘eu te odeio’.



Todos. Todos os dias. Nos primeiros meses era sempre a Srta. Indiferença, mas não agüentava. Aquilo era além do que poderia supor, do que poderia entender. Aquilo fora longe demais. Ele não se importava e ela sabia. Aos poucos sua voz perdia fôlego.

“Você precisa superar quem quer que esteja te fazendo sofrer Herms” lembrou da voz de seu melhor amigo.

“Eu o amo” dissera, surpresa com o traço marcado da própria voz. Choraria se ainda tivesse forças. Viver daquele jeito, não era viver realmente.



Era uma noite fria. “O que houve, Granger?” Pergunta, despreocupado.

“Temos que conversar, Malfoy. Não posso mais fingir o que não sinto”.

A lucidez aniquiladora dela o assusta. Por que ela não se importava mais em fingir ? Por que simplesmente o olhava sem expressão? Não era indiferença. Era... dor

O par de olhos castanhos não brilha e isso o deixa desnorteado por alguns segundos. Por que ela ainda não olhou em seus olhos? Ou Será que o mundo ao redor é que ganhara cor e deixara os olhos dela apagados?

“Você me odeia?” Ela pergunta, como uma criança que lhe sugere uma droga.

Ele permanece em silêncio. O que é isso? Algum interrogatório? Os segundos passam, enquanto sua mente divaga. A resposta quase sai de seus lábios, mas o orgulho a impede.

Os castanhos continuam lhe olhando. Tão doces, e tão, tão desconhecidos.

“Me odeia, Draco?” Ela repete.

O silêncio não é oportuno. Pela primeira vez as gotas não somente brilham, mas também caem.

Ele não diz nada, embora tenha a resposta. Suas mãos tentam se mover, pra secar as lágrimas dela. Por que ela chora? Por que ela demonstra sua dor?

Atravessam seu rosto e ela não as seca.

Senta febrilmente na cama, baixa o rosto e soluça baixinho. Seus cabelos não permitem que o seu rosto fique tão claro.

“Pode ir, Malfoy” É o que diz.

O loiro se move um passo em sua direção.

“Não se aproxime” Sussurra, a voz rouca, entre soluços. Retira de suas vestes a varinha e aponta na direção do rosto de si mesma.

Ele se choca com o que vê. Tão tolo. Não sabia muitas verdades sobre o amor, portanto não a merecia.

“Granger, o que...” Começa, mas sua voz é interrompida.

OBLIVIARTE!

Um desespero descomunal toma conta de seu peito. Por que ela...? Por que ela fizera... isso? Passara as mãos, bagunçando os cabelos.

E pela primeira vez em toda a sua vida, ele chorou.



Ela abriu os olhos três semanas depois. Os orbes castanhos pouco acostumados a claridade. Fechou de novo, assim que os raios invadiram sua vista.

“Granger?” Ele murmurou, esperançoso, quase saltando de felicidade.

A garota forçou sua visão. Doía, mas achava que era algo suportável. Um garoto a observava. Pra dizer a verdade, ele segurava suas mãos delicadamente. Ele parecia prestes a chorar de emoção, os lábios curvados em um sorriso radiante. Era bonito, fazia seu coração disparar.

Ela apenas lhe deu um sorriso, como se afirmasse que se entregaria. Que lembrava de um ponto dentro de seus olhos, e que de novo... Sentia a sensação de torpência... Acima do precipício.

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n/a: Tá aê, outro surto de madrugada! Espero que tenham gostado *-* Eu fiquei em dúvida se consegui repassar a msg sobre a submissão dos sentimentos mal resolvidos, poruqe bom, essa fic não é o que podemos chamar de longa 'UHAUSHUHUHS. E ah, obrigada a todos! comentem! Desculpe se ela ficou obtusa, ou sei lá.

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