Capitulo III - Isso não muda n

Capitulo III - Isso não muda n



CAPITULO III - Isso não muda nada


 


O mês de setembro passou rápido, ensolarado e atarefado. Todos os professores estavam exigindo muito dos alunos, com redações imensas e trabalhos complicadíssimos. Hermione tinha que se desdobrar para dar conta das tarefas de todas as matérias que cursava e ainda arranjar tempo para dar uma mãozinha para Harry e Rony, como sempre. Quer dizer, menos em poções. Harry era agora o melhor aluno da classe nessa matéria – graças ao tal Príncipe – e isso só fazia com que Slughorn o venerasse ainda mais. Tanto Harry quanto Hermione foram convidados a participar do “Clube do Slug”: um grupo de alunos – geralmente os de família influente e alguns poucos por mérito próprio, como a castanha e Gina – que o mestre de poções convidava para algumas ‘reuniõezinhas amigáveis’. No decorrer do mês houve uma reunião, a qual apenas a garota compareceu – Harry estava de detenção com Snape, o que era quase um hábito agora. Hermione não achou de todo desagradável, pois ficou a noite toda conversando com Antonio Goldstein – o monitor da corvinal – e ele se mostrou uma companhia muito agradável.


Durante o mês também aconteceram os testes de quadribol para a equipe da Grifinória. Harry, como novo capitão, teve que realizar novamente o teste para todas as posições. Gina permaneceu como artilheira, junto com Dino Thomas e Katie Bell; Jaquito Peakes e Cadu Coote ocuparam as posições de batedores, antes preenchidas por Fred e Jorge; e Rony, depois de uma disputa acirrada com Córmaco McLaggen, continuou a ocupar o posto de goleiro – mas Harry podia jurar que McLaggen parecia ter sido confundido ao perder a última goles...


Outubro chegou trazendo consigo uma brisa gelada, mas que não espantou de todo o sol que ainda brilhava nos jardins do castelo. Na primeira quarta feira do mês, Hermione foi dispensada mais cedo da sua aula de Runas Antigas no período vespertino – ela já havia traduzido e encontrado o significado do texto que a Professora Vector iria traduzir naquela aula. Com bastante tempo livre até a hora do jantar, a garota já tinha decidido ir até a biblioteca e ler alguma coisa para se distrair quando uma idéia subitamente surgiu-lhe à mente. Sem motivo algum, lembrou-se de seu violão novo – ainda magicamente encolhido e guardado em seu armário; com a correria do primeiro mês de aula ela nem teve tempo de estreá-lo. Imediatamente deu meia volta.


 


- CHEGA! – Draco berrou de sua Firebolt, exasperado – Derrick, você deveria bater nos balaços e não apanhar deles! Pucey, se você pintasse o cabelo de vermelho, se passaria perfeitamente pelo patético do Weasley – o garoto moreno fez uma careta de nojo ao ser comparado com o grifinório – E você – Draco se virou para a garota que estava alguns metros abaixo de si com uma goles murcha nas mãos, e esta lhe sorriu amarelo – Vá cortar as unhas! Já chega por hoje!


Todos os sonserinos desmontaram de suas vassouras cabisbaixos e se dirigiram ao vestiário, deixando para trás um loiro espumando de raiva. Ser capitão do time daria mais trabalho do que ele pensara. Consertou a goles furada e guardou-a na caixa, junto com os balaços e o pomo-de-ouro.


Não foi tomar banho no vestiário como de costume; achou melhor tomar um banho de banheira sozinho nos seus aposentos e quem sabe descansar um pouco antes do jantar. Ele estava sobrecarregado com as funções de monitor-chefe, capitão do time de quadribol da sonserina, as tarefas e trabalhos. E ainda tinha a carta de sua mãe martelando sempre em sua cabeça: “... sua tia Bella vai passar um tempo aqui na Mansão...” o que significa que Narcisa estava sendo vigiada em sua própria casa pela irmã. “... o Lorde está reconsiderando a possibilidade de tirar seu pai de Azkaban...” ‘Se você for bem sucedido’, foi o que ficou implícito no comentário. “Pelo menos você está seguro em Hogwarts...” Coisa que, ele tinha certeza, sua mãe não estava nas mãos de Bellatrix.


Um mês já se passara e ele não tinha nem idéia do que fazer ainda. Já estava ficando relapso com os estudos e com suas obrigações por passar todo e qualquer tempo que tinha se dedicando a encontrar um jeito de realizar sua missão. Sabia que muita coisa estava em jogo. Precisava relaxar, e decidiu que depois do jantar iria atrás de Pansy. Não que ele estivesse procurando algum consolo emocional, de forma alguma. Só precisava aliviar sua tensão e esquecer por um momento de todos os problemas. Queria estar exausto o suficiente para conseguir deitar a cabeça no travesseiro e dormir, sem nada tirando-lhe o sono.


Pegou um atalho e logo estava no corredor dos monitores-chefes no segundo andar. Já ia destrancar a porta quando ouviu um barulho vindo de dentro do seu salão comunal. “Música?!” ele pensou intrigado. O som de acordes desajeitados que ele escutou inicialmente parou e logo as notas tomaram forma, a melodia entrou no ritmo. Então ele a ouviu cantar; e como através da porta ele não conseguia ouvir direito a letra da musica nem sua voz, entrou silenciosamente no salão comunal dos monitores do sexto ano.


 


“I hate the world today


(Hoje, eu odeio o mundo)


You’re so good to me


(Você é tão bom comigo)


I know but I can’t change


(Eu sei, mas não consigo mudar)


Tried to tell you but you look at me


(Tentei te falar, mas você me olha)


Like maybe I’m an angel underneath


(Como se talvez, no fundo, eu fosse um anjo)


Innocent and sweet


(Doce e inocente)”


 


Hermione estava sentada numa poltrona mais distante; ela tinha o rosto voltado para o instrumento em seu colo e o cabelo preso no alto da cabeça em um coque frouxo. Estava tão envolvida com a musica que não ouviu Draco entrar no salão, fechando a porta atrás de si. A voz da garota era surpreendentemente melodiosa, firme e suave ao mesmo tempo.


 


“Yesterday I cried


(Ontem eu chorei)


You must have been relieved


(Você deve ter ficado aliviado)


To see the softer side


(Em ver só o lado mais agradável)


I can understand


(Eu entendo)


How you’d be so confused


(Como você pode estar confuso)


I don’t envy you


(Eu não te invejo)


I’m a little bit of everything


(Sou um pouquinho de tudo)


All rolled into one


(Tudo em uma só)”


 


Logo Draco percebeu que as notas não saiam com tanta facilidade do violão como saiam da garganta da garota. “Eu sabia... em alguma coisa eu tinha que ser melhor” o sonserino não pôde evitar pensar quando ela errou um acorde quase que imperceptivelmente – o próprio Draco só percebeu pois tinha um ouvido muito bem treinado para música – e seus lábios se curvaram num sorrisinho prepotente. Porém logo seu ego murchou ao lembrar-se dela tocando piano na Palheta de Ouro e ao vê-la cantar o refrão da tal musica com uma voz encantadora. “Por Merlin, existe alguma coisa que ela não saiba fazer?!”


 


 “I’m a bitch, I’m a lover


(Sou uma vadia, uma amante)


I’m a child, I’m a mother


(Sou uma criança, sou mãe)


I’m a sinner, I’m a saint


(Eu sou pecadora, eu sou uma santa)


I do not feel ashamed


(E não me envergonho)


I’m your hell, I’m you dream


(Sou seu inferno, sou seu sonho)


I’m nothing in between


(Não sou nada ao meio termo)


You know you wouldn’t want it any other way


(Você sabe que não iria querer de nenhum outro jeito)”


 


O loiro não sabia se ficava exasperado por ela ser uma sabe-tudo irritante ou se sentava ali e admitia que estava gostando de vê-la cantar. Preferiu a segunda opção. Afastou-se da parede e se escorou no braço da poltrona mais próxima tentando fazer o mínimo de barulho possível. E conseguiu. Hermione continuava totalmente alheia à presença dele e envolvida na música. E foi então que ela estragou tudo. Quer dizer, pelo menos para Draco.


Hermione deslizou a língua pelos lábios, umedecendo-os antes de voltar a cantar. Provavelmente a garota nem se deu conta de que fez isso, mas Draco ficou instantânea e perigosamente consciente do movimento. Ele viu os lábios dela voltarem a se mexer e ouvia a voz harmoniosa e doce, mas era como se as palavras entrassem embaralhadas em seu cérebro e ele não conseguisse mais tirar significado delas. A única coisa coerente que ecoava em sua cabeça era um verso da música e diversos replays em câmera lenta da língua de Hermione correndo por sobre seus lábios carnudos. “I’m your hell, I’m your dream”... Se é que se pode chamar isso de coerente.


 


 “So take me as I am


(Então me aceite como eu sou)


This may mean you’ll have to be a stronger man


(Isso pode significar que você terá que ser um homem mais forte)


Rest assure that when I start to make you nervous


(Garanto que quanto eu começar a te deixar nervoso)


And I’m going to extremes


(E vou chegar a extremos)


Tomorrow I will change


(Amanhã eu vou mudar)


And today won’t mean a thing


(E o hoje não significará mais nada)”


 


Definitivamente ele teria que ser um homem mais forte. “Merlin!” Draco pensou, atordoado, enquanto balançava a cabeça para tentar espantar aquelas cenas. Hermione detectou o movimento brusco com a visão periférica, e olhou instintivamente para onde o sonserino estava sentado, esperando encontrar Bichento por ali e não um par de olhos azuis a encarando. Assustou-se e deixou o violão cair enquanto se levantava num pulo da poltrona.


- AAAH! Mas que p****, Malfoy! Você me assustou!


- Não é minha culpa se você é extremamente distraída, Granger – ele falo tentando soar indiferente como sempre, mas não era fácil manter o tom com ela finalmente encarando-o novamente depois de quase um mês.


Hermione bufou, e abaixou-se para pegar seu violão. Já ia se dirigindo para a escada quando Draco falou novamente fazendo-a parar.


- Não vai terminar a música?


A garota virou-se para ver se ele estava sorrindo debochado, como sempre fazia quando queria a irritar, mas encontrou-o apenas a olhando com a face inexpressiva e percebeu que ele não estava brincando.


- É, com certeza eu vou ficar tocando pra você! – ela respondeu, incrédula.


- Qual é, Granger! Só continue fazendo como você fez o mês inteiro, fingindo que eu não existo.


O tom de acusação nas palavras do loiro fez Hermione sentir-se desconfortável, então ela virou de costas e começou a subir as escadas enquanto respondia, tentando evitar olhar nos olhos dele.


- Olha quem está falando! Não é como se você tivesse batido na porta do meu quarto e me chamado para tomar um chá ou algo assim, Malfoy!


- Mas não sou eu quem acorda mais cedo todos os dias e sai correndo para evitar cruzar comigo nos corredores do dormitório... – ele retrucou, subindo as escadas atrás dela.


- Eu não acordo mais cedo por sua causa, loiro aguado, se enxerga!


- Não sou eu que saio correndo na frente durante as rondas e sempre arranjo um jeito de fazê-las separados para ‘cobrir mais espaço em menos tempo’... – ele continuou, como se não a tivesse escutado.


- Ora, vai me dizer que você também não gosta de terminar as rondas mais cedo?


- Não sou eu que me tranco no quarto e não desço para o nosso salão comunal nem sob tortura...


- E aonde é que eu estava antes de você se intrometer, gênio?! – a castanha exasperou-se, virando para encará-lo quando alcançou a porta de seu quarto.


- Exatamente. Você só desceu porque sabia que eu não estava aqui – ele retrucou com um sorriso vitorioso.


- Urgh! E você não devia estar adorando que eu não estou mais te obrigando a respirar o mesmo ar que uma imunda como eu?!


- Você me ouviu reclamar, por acaso? – Draco respondeu cinicamente, arqueando uma sobrancelha.


- Então por favor, Malfoy: NÃO ME ENXE O SACO! – Hermione gritou na cara dele e se virou, abrindo a porta de seu quarto bruscamente.


- Ei, Granger, eu estava brin... – BLAN! A grifinória bateu a porta na cara dele - ...cando.


Draco revirou os olhos com a ceninha de Hermione e bateu em sua porta, fazendo-a respirar pesadamente dentro do quarto para se acalmar antes de virar-se e abrir a porta.


- O que é agora, doninha? – perguntou tentando controlar a vontade de esmurrá-lo até tirar aquele sorrisinho torto dos lábios dele.


- Só queria te convidar para tomar um chá ou algo assim... – falou, cinicamente angelical, usando as mesmas palavras que a castanha usara a pouco. Ela não se deu nem ao trabalho de responder e bateu a porta novamente na cara de Malfoy.


“Que estresse!” o loiro murmurou, indo em direção ao seu próprio quarto.


 


- Agora eu não posso mais nem cantar em paz! – Hermione bufava, jogando o violão em cima da cama.


Refez o coque, deixando-o mais alto, e entrou no banho. Sem paciência para esperar a banheira encher, tomou uma ducha rápida e se vestiu rapidamente, logo descendo para aproveitar o fim do dia no jardim e fugir do insuportável do Malfoy. Ela não conseguia acreditar que depois de um mês agindo exatamente da mesma forma que ela, agora ele viesse acusá-la de “fugir” dele. E, principalmente, não via porque isso o incomodaria. “Ele é o Malfoy! Quem vai entender?! Ele só deve ter voltado ao normal e resolveu me atazanar!” Ela pensava bufando enquanto descia as escadas em direção às portas de carvalho.


Quando Hermione alcançou os jardins, o sol ia se pondo no horizonte e o fluxo de alunos ia contra ela, entrando no castelo. A garota, porém, continuou seguindo em direção ao gramado, pois avistou uma conhecida cabeleira marrom escura.


- Posso?


- Claro, senta aí francesinha – Antonio Goldstein olhou de relance para o rosto dela e deu um tapinha na grama ao seu lado – Anda sumida...


- Estudando, você sabe... – Hermione explicou, sentando-se ao lado do amigo.


- É, como eu imaginava! – o corvinal comentou, com um riso curto e a castanha o acompanhou. Entretanto não passou despercebido para ela que Antonio não a tinha encarado ainda, e ela estranhou a atitude.


- Tony, tá tudo bem? – Hermione perguntou, preocupada, postando sua mão sob a dele, que repousava na grama.


E se arrependeu imediatamente da atitude. Goldstein recuou, tirando a mão debaixo da de Hermione e a olhou por um milésimo de segundo, o suficiente para que ela visse a angústia estampada nos olhos escuros dele.


- Me desculpe, Mione – ele tentou consertar a situação, colocando sua mão sobre a da garota e falando num tom falsamente animado – Você me pegou de surpresa!


- O que foi, Tony? O que tá acontecendo? – ela não pôde impedir que o tom maternal se instalasse em sua voz, como acontecia todas as vezes que ficava preocupada e geralmente irritava as pessoas.


- Não é nada, pode ficar tranqüila – Mione o viu olhar os últimos raios de sol e suspirar, parecendo cansado – Só alguns problemas que não me deixam em paz.


- Olha, sei que a gente não se conhece a tanto tempo... mas – ela hesitou quando ele finalmente encontrou seus olhos, e ela conseguiu ver a angústia camuflada pelo cansaço – Se eu puder ajudar em alguma coisa... Qualquer coisa... ou só pra conversar, sabe...


- Eu sei – os lábios de Tony formaram um sorriso que não atingiu seus olhos – Fica tranqüila, francesinha. Se eu precisar, pode ter certeza que eu vou cobrar essa ajuda que você me ofereceu.


- É o que você deve fazer – Hermione se acalmou ao sentir a sinceridade nas palavras dele e resolveu mudar de assunto – E como anda a preparação para a festa da sua casa, hein?


- Ah, nem me fale! – o corvinal fechou os olhos e balançou a cabeça, se jogando de costas na grama – Quanta dor de cabeça... Temos menos de um mês para a festa e não sabemos nem aonde a vamos fazer!


E passaram mais algum tempo ali, conversando amenidades. Quando o céu tornou-se escuro e a lua ameaçava surgir, Antonio se levantou e disse que tinha que tomar banho para o jantar. Hermione notou que ele estava novamente apreensivo, mas preferiu não comentar nada. Entraram no castelo e se despediram quando Antonio tomou o caminho para seu salão comunal. A castanha se dirigiu para o Salão Principal e encontrou as mesas já sendo preenchidas com a multidão habitual de estudantes. Como não localizou nenhuma cabeleira ruiva ou preta desgrenhada, sentou-se sozinha perto do canto e começou a se servir. Logo os amigos vieram se juntar a ela.


- Chegou cedo, Mi – Harry comentou, sentando-se de frente a ela.


- É, tive o último tempo livre.


- E aposto que ficou trancada na biblioteca estudando mais do que se estivesse na aula, não foi? – Rony perguntou, zombeteiro, jogando-se pesadamente no banco ao lado dela e servindo-se de imensas porções de comida.


- Pra sua informação, não! – ela respondeu, empinando o nariz – Fiquei nos jardins aproveitando o sol – não achou necessário comentar o incidente com Malfoy.


- Porque é que você nunca resolve ter esses momentos de descontração quando nós também podemos nos descontrair?


Hermione e Harry riram do comentário de Rony e os três continuaram a comer e conversar animadamente. Quando a sobremesa apareceu sob a mesa, Gina se aproximou do trio e sentou-se no lugar vazio ao lado de Harry.


- Ei, Harry. Mandaram entregar pra você – ela esticou ao garoto um pergaminho que ele abriu imediatamente.


- É do Dumbledore. Próxima aula, segunda à noite! – eles continuavam se referindo aos “encontros” de Harry e Dumbledore como aulas, por falta de uma palavra melhor. Porém, o menino que sobreviveu havia contado aos amigos que, ao contrário do que eles tinham imaginado, o Diretor não estava lhe ensinado a duelar ou feitiços avançadíssimos; estava, na verdade, mostrando a Harry tudo que sabia sobre a vida de Tom Riddle, todas as informações que conseguiu juntar sobre ele durante os quase vinte anos desde que Tom transformou-se em Lorde Voldemort.


- Por falar em Dumbledore, ele não pára mais no Castelo, já repararam? – Gina emendou, fazendo os três olharem para a cadeira vazia do Diretor no centro da mesa dos professores.


- Eu perguntei a ele sobre isso, mas, como de costume, ele não me respondeu – Harry comentou baixo, evitando ser ouvido pelos alunos próximos – Só me enrolou com algo do tipo “É uma história emocionante, sem querer me gabar, mas não é o momento certo de contá-la” – E bufou irritado – Exatamente como quando eu perguntei sobre a mão murcha dele.


- Harry! Você não acha que está sendo um pouquinho indiscreto? – Hermione o repreendeu, fazendo o amigo revirar os olhos.


- Mione, você realmente acha que Dumbledore se incomoda com minhas perguntas? Ele não responde a nenhuma delas!


Nesse momento, Dino Thomas se aproxima de Gina e abaixa-se, sussurrando algo em seu ouvido e ao se afastar dá-lhe uma piscadela. Gina cora furiosamente, mas acena positivamente para Dino. As orelhas de Rony entraram em combustão e ele dirigiu ao colega grifinório um olhar assassino, no que foi acompanhado por Harry, Hermione surpreendeu-se ao notar.


Gina, que tinha passado a encarar as próprias unhas depois que Dino se afastou, voltou a olhar os amigos e comentou num tom casual:


- Bom, então vejo vocês mais tarde – a ruiva rapidamente levantou-se e seguiu pelo mesmo corredor que Dino, fingindo não ver Rony abrir a boca para perguntar-lhe algo.


- Eles estão juntos? – Rony se virou para Hermione, que encolheu-se sob o olhar inquisidor do amigo – Juntos juntos?


- Ah, está no horário da minha ronda! – a castanha esquivou-se da pergunta e se levantou do banco num pulo – Tchau meninos!


Ela conseguia sentir Rony fuzilando suas costas com o olhar, mas ignorou-o e seguiu em direção à escadaria. Por mais que Rony fosse seu melhor amigo, Gina também era, então não iria entregá-la se ela não queria que o irmão soubesse que estava saindo com Dino.


Seguiu até o escritório de McGonagall, transfigurou o relatório das rondas dos últimos quinze dias e enfeitiçou-o para passar por debaixo da porta. Depois seguiu para o sétimo andar, de onde começaria a ronda dessa noite. Passou pela escadaria que levava à Torre de Astronomia, pela tapeçaria de Barnabás, o Amalucado... tudo em ordem. A quietude e a calmaria do andar vazio estavam começando a deixar Hermione com sono. Resolveu, então, ir ao banheiro no andar de baixo e jogar uma água no rosto para manter-se acordada.


Desceu as escadarias e seguiu por um corredor fracamente iluminado até o banheiro. Enquanto molhava o rosto com a água gelada da torneira lembrou-se da expressão assassina que Harry havia dirigido a Dino no jantar quando esse cochichou no ouvido de Gina. Havia uma diferença entre fúria de Rony e a de Harry que Hermione distinguiu na hora: a de Rony, era protetora; a de Harry, era ciúmes. “Ah, Morgana! Isso não vai dar certo... Justo agora que a Gina está conseguindo curar sua obsessão pelo Harry e parece tão feliz com Dino...”


Hermione estava tão perdida em seus pensamentos que não ouviu passos no corredor ao lado. Malfoy estava fazendo sua ronda também e, arisco como era, não deixou passar despercebido os passos leves e ritmados. Dirigiu-se ao corredor de onde vinha o som e mesmo na semi-escuridão do corredor reconheceu os inconfundíveis cachos castanhos de uma certa sabe-tudo. Ela estava com a capa grifinória sobre os ombros e, como sempre, parecia distraída. Malfoy se esgueirou rapidamente para perto dela, como uma sombra – e ele era especialista nisso. Pensou em assustá-la, mas o grito que ela daria provavelmente ia acordar o castelo todo.


Hermione foi arrancada de seus devaneios subitamente com uma mão tapando-lhe a boca. Já ia tentando gritar e pegar sua varinha quando sentiu um corpo quente abraçando-a por trás. O cheiro característico a atingiu antes da voz rouca, e ela soube de imediato quem estava atrás de si.


- Se fosse uma cobra – sussurrou o loiro em seu ouvido, com seu jeito arrastado de falar – Já tinha te picado, Granger.


- O que teria sido bem mais agradável, com certeza – ela retrucou azeda, quando ele tirou a mão que cobria sua boca.


Malfoy riu do senso de humor negro dela e soltou-a, ficando em sua frente.


- E, de qualquer maneira – a castanha continuou, com as mãos na cintura e olhando-o de forma petulante – Você e uma cobra não são lá tão diferentes assim.


- Vou levar isso como um elogio – ele respondeu, arqueando uma sobrancelha numa expressão bem sua.


Hermione deu de ombros e contornou-o na intenção de continuar sua ronda, mas logo ouviu os passos de Malfoy a acompanhando. Ignorou-o. Ele, porém, não parecia disposto a passar despercebido.


- Não vai sugerir que eu cubra a ala leste e você a oeste, como sempre, Granger?


- Pra quê, pra você jogar na minha cara que eu “fujo de você”? – ela desenhou as aspas no ar – Não, obrigada. Faça o que você quiser.


- Hmm... Agora você liga pro que eu falo?


- É claro que não. Como eu disse – Hermione apanhou sua varinha e acendeu-a ao entrar num corredor quase completamente escuro – Faça o que você quiser.


- Não dê idéias, Granger – Malfoy falou com uma malicia que a garota não registrou – Eu posso acabar não me segurando.


- Ora, tem alguém te obrigando a algo por acaso? Estamos num país livre...


O restante da frase se perdeu. Malfoy abraçou novamente Hermione por trás, tirando seu cabelo do pescoço e depositando ali um beijo molhado que arrepiou a castanha do couro cabeludo até os pés.


- Viva a democracia – Draco sussurrou, sedutor, no ouvido de Hermione e mordiscou-lhe a orelha.


- Você só vai ter que lidar com as conseqüências depois – a garota completou a frase que tinha sido interrompida, a voz falha pela proximidade com o loiro.


Draco girou-a em seus braços, sem desgrudar os corpos e encarou seus olhos castanhos. Novamente a cor deles o fez lembrar de mel, e não pode evitar pensar como era bom olhá-los tão de perto novamente. Hermione tinha a boca grossa entreaberta e aquilo não estava ajudando Draco a raciocinar.


- Quem disse que tem que haver conseqüências? Eu sei que você sentiu tanta falta disso quanto eu...


Hermione não conseguiu segurar uma risadinha de incredulidade. “Como é que alguém pode ter um ego tão grande?! Merlin!” E a vozinha em sua cabeça estava lá novamente, lembrando-a que, por mais convencido que ele fosse, não estava mentindo sobre ela ter sentido falta. Durante o último mês a castanha se pegou várias vezes olhando-o durante as refeições ou durante as aulas, analisando seus movimentos, seus traços, suas expressões...


- Achei que ainda estivéssemos falando do livre arbítrio, Malfoy... – ela respondeu cinicamente, levantando uma sobrancelha e rindo de lado.


Hermione viu os olhos de Draco escurecerem e se estreitarem enquanto ele aproximava seu rosto do dela. Quando ele estava próximo o suficiente para que seus lábios tocassem os dela, Hermione virou o rosto. Sentiu a respiração dele atingir seu pescoço quando ele bufou, exasperado. O loiro tinha as mãos em sua cintura, e ela segurou-lhe os pulsos na intenção de livrar-se do abraço. Mas sua determinação vacilou quando ele voltou a beijar seu pescoço, lentamente, demorando-se na pele atrás da orelha. Inconscientemente ela tombou a cabeça para o lado, dando-lhe mais espaço para continuar as carícias e suas mãos foram subindo de seus pulsos para o antebraço, do antebraço para o braço até subir-lhe pelos ombros e irem embrenhar-se em seus cabelos.


Quando ele deu-lhe uma mordida – que com certeza deixaria uma marca em seu pescoço – e ela teve que fazer força para que nenhum som de aprovação escapasse de sua boca foi que ela se deu conta da situação em que estavam. Decidiu que tinha que dar um jeito nisso. Puxou os cabelos dele, fazendo-o desgrudar de seu pescoço e encarou os olhos de tempestade de Draco. Aproveitou do momento de surpresa dele para soltar-se do abraço, mas continuou segurando a mão dele e começou a marchar pelo corredor.


- O que foi? O Filch? – Draco perguntou, se deixando arrastar pela garota.


- Se nós vamos fazer isso – ela disse numa voz decidida – Vamos fazer direito.


- O... o que? – o loiro a encarava incrédulo.


- Você não quer ser pego se agarrando com uma sangue-ruim no meio do corredor, quer Malfoy? – perguntou retoricamente enquanto abria a porta de uma sala de aula em desuso e entrava puxando Draco consigo.


Ela soltou a mão do garoto e voltou para fechar a porta. Quando virou de volta para a sala, encontrou Malfoy tão próximo de si que se assustou.


- Sabia que isso irrita? – ele a encarava, mas não parecia bravo; parecia divertido – Isso, de você ter sempre razão...


- Já ouvi isso uma vez ou outra – ela respondeu, rindo.


- Você até que é das minhas, Granger...


- Vou levar isso como um elogio...


E então ele a beijou. E ela correspondeu de imediato. Draco parecia ter realmente sentido falta dos beijos de Hermione, visto a ferocidade com que ele a agarrava. Hermione colidiu com força contra a porta, mas nem se importou. Tinha coisas mais importantes com o que se ocupar. Parecia que tanto tempo sem sentir o gosto de Draco só tinha tornado tudo mais forte: o jeito que ele a beijava, possessivo, num ritmo perfeito; o toque de seus dedos frios e atrevidos em sua pele quente, causando arrepios; o cheiro delicioso de homem que ele tinha, que entorpecia-lhe os sentidos e deixava suas pernas totalmente moles...


Quando os lábios se desgrudaram em busca de oxigênio, Hermione desceu os beijos para o pescoço alvo de Draco, querendo sentir a textura de sua pele, o gosto. E era maravilhoso. O cheiro que ela adorava parecia mais concentrado ainda em sua pele e ela mordeu e beijou cada centímetro de pele que pôde enquanto Draco respirava pesadamente, puxava seus cabelos e apertava sua cintura por debaixo da camisa do uniforme. Em algum momento, que ela não conseguia se lembrar, sua capa tinha sido jogada longe. Achando uma injustiça que ele ainda continuasse tão coberto, ela tirou rapidamente a capa sonserina de Draco e começou a desabotoar-lhe a camisa. Cada novo pedaço de pele que aparecia Hermione fazia questão de beijar e morder, tendo a confirmação de que o cheiro maravilhoso estava presente em todo o corpo do garoto. O cheiro era realmente dele. Quando ela terminou de abrir a camisa de Draco e atirou-a em qualquer canto, ele levantou sua cabeça e a fez olhar em seu rosto. Ele tinha as marcas de seus próprios dentes no lábio inferior e a respiração irregular.


- Morena, você me deixa louco.


E atacou novamente os lábios de Hermione, postando suas mãos na parte de trás das coxas da garota e levantando-a do chão. Ela enlaçou as pernas em seu quadril e ele prensou-a novamente contra a porta, fazendo-a suspirar com o contato com o tórax nu dele e com sua masculinidade. Eles se beijavam de maneira lasciva, e a cada nova carícia sabiam que se embrenhavam mais ainda nesse caminho sem volta. Estavam se descobrindo sem pudor, levados pelos hormônios e pela química inegável que havia entre eles.


Hermione sentiu quando Draco vacilou um pouco sob seu peso, e rapidamente sussurrou “A mesa, Draco”. Ele a desgrudou da parede e foi dirigindo-se até a mesa, com ela ainda em seu colo beijando o pescoço já todo marcado do loiro. Ele a colocou sentada na mesa do professor e antes de voltar a beijá-la, fez com que a castanha olhasse em seus olhos e pediu:


- Diz de novo.


- Hã? – ela estava ofegante, com o cabelo bagunçado e o uniforme completamente desalinhado. Na opinião de Draco, mais linda ainda.


- Meu nome – ele falava com a voz baixa e rouca, enlouquecedora – Diz meu primeiro nome de novo.


- Ah, Malfoy! – Hermione ruborizou pelo falo de tê-lo chamado pelo nome, apesar da situação em que se encontravam – Deixa de bobagem...


- Morena... – o sonserino aproximou sua boca da dela; Hermione tentou beijá-lo, mas ele esquivou-se. Ela o fuzilou com o olhar – Por favor...


Ele sugou o lábio inferior dela e prendeu-o entre seus dentes. A garota fechou os olhos e suspirou, derrotada. Abriu-os novamente e encontrou com os de Draco, que estavam completamente escuros e faiscavam.


- Você não vale nada, Draco.


Ele sorriu um sorriso de 32 dentes, verdadeiro, o que deixou Hermione meio abobalhada por uns segundos; ela teve que se concentrar para tentar entender o que ele estava falando.


- Você deveria usar meu nome mais vezes, Hermione – ele parecia saborear o nome dela em seus lábios, e ela não pôde negar que gostou de como ele soou na voz de Draco.


Ele se aproximou dela devagar e, sem desfazer o olhar, tomou os lábios dela entre os seus, lentamente. A castanha fechou os olhos assim que os lábios gelados dele entraram em contato com os seus, mas ele não. Viu-a fechar os olhos e suspirar. Afastou seu rosto apenas alguns milímetros do dela para apreciá-la: parada em sua frente, os olhos fechados em sinal de confiança, esperando por ele. Vê-la tão entrega fez algo novo borbulhar no estômago de Draco e ele beijou-a carinhosa e demoradamente, de um jeito totalmente diferente dos beijos que eles já tinham trocado até agora. Quando a sentiu retribuir imediatamente, fechou os olhos também, com uma sensação boa por saber que ela não mais fugiria dele.


Hermione sentiu a diferença desse beijo para os outros que já tinham trocado. Geralmente beijavam-se com ferocidade, luxúria. Dessa vez, porém, era como se tivesse algo mais. Draco beijou-a com calma, transmitindo um carinho que ela sabia que ele não sentia. “Maldito! Agora eu entendo como tantas garotas conseguem pensar que ele realmente tem algum sentimento por elas... Também, beijando desse jeito apaixonado...” Mas ela não estava lá muito preocupada com isso no momento. Empurrou esses pensamentos para um canto de sua mente e voltou a se concentrar no garoto a sua frente, que tocava seu rosto suavemente com a ponta dos dedos. A garota não entendia como esse simples contato da pele dele com a sua conseguia a deixar completamente em chamas, clamando por mais. Hermione enlaçou suas pernas novamente na cintura de Malfoy e puxou-o para mais perto, colando-o em seu corpo novamente.


O beijo foi voltando ao ritmo inicial e logo já estavam de volta no amasso de onde tinham parado. Draco começou a abrir a camisa de Hermione, de baixo pra cima. Enquanto abria os botões, deixava as pontas de seus dedos roçarem na pele dela e a sentia arrepiar. Parou quando faltavam apenas 3 botões para que a camisa estivesse completamente aberta. Passou, então, a beijar o pescoço de Hermione e desceu os beijos para o colo da garota. Ela jogou a cabeça pra trás e, pelas pálpebras semi-cerradas, viu através da janela a lua enorme e cheia. Sentiu os dentes de Malfoy arranhando-lhe e pele e sussurrou alguma coisa ininteligível, virando a cabeça para olhar o que ele estava fazendo. E quando viu, perdeu toda a intenção que podia ter de tomar juízo e sair dali.


Draco estava abrindo os últimos botões da camisa dela com os dentes e olhando-a com um olhar totalmente pervertido. Ela ficou totalmente sem ação e esqueceu de respirar por alguns segundos. Quando ele terminou de abrir os botões e deslizar a camisa para fora do corpo de Hermione, o sonserino parou para admirá-la. Ela tinha seios perfeitos; não enormes, mas na medida certa. Sua pele levemente bronzeada era irresistivelmente convidativa para Draco, que não agüentou ficar muito tempo só olhando. Ele abaixou o rosto e beijou sensualmente o vale entre os seios da garota. Hermione não agüentou mais se segurar e gemeu o nome dele, e aquilo foi demais para o loiro.


O sonserino deitou-a na mesa e subiu, postando-se em cima dela – sem, entretanto, soltar todo seu peso sob a garota. Ele a beijava vorazmente e ela correspondia, arranhando as costas do loiro. Draco estava tão empolgado que, quando foi dar uma mordidela no lábio inferior de Hermione, exagerou e acabou cortando-o. Hermione fincou as unhas nas costas dele.


- Ai! – ela sugou o próprio lábio, sentindo o gosto salgado e metálico do sangue.


- Granger, me... me desculpe – ele pediu, atrapalhado – Foi sem querer, você sabe...


- Cala a boca Malfoy – Hermione revirou os olhos e sorriu para ele – Está mesmo na hora de irmos para o dormitório.


- Isso foi uma proposta? – ele perguntou, malicioso, beijando-lhe o colo. Ela deu um tapinha na cabeça dele e empurrou-o.


- Eu no meu quarto e você no seu.


- Ah, não seja má, Granger – os dois já tinham descido da mesa e ela andava pela sala recolhendo as roupas deles. Ele abraçou-a por trás e falou em seu ouvido – Vai me deixar assim?


“Descarado!” Hermione pensou, ao senti-lo impulsionar seu quadril para frente, mostrando do que ele estava falando.


- Ora, Draco – ela falou, com a voz macia e sussurrada, virando-se de frente para ele e enlaçando-o pelo pescoço – Você pode dar um jeito nisso sozinho, se é que você me entende.


Ela o viu estreitar os olhos com a provocação e gargalhou, saindo de perto dele e indo se vestir. Ele se aproximou e ela lhe estendeu suas roupas. Eles se vestiram em silêncio. Quando terminaram, Hermione abriu a porta e, olhando dum lado e do outro, perguntou baixinho:


- Acha que devemos continuar a ronda? Quer dizer, vai que aconteceu alguma coisa e...


- Fala sério, Granger – Draco passou por ela e saiu para o corredor – Não aconteceu nada. Literalmente.


Hermione corou com o comentário do loiro e saiu da sala também, fechando a porta com cuidado atrás de si. Seguiram pelo corredor escuro até uma escada e desceram para o quinto andar. Enquanto andavam em silêncio Hermione percebia Draco a espiando pelo canto dos olhos, mas fingia não notar. Estavam quase alcançando a escada para o quarto andar quando ouviram um uivo de arrepiar, soando mais perto do que devia. Hermione parou de supetão, encarando a lua redonda que brilhava pela janela do corredor. E num estalo revelador, ela entendeu. Estava tão perdida na revelação que Draco teve que chamá-la três vezes até que ela se desse conta que ele estava falando com ela.


- Ahm? – ela falou debilmente, virando-se para Draco e focando o olhar no rosto confuso dele.


- Eu sou assim tão bom que te faço até perder o rumo, Granger? – ele provocou, levantando uma sobrancelha maliciosamente. Ela revirou os olhos.


- Cala a boca, Malfoy. Estou tentando pensar.


- Então eu te distraio... – ele concluiu presunçosamente – Bom... Quase tão bom como te fazer perder o rumo, sabe.


Hermione segurou-se para não bufar e agarrou a mão de Draco, jogando-o contra a parede.


- É claro que você me distrai, Draquinho – ela falou numa voz falsamente manhosa, se aproximando dele e apertando suas bochechas como as tias tem a mania de fazer com seus sobrinhos – Como é que eu posso me concentrar – ela aproximou mais seu rosto do dele, vendo ele olhá-la entre desconfiado e desejoso – Se você não cala a boca!


Ela virou-se para sair sem ele em seu encalço, mas não conseguiu nem se afastar muito e foi puxada para trás. Draco segurou-a pelo braço e a fez virar novamente para ele, colando os corpos.


- Não é muito esperto da sua parte ficar me provocando, Granger – os olhos dele brilhavam de irritação e sua voz era ameaçadora; Hermione ficou sem reação por alguns segundos, imaginando se teria ido longe demais – Nunca ouviu dizer que não se deve cutucar o hipogrifo com vara curta? E eu sei disso melhor do que ninguém – ela entendeu de imediato a referência que ele fazia ao incidente dele com Bicuço no terceiro ano e riu da lembrança.


- Eu não consigo evitar – ela deu de ombros, descansando suas mãos nos braços de Malfoy despreocupadamente, como se aquilo fosse a coisa mais comum do mundo – É pra não perder o costume, sabe? Afinal, ainda tenho uma reputação a ser mantida!


Hermione jogou a cabeça para trás, rindo, enquanto Draco a acompanhava. O pescoço sempre alvo da castanha, o garoto percebeu, exibia agora uma marca vermelha – que provavelmente amanheceria roxa. Os risos foram cessando e Hermione voltou a olhá-lo, ainda meio corada pela risada. Seus olhos castanhos escaneavam os azuis de Draco, como se pudesse ver-lhe a alma – e ele sentiu medo do que ela podia encontrar ali. Mas aparentemente o que quer que ela tenha encontrado, agradou-lhe, pois a castanha deu um sorriso sincero – e meio constrangido – e desviou os olhos.


- Acho que me empolguei um pouco – Draco comentou para quebrar o silêncio, levando uma mão à marca que ele tinha deixado no pescoço dela.


- Ah não! – a mão dela imediatamente subiu para seu pescoço também, tateando, como se ela fosse conseguir sentir alguma coisa ali – Eu estou marcada?


Ele riu da voz manhosa que ela usou.


- Nada irremediável – os pensamentos de Draco voaram imediatamente para a sua marca; aquilo sim era irremediável. Ele tentou afastar esses pensamentos sombrios de sua mente.


- Você é mesmo um idiota, Malfoy – a grifinória falou friamente, fazendo Draco encará-la perplexo, as sobrancelhas de tão levantadas quase sumindo sob a franja loira. “Merlin, ela é completamente imprevisível!” Ele já estava pensando em soltá-la antes que a garota o azarasse quando ela explodiu em gargalhadas – Você tinha... hahaha... tinha que ver... a sua... haha... a sua cara!


Hermione tampou a boca com as mãos tentando abafar os risos quando o viu estreitar os olhos. Ele tentava manter a carranca e queria dizer algo como “Você é realmente infantil, não, Granger?”, mas só o que conseguiu fazer foi postar suas mãos sob as costelas dela e fazer-lhe cócegas, na intenção de vê-la gargalhar novamente. Ela guinchou em surpresa e as risadas escaparam por seus lábios quando ela tirou as mãos que os cobriam e agarrou os pulsos de Draco, tentando fazê-lo parar.


- Você é quem tinha que conseguir ver a sua cara – ele falou, rindo junto com Hermione que se debatia em seus braços e tentava pará-lo.


- Pára... Por favor... Eu não consigo respirar! – Ela balbuciava quando conseguia sugar um pouco de ar para dentro dos pulmões – Por favor, Draco!


Ele riu ainda mais da voz manhosa e quase suplicante dela, mas parou com as cócegas. Ela desabou contra Draco, ofegando, tentando controlar a respiração e o coração que batia acelerado. Sentiu que o tórax do sonserino subia e descia rapidamente, sinal de que estava tão sem ar quanto ela. Hermione desencostou a cabeça e apoiou o queixo no peito dele, olhando em seu rosto. Ele estava com a cabeça jogada para trás, apoiada na parede, o sorriso ainda brincando em seus lábios finos e rubros. E, por algum motivo, aquela visão tirou todo o pouco ar que ela tinha conseguido puxar para dentro dos pulmões e descontrolou novamente seu ritmo cardíaco. Ele abaixou a cabeça fitando-a, e encostou sua testa na dela, ambos ainda respirando pesadamente. A castanha se deixou fechar os olhos e só ficar ali, sentindo Malfoy a apertar contra seu corpo e a respiração quente dele em seu rosto.


“Menta”, ela decidiu finalmente. Era alguma coisa parecida com menta gosto que ela sentia quando o beijava e o cheiro que vinha agora de encontro ao seu rosto. Menta e alguma outra coisa que ela não conseguia identificar, mas era bom...


- Acho que é hora de irmos para o dormitório, não é, Dona Monitora-Certinha? – Draco falou, quando já tinha a respiração quase normal.


- Já passou da hora, né? – ela descolou as testas e encarou-o, dando um sorrisinho meio tímido – Agora, quanto ao certinha eu não tenho tanta certeza...


Draco riu e desencostou da parede, começando a andar novamente pelos corredores com Hermione.


- Não é só porque você quebrou algumas regras que você deixou de ser a sabe-tudo irritante de sempre, Granger...


- É o que eu espero, também – ela respondeu, mais para ela mesma que para Draco, mas ele ouviu.


- Fica tranqüila, Granger, eu não vou falar nada pros seus santos amiguinhos. Nada vai mudar.


- É. Nada vai mudar – ela murmurou, entrando no salão comunal deles – Boa noite, então, Malfoy.


E subiu, deixando Draco para trás. Ele ficou parado, olhando-a subir calada e não entendendo nada. “Não que eu estivesse esperando um beijo de boa noite ou algo assim...” E subiu para seu dormitório.


Hermione fechou a porta silenciosamente atrás de si. Ainda estava meio extasiada com tudo que acontecera naquela noite, mas o que martelava na sua cabeça era a voz de Draco, jogando um balde de água fria sobre ela.


“Nada vai mudar...”


 


 


 


N.A.: Oii.. sei que demorei pra postar, mas tá ai! Espero que gostem e deixem comentários dizendo o que acharam :) Ah, a musica utilizada no capitulo é I'm a bitch, I'm a lover - Alanis Morissete.


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