Capitulo II - Felix Felicis

Capitulo II - Felix Felicis



CAPITULO II – Felix Felicis


Hermione despertou se sentindo mais descansada que o normal. Aconchegou-se melhor sob as cobertas e rolou na cama. A maciez do colchão a fez perceber que não fora tudo um sonho. Abriu os olhos e ficou admirando seu novo quarto: uma suíte grande, com uma cama de casal no centro; no canto mais afastado ficava um antigo armário de madeira bem trabalhado e ao seu lado uma janela enorme. A decoração era em tons de verde dando um pouco de vida ao ambiente e quebrando sua austeridade. A garota simplesmente amou.


Levantando da cama e entrando no banheiro, ela decidiu estrear sua banheira. Abriu as torneiras e, enquanto a esperava encher, foi beber um pouco d’água. Desceu as escadas saltitantes e entrou na pequena cozinha. “Nada como o primeiro dia de aula” pensava a castanha tentando alcançar um copo no armário mais alto.


Draco descia as escadas sonolento. Caiu cedo demais da cama e não conseguia voltar a dormir; decidiu então tomar um copo d’água pra ver se ajudava. Já ia entrando na cozinha quando viu Hermione na ponta dos pés tentando alcançar algo no armário. Ele esquadrinhou o corpo da grifinória de baixo a cima; subindo dos pequenos pés para as pernas fortes, as coxas roliças e bem torneadas, o quadril na mesma linha que os ombros com uma cintura fina entre eles. A camisola de tecido fino era um pouco acima dos joelhos, mas como a garota estava se esticando a peça ficou perigosamente curta. Draco soltou um assobio baixo e longo.


- Camisola legal, Granger – Hermione se virou depressa e ruborizou ao encontrar o loiro parado ali, ainda olhando para suas pernas.


- Aqui em cima, Malfoy! Hã! – a garota ralhou, indicando o próprio rosto – Eu estou aqui em cima!


- Não, obrigada. Estou bem assim – ele ainda não olhava para o rosto dela; não queria ter que constatar novamente que aquele monumento de mulher era a sangue-ruim. Hermione bufou.


- Dá o fora! – ela falou dando as costas ao loiro e andando até uma mesinha que havia na cozinha.


Malfoy foi até o armário e pegou sem dificuldade dois copos. Virou na direção de Hermione para entregar-lhe um deles, mas quando abriu a boca para falar a garota o interrompeu.


- Não, Malfoy, eu não me esqueci que eu sou uma bruxa; só não estou com minha varinha para usar um feitiço convocatório.


- Na verdade eu só ia dizer quer você é bem baixinha, mas essa foi boa também – ele disse enquanto enchia os copos com água.


Hermione levantou uma sobrancelha, descrente, mas ele deu de ombros indiferente e tomou sua água. Enquanto ele bebia tudo de uma só vez com os olhos fechados, a garota reparou que ele estava só com uma calça de moletom. Seus olhos desceram para o peitoral despido do sonserino e não pôde conter um suspiro: ele era perfeito! O corpo esguio e forte, com os músculos definidos do abdômen visíveis. Hermione conseguiu ver algumas linhas finas e brancas que mal eram notáveis na pele muito clara, mas não passaram despercebidas a ela: cicatrizes.


- Estou me sentindo um  Picasso... – Draco falou divertido vendo a garota admirar seu corpo.


- Bem vindo ao clube então – a garota alfinetou, mesmo estando constrangida por ter sido flagrada. Porém, logo sua expressão sarcástica foi substituída por uma de confusão – Você conhece Picasso?


- Eu te disse ontem, Granger – o loiro saiu da cozinha e atravessou a sala – Você não sabe nada sobre mim.


Hermione ficou desconfortável por ele ter tocado naquele assunto; ela ainda lembrava bem do olhar raivoso dele na noite anterior. Hermione tratou de beber sua água, mas a voz alta de Draco vinda do andar superior a interrompeu.


- Mas que por** é essa?


A garota colocou seu copo na pia e subiu correndo. Mal precisou subir alguns degraus pra entender o que o loiro quis dizer: água escorria pelas escadas; com certeza o corredor todo estava alagado.


- A minha banheira! – ela gritou subindo o que faltava das escadas.


O loiro, que estava mais próximo, entrou sem cerimônia no quarto de Hermione e o encontrou alagado. Foi até o banheiro e este não estava diferente; atravessou-o e fechou as torneiras da banheira que transbordava.


- Ahh, merd*! – a grifinória exclamou ao ver o estado do seu quarto novo – droga, droga, mil vezes droga!


- Relaxa aí, Granger – Malfoy saiu do banheiro dela, a calça do moletom molhada até os tornozelos – Tudo está sob controle. Você está a salvo.


Hermione quase riu da pose de super-herói de Malfoy; quase. Mas não pôde evitar revirar os olhos e esboçar um sorrisinho. Quando se deram conta da situação em que estavam – ele só de calça no quarto dela fazendo gracinhas, e ela de camisola sorrindo das gracinhas dele – ficaram meio constrangidos e logo Malfoy falou:


- Então, acho que já fiz a boa ação do dia – e deu um passo para sair do quarto, mas pisou em alguma coisa que estava imersa e escorregou.


Caiu de costas no chão, espalhando água por todos os lados. Dessa vez Hermione não conseguiu segurar o riso. Caiu na gargalhada e não conseguia mais parar.


- Ei, uma ajudinha? – Malfoy falou carrancudo, ainda deitado no chão.


- Me... me desculpe – ela falou tentando conter o riso e se dirigindo até onde o sonserino estava estatelado. Parou em frente a ele e estendeu a mão – Vem, segura aqui.


Ele segurou a mão dela sem hesitar e apoiou-se nela para levantar.


- Mas que peso – Hermione gemeu, puxando-o para cima e tentando agüentar a força que Draco fazia apoiando-se nela. Ele conseguiu se levantar e logo soltou sua mão da dela – Vou pegar uma toalha para você.


Ela olhou-o e desatou a rir novamente, o que só o deixou mais irritado ainda. Ela percebeu isso e tratou logo de ir até o banheiro pegar uma toalha para ele, mas ainda não parara de rir. Hermione abaixou-se para pegar uma toalha no armário sob a pia, mas quando se endireitou seus pés deixaram o chão ela sentiu braços fortes em volta de si.


- O QUE É QUE...


- Não é tão engraçado, Granger? – Draco falou se dirigindo até a banheira com ela se debatendo em seu colo – Eu também quero rir um pouco.


- NÃO SE ATR... – tarde demais. Draco a soltou de uma vez só dentro da banheira, fazendo Hermione afundar completamente.


Rapidamente ela emergiu, ensopada, e soltou um grito de raiva que só fez o loiro gargalhar ainda mais. Mesmo irada, a castanha não deixou de notar como a risada dele (não aquela debochada, mas essa verdadeira) era gostosa e o deixava ainda mais bonito. Hermione saiu da banheira bufando e foi andando em direção ao loiro.


- Isso é mesmo engraçado! – ele falou vendo a garota se aproximar furiosa. Ainda tentou pensar em algo para falar, mas ela foi mais rápida. Se jogou contra ele e o socou e estapeou em todo e qualquer lugar que estivesse ao seu alcance, berrando palavrões – EI! Granger, pá... AI! Pára sua louca!


Ele segurou forte os pulsos dela e os afastou de seu corpo.


- Louca?! Louco é você sua doninha! Quem ... – mas ele não estava mais prestando atenção nos gritos dela.


Draco tomou consciência da proximidade dos corpos, e a camisola molhada e grudada no corpo bem moldado da grifinória não ajudou muito. Sem pensar duas vezes, ele soltou os pulsos dela e a agarrou pela cintura, trazendo-a para si e calando-a com um beijo.


Hermione não entendeu de imediato porque ela tinha parado de gritar e esbravejar com Malfoy, mas logo sentiu os lábios frios dele sobre os seus a calando. No início ela relutou, em estado de choque; mas não pôde mais resistir ao sentir a língua hábil do garoto pedindo passagem. Permitiu que ele aprofundasse o beijo e jogou seus braços ao redor do pescoço dele, correspondendo animadamente.


Draco a abraçou mais forte pela cintura ao senti-la ceder e enroscou uma de suas mãos nos cachos molhados da castanha. Os lábios frios e a língua quente dele causavam em Hermione uma sensação deliciosa, mas ela ainda tinha a vaga consciência de que quem a estava proporcionando tais sensações era seu inimigo de anos. Draco percebeu que ela tentava se afastar, e como não estava nem um pouco disposto a soltá-la, dava um passo pra frente a cada passo para trás da garota. Quando viu que tinha chegado à parede do banheiro, não pode evitar sorrir durante o beijo: encurralada.


Ao sentir suas costas contra a parede, Hermione sabia que seria seu fim; estava sem escapatória. E nem sabia se queria escapar, pra falar a verdade. O sonserino tomava seus lábios de uma forma única, possessiva e suplicante ao mesmo tempo. Ele prensou-a contra a parede com o próprio corpo, sentindo o calor da pele dela mesmo através da camisola encharcada, fazendo-a soltar sem querer um suspiro. Draco sentiu seu corpo responder ao contato e imediatamente desceu os beijos para o pescoço de Hermione, fazendo um tremor percorrê-la. Suas mãos passeavam pela cintura da castanha e a apertavam ali, enquanto as dela estavam despenteando os cabelos meio molhados dele, puxando-os de leve.


Hermione sentiu sua lucidez por um fio quando a respiração rápida dele foi de encontro ao seu pescoço e sabia que já já não teria mais força para parar essa loucura. Pegou-o pelos ombros e o empurrou com força, afastando-o de si. Ele olhou-a nos olhos e ela notou quão cinzentos eles estavam. Draco tentou alcançar os lábios dela de novo, mas ela virou o rosto.


- Malfoy... não – a garota estava ofegante.


- Agora já é tarde, Granger – ele sussurrou rouco e mordeu-lhe o lóbulo da orelha.


- Você está maluco? Saia já daqui e nem pense... – Hermione o empurrou e começou a falar, alterando a voz para parecer confiante.


- Não venha com essa história de “não me toque novamente”, Granger – ele a cortou, olhando-a e sorrindo torto – Eu já ouvi isso antes. E pelo que acabou de acontecer aqui, não parece que o que você quer de mim é distância...


- Não seja idiota, Malfoy. Foi você que me agarrou... – ela já ia começar um novo discurso.


- Que seja, Granger. Mas só quero que você saiba – ele se aproximou novamente dela e tocou-lhe de leve os lábios com os dedos frios – Isso não acaba por aqui.


Hermione, paralisada, o viu sair do banheiro e ouviu quando fechou a porta do quarto. Ela se escorou na parede e escorregou até o chão, tocando seus lábios no mesmo lugar que Malfoy tocara. “O que aconteceu aqui, por Merlin?!” Ela pensava desesperada.


Ao sentar no chão notou que o piso ainda estava encharcado; ela havia se esquecido completamente desse incidente. Levantou-se e no quarto pegou sua varinha, fazendo a água ir sumindo como se tivesse sendo absorvida pelo chão. Depois, com outro feitiço, secou suas coisas. Quando tudo já estava praticamente arrumado, ela voltou para o banheiro e se jogou de volta na banheira – dessa vez sem camisola. Tomou banho em uma espécie de transe. “Como é que eu tive estômago de beijar aquela coisa asquerosa?” ela pensava em desespero. “De asqueroso aquele homem não tem nada, Merlin...” a voz já conhecida do seu eu-interior suspirava na cabeça da garota. “Draco Malfoy! Você sabe o que esse sobrenome significa? É a sigla de Malignamente Anti-trouxa, Loucamente Feroz e Odiado? Yes!”  “Pára de drama, garota! Alguém aqui falou sobre algo além de uma relação carnal?!"


No quarto ao lado, o estado de Draco não estava muito diferente; exceto que os efeitos do beijo ainda se eram bem visíveis no corpo do rapaz. “Maldita sangue-ruim!”


Hermione se arrumou depressa e saiu do salão comunal dos monitores-chefes quase correndo. Não sabia o que poderia acontecer se ela e Malfoy se encontrassem sozinhos novamente. Pelo menos, fora de lá, eles tinham uma reputação de inimigos para manter perante a todo o Castelo. Foi direto para o salão principal tomar café e lá se sentou com Harry e Rony.


- Bom dia, meninos! – ela cumprimentou, sentando de frente a eles.


- Bom dia Mione – ambos responderam, porém quem prosseguiu foi Harry – E ai, o quarto da monitoria é tudo o que dizem mesmo?


- Ah, você não faz idéia! Meu quarto é uma suíte e a cama é de casal, e eu tenho até uma banheira! E tem um salão comunal lindo, uma cozinha, e ah! A biblioteca! É simplesmente incrível! – Hermione desatou a falar, empolgada.


- Sop aum fai condef á efqucer ahmigs – Rony falou com a boca cheia, cuspindo farelo pra todo lado.


- Engole isso e depois você fala, Ronald! – a garota o repreendeu, enquanto Harry ria do amigo.


- Eu disse pra você não se esconder lá e esquecer dos amigos – o ruivo explicou depois de engolir a comida que tinha na boca, e Harry concordou com a cabeça, fazendo cara de cachorrinho sem dono.


- Até parece – Hermione revirou os olhos e sorriu para os amigos.


Do outro lado do salão na mesa da Sonserina, Draco tomava seu café com Crabble e Goyle. Sabia que esses dois só podiam ser filhotes de trasgos, mas mesmo assim eram fiéis a ele e úteis às vezes. Blaise Zabini, talvez o único em Hogwarts que o loiro considerasse realmente um amigo, se aproximou e sentou-se na frente de Draco.


- Fala aí, cara – Zabini cumprimentou.


- Decididamente eu não vou andar com você por aí com essas trancinhas – o loiro zombou o amigo. Blaise era negro, e tinha adotado o cabelo rastafari.


- Qual é, faz sete anos que você tem essa franjinha de moça e eu nunca te descriminei por isso, Draco... – o outro revidou, arrancando risos escandalosos de Crabble e Goyle.


Malfoy os calou com um olhar e voltou a se dirigir a Blaise.


- Herbologia agora também?


- Aham – Zabini respondeu tomando suco de abóbora.


- Vamos indo, então. Fica feio um cara como eu ser visto com esses aí – Draco apontou com a cabeça para os dois filhotes de trasgo, que devoravam a comida tão afoitos que até sujavam suas vestes.


Zabini riu e se levantou com Draco. Cruzaram o salão principal em silêncio; só quando alcançaram os jardins foi que Blaise iniciou uma conversa.


- Então, cara... Como é que estão as coisas lá na sua casa? Depois de... você sabe.. – o garoto sempre ficava sem graça de tocar nesses assuntos delicados, mas sabia que se ele não o fizesse Draco também não faria. E sabia que o amigo precisava desabafar.


- Um pouco pior que o normal – Draco falou tentando uma ironia, mas depois suspirou cansado e incomodado – Depois que meu pai foi preso, a pressão sobre mim só aumentou... minha mãe ainda tentou tirar o meu da reta, mas dessa vez eu não tenho escapatória...


- Não, Draco. Sempre tem uma saída, cara... você não precisa fazer nada contra sua vontade e...


- E quem disse que eu não quero fazer? – ele cortou, seco.


Blaise se espantou um pouco com o tom rude do amigo, mas logo entendeu; Draco sempre foi muito cobrado por seu pai para ‘mostrar serviço’. Lucio sempre instigou o filho a competir em tudo com o Potter, a jamais demonstrar fraqueza, ser sempre o melhor.


- Nós dois sabemos que não é isso que você quer, cara... – Zabini falou baixo, e Draco não respondeu nada. Seguiram em silêncio para as estufas.


Toda a Grifinória aguardava ansiosamente pelas aulas da tarde; eles teriam aula com o tal Slughorn. Todos da casa almoçaram entusiasmados e logo se dirigiram às masmorras. Não precisaram esperar muito até a enorme silhueta do novo professor aparecer pela porta e convidá-los a entrar. A sala estava muito diferente do habitual: os quadros horrendos foram retirados das paredes, os frascos com conteúdos sinistros que ficavam expostos sumiram e o cômodo até parecia menos sombrio que na época de Snape.


Quatro caldeirões cheios estavam postados em frente à mesa do professor. Hermione passou por eles devagar, analisando-os. O primeiro caldeirão continha um líquido que, para os mais desavisados, poderia facilmente ser confundido com água fervente. Hermione, porém, reconheceu o Veritaserum imediatamente. O segundo continha um líquido que parecia lama;  “Quem sabe, pela primeira vez na vida, Harry e Rony consigam reconhecer uma poção” a garota pensou, lembrando de quando os três prepararam a Poção Polissuco no seu 2º ano. O terceiro caldeirão estava cheio de uma substância clara e com um brilho levemente perolado, que exalava um vapor que subia em espirais. Hermione estava realmente surpresa; já em sua primeira aula o professor preparara poções extremamente complicadas como Veritaserum e Amortentia! No ultimo caldeirão, uma poção vivamente dourada borbulhava e espirrava para todos os lados, sem que, entretanto, uma só gota saísse do caldeirão. A grifinória franziu o cenho, sem reconhecer de imediato a poção.


Hermione atravessou a sala e foi se sentar-se à mesa de Harry e Rony, enquanto os amigos pegavam livros e balanças emprestados com Slughorn; ambos não compraram os materiais para poções, pois Snape não aceitaria menos que um Ótimo em sua sala de N.I.E.M., ao contrário de Horácio que ficou satisfeito com o Excede Expectativa de ambos.


- Ora muito bem – o novo mestre de poções começou – Preparei algumas poções para vocês verem, apenas pelo interesse que encerram, entendem? São o tipo de coisa que deverão ser capazes de fazer ao final dos N.I.E.M.s. Já devem ter ouvido falar de algumas, ainda que não saibam preparar. Alguém sabe me dizer qual é essa aqui?


Hermione levantou a mão na mesma hora que o professor apontava para o caldeirão com o líquido transparente. O professor se virou para ela.


- É Veritaserum, uma poção sem cor nem odor que força quem a bebe a dizer a verdade – a garota recitou.


- Muito bem, muito bem! – Horácio continuou, e depois apontou para outro caldeirão – Essa outra é bem conhecida... e apareceu em alguns panfletos do ministério... quem sabe... ?


A mão bem treinada de Hermione se ergueu novamente.


- É a Poção Polissuco, senhor.


- Excelente, excelente! Agora essa outra aqui... sim, minha cara? – o professor pareceu meio desconcertado ao ver a mão de Hermione levantada novamente.


- É Amortentia!


- De fato. Parece quase tolice perguntar, mas presumo que saiba que efeito produz, não?


- É a poção de amor mais poderosa do mundo!


- E você a reconheceu, presumo, pelo brilho perolado?


- E o vapor subindo em espirais características – a castanha falava animada – E dizem que tem um cheiro diferente para cada um de nós, de acordo com o que nos atrai, e eu estou sentindo cheiro de grama recém-cortada e pergaminho e...


Ela corou ao perceber que falara demais e se calou.


- Posso saber seu nome, minha cara? – Slughorn perguntou, visivelmente impressionado.


- Hermione Granger, senhor.


- Granger? Granger? Será que você não é parenta de Hector Dagworth-Granger, que fundou a Mui Extraordinária Sociedade dos Preparadores de Poções?


- Não. Creio que não, senhor. Nasci trouxa, sabe.


Horácio abriu um sorriso largo e olhou de Hermione para Harry, que estava sentado ao lado da garota.


- Oho! “Uma das minhas melhores amigas é trouxa e é a melhor da nossa série!” Presumo que seja esta a amiga de quem me falou, Harry!


- É, sim, senhor.


- Ora muito bem, vinte pontos muito merecidos para a Grifinória, srta. Granger.


Hermione estava radiante, não sabia se por ter recuperado 20 dos 30 pontos que Malfoy tirara da grifinória por sua causa, ou se pelo que Harry tinha dito.


- Você realmente disse a ele que sou a melhor da série? Ah, Harry! – a garota o abraçou e deu-lhe um beijinho na bochecha.


- Ora, grande coisa! – Rony falou carrancudo ao ver Hermione beijar o amigo – Você é a melhor da série: eu teria dito isso se ele tivesse me perguntado!


“Isso é ciúmes, sr. Ronald Weasley?!” a garota não pode evitar sorrir com esse pensamento, mas logo fez sinal para os amigos ficarem quietos ao ver Slughorn voltar a falar.


- E agora está na hora de começarmos a trabalhar...


- Professor, o senhor não nos disse o que tem nesse aqui – Ernesto Macmillan falou, apontando para a tal poção dourada.


- Oho! – o professor falou teatralmente – Sim. Aquela. Bem, aquela ali, senhoras e senhores, é uma poçãozinha curiosa chamada Felix Felicis – Hermione deixou escapar um gritinho, finalmente reconhecendo a poção – Suponho que a senhorita saiba o que faz a Felix Felicis, srta. Granger?


- É sorte líquida! Faz a pessoa ter sorte! – a castanha não cabia em si de excitação.


O professor se pôs a falar sobre a poção, enquanto a sala inteira parecia totalmente concentrada em cada palavra. E o silencio ficou quase palpável quando o professor anunciou:


- E a poção é o que eu vou oferecer de prêmio nesta aula. Um frasquinho de Felix Felicis, suficiente para doze horas. Do amanhecer ao anoitecer, vocês terão sorte em tudo que tentarem.


A poção que deveriam fazer para conseguir o prêmio era dificílima. Hermione se apressou em começar a cortar os ingredientes e acender o fogo. Queria muito ganhar a sorte líquida. Todos queriam na verdade, já que todos estavam se empenhando ao máximo na poção do Morto-Vivo. A poção de Hermione era claramente a melhor; porém, segundo as instruções, a poção já devia estar lilás-claro enquanto a da castanha continuava púrpura. Ela olhou para o lado e viu que a poção de Harry estava clareando gradualmente, e percebeu que logo estaria da cor indicada pelo livro.


- Como é que você está fazendo isso, Harry? – ela perguntou desesperada.


- Dê uma mexida no sentido horário...


- Mas o livro diz anti-horário, Harry!


- Faz o que eu to te dizendo, Mione...


- Desde quando você tem essa visão toda para poções, cara? – perguntou Rony, admirado com o amigo; a poção do ruivo estava com a consistência de mingau.


- Nunca tive; quem têm é o Príncipe Mestiço – Harry falou, piscando maroto.


- Quem?! – Rony o olhou confuso.


- O antigo dono desse exemplar de poções – o garoto empurrou para o amigo o livro velho que Slughorn tinha lhe emprestado e este viu escrito na contra-capa: ‘Este livro pertenceu ao Príncipe Mestiço’ – O livro está todo rabiscado, com instruções que diferem das do livro. Eu resolvi tentar seguir as instruções do cara, e ele simplesmente era um gênio!


- Por que é que ele não deu esse livro pra mim? – Rony perguntou, parecendo abatido com a própria falta de sorte.


- Harry, você está trapaceando! – Hermione sussurrou para o amigo, em represália.


- Claro que não, Mione! Só estou seguindo instruções diferentes...


Hermione já se preparava para retrucar quanto Slughorn anunciou:


- E acabou-se o tempo! Por favor, parem de mexer.


O professor percorreu a masmorra olhando caldeirão por caldeirão, por vezes fazendo caretas de desgosto ou aprovação. Passou rapidamente pelo caldeirão de Rony, olhou aprovador para a poção de Hermione, porém ao passar pela de Harry, ele pareceu incrédulo e extasiado ao mesmo tempo.


- Sem dúvidas, o vencedor! Excelente, Harry! Deus do céu, é inegável que você herdou o talento de sua mãe que tinha uma mão ótima para poções, a Lílian. Tome aqui então, conforme prometi: um frasco de Felix Felicis. Use-o bem, garoto!


Hermione esvaziou seu caldeirão frustrada; pela primeira vez na vida ela não foi a melhor em uma aula, e justamente numa aula que lhe renderia um dia perfeito!  “Pelo menos foi o Harry que ganhou... ele decididamente precisa mais de sorte do que eu.” A garota terminou de arrumar seus pertences e percebeu que foi a única que tinha sobrado na sala; Slughorn estava no armário de ingredientes guardando os materiais. Ela já ia saindo da sala quando ouviu o borbulhar baixo das poções em frente à mesa do professor. Hermione virou-se novamente e contemplou aquele maravilhoso líquido dourado. “Se o harry não tivesse trapaceado, quem teria ganhado a Felix Felicis seria eu... Então eu não estaria afanando nada, só pegando o que é meu por direito...” A castanha nem precisou de muito esforço para se convencer disso. Rapidamente conjurou um frasquinho e o encheu com a sorte líquida.


Saiu desembestada da sala e, no primeiro corredor deserto que achou, guardou o frasquinho na mochila. Respirou fundo tentando se acalmar e saiu para procurar Harry e Rony. Encontrou-os descendo a escadaria para o Salão Principal. Eles escutaram passos apressados e se viraram, vendo Hermione se aproximar.


- Eu sei que você vai falar que o que eu fiz foi errado, mas não foi exat... – Harry começou cansado quando Hermione emparelhou com eles.


- Eu disse alguma coisa? – a garota o cortou, seca – Só acho que você não deveria seguir os conselhos de um livro. A última pessoa que eu conheço que fez isso acabou presa na Câmara Secreta.


Ela não esperou pela resposta dele; seguiu para os jardins deixando os amigos para trás. O sol já estava baixo no céu quando ela parou perto do lago e tirou sua capa da grifinória, sentando-se sobre ela. Tirou seu iPod da mochila e colocou os fones. Apoiou os cotovelos no chão, atrás de si, e fechou os olhos, sentindo os últimos raios de sol tocando-lhe a face e relaxou.


Draco correu os olhos pelo salão principal, mas não localizou nenhuma cabeleira castanha. Saiu em direção as grandes portas de carvalho a procura da Granger para passar-lhe o recado da vice-diretora. O sol já ia se ponto no horizonte, havia muitos alunos nos jardins aproveitando o fim da tarde. Já estava quase desistindo da busca e indo ao corujal mandar uma coruja com o recado quando a viu perto do lago.


- Não tinha um lugarzinho mais escondido pra você se enfiar não, Granger? - ele disse se aproximando das costas da garota, mas ela não se moveu.


Quando chegou mais perto, viu que ela estava meio deitada, de olhos fechados; seus cachos meio espalhados em cima da capa grifinória brilhavam com a luz do sol poente e ela movia os lábios sem soltar som algum; estava com fones de ouvido e isso explicava ela tê-lo ignorado. As lembranças que ele tentou represar o dia todo agora o invadiam de uma só vez. Ele não tinha se permitido ficar pensando no que acontecera aquela manhã, mas vendo-a ali - tão naturalmente sensual, com os primeiros botões da camisa do uniforme abertos e a gravata frouxa no pescoço, os grossos lábios se movendo tentadoramente – não pode negar que ansiava por tocá-la novamente.


De algum modo, vê-la assim tão serena e não com a expressão de desprezo que a garota geralmente lhe dirigia, era reconfortante. Fazia Draco pensar que talvez não fossem só as outras pessoas que não sabiam nada dele; talvez ele também não soubesse nada sobre algumas pessoas. E, naquele momento, ele queria muito conhecer a garota que estava deitada aos seus pés. Ele observava a castanha fixamente e a viu esboçar um sorrisinho singelo; imaginou se ela o teria visto ali, patético, admirando-a. “É claro que ela não está sorrindo para você, imbecil” pensou ao ver os olhos de Hermione ainda fechados. “No máximo, ela riria de você!” e a imagem da grifinória rindo quando ele caiu de manhã voltou a assaltá-lo, e – mesmo que ela estivesse rindo dele – Draco quis vê-la rir daquele jeito novamente. “Provavelmente ela está pensando no Cicatriz e no Pobretão...” Esse pensamento o trouxe bruscamente ao seu estado de frieza habitual.


Hermione notou a pouca claridade que entrevia através das pálpebras cerradas ser ofuscada quando uma sombra caiu sobre ela, arrancando-a de suas idéias absurdas de como usaria a Felix Felicis. Abriu os olhos esperando ver alguma nuvem encobrindo definitivamente o sol, mas o que encontrou foi um garoto muito loiro encarando-a. Assustou-se e levou a mão ao peito, e ao perceber que estava descomposta tratou de tentar se endireitar. Notou que Draco ainda a observava descaradamente, nem demonstrando constrangimento por ter sido pego no flagra; ainda lutando com os botões de sua camisa, tirou o fone e falou:


- Mas que mania estúpida é essa agora, Malfoy?! Deu pra ficar me espionando?


- Não seja convencida, Granger. Tenho coisa melhor pra fazer.


- Então por que diabos você está aqui me espiando e não fazendo seja lá o que for de tão ‘melhor’ que você tem pra fazer?! – Hermione desistiu do último botão e se levantou, encarando Malfoy de braços cruzados.


- Pode ter certeza que não estou aqui por vontade própria – ele falou desdenhosamente - Só estou aqui para lhe dar um recado. McGonagall falou para nós estarmos na sala dela logo depois do jantar.


- Ah.meu.Deus! – a garota arregalou os olhos e tapou a boca com as mãos - Será que ela descobriu que eu inundei o salão dos monitores?


- E como é que ela ficaria sabendo disso, Granger? E de quê isso a importaria? – Draco perguntou confuso. “O que a faz pensar que é isso que a vice-diretora quer conosco?! Essa garota realmente tem algum problema...”


- Como é que eu vou saber, só se... – ela parou de falar na hora e seu olhar vago se tornou ameaçador ao fitar o loiro – Só se você tiver contado a ela!


- Eu mereço! – Draco balançou a cabeça e revirou os olhos – O Potter é quem tem a cicatriz na testa e o seu cérebro é que é afetado?


- O que mais ela poderia querer conosco, Malfoy? Não se faça de sonso – ela falou impaciente.


- Eu sei lá, Granger! Pode ser qualquer coisa, agora que somos monitores-chefes provavelmente teremos muito mais obrigações. Quem sabe pode até ser uma boa noticia...


- É... ela pode estar querendo nos comunicar que cometeu um terrível engano e você não é mais monitor – a garota fez expressão de entendimento, com um tom falsamente esperançoso – Ah não! Já sei! Você vai ser transferido para Durmstrang, acertei?!


- Mas isso não seria uma boa noticia, seria? Afinal, de que te adiantariam dois amantes se os dois estivessem na Bulgária? – Draco falou maroto, com o sorrisinho Malfoy nos lábios e uma sobrancelha levantada. As bochechas de Hermione ficaram rubras na hora e ela olhou para os lados, vendo se havia alguém por perto


– Pode ficar tranqüila, eu não pretendo tornar público o que acontece no nosso salão comunal, Granger... são momentos nossos – ele piscou pra ela.


- Momentos nossos! – a garota se irritava cada vez mais com o ar debochado e cafajeste do loiro – Momentos nossos uma ova! A única coisa que existe em comum entre eu e você é um salão comunal, Malfoy, e isso por uma infelicidade do destino.


- Você finge que é verdade – Draco andou na direção dela olhando-a nos olhos; ela congelou – e eu finjo que acredito. – aproximou seu rosto do de Hermione, e viu que o olhar dela estava fixado em seus lábios. Sorriu convencido e desviou no último instante, beijando próximo aos lábios da garota, mas ainda na bochecha.


Deu-lhe as costas e atravessou o jardim sentindo o olhar dela perfurando-lhe as costas; nem ele sabia por que tinha falado aquelas coisas para a castanha, mas também não desejava retirar nada do que disse. “Afinal de contas, eu sou homem oras! E o beijo de hoje de manhã só serviu pra me deixar querendo mais...” E, como Lúcio o ensinara ainda quando criança, um Malfoy sempre consegue aquilo que quer.


Hermione bufou indignada e irritada, abaixando-se para pegar suas coisas jogadas na grama. “Como é que aquela doninha tem a coragem de me deixar falando sozinha? Não, pior: me dar um beijinho como se fossemos amigos!” Mas não pôde evitar constatar enquanto cruzava o jardim com a mochila jogada em um ombro e a capa embolada nos braços que preferia o beijo nada amigável que o loiro lhe dera de manhã.


Depois de um longo banho relaxante, Hermione guardou seu frasquinho com a Felix Felicis na gaveta do criado mudo e foi até a grifinória procurar seus amigos para descerem para jantar. Quando se aproximou do corredor onde ficava o quadro da mulher gorda, porém, viu Harry, Rony e Gina virem em sua direção.


- O que foi que aconteceu com seu uniforme, Hermione? – Harry perguntou assim que alcançaram a amiga e rumavam para o salão principal.


- O que tem de errado com ele? – a garota perguntou sem entender, verificando se não tinha esquecido de nada importante... como as calças, por exemplo. Saia, no caso, pois ela trocou a calça que usara durante o dia pela saia.


- Bom, tirando que isso aí está mais para um cinto do que para uma saia, e que metade da sua barriga está de fora, não tem nada errado – Harry ironizou emburrado, fazendo Hermione arquear as sobrancelhas.


- Ei, papai – ela enfatizou a última palavra sarcasticamente – Pra começar, minha saia está dentro do comprimento permitido pelas normas da escola. E a minha blusa tampa até abaixo do meu umbigo! – Hermione defendeu-se indignada.


- Eu acho que assim está ótimo – Rony pensou, seus olhos subindo da faixa de pele visível da barriga da amiga, passando pelos botões abertos da camisa seguidos pela gola livre da gravata grifinória; analisou o colo e o pescoço alvos e chegou ao rosto rubro e estupefato... rubro e estupefato?! O ruivo olhou ao redor e percebeu que todos o olhavam com engraçadas caras de espanto. Sentiu suas orelhas arderem ao perceber que pensara alto demais. – Eu... quer dizer... er, você sabe... um pouco mais de pano não faria mal a ninguém...


- Ah, não seja hipócrita, Rony! – Gina interveio a favor de Hermione – Não liga pra esses dois, Mi; o problema é que quando estávamos voltando da aula nós ouvimos um grupinho de Corvinais comentando “como a Granger está mudada” – a ruiva desenhou as aspas no ar com os dedos e riu sapeca – E os meninos ficaram se roendo de ciúmes.


- Vocês não podem culpá-los, caras – Neville, que caminhava logo atrás do quarteto, se juntou a eles – Até eu fiquei surpreso com a sua mudança, Mione!


- A Mi cresceu, rapazes – Gina cortou antes que Hermione começasse a discutir com Neville também – Ela não é mais a nossa menininha, se conformem...


- E parece que fomos os únicos que não percebemos isso – Harry murmurou carrancudo.


- Fale por você, companheiro – Rony rebateu. Hermione achou que ele tinha pensado alto novamente, mas ao olhá-lo constatou que - apesar das orelhas terem voltado a se fundir com os cabelos - ele ria com os outros de sua própria ousadia, a olhando de esguelha para tentar identificar sua reação.


Perplexa, ela apenas esboçou um sorrisinho e revirou os olhos. “Qual é, vai demorar pelo menos uns dias para eu sair do estado de choque... Quem é esse ruivo e o que é que ele fez com o Rony?!” */i* Entraram no salão principal já lotado de estudantes esfomeados e seguiram para a mesa da grifinória. Hermione – ainda meio abobada – sentou-se com Gina de um lado da mesa enquanto os três meninos se sentaram de frente a elas.


- Dumbledore me mandou um recado avisando que este ano eu terei aulas particulares com ele – Harry contou a Hermione, e como Rony não a acompanhou na cara de surpresa ela presumiu que o ruivo já estivesse sabendo.


- Aulas de quê, Harry? Ele vai continuar as aulas de Oclumência no lugar do Snape?


- Não, parece que ele vai ensinar ao Harry alguma coisa sobre... você sabe... a história dele ser – Rony murmurou “O Eleito” sem emitir som.


- Ah! – Hermione aprovou a idéia de o diretor instruir o amigo - Isso é ótimo!


- Espero que isso me ajude a sobreviver – Rony e Hermione trocaram olhares significativos ao ouvirem as palavras do amigo; era difícil ele tocar nesse assunto.


- Provavelmente ele vai te ensinar alguns feitiços mais eficientes e magia avançada – a garota fez uma anotação mental de procurar algo assim em sua biblioteca particular para poder ajudar o amigo caso fosse necessário.


- Ou então algumas técnicas de duelos – Rony comentou animadamente, e o jantar transcorreu com eles especulando o que Dumbledore ensinaria a Harry.


Logo que os pratos ficaram limpos e o banquete sumiu da mesa, Hermione se despediu dos amigos e seguiu em direção a sala de Minerva. Os corredores dos andares acima estavam desertos e a única alma (quase) viva que ela encontrou foi Nick-Quase-Sem-Cabeça. A garota virou num corredor anormalmente escuro e então ouviu vozes mais à frente. Ela ia continuar seu caminho quando reconheceu a voz aguda da Parkinson; escondeu-se, então, atrás de uma estátua.


- Você já me dispensou ontem, e hoje sai dizendo que tem uma “reunião“ com a McGonagall... – ela falava estridente, parecia nervosa – O que você queria que eu pensasse, Draco?!


- Não queria que você pensasse nada, Pansy – a voz do loiro estava arrastada e indiferente – Mesmo que eu estivesse me encontrando com outra garota, o que você tem a ver com isso?


Hermione ouviu Pansy soltar um suspiro ofendido.


- Olha, gata – a castanha teve que se segurar para não vomitar – Não que eu te deva uma explicação, mas eu não estou com outra, ok?! Só não tava afim ontem e hoje tem essa reunião com a McGonagall e eu não sei até que horas ela vai me prender aqui...


- Eu posso te esperar no seu quarto – a loira sugeriu com malícia na voz.


- Você sabe que eu não levo ninguém para o meu quarto, Pansy – Draco falou, e a castanha se surpreendeu com tal afirmação.


- Não me custava tentar... – Pansy completou soltando um suspiro derrotado, e Hermione viu ela dar um beijo estalado no canto da boca de Malfoy e se retirar.


Malfoy observou-a se afastar, balançou a cabeça e passou a mão pelos cabelos, jogando-os para trás. Quando se virou para continuar seu caminho, viu Hermione parada mais a frente, encostada na parede de braços cruzados.


- Que cena romântica – a garota soltou sarcástica, fazendo o rapaz apertar os olhos.


- Depois sou eu quem fica espiando, né Granger... – ele seguiu pelo corredor e parou de frente a garota.


- Arranjou outra amante, Malfoy?! Coitadinha da Parkinson... – ela balançou a cabeça com falso pesar.


- Você não se sente mal, Granger? – Draco perguntou, apoiando as mãos na parede uma de cada lado da cabeça de Hermione, e chegou mais perto – Por estar acabando com a diversão da Pansy...


A garota arqueou uma sobrancelha e sorriu de canto. Aproximou seu rosto lentamente do rosto do sonserino, sem quebrar o contato visual nem por um momento; ele congelou ao vê-la tomar aquela atitude, não estava esperando tanta ousadia. Hermione parou próxima a orelha direita de Draco, e sussurrou:


- Malfoy... – ela viu a respiração dele ficar pesada e levemente irregular com a proximidade de sua voz doce – Você me dá náuseas!


Ela empurrou o braço direito dele e seguiu pelo corredor em direção a sala da vice-diretora, rindo da cara de choque do Malfoy. Draco a viu se afastar, e não pôde conter um sorrisinho debochado ao perceber a ironia da situação: a grifinória certinha estava brincando com ele! Seguiu pelo mesmo caminho que ela enquanto a já conhecida vozinha de sua consciência o alertava: ”Tenha cuidado com as coisas que deseja, garoto... Você pode acabar conseguindo.” Pela segunda vez naquele dia ele viu Hermione rir abertamente; nas duas vezes, rindo dele.


- Eu chamei o senhor e a senhorita porque gostaria de lhes passar algumas decisões que ficaram acertadas ontem à noite em uma reunião que tivemos – Minerva falou para os dois jovens sentados a sua frente – Como durante esse ano letivo, por motivos óbvios, os passeios a Hogsmeade foram suspensos, nós pensamos em organizar algumas opções de divertimento aos alunos. A cada dois meses, uma das casas promoverá uma festa; não um baile, deixaremos isso para o encerramento do ano letivo. Uma festa mais informal, só para proporcionar alguma distração. Avisos serão afixados nos murais dos salões comunais, e os interessados em participar na comissão organizadora das festas de sua casa deverão se inscrever com os monitores da mesma. Vocês, como monitores chefes, receberão os nomes dos escolhidos para a comissão de cada casa e os passarão para mim. Deverão estar a par dos planos para cada festa e, se necessário, poderão vetar qualquer decisão da comissão que não esteja de acordo com as normas da escola. Se alguma das casas quiser um local para fazer sua festa que não seja o salão comunal, vocês podem providenciar isso. Alguma dúvida?


- Porque a senhora já não nos manda para a cozinha junto com os elfos de uma vez? – perguntou Malfoy indignado com a trabalheira que aquilo ia dar.


Hermione lançou-lhe um olhar de censura e perguntou:


- Os professores estarão presentes nas festas?


- Bom, comparecer ou não será uma escolha pessoal de cada professor, srta. Granger – como Hermione só assentiu com a cabeça e não se pronunciou mais, Minerva retomou a palavra – Agora, só para lembrar-lhes, as rondas dos senhores começam amanha. Boa noite.


Ambos a cumprimentaram de volta e saíram da sala. Andaram lado a lado em silêncio até que Draco virou num corredor tomando um caminho diferente.


- Malfoy, nosso dormitório agora é pra lá, lembra? – Hermione falou para as costas do garoto.


- Eu sei, sangue-ruim – ele falou sem nem se virar.


- Então aonde é que você vai? – ela perguntou desconfiada. Provavelmente já estava quase passando da hora do toque de recolher.


- É claro que eu vou te contar, Granger – ele debochou, seguindo seu caminho.


Hermione ficou parada no corredor, vendo-o andar em outra direção e travando uma batalha interna para decidir se iria ou não atrás dele. Antes mesmo que ela tivesse tomado uma decisão consciente, suas pernas já estavam a levando até o corredor pelo qual Malfoy seguira e ela se escondeu atrás de uma armadura enquanto via a cabeleira loira do garoto virando a esquerda e descendo uma escada.


Draco seguia em direção às masmorras após sentir sua marcar arder e subitamente seu padrinho aparecer em seus pensamentos; ele ainda não tinha se acostumado com esse modo inusitado de se comunicar. Enquanto descia as escadas que o levariam até as masmorras, Draco levantou a manga esquerda de suas vestes e viu que o contorno da caveira negra com uma cobra saindo pela boca já estava visível em seu pulso. Desde que fora tatuado no verão com a marca negra, quanto o Lorde lhe incumbiu de sua missão, ele usava um feitiço para escondê-la. Não era muito eficiente, pois o rapaz tinha que refazer o feitiço de seis em seis horas quando a marca voltada a ficar visível aos poucos, mas foi o único que ele achou.


Bateu duas vezes na pesada porta de madeira que guardava os aposentos de Snape e logo ouviu o padrinho mandando-o entrar.


- Boa noite, Draco – Snape o cumprimentou, e o garoto acenou com a cabeça – Sua mãe lhe mandou uma carta. Draco viu um pedaço de pergaminho enrolado sobre a mesa do professor e reconheceu nele o brasão de sua família.


- Porque ela não me mandou no correio-coruja? – o rapaz perguntou enquanto pegava o pergaminho e o guardava no bolso interno das vestes.


- Toda a correspondência dos alunos está sendo verificada; apenas os professores não precisam passar por esse incômodo – Snape explicou – Imagino que não seria bom para ninguém se lessem o que, imagino eu, está escrito na carta.


Malfoy entendeu na hora que Snape se referia à sua missão.


- Bom, se isso é tudo, já vou indo – o rapaz tentou encerrar a conversa, mas o professor o ignorou.


- Draco, você sabe que eu posso te ajudar – o homem deu dois passos na direção do rapaz, falando mais baixo – Juntos nós podemos achar uma maneira mais rapidamente e...


- E você fica com toda a glória, não é, Severo? – Draco o cortou, debochado – Muito obrigado, mas eu vou dar um jeito. Sozinho.


- Se você me contar qual é o seu plano – falou Snape olhando-o diretamente nos olhos – Eu posso ajudar em segredo.


- Eu ainda não tenho um plano, mas eu me viro – o loiro admitiu a contragosto, retribuindo o olhar penetrante do padrinho e fechando a mente – E não tente invadir minha mente novamente, padrinho. Boa noite. - Ele deu as costas bruscamente ao professor e se dirigiu à porta.


Hermione seguiu Draco pelos corredores até as masmorras, se escondendo atrás das estátuas e armaduras e sempre mantendo uma boa distância do garoto; por esse motivo, quando viu que o loiro não estava mais à vista, não soube dizer em qual porta ele tinha entrado. Foi na ponta do pé até a primeira porta e encostou o ouvido nela; silêncio. Foi até a porta seguinte e fez a mesma coisa; silêncio novamente. ”Que coragem, hein... marcar um encontro embaixo do nariz anormalmente grande e torto do Seboso...” a grifinória pensou, deduzindo que – como aquele era um dos únicos corredores das masmorras que não eram usados para salas de aula – o quarto de Snape devia ser por ali.


Encostou o ouvido na quarta porta, e então ela ouviu a voz de Draco. “...já vou indo” foi a única coisa que ela ouviu. Saiu correndo de volta pelo corredor e se escondeu atrás da primeira armadura que encontrou. Mas Draco não saiu da sala; a garota estranhou a principio, mas logo entendeu. ”Eles estavam brigando, então ele ameaçou ir embora e a vagabundazinha se jogou aos pés dele pedindo que não fosse, e agora eles estão lá dentro fazendo as pazes...” Hermione fez uma careta com o pensamento, saiu de trás da armadura e seguiu em direção as escadas. “Ew, não quero nem imaginar o que está acontecendo dentro daquela sala...”


A castanha tinha subido dois degraus quando ouviu uma porta se abrir atrás dela e o som de passos apressados. Desesperada com a possibilidade de ser flagrada seguindo Malfoy, ela subiu as escadas o mais depressa e silenciosamente que conseguiu e saiu correndo pelo corredor. Os passos já estavam na escada, e ela viu que não conseguiria sair daquele corredor antes que Malfoy a visse ali. ”Onde é que estão aquelas estátuas imprestáveis quando se precisa delas?!” Mas então ela viu uma porta, quase camuflada na parede de pedra: um armário de vassouras. Sem nem pensar duas vezes, agarrou a maçaneta e abriu a porta, se jogando no cubículo. Dentro do armário era escuro e apertado, e depois de murmurar um ’lumus’ e analisar o local, encontrou algumas teias de aranha no teto e umas caixas no chão. Foi até as caixas e se sentou em uma delas na intenção de esperar Malfoy passar para poder sair e voltar para o seu dormitório.


Draco subia as escadas nervoso; odiava quando tentavam invadir a mente dele. E o papo de Snape não tinha ajudado muito o humor do loiro, também. Ainda não tinha idéia do que fazer, e aceitaria de bom grado a ajuda do padrinho se não soubesse que a vida da família dele dependia daquela missão. Sabia que o Lorde estava fazendo aquilo com ele para castigá-lo pelo fracasso de Lucio no ministério, e se ele não fizesse o que Voldemort estava mandando, já já sua mãe iria fazer companhia para seu pai em Azkaban. Estava tão imerso em seus pensamentos que não viu Madame Nor-r-r-a em sua frente, e chutou a gata sem querer. A soltou um miado estridente e saiu correndo, e Draco quase caiu de cara no chão.


- Gata maldita – ele reclamou se endireitando e arrumando as vestes, mas antes que pudesse voltar a andar ouviu o barulho de passos. ”Filch!”


Como não estava afim de ganhar uma detenção no primeiro dia de aulas, Draco procurou algum lugar para se esconder e viu um armário de vassouras mais a frente. Rapidamente abriu a porta do armário e se esgueirou para dentro. Ao entrar no armário, porém, Draco não se deparou com a escuridão que esperava. Um feixe de luz incidiu sobre ele, e para sua surpresa Hermione se encontrava ali sentada com a varinha apontando para ele, de olhos esbugalhados.


- Granger?! – o sonserino perguntou, achando que estava ficando louco – Mas que diabos você – Hermione se levantou rapidamente e tapou a boca de Draco com suas mãos, impedindo-o de continuar a falar.


- Shhhh! – ela fez, e eles ouviram Filch passando.


- Madame Nor-r-r-a, querida – o zelador chamava – O que aconteceu?! Cadê você??


Os passos de Filch foram se distanciando, e quando só o que se ouvia era silêncio, Draco o quebrou.


- Você se importa... ? – ironizou o rapaz, indicando as mãos da menina que ainda lhe tapavam a boca.


- Ah, me desculpe – ela tirou rapidamente as mãos da boca dele, encabulada, e deu um passo para trás. ”Muito perto, muito perto” sua consciência lhe alertava ainda assim.


- Pelas calças de Merlin, o que é que você estava fazendo escondida aqui dentro, Granger?


- Quem, eu?! – a castanha perguntou ilogicamente, ficando vermelha – Nada, eu não estava fazendo nada de mais...


- Ah, claro – ele revirou os olhos – Você estava trancada dentro de um armário de vassouras nas masmorras por pura diversão e... – a voz de Draco foi morrendo enquanto ele associava aonde estavam.


- O que foi? – a garota percebeu a mudança na fisionomia dele. O rapaz virou-se para a porta e tentou abri-la; nem se moveu.


- Que ótimo – ele falou mais para si mesmo, fechando os olhos e suspirando cansado.


- O que está acontecendo, Malfoy?


- Estamos trancados, Granger.


- O QUÊ? – ela gritou e empurrou o loiro para chegar até a porta – Como assim trancados, Malfoy? Você acabou de entrar por essa porta!


- Exatamente. Elas só abrem por fora.


- Como só abrem por fora? Está emperrada? – a garota tentava arrombar a porta, jogando seu ombro contra ela. Então, ao ver que não estava dando resultado, ela apontou sua varinha para a porta - Nada que um Alorromora não resolva...


- Você pode até tentar, mas não vai adiantar de nada – o garoto avisou, mas mesmo assim Hermione lançou o feitiço (não uma, mas várias vezes) sem resultado – Eu te disse...


- E como é que você está aí nessa calma toda?


- Porque nós sairemos daqui a umas 3 horas, Granger – Draco falou – Senta ai e relaxa.


- Não pode ser! – ela falou desolada, virando-se para o sonserino – Como é que você sabe?!


- Nós estamos em um armário de vassouras nas masmorras, Granger – ele falou, como se isso explicasse a questão; vendo que ela ainda o olhava confusa, ele revirou os olhos e explicou – Qual é, Granger, todo mundo sabe que os armários aqui são enfeitiçados. Toda vez que entra um casal neles, eles se trancam e só abrem depois de horas.


- Ah, meu Deus! – ela se jogou novamente sobre a caixa – Mas, quem foi o idiota que fez isso?!


- Você realmente não sabe? – Draco levantou uma sobrancelha, achando graça – Foram os dois Pobretões Gêmeos. E, eu tenho que admitir, pelo menos algum dos Cenouras Ambulantes fez alguma coisa que preste... Já ajudaram muitos garotos a sair do zero-a-zero, se é que você me entende...


- Ew, que nojo! Só uns sonserinos nojentos como vocês pra terem que trancar uma mulher num armário pra conseguir alguma coisa...


- Ah, os criadores dessas armadilhas são muito mais nobres que nós, realmente – ele falou totalmente sarcástico – Os grifinórios admiráveis!


- Às vezes eu penso que aqueles dois só não caíram na Sonserina por causa dos cabelos vermelhos... – Hermione comentou reprovadora, mais para si mesma que para Malfoy.


- Mas é claro! Aqueles cabelos nojentos e flamejantes já deixam subentendido que eles são pobretões e traidores do sangue! Impossível caírem na sonserina – o loiro se ofendeu que ela cogitasse a possibilidade de algum Weasley sujar o nome de sua casa.


- Ah! Você esqueceu do principal motivo pelo qual eles não poderiam ir para a sonserina... eles não são bruxos das trevas.


A castanha encarava o loiro com um ar sarcástico que era característico dele, enquanto ele a fuzilava com o olhar.


- Cuidado, sangue-ruim... – Draco falou sussurrante, desencostando da lateral do armário – Não se esqueça que você está trancada num armário de vassouras com um ‘bruxo das trevas’ – disse andando na direção de Hermione, que se encolheu um pouco – Nas masmorras.


- Bruxo das trevas? – mesmo com uma pontinha de medo, a grifinória não daria o braço a torcer – A única coisa que vejo trancada comigo aqui... é um rato.


O rosto pretensioso de Draco murchou, ficando inexpressivo.


- Essa sua coragem grifinória ainda vai te meter em problemas, Granger – ele sempre achou incrível esse talento que ela tinha de deixá-lo sem palavras.


Parou bem em frente de Hermione olhando-a fundo nos olhos, e, inevitavelmente, a cor deles o lembrou mel. E conforme ele se aproximava, Hermione foi obrigada a ir levantando a cabeça para conseguir manter seus olhos grudados nos dele. O ar ao redor deles estava carregado, uma estranha eletricidade parecia emanar de um e chegar ao outro em ondas. Ouvindo a voz de sua consciência que gritava alertas em algum lugar longínquo de sua mente, Hermione desfez o contato visual e se levantou da caixa onde estava sentada. Tentou passar por Malfoy, na intenção de por alguma distância entre eles, mas ele deu um passo para o lado bloqueando o caminho.


- Com licença, Malfoy – ela disse sem olhá-lo, tentando manter a voz firme, sem muito sucesso.


- Não – foi só o que ele respondeu.


Quando sentiu a mão de Draco em sua cintura, Hermione olhou para cima. E assim que o fez, desejou não tê-lo feito: os olhos dele estavam intensos, mais cinzentos do que ela se lembrava – como o céu que precede as tempestades; seu rosto estava sério quando ele tocou-lhe a face, os dedos frios deixando rastros de fogo em sua pele e ela não pôde evitar fechar os olhos. Draco colou seu corpo no dela, e o dela na parede. Respirou bem próximo ao pescoço dela, sentindo seu cheiro doce e amadeirado, e falou sussurrante, os lábios tocando a orelha dela.


- Vai dizer que você também não pensou nisso o dia inteiro?


O coração de Hermione parou de uma vez com as palavras atrevidas dele naquela voz rouca, tão perto de seu ouvido, a respiração quente dele de encontro ao seu pescoço... E então acelerou de novo, batendo com o dobro da velocidade normal e tropeçando entre uma batida e outra quando ele mordeu o lóbulo de sua orelha, desenhou com a respiração o contorno de seu maxilar e parou com os lábios tão perto dos dela que ela conseguia sentir o cheiro dele em sua língua.


Olhou só por um segundo para os olhos fechados dela, e então voltou a encarar seus lábios carnudos. Draco passou a ponta de sua língua de leve sobre o lábio inferior da castanha, sentindo o tremor que a percorreu, e continuou agora contornando o lábio superior. Quando finalizou com uma leve mordida no lábio inferior de Hermione e se atreveu a olhá-la nos olhos novamente, a encontrou com os olhos apertados, a respiração descompassada, visivelmente tentando não se entregar às caricias dele. Em vão.


Sem que um pensamento racional a guiasse, Hermione enrolou os braços em torno do pescoço de Draco - sem nem mesmo abrir os olhos - e colou seus lábios nos dele. Era o que ele estava esperando. Agarrou os cabelos dela com uma mão e invadiu a boca dela, sedento. Nenhum deles estava pensando direito naquele momento, e ambos não se importavam. Enquanto sentia o gosto doce de Hermione pela segunda vez em menos de vinte e quatro horas, Draco rapidamente colocou a mão por baixo da camisa do uniforme dela ansiando por sentir a maciez de sua pele. Os músculos da barriga dela se contraíram ao sentir as mãos grandes dele em sua pele, e ela se agarrou nele ainda mais, sentindo os joelhos fraquejarem.


Quando o ar se fez necessário e os lábios se desgrudaram, Draco desceu seus beijos para o pescoço de Hermione e levantou uma perna dela colando ainda mais os corpos, tornando evidente sua ‘animação’. Deslizava a mão pela coxa dela que ele segurava ao lado de seus quadris, seus dedos por pouco não invadindo a saia escolar da castanha – que ao invés de dar-lhe um tapa pelo atrevimento, como seria o seu normal, apenas respondia puxando os fios platinados da nuca do loiro, instigando-o ainda mais. Draco voltou a beijar-lhe os lábios grossos e sentiu as mãozinhas pequenas de Hermione em suas costas por baixo da camisa, arranhando-o de leve. Tomado pelo momento, ele deslizou a mão que estava na cintura dela e acariciou-a de um jeito mais descarado por sobre a saia do uniforme. Isso fez com que Hermione tivesse um lampejo de lucidez e seu senso de auto-preservação estalasse dentro dela: ela interrompeu bruscamente o beijo tirando suas mãos de dentro da camisa dele, uma delas o empurrou pelo ombro e a outra agarrou a mão atrevida de Draco.


- Não – ela sussurrou ofegante, encontrando os olhos incrivelmente cinzentos e frustrados do loiro.


- Qual é, Granger – ela ficou satisfeita de ver que ele estava tão sem ar quanto ela – Puritanismo agora não, né?!


- Ora! – ela tentou afastá-lo, mas ele ignorou a tentativa dela e voltou a beijar-lhe o pescoço – Eu não sou igual àquelas sonserinas desqualificadas com quem você costuma sair não, ouviu!


- Eu sei que não, Granger. Porque se você fosse como elas... – ele sussurrou as palavras no ouvido da castanha – Você não estaria vestida até agora.


- Por... Porquê é que você n-não vai atrás de uma delas então, hein? – os lábios frios de Malfoy faziam com que Hermione subitamente perdesse toda sua coerência – A Pansy provavelmente ficaria bem satisfeita de dar uns amassos com você por aí e... – Draco passou dar beijinhos nos lábios de Hermione, tentando interromper o fluxo interminável de palavras que ela despejava, mas ela continuou falando entre um beijo e outro – Então... você não... precisaria... forçar ninguém... a te... beijar...


A garota já estava esperando o próximo beijo de Draco, porém ele parou de bombardeá-la com selinhos e encarou-a cético.


- Forçar alguém a me beijar? – a voz dele tinha voltado a ter um leve toque do deboche habitual – Por acaso eu estou forçando você a me beijar, Granger?


- Mas... mas é claro! – ela respondeu simplesmente; estava atordoada demais com as diversas sensações que a inundavam para formular uma resposta mais convincente.


- Ah, claro! Eu me esqueci que eu tinha ameaçado botar fogo na biblioteca se você não se atracasse em mim – ele ironizou, fazendo-a ruborizar – E também que eu faria o seu gato ter filhotes com madame Nor-r-ra se você não correspondesse aos meus beijos...


- Como é que você sabe que eu tenho um gato? – apesar dela realmente estava intrigada com o fato de Malfoy saber sobre Bichento, foi também uma maneira de desviar o assunto do fato que ela estava de fato fazendo tudo aquilo por livre e espontânea vontade.


- Esqueceu que nós dividimos um salão comunal, Granger?


- Mas Bichento ainda não foi até lá desde que nos mudamos... – isso estava ficando estranho...


- É... – ele pareceu meio desconcertado por ter sido pego numa mentira, mas logo disfarçou revirado os olhos e completou, exasperado – Ora, Granger, em todos esses cinco anos eu já devo tê-lo visto alguma vez por aí com você...


- Bom, eu não saberia dizer se você tem um sapo ou um hipogrifo ou uma coruja...


- Você está me achando com cara de Longbottom para ter uma coisa gosmenta como um sapo, ou parecido com aquele meio-gigante bobalhão para criar um monstro? Ou com cara de Potter, para ter uma corujinha branquinha como a neve?!


- Bom – Hermione se irritou com o modo como ele falava dos amigos dela e aproveitou a distração dele para empurrá-lo – Para alguém que despreza tanto assim todos eles, você parece bem informado sobre a vida deles, não?


- Só sou atento, é diferente – Draco deu de ombros, e se aproximou dela novamente.


- Não se aproxime, Malfoy – Hermione pediu, recuando.


- Qual é, Granger! Eu não mordo!


- É, e eu sou uma veela – ela zombou, tirando o cabelo do pescoço e mostrando-lhe uma marca vermelha que ele fez ali. Ele fingiu não ver o vergão no pescoço da castanha.


- Bem, isso explica muita coisa... Deve ser por isso que eu sempre perco a cabeça assim perto de você...


Ambos pareceram surpresos com a cantada fajuta de Malfoy. Ele se repreendeu por estar azarando uma sangue-ruim, e ela finalmente entendeu por que haviam tantas garotas se arrastando aos pés dele.


- Isso está estranho... – ela concluiu, balançando a cabeça.


- Completamente estranho... – Draco pareceu voltar ao seu estado normal e parou de se aproximar de Hermione. Ela sentou no chão do armário e encostou as costas na parede ao lado à porta, e Malfoy sentou-se na parede oposta, mas pela falta de espaço ainda consideravelmente perto.


- Eu estou morta! – Hermione exclamou, soltando um suspiro – Esse foi o primeiro dia mais longo da minha vida...


- Imagino... salvar o mundo bruxo diariamente junto com os Dois Patetas deve ser realmente cansativo – ele voltou a usar sua voz arrastada e indiferente.


Hermione apenas olhou-o com uma sobrancelha levantada, então balançou novamente a cabeça e desviou o olhar, murmurando um “esqueci com quem eu estava falando...” Draco passou a ignorar sumariamente a castanha, como se ele estivesse sozinho no armário. Ele queria sair dali o mais rápido possível para poder bater com a cabeça na parede até fazer seus neurônios voltarem a funcionar. Ele beijara a sangue-ruim. E não uma vez, mas várias, e se ela não tivesse interrompido aquela loucura, ele sabia que ainda estaria grudado nela de bom grado. O que é que Lucio não faria com ele se descobrisse que ele estava correndo atrás de uma nascida-trouxa? E não qualquer nascida trouxa, mas a melhor amiga do Potter! Apesar de ser ótimo em oclumência, decidiu que antes de encontrar com Lucio ou o Lorde novamente treinaria mais para não correr riscos. Ele jogou a cabeça para trás, encostando-a na parede do armário de vassouras, e fechou os olhos, tentando ignorar o corpo quente de Hermione próximo ao seu.


As horas se arrastaram. Draco não ousou abrir os olhos e Hermione, desconfortável com o silêncio, ficou tamborilando as unhas no chão de madeira do armário. Logo a respiração de Draco se tornou leve e regular, e a garota percebeu que ele tinha adormecido. Sabendo que não corria mais o risco de encontrar aqueles olhos acinzentados encarando-a, Hermione olhou na direção do loiro. Ele estava com a cabeça escorada numa das caixas, o pescoço numa posição claramente desconfortável; certamente acordaria com torcicolo. Hermione suspirou irritada; não devia preocupar-se com ele. Devia era ficar bem satisfeita. Mas se conhecia suficientemente bem para saber que ela não deixaria isso acontecer. Apontou sua varinha para a caixa na qual ele apoiava o rosto e transfigurou-a em um grosso travesseiro de penas. Mesmo dormindo, Draco deve ter sentido a mudança e se aconchegou mais no travesseiro.


“Ele podia ficar dormindo constantemente” pensou Hermione, olhando a expressão relaxada de Draco. “Pelo menos assim ele tira aquela expressão azeda do rosto e não fala besteiras.” A conhecida vozinha na cabeça de Hermione lembrou-a: “E assim ele também não fica de agarrando à força por aí, né...” Mas, vendo por esse ângulo, ela não tinha mais tanta certeza se queria realmente que ele dormisse o tempo todo...


Depois do que pareceu uma eternidade para Hermione, ela ouviu um ‘click’ baixinho, e percebeu que a porta tinha finalmente destrancado. Escorou-se na parede para levantar, pois suas pernas estavam meio dormentes por ficar tanto tempo encolhida na mesma posição, e tentou girar a maçaneta. Estava aberta. Com um suspiro de alívio, ela empurrou a porta e saiu para o corredor. Pensou seriamente em deixar Malfoy dormindo ali, mas, novamente, sabia que não faria isso. Colocou a cabeça novamente para dentro do armário.


- Malfoy – ele resmungou alguma coisa, mas não abriu os olhos – Malfoy, se quiser dormir aí, faça bom proveito. EU estou voltando para o salão dos monitores. Boa noite.


Fechou a porta e seguiu pelo corredor em direção aos seus aposentos. Dentro do armário, Malfoy coçou os olhos e sentou-se. Já ia se levantar para ir embora quando reparou que seu pescoço não estava travado como ele imaginou que estaria por ter dormido numa posição tão desconfortável. Então olhou para aonde estava dormindo e viu o motivo disso.


Draco ficou ainda um bom tempo dentro do armário, olhando perplexo para o travesseiro de penas.




N.A.: Bom, agradeço muito todo mundo que comentou! Obrigada pelo incentivo! E ah, não esqueçam de comentar!!! beijoss

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