Borrões de lágrimas e sangue

Borrões de lágrimas e sangue



Uma corda grossa apertou meu coração e este, por um momento, morreu em meu peito. Meus lábios secaram, meus olhos paralisaram-se, meus membros travaram, meu interior despencou por inteiro e comecei a tremer, desolada. Não acreditava no que acabara de ler. Não acreditava no que meus olhos viam naquele momento. E não acreditava, ainda mais, que aquelas letras, aquelas palavras e principalmente, aqueles sentimentos, eram para a última pessoa que me viria à mente. A última.

Para mim.

As palavras escritas com a melhor tinta, com a melhor pena, seladas todas, com um selo de prata ao lado de uma rosa... Para mim. Cada sentimento, tudo, absolutamente tudo, era para mim. Palavras de carinho, admiração, amor. Só para mim.

Por um momento, permaneci sem reação; apenas refletindo aquelas palavras. As palavras que você escreveu. Foi então, que depois de um tempo, levei minha mão trêmula para a única gaveta aberta, de onde tirara a carta, e peguei de leve a rosa branca. Espeitei meu dedo em seus espinhos, e afastei minha mão de relance, mas a segurei. Segurei-a tão leve, que tinha a sensação que segurava o ar ao redor. Admirei-a de os olhos marejando e as mão tremendo.

Olhei para carta em minha mão esquerda. A gota de sangue de meu dedo manchara o papel. Logo depois, não era mais só o sangue que borrava a tinta, mas minhas lágrimas correntes. Caí de bruços à mesa, meu rosto virado para a madeira, encharcando-a inteira com meu choro. Chorei; chorei tanto, que nem parecia ser eu mesma. Qualquer um que visse, duvidaria. Estava estragando minha imagem de professora autoritária, mas mesmo assim eu chorei; a carta borrada de preto e vermelho em uma mão; a rosa branca em outra.

Passei minutos assim, achando que nunca mais conseguiria parar. Foi então que, entre soluços, eu desabafei.

 - Por quê... Por que não mandou-me essa carta, Dumbledore...? Por que, se o amava tanto...? Tanto...Tão intensamente quanto você, seu grande tolo... - chorei - Eu queria... Queria ser assasinada... Queria MORRER com você, Dumbledore! Com você! Para quê viver agora? Para quê?! Por quê...?

A partir daí, não foi possível dizer mais nada. Chorava tão desesperadamente, tão depressivamente que não agüentei dizer nenhuma palavra mais. Não aguentei dizer que tive de segurar-me tantas vezes quanto você, que tive de me segurar-me para nao dar-lhe um beijo e não manchar uma imagem que considerava tanto prezava. Que mantive meu amor em segredo tanto tempo quanto você. Não aguentei pensar que, se eu para-se de me esconder, de permanecer com os sentimentos tao ocultos, estaria com uma alianca reluzente em meu dedo e, quem sabe, você nao estivesse vivo?! Não aguentei, mas em compensação, chorei loucamente com o coração ferido.




Autora:


As gotas de chuva grossa estalavam na janela sombria, acompanhando as lágrimas da professora. Os quadros em volta, apesar dela nada notar, estavam tão deprimidos e surpresos que pareciam ter visto o apocalipse, contudo ninguém falava ou mexia quaisquer músculo de seu corpo pintado. Permaneciam quietos, silenciosos, alguns até chorando devagar, mas todos permaneceram lá, no mesmo lugar. Tudo o que mais queriam agora era dar um pulo brusco, um impulso, e pular para fora dos seus quadros, rasgá-los, só para consolar sua professora mais severa, que se desmanchava em profundas lágrimas desoladas; mas não podiam. Estavam presos lá, trancafiados cada um eu seu retrato. Só podiam observar...

Depois de um tempo, Madame Pomfrey resolveu subir para ver sua amiga, e se assustou-se completamente ao vê-la chorar como se uma cachoeira saísse de seus olhos. Ela se apressou tanto para ir consolá-la e fazê-la se acalmar, que nem pensou em fazer muitas perguntas. A outra se encontrava abalada demais para dizer muito.

Somente quando a professora McGonagall saiu para recolher-se levando rosa branca em sua mão ferida, esquecendo a carta manchada sobre a mesa, Papoula pode entender o por quê do sofrimento da amiga. Não pode negar que ficara chocada, claro que ficara, mas ela não questionou com a professora. Não poderia depois de ver tal cena depressiva.

Com todo o cuidado que tinha, depois de anos cuidando de feridos, ela apenas deitou a carta de tinta manchada com lágrimas e sangue, aberta do jeito que estava, dentro da única gaveta aberta da escrivaninha, fechou-a e se foi pelas portas de carvalho do escritório oval.

O clima, dali por diante, seguiu-se tenso. Apesar de tudo que acontecera, a guerra não tinha tido um fim... Ainda. Agora, o que aconteceu no ano seguinte a essa tragédia, vocês já sabem. Mas aqueles que ainda não têm conciência do fim, leiam Harry Potter e as Relíquias da Morte, por que só assim vocês poderão me entender.



Fim ~*

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